segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Gay ou hetero, para nós é só um beijo", diz classificador

"Gay ou hetero, para nós é só um beijo", diz classificador
Na TV aberta, classificador monitora programação para saber se emissoras cumprem classificação prometida

Severino Motta, iG Brasília | 15/08/2011 08:50
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“De vez em quando recebemos críticas dizendo que nós somos os responsáveis por não deixar um beijo gay ir para a TV. Isso não é verdade, beijo não tem sexualidade para nós, gay ou hetero, é só um beijo”. A declaração é de Henrique Oliveira da Rocha, um dos classificadores de conteúdo do Ministério da Justiça. Responsável por monitorar o conteúdo da TV aberta, ele conversou com o iG na última semana e falou um pouco sobre a rotina de quem passa o dia assistindo à programação televisiva, tomando notas de cenas polêmicas e respondendo a denúncias que surjam contra as emissoras.

Com 28 anos de idade, formado em Sistemas de Informação, Henrique chega ao Ministério da Justiça às 7h da manhã. Sobe até o terceiro andar do edifício anexo e ingressa numa sala onde ele e cada um de seus colegas classificadores dispõe de um cubículo com aproximadamente oito metros quadrados, duas cadeiras, um computador e uma televisão.


Foto: Fellipe Bryan Sampaio/iG
Henrique Oliveira em seu posto de trabalho
“Ao chegar avalio as denúncias que recebemos através do ‘Fale Conosco’. A última foi sobre a novela 'Vidas em Jogo' [Record]. A denúncia reclamava da presença de armas na trama e questionava se isso podia ser exibido num programa classificado para 12 anos. Respondi que sim, pois ameaça com arma nos dá uma tendência de classificação para 10 anos. Para cada denúncia enviamos uma resposta para o autor”, disse.

Depois de olhar as denúncias e dar seguimento às respostas, Henrique inicia sua jornada no monitoramento dos programas de televisão. Como é a própria emissora que indica para qual idade seu programa é indicado, os funcionários do Ministério simplesmente avaliam a programação que foi ao ar e analisam se ela realmente está de acordo com a faixa etária prometida.

Por volta das 15h, Henrique estava assistindo um episódio da série "Glee". A cada cena em que um dos conteúdos descritos no Guia Prático da Classificação Indicativa é vista, um "pause" é dado na exibição e uma nota com o minuto e segundos em que ela aparece é feita.

“A personagem acaba de falar: ‘Seu marido está escondendo a salsicha numa cesta de frios que não é a sua’. Isso seria uma linguagem metaforizada remetendo ao sexo, o que indica uma tendência de classificação para 12 anos”, disse.

Como a Globo veicula essa atração nas manhãs de sábado, ela precisa ser livre ou indicada para maiores de 10 anos. Seguindo na atração, Henrique toma novas notas. Num determinado ponto há “consumo irregular de medicamento e automedicação, outros pontos que podem levar aos 12 anos”.

Questionado sobre a possibilidade desse episódio sair da classificação de 10 anos e subir para 12, o que faria com que ele só pudesse ser exibido após as 20h, Henrique é cauteloso. “Ainda não acabei de ver. Pois é preciso avaliar se há contrapontos e atenuantes. A mensagem, no fim, pode ser para não usar remédios, ser neutra em relação a isso, ou estimular o uso irregular. Isso é importante quando fazemos a classificação”, explicou.

Monitorando a programação de oito canais, Henrique disse que passou a gostar de novelas. Entre elas citou "Ti-ti-ti" e "Morde e Assopra". “Essa última estou monitorando agora”.

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