Oswaldo M. Rodrigues Jr.
Psicólogo (CRP06/20610)
psicoterapeuta sexual e de casais
Instituto Paulista de Sexualidade – InPaSex
Sou
psicoterapeuta há mais de 35 anos. Atendo no consultório de 20 a 50 horas por
semana desde que iniciei a carreira na psicologia clínica. Com o trabalho aprendi
algumas coisas, mas o que quero apresentar aprendi já nos primeiros anos e foi
muito importante para minha profissão e para os que me buscaram no consultório.
Mas
já ia partindo do princípio que todos sabem o que é a psicoterapia...
Mas
acho melhor explicar, mesmo que rapidinho ou parcialmente.
A
psicoterapia é uma forma de tratamento que tem como fundamento a psicologia e
se destina a solucionar ou modificar comportamentos que fazem a pessoa sofrer.
Os chamados problemas psicológicos são tratados ela psicoterapia. O tratamento
e faz através do conversar, com questionamentos e orientações, algumas vezes contém
o aconselhamento, mas não damos conselhos. É um processo de aprendizagem de
novos caminhos para enfrentar problemas antigos da pessoa, ajudá-la a ter
outras formas de enfrentar o problema, resolvê-lo ou superá-lo, deixando de
sofrer e tendo forças para desenvolver outras questões na vida, algo mais
produtivo do que sofrer com o problema anterior.
Então,
a pergunta é se a psicoterapia funciona...
Este
é um questionamento importante eu todos devem ter e fazer, inclusive nós
psicoterapeuta fazemos e com razão e necessidade.
Existem
candidatos a tratamentos psicoterápicos que se adequam ao tratamento psicoterápico,
e outros... não.
Um
psicoterapeuta com um par de anos de atuação aprende distinguir, saberá em quem
apostar, em quem se dedicar para auxiliar a vencer os problemas que trazem esta
pessoa em busca de ajuda.
Há
30 anos tive dois pacientes emblemáticos. Auxiliaram muito reconhecer estas diferenças.
Numa
tarde de sexta-feira, nos primeiros anos dos 1990, vem para uma primeira
consulta um homem de quase 50 anos de idade, chegando numa Mercedes classe E,
com motorista uniformizado (!). Era uma época sui generis economicamente no
Brasil, pois tínhamos o hábito de dolarizar as consultas para proteção contra a
inflação alta que vivíamos (chegara a 80% ao mês). Este homem explica o problema
que vivia, uma dificuldade erétil, incapacidade de relacionar-se sexualmente.
Havia passado por médicos que afirmaram que ela não tinha nada físico para ser
tratado e precisa de psicoterapia, para poder retomar um caminho de comportamento
sexual satisfatório. Iniciei a propor o contrato de psicoterapia que deveria
ser de uma sessão semanal, cada uma com 50 minutos de duração, que preferia que
ele viesse com a parceira sexual, e que cobrava o equivalente a U$300.oo a
sessão. Neste momento ele me afirma considerava muito caro o valor de consulta...
ele que tinha três fábricas, e claro administrava as fábricas, usava o dia ao
redor destas atividades. Disse que podíamos conversar sobre os valores na sequência.
Assim passei ao próximo item, dias e horários. Sempre tive consultório bem
ocupado, e nestas épocas atendia, nas sextas-feiras, desde 08 da manhã até as 21
(já fora piada em sala de professores na faculdade onde lecionava: “só uma
hora, das 8 às 9h?”). Afirmei que teria as sextas-feiras às 15h para oferecer
para iniciarmos o tratamento. O candidato a paciente disparou rapidamente
impondo-se que horário para ele somente antes das oito da manhã, ou depois das
oito da noite, afinal, “como ele poderia sair do escritório toda semana no meio
da tarde, o que os funcionários dele iriam falar?”... respirando fundo, entreguei
meu cartão de visitas a ele, confirmando o horário disponível e o valor por
sessão, afirmando que compreendia que se ele desejasse iniciar a psicoterapia
na semana seguinte, eu aguardaria que me comunicasse até a segunda-feira à
tarde, caso contrário eu disponibilizaria o horário a outra pessoa que
considerasse que era o momento de vida de produzir mudanças. Por dentro eu
pedia que ele não me telefonasse, pois parecia o tipo de candidato a paciente
que poderia vir quatro ou cinco sessões, se eu aceitasse as condições dele, diminuísse
o valor de consultas, visse mais cedo... e ele abandonaria o tratamento, e ainda
consideraria que tentara e a falha não era dele...
Outro
ícone nestas discussões mostrou o tipo de pessoa que poderia eu ajudar.
Era
uma terça-feira à tarde, também no início dos anos 1990. Um rapaz de 21 anos de
idade, vindo de área rural do noroeste do Paraná morar com um tio em Diadema
(era uma cidade com os menores índices de qualidade de vida na grande São Paulo
à época), e trabalhava numa oficina mecânica recebendo uma percentagem dos
serviços que produzia. Visível era a graxa sob as unhas, mesmo que estivesse
bem vestido, e limpo. Também trazendo a dificuldade de ter e manter ereções
penianas que permitissem uma relação sexual com penetração. Iniciei os passos
de contrato. Ele poderia vir semanalmente, sim, e isto significava pegar um
trem e cainhar um par de quilômetros até o consultório... Valores, ele não poderia
pagar o que eu cobrava, mas fez uma proposta equivalente a 30% do que
normalmente fazia mensalmente para as quatro sessões mensais... um terço do valor
de consultas para as quatro sessões... e neste momento conta que havia
procurado uma psicóloga na cidade em que morava e havia proposta este valor e
ela aceitara... Opa... ele já havia contatado psicoterapia. Neste caso, disse a
ele que eu não poderia aceita-lo enquanto cliente se ele já se encontrava sob
acordo para um tratamento semelhante com uma colega, propondo que ele pensasse
a respeito, e que se ele considerasse que eu deveria ser o psicoterapeuta
escolhido, antes ele desfizesse o acordo com a outra psicóloga e nós
voltaríamos a conversar. Dois dias depois ele telefona para contar que havia se
decidido por mim e que já havia desfeito o acordo com a colega, mas o dono da
oficina fechou o negócio e ele estava sem trabalho por enquanto, mas sabia que
logo conseguiria outro e que quando isso ocorresse ele poderia vir para o
tratamento, questionando se eu aceitaria. Demonstrava um esforço e organização
em prol dos objetivos... Concordei. E assim se passou o restante do mês de
março daquele ano... e mais alguns meses, quando na segunda metade de junho
recebo um telefonema intrigante, interessante... a produtora do programa “A porta
da esperança”. Este programa de televisão se iniciara em 1984 e realizava
sonhos e necessidades de pessoas que não podiam pagar pelo que precisava. A
produtora explicou que receberam a carta de um jovem com impotência sexual que
pedia um tratamento gratuito comigo, e propunha um negócio: eu teria 20 minutos
para divulgar meu trabalho, durante o programa de maior audiência na TV naquela
época, poderia ser ao vivo, mas eu poderia ter esta participação gravada em meu
consultório, se assim o desejasse. Os de minutos restantes do quadro ficariam com
o condutor do programa e o rapaz que contaria o problema dele em púbico... o
quê? Complicado isso de expor a alguém que confiava em mim... eu não estaria
cometendo nenhum erro ético, eu não promovia a exposição dele... diretamente...
mas não podia concordar com o que ocorreria, sabendo também que seria contraproducente
esta exposição. Estava entre sessões quando esta jornalista me telefonara,
então pedi seu número e que depois falaríamos, mas naquela hora tinha que
atender o paciente do horário que já aguardava. Precisava de tempo para
ponderar... no dia seguinte, a quinta-feira, de manhã, telefonei ao rapaz. Mal
tive tempo de explicar a razão pela qual eu ligava, e ele já falava de modo
alegre que havia começado a trabalhar naquela semana e que poderia fazer o tratamento,
perguntando se eu aceitava o valor que havíamos falado havia três meses
(lembremo-nos que em três meses a inflação teria comido substancialmente o
valor de compra do que era proposto...). Aceitando, expliquei o ocorrido, contando
que eu já decidira que o atenderia gratuitamente caso ele pudesse vir para as
sessões. Mas ele propunha pagar pelo trabalho. E veio semanalmente e em seis
meses estava sexualmente ativo e satisfeito.
Isso
me mostrava que não era o que pagava, mas o que se esforçava em seguir a psicoterapia
que teria sucesso.
Este era um princípio que sempre
insistiam na faculdade de psicologia: a psicoterapia somente funciona para quem
a aceita e para quem se envolve no tratamento. Mas semrpe será nossa vivência
cotidiana que mostrará, pela prova da realidade, os caminhos corretos e úteis.
Assim, se alguém me procura no
consultório já duvidando do tratamento... sei que não posso ajudar. Se alguém
não se coloca disponível e investe no tratamento psicoterápico, não lucrará com
ele.
E isso ainda segue algumas
outras regras que sempre serão necessárias para o desenvolvimento e aproveitamento
do processo psicoterápico. Outro exemplo negativo é o paciente que vem
alcoolizado (mesmo com uma dose de álcool) ou sob efeito de maconha. Nestes
casos o processo de modificações, de memória, de aprendizado são afetados e não
faremos bom uso das sessões... e as semanas se arrastarão. E tente dizer isso
como regra no primeiro dia, durante o contrato... seguramente não seremos
levados a sério, pois estas pessoas sob efeito de substâncias têm a “certeza”
de que sabem mais e que isso nunca seria um empecilho ao tratamento...
Assim tive que aprender que quem
chega ao consultório falando que a terapia não funciona... esse alguém tem
razão... com ele nunca funcionará, pois ele barrará qualquer e toda
possibilidade de modificação ou direcionamento que implique nestas mudanças.
Sei
que a psicoterapia auxilia a mudanças de comportamentos, atitudes, interação
social em prol de melhoria de qualidade de vida... mas para quem esteja
disponível a mudar.
Aos
incrédulos, aos que não tem condições de aceitar algumas realidades, nada que
façamos será útil. Nada, mesmo que saibamos que é o caminho da verdade. Se
fizermos a demonstração caminhando sobre a água, na frente destas pessoas, elas
terão outras compreensões, e olharão para o que lhe aprouver e que confirmem suas
compreensões destrutivas de vida, até falarão: mas esse sujeito nem consegue
nadar...”
Assim
ao procurarmos psicoterapia, somos quem vai definir se faremos o tratamento,
pois o psicoterapeuta já saberá no primeiro momento se temos chances de usar esta
forma científica e baseada na vida humana. Funcionar... claro que funciona, mas
será necessário permitir que o caminho seja seguido.
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