quarta-feira, 25 de março de 2020

A ciência da psicologia e as crises


 Informações de pesquisas comportamentais que facilitam lidar com o Covid-19
Oswaldo M. Rodrigues Jr.
InPaSex -Instituto Paulista ed Sexualidade


                Vivemos uma época complicada no Brasil que se acostumou a não registrar as crises na memória. Esquecemos da dengue que nos assola há 30 anos e que anualmente produz milhares de mortos, mas o mosquito é visível e pode ser combatido, emobra não o seja efetivamente.
E quando um vírus se espalha e não será visto?
Como reagiremos?
Desta vez guardaremos na memória a situação de crise?
Mudaremos a atitude do povo brasileiro?
Vejamos!
                As pesquisas psicológicas sobre crises podem ajudar as pessoas a lidar com o cotidiano, até mesmo a cada hora com os noticiários sobre coronavirus.
                A pandemia do Covid-19 trouxe um mundo novo e os pesquisadores de saúde
                Uma nova pandemia é única em muitos sentidos, mas sempre podemos fazer algo aprendido a partir de uma grande soma de material estudado na psicologia sobre reagir e as consequências de desastres.
                A seguir o que já aprendemos:

1- as mídias sociais aumentam ansiedade mais do que a mídia tradicional
                Com o surto de Zika, em 2016, psicólogos estudaram o risco da percepção da doença.
                À medida que as pessoas liam mais sobre o vírus nas mídias sociais, a percepção de risco aumentava
                Quando o volume de informação sobre o Zika aumentou na mídia tradicional as pessoas pareciam se envolver mais em comportamentos de proteção.
                As agências de saúde pública deveriam dedicar-se a uma mídia social para rapidamente despertar a consciência sobre novos problemas e deveriam atuar na mídia tradicional para evitar confusão quando quiserem divulgar atualizações e novos conhecimentos e ações. (Social Science & Medicine, Vol. 212, No. 1, 2018).
                O volume de notícias na atual pandemia pode ser o problema e diferenciar-se da epidemia de Zika.

2- Muita mídia de qualquer tipo pode destruir a saúde mental
                A quantidade de exposição a informações faz diferença.
                Revendo pesquisas passadas sobre crises em saúde pública pode-se compreender como a atenção da mídia pode ampliar o mal estar.
                Após as bombas na Maratona de Boston, e, 2013, pode-se perceber uma forte associação entre a exposição pela mídia ao cobrir o ataque os sintomas de estresse agudo. As pessoas mais expostas à cobertura do atentado pela mídia estressaram mais do que as diretamente expostas ao atentado. (PNAS, Vol. 111, No. 1, 2014).
                Durante a crise do Ebola, em 2014 na África, ouve uma imensa cobertura da imprensa nos Estados Unidos associando diagnósticos de saúde mental e a exposição aos relatórios a respeito do vírus. As pessoas que se mostraram estressadas com ao ataque a bomba na Maratona de Boston foram as que mais se estressaram com as informações a respeito do Ebola, mesmo que não houvesse possibilidade de contágios nos Estados Unidos pelo vírus existente na África. (Thompson, R.R., et. al., Clinical Psychological Science, Vol. 5, No. 3, 2017).
                Assim, quem já viveu estresses em desastres anteriores tem maiores possibilidades de respostas emocionais negativas durante uma epidemia hoje em dia.
                As pessoas, no Brasil que estiveram envolvidas com as epidemias de Dengue e Zika, mais possivelmente tem reações negativas com as notícias sobre o Covid-19.
                Quando a infomação sobr riscos é comunicada de modo consistente e por meios de autoridade (não autoritários) as pessoas podem aprender e se beneficiar.
                O problema será quando estresse e ansiedade podem sser exacerbados exageradamente pela mídia.
                Manter-se informado por fontes fidedignas é o caminho, porém, devemos ter cuidado com o excesso de informações e o tempo dedicado a “saber” sobre o que ocorre.

3- Escolha de fonte de informação
                As pessoas elegem a forma pela qual querem receber informações, não interessando se é correta ou não. Esta compreensão foi o resultado de pesquisas durante o surto do Ebola em países fora da África, em 2014. E isto ocorre mesmo quando as pessoas sabem onde procurar informações a respeito da epidemia. (Risk Analysis, Vol. 38, No. 1, 2018). As pessoas consideram que as autoridades de saúde deveriam fornecer as informações que necessitam, mesmo que elas aumentem a preocupação nas ruas.

4- A fala de controle alimenta o estresse.
                Há décadas que as pesquisas em psicologia demonstram que nossa percepção de risco é mobilizada por nossas emoções. Assim avaliamos os problemas pela emoção que vivemos, sem nos importamos com os números e evidência sobre o problema. O velho chavão de que quando temos convicção não interessam as provas.
                Raiva diminui a percepção de risco e medo aumenta! (Current Directions in Psychological Science, Vol. 15, No. 6, 2006)
                Alguns fatores aumentam o medo, e com isso a percepção de perigo. Quando o que pode atrapalhar é novo e não comum, com o sentimento de pouco controle sobre a situação e a exposição a situação de doença e morte temos o aumento de sensação de risco.
                Assim, essa nova leva de coronavirus tem todos os elementos para aumentar o alarme social para os riscos.
                Isso não significa que estamos alarmados além da conta. Se pensarmos no que ocorreu na Itália, onde a catástrofe se desenvolveu muito rapidamente, sabemos que temos que tomar medidas sérias, e rápidas.
                Mas estas pesquisas sobre comportamentos demonstram que precisamos estar preparados, pois irá ocorrer o sofrimento e o aumento do medo com esta percepção de risco também aumentando.

5- Lidar com estresse o mais breve para prevenir problemas de longo prazo
                As pessoas que viveram situações de estresse agudo nas semanas após um evento traumático têm maiores possibilidades de desenvolverem problemas emocionais de longo prazo e pioras de qualidade de saúde, aumento de percepção de dor, depressão, ansiedade e problemas psicológicos e conflitos familiares, além de aumento de risco de morte.  (Journal of Psychosomatic Research, Vol. 112, No. 1, 2018).

6- Não esquecer das necessidades dos que trabalham com a saúde
                Quando tivemos o SARS (a Síndrome de problemas respiratórios severos agudos) em 2003 pudemos perceber a associação significatia de estresse nos profissionais de saúde. (Canadian Journal of Public Health, Vol. 99, No. 6, 2008).
            Para melhorar resiliencia nestes profissionais da linha de frente já se recomendam medidas técnicas da psicologia, sejam para administar o estresse ou como enfrenta-lo (Psychooncology, Vol. 9, No. 1, 2000) ou utilizar os princípios de primeiros socorros psicológicos (Psychological First Aid Field Operations Guide: 2nd Edition, 2006).

7- Quarentena e isolamento aumentam as consequências negativas
                Estudos sobre o impacto de quarentena em adultos (The Lancet, publicado online, 2020) mostram efeitos psicológicos negativos, incluindo sintomas de Estresse pós-traumático, confusão e raiva.  
                Para minimizar a problemática psicológica, a quarentena deve ser feita em passos, por aproximação sucessiva pelas administrações públicas o mais rapidamente possível. Outro ponto é prover de informações claras e racionais constantemente sobre os protocolos de quarentena e garantir acesso a alimentos e itens de necessidade básica à população.
As pesquisas também nos mostram algo sobre como lidar com as crianças e famílias quando as escolas fecham e as famílias devem estar isoladas em quarentena. (The Lancet, publicado online, 2020).
Para reduzir o risco de consequências psicológicas negativas durante o confinamento devemos ter comunicação clara e afetiva entre pais e filhos, educação mantida através da internet com uso de vídeos educativos que promovam uma vida saudável e um estilo de vida dentro de casa que auxilia vencer o período de quarentena. Os serviços on line de psicólogos devem ser utilizados para auxiliar as crianças a administrarem a ansiedade e tensão que se acumularão.
                E já temos grupos fazendo reuniões através de aplicativos pela interent, inclusive com amigos com quem não se reuniam havia muito tempo. Favorecer estas novas formas de comunicação será de grande auxilia na mudança de como reagimos às situações cada vez maiores e mais fortes.
                Agora é hora de gerenciamento de riscos e procedimentos!
Faça sua parte para reduzir o risco e reduzir a propagação do vírus. Espalhe apenas fatos e números de fontes confiáveis, mas o mais importante é espalhar os fatos de como reduzir o risco e a propagação.
Nem todo mundo vai pegar o vírus, mas TODOS serão afetados pelas consequências. Por favor, mantenha-se informado sobre como se preparar para o vírus.


segunda-feira, 8 de abril de 2019

O problema sexual que ainda assusta o homem


Oswaldo M. Rodrigues Jr.
Psicoterapeuta sexual e de casais
Instituto Paulista de Sexualidade


                A incapacidade de manter uma relação sexual é o grande problema masculino, ainda neste final da segunda década do século XXI.
                Não conseguir obter ou manter uma ereção peniana rígida suficiente para conseguir a penetração vaginal continua trazendo homens ao consultório de sexologia, tal qual ocorria nas décadas anteriores e no século XX.
                Interessante é compreender que até a década de 1970, nos textos científicos da psicologia, e da década de 1990 nos textos médicos, a frase ‘impotência sexual masculina’ era como se usava para designar esta dificuldade sexual dos homens.
                O nome “impotência” era e continua sendo o grande medo masculino e esconde muitas coisas nesse medo, pois impotente significa não ser homem, e esta é uma destruição da condição de ser, sendo desclassificado, enfraquecido e percebendo-se sem o poder que deveria ter para ser homem.
                A dificuldade com a ereção atinge o homem da forma mais intensa, como uma doença debilitante, fazendo-o perder a identidade que aprendeu a viver e defender.
                Deixando de sentir-se homem, masculino, sente-se incapaz de relacionar-se com outra pessoa, seja com finalidades sexuais ou trabalho, compreendendo-se com qualidades de quem terá que perder, pois já é um perdedor.
                Mas precisamos compreender um pouco mais esta dificuldade sexual.
                Primeiro devemos observar do ponto de vista científico, a partir de uma compreensão de ser humano e de como funcionamos para viver sendo humano.
                Se este homem compreender que para ser homem ele precisa penetrar e ejacular dentro de uma mulher, ele precisará de rigidez peniana. Porém, e esta rigidez depende do que compreende seja a rigidez. E este homem em particular tem suas compreensões individuais para estabelecer a rigidez necessária para cumprir sua tarefa. Assim baseia-se nas experiências pessoais de vida, lembranças e das regras que sabe que determinam sua masculinidade, sua macheza. Se, em verdade tiver uma ereção peniana rígida o suficiente para penetrar, mas acreditar que precisa de muito mais, ele não será capaz de efetuar a relação sexual, chamando-se de impotente.
                Assim, precisamos, nos consultórios de sexologia, considerar este homem desde sua perspectiva pessoal, individual, subjetiva. Não adianta dizer a ele que “não tem nada”, que “é psicológico”, que “precisa tirar férias”, que “é estresse”, que “é muito trabalho”...
                Tem outro aspecto muito importante em jogo.
                Todos aprendemos desde muito criança a dar nomes a nossas incapacidades físicas, considerando-as “doenças”. No sexo é igual. Então, se o pênis não funciona como queríamos que funcionasse, “ele” deve estar doente. Esta outra compreensão do mundo também terá consequências, e muitas vezes desastrosas.
                Hipotetizar que a dificuldade na relação sexual é devida a uma doença física tem um objetivo: ser curado pelos mesmos métodos que curam outras doenças, como uma gripe ou uma infecção na pele. Esta compreensão coloca a responsabilidade de solucionar este problema em outra pessoa que lhe dará um remédio, algo que coma, tome, engula, injete. Assim não precisará fazer nada, pois funcionará “naturalmente”.
                Assim temos uma condição determinista complicada.
                Este homem não percebe que estamos referindo que sexo depende de relacionamento interpessoal, depende de muito mais que apenas obrigar o pênis a funcionar.
                Este homem sente, tem sentimentos, emoções, sofre com esta dificuldades e quer se livrar delas o mais rápido possível. Mas terá que responsabilizar-se na maneira de cuidar de seu corpo, e só aceitando que precisa mudar suas formas de compreender o mundo onde vive, e mudar suas compreensões de como é e como pode funcionar é que solucionará esta dificuldade sexual.
                E como é que se pode deixar de sofrer?
                Precisa tomar algum ansiolítico?
                Afinal, sempre ouvimos que o lado psicológico precisa ser tratado e que com ansiedade temos dificuldades sexuais.
                É verdade que sob ansiedade homens e mulheres não permitem seus corpos funcionarem sexualmente. Mas tomar um remédio para acabar com a ansiedade não os fará potentes... alguns homens continuarão incapazes de obter ou manter uma ereção, e nem se sentirão ansiosos...
                Mudar a atitude, mudar a forma do corpo reagir emocionalmente às situações pré e pró sexuais será o caminho e fazer isso pode precisar de orientação externa especializada de um profissional que possa compreender o que lhe passa em termos de comportamento, de como o corpo age e reage. E este será um psicólogo que possa dedicar atenção à sexualidade e aos comportamentos sexuais.
                Ainda são muitos homens que sofrem calados com estas dificuldades.
                Estatísticas mostram que até adolescentes de 10-15 anos consideram que tem estas dificuldades e poucos terão ambiente familiar que os permita conversar com os pais e procurar um profissional de saúde comportamental.
                Mas a faixa etária que mais apresenta homens com estas dificuldades é aquela de mais de 40 anos. E só estamos nos referindo aos homens que admitem e compreendem que sofrem com a falta ou incapacidade de ter um pênis rígido suficiente para o coito, para a relação sexual.
                Ainda podem se passar vários anos para que este sofrimento seja considerado para que um tratamento seja buscado.
                Muitos homens compreendem que isto não é coisa para se falar, para se reclamar, e nunca puderam perceber onde procurar ou que profissionais procurar para solucionar esta dificuldade sexual. E como compreendem a dificuldade de funcionamento como algo do corpo e por isso parecido com uma doença, acreditam que precisam procurar um médico que lhes receitará um remédio. Por isso levarão mais outros anos sem solucionar sua dificuldade sexual afinal, comportamento não se modifica com remédios.
                Tem esta dificuldade?
                Isto é um problema em sua vida?
                Tem interesse em solucionar o problema?
                Vamos conversar?
                Mudar comportamentos é algo possível e não precisa manter sofrimentos e afetar relacionamentos conjugais.
                A psicologia tem como ajudar a mudar comportamentos sexuais!
                Ajude-se!
                Lute por um futuro positivo e feliz!
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