domingo, 9 de junho de 2013

"As sessões" e a função da terapeuta sexual substituta


Breno Rosostolato*

Um assunto polêmico é levantado através do filme As sessões, protagonizado pela atriz Helen Hunt, em que a função de terapeuta sexual substituta. Cheryl Cohen Greene, 68 anos, inspirou o papel principal. Como terapeuta do sexo, atende clientes com impotência, ejaculação precoce ou limitações que dificultam a relação sexual. O atendimento consiste em ajudar o cliente a relaxar o corpo e a mente e aprender a reconhecer este corpo retraído, estimulando-o ao prazer.
 A pessoa trabalha questões emocionais e se abre para o sexo, que até então é motivo de inibição e impedimentos. É quando o cliente apropria-se do prazer e do próprio desejo que atinge a felicidade e desenvolve características e potencialidades. Para isso, a terapeuta do sexo trabalha desde questões de relaxamento, massagens, atividades de visualização com espelho, carícias íntimas e a prática do ato sexual. 
Cheryl é casada hoje com um ex-cliente e afirma que já transou com 900 pessoas defendendo o procedimento como uma terapia que beneficia muitos que buscam este serviço, conseguindo atingir uma vida sexual satisfatória depois das sessões.
Essa modalidade terapêutica foi criada nos anos 1960/1970 pelo casal de sexólogos americanos William Master e Virgínia Johnson, os primeiros a preconizar um tratamento exclusivamente sexual. O trabalho embasado na psicologia comportamental e em dados laboratoriais de observação dos estímulos durante o ato sexual teve uma importante contribuição científica sobre sexualidade humana, bem como no tratamento de dificuldades e disfunções sexuais.
Para quem se surpreendeu com este tratamento é importante salientar que já existem terapias que dão ênfase ao corpo e que evidenciam aspectos de sexualidade para a promoção do bem-estar e da saúde psíquica do cliente, mas que na prática se diferenciam da técnica da terapia sexual substituta, pois não envolve relacionamento sexual entre terapeuta e cliente. O terapeuta alemão Wilhem Reich (1896-1957) argumentava em sua teoria a ideia de que é importante expressar sentimentos sexuais dentro do relacionamento amoroso maduro. Enfatizou que as energias sexuais são reprimidas e precisam ser desbloqueadas. Estes desbloqueios favorecem o corpo e aumentariam assim a capacidade de se obter o orgasmo, potencialidade essencial para a saúde emocional do indivíduo. Outra terapia que também enfatiza o trabalho corporal, a Análise Bioenergética criada por Alexander Lowen (1910-2008), defende que corpo e mente não estão separados. Para esta integração acontecer Lowen desenvolveu uma série de exercícios físicos e de respiração.
As questões implicadas à função da terapeuta sexual substituta dividem opiniões e levantam discussões éticas. De acordo com o psicólogo carioca João da Mata, da Universidade Federal Fluminense, o ato sexual praticado entre terapeuta e cliente não seria uma terapia, mas pode ter efeitos terapêuticos. E acrescenta: "Tem capacidade de transformar, mobilizar a energia vital.
Podemos trazer essa experiência com o contato corporal, a troca emocional". Para Araceli Albino, presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo, o "sexo entre terapeuta e paciente ocorre mais do que imaginamos. É danoso. A pessoa depositou confiança no profissional e fica à mercê dele. É quebra de contrato". O Conselho Federal de Psicologia (CFP) veda qualquer tipo de envolvimento sexual entre cliente e terapeuta. Todavia, nos EUA, o trabalho do substituto sexual é legal, desde que indicado e supervisionado pelo profissional de psicologia que conduz a terapia verbal com o cliente.
No livro As sessões, lançado recentemente e que deu origem ao filme, Cheryl não só relata as experiências de clínica como terapeuta sexual substituta como demonstra através de seus relatos um trabalho de entrega e doação, na qual busca a melhora do cliente partindo da premissa de que o prazer deve ser vivido com liberdade e com intensidade. A terapeuta enfatiza que o trabalho dela em nada se compara com o de uma prostituta, pois cliente e terapeuta procuram aprender mais sobre sexualidade, manifestações do desejo, sensações e o conhecimento sobre o corpo, com o fim de desimpedi-lo e assim permitindo-se as vontades pessoais.
As expressões do corpo físico se expressam através do corpo psíquico, que é emocional e inconsciente. A mente não deve ser compreendida desagregada do corpo. É esta fusão que favorece a percepção e o autoconhecimento. Cada vez mais terapias corporais surgem com a proposta de integrar estes aspectos, ampliando nossas potencialidades e características. Em um momento em que a sociedade discute sexualidade, as pessoas precisam se emancipar das repressões de um passado de coerções e censura em que o corpo afetivo foi atrofiado, mas busca constantemente se reconstruir.
* Breno Rosostolato, psicólogo, é professor da Faculdade Santa Marcelina.

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