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sábado, 9 de março de 2013

Transexual pode se descobrir já na primeira infância, dizem especialistas


Caso de garoto de 6 anos que se vê como menina ganhou destaque.

Brennan Linsley/AP
Coy brinca em sua casa na cidade de Fountain, Colorado, na segunda-feira (25)
Coy brinca em sua casa na cidade de Fountain, Colorado, na segunda-feira (25)
A identificação com o sexo oposto e o eventual desejo de uma pessoa em assumir uma nova identidade de gênero começa geralmente na primeira infância, entre os 4 e 6 anos de idade, segundo o psicólogo clínico e psicanalista Rafael Cossi, autor do livro "Corpo em obra", lançado em 2011 após análise de seis biografias de transexuais.
Na última semana, o G1 publicou a história do menino americano Coy Mathis, de 6 anos, que se identifica como menina e é aceito pelos pais, mas tem tido problemas na escola ao querer usar o banheiro feminino. Segundo a família, Coy age assim e brinca com bonecas desde que tinha 1 ano e meio.
"Nessa idade, ainda não dá para falar se a criança será um transexual no futuro. Isso porque não se sabe até que ponto ela só está brincando de se comportar como alguém do outro sexo ou se esse já é um indício de transexualidade", diz.
Transexual é a pessoa que tem um transtorno mental e de comportamento sobre sua identidade de gênero, ou seja, nasce biologicamente com determinado sexo, mas se vê pertencente a outro e cogita fazer tratamentos hormonais e cirurgia para mudar o corpo físico. Ao contrário do que já acreditaram psicanalistas no passado, esse não é um caso de psicose, com alucinações e delírios, defende Cossi.

Brincadeira de criança – ou não

De acordo com o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtornos de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo, casos como esse sempre existiram, e é importante diferenciar uma simples brincadeira de um comportamento constante.
"É muito comum crianças inverterem os papéis, e quando é algo pontual não há maiores problemas. Mas, se isso se tornar um hábito frequente, diário, o menino querer mudar de nome, usar presilha e brinco, é indicado que os pais e o filho passem por uma avaliação profissional antes de qualquer coisa, para ver se essa é uma questão familiar que a criança está tentando resolver dessa forma ou se já é um transtorno de gênero", afirma.
O médico diz que cada caso precisa de um acompanhamento diferente e individualizado. Se houver realmente um transtorno, ser violento com a criança e censurá-la pode piorar muito a situação.
"A escola também não deve reprimir, mas chamar os pais, explicar o que está acontecendo e aproveitar essa oportunidade para educar também com as diferenças. E não é porque uma criança vê outra fazendo algo que vai querer imitá-la, elas não são macaquinhos", destaca Saadeh.
Na opinião do psicólogo Rafael Cossi, os pais têm que acompanhar o que está acontecendo e não adianta julgar, proibir, punir ou bater.
"Se houvesse uma mentalidade mais aberta e liberal dos pais, a escola aceitaria melhor. O medo do colégio é de como isso repercute para as famílias e a possibilidade de perder alunos de uma hora para a outra", diz.
Segundo Cossi, o preconceito da escola não é apenas contra transexuais e homossexuais, mas contra deficientes, pessoas com síndromes e tudo o que foge ao que é caracterizado "normal" – desde uma falta de uniforme até um cadarço ou cabelo colorido.
"Já os pais costumam dizer que ficam preocupados não tanto com o fato de o filho ser diferente, mas como será a vida dele em sociedade, se os colegas vão tirar sarro, pois existe muita discriminação", afirma.
Cossi cita o filme francês "Tomboy", de 2011, que conta a história da menina Laure, de 10 anos, que muda de cidade e se apresenta aos novos amigos como Mikhael. Até então, o fato de ela se vestir e se comportar como um menino não parecia incomodar a mãe, mas, quando ela fica sabendo que a criança "mudou" de nome, rejeita a situação.
"O filme é muito bom, é um relato, e não faz questão de dar nenhuma pista sobre qual vai ser o futuro da menina. Isso fica em aberto", aponta.

Corpo x gênero

O psiquiatra do HC Alexandre Saadeh explica que há um componente biológico muito importante na questão da identidade de gênero.
"Hoje em dia, sabe-se que existe um cérebro feminino e um masculino, determinado no útero da mãe por hormônios masculinos circulantes. E isso interfere no desenvolvimento cerebral para uma linhagem feminina ou masculina. A cultura e o ambiente também têm importância, mas a determinação é biológica", acredita o médico.
Segundo o psicólogo Rafael Cossi, a ideia de dimorfismo corporal entre homens e mulheres, ou seja, indivíduos da mesma espécie com características físicas (não sexuais) claramente diferentes, só ganhou força com os avanços da biologia no século 19.
"Até então, prevalecia a ideia de isomorfismo, em que o corpo feminino era visto apenas como uma versão do masculino. A vagina era considerada um pênis invertido e o calor era o diferencial dos corpos, pois a temperatura do homem era mais alta que a da mulher", afirma.
O psicólogo cita o livro "Inventando o Sexo – Corpo e gênero dos gregos a Freud", em que o historiador e sexólogo americano Thomas Laqueur estuda como o corpo foi encarado em vários momentos históricos. Cossi também destaca que desejo sexual, gênero e identidade sexual são conceitos bem distintos.
"Uma coisa é o desejo, a orientação, a prática sexual. Outra é o gênero, como a pessoa se vê, seus gostos e comportamentos – algo cultural, social, que varia com o tempo. Essa é a ideia do que um homem ou uma mulher faz, como pensa, como se veste, quais traços o definem. Já a identidade sexual envolve uma noção de inconsciente, inclui o fator psíquico, de como o sexo se constrói na mente e reconhece o que é homem e o que é mulher", esclarece.
É por isso que, segundo o psicólogo, existem transexuais lésbicas ou gays, ou seja, pessoas que se transformam fisicamente com cirurgia e hormônios, mas não necessariamente se atraem pelo sexo oposto.
"Nossa mentalidade ainda é muito heterossexual", ressalta.

'Sofria muito por ser diferente'

A transexual Brunna Valin, de 38 anos, conta que desde os 7 anos já sabia muito bem que não gostava de meninas. Aos 11 anos, vieram as brigas no colégio, as surras dos meninos, até que ela deixou a escola na 7ª série do ensino fundamental.
"Eu sofria muito por ser diferente. Com 12 anos, já me apresentava como Brunna e me vestia de menina, com saia, sapato de salto, batom, brinco. Queria ser igual à Roberta Close, era um espelho", lembra.
Em casa, dentro de uma família religiosa, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, a transexual também encontrou rejeição. Após apanhar algumas vezes, deixou os pais aos 14 anos e foi morar com a avó, depois com uma prima, até ficar sozinha.
A transexual, que foi profissional do sexo dos 14 aos 36 anos, voltou a estudar e agora está prestes a concluir o ensino fundamental. Este ano, pretende começar o médio e, depois, quer fazer faculdade de psicologia. No currículo, ela também acumula cursos de formação de costureira, cabeleireira e cozinheira.
Além disso, Brunna tem passado por um acompanhamento com vários profissionais no Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde. A meta é se submeter à cirurgia de mudança de sexo em 2014 – da qual não tem medo de se arrepender.
"Tomo hormônio desde os 15 anos, e hoje aplico uma injeção mensal à base de progesterona. Em maio do ano passado, coloquei silicone nos seios e agora estou tirando os pelos do corpo com laser. Já fiz no rosto e vou para os braços. Em agosto, também quero pôr prótese nos glúteos, porque as características femininas estão no corpo inteiro, não é só fazer uma vagina. Hoje nem gosto de olhar muito, aquilo não é meu", diz.

Dois anos de preparação>/h2>
Antes de toda cirurgia para mudança de sexo, o Sistema Único de Saúde (SUS) exige que a pessoa, com mais de 21 anos, faça pelo menos dois anos de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, no qual seja diagnosticada com distúrbio de identidade de gênero.
No ambulatório de São Paulo, criado em 2009 e considerado o primeiro do tipo no país a atender exclusivamente travestis e transexuais, há atualmente 1.500 pessoas cadastradas. Desse total, 65% (975) se consideram transexuais – 915 são homens biologicamente que se sentem como mulheres e 60 são o contrário. Os outros 35% são travestis que desejam tomar hormônios e mudar a aparência, mas não pretendem fazer a operação.
"Tenho mais sete irmãos – dois homens e cinco mulheres. Só um irmão me aceita muito bem. No começo, para eles eu era gay, não entendiam essa questão de gênero. Meu pai morreu há três anos, ainda não aprovando", revela.
Brunna mora há dois anos na capital paulista, onde trabalha como orientadora sócio-educativa no Centro de Referência da Diversidade da ONG Grupo pela Vida, e visita a família apenas uma ou duas vezes por ano.
"No fim de 2012, fui lá passar o Ano Novo e contei que vou fazer a mudança de sexo. Percebi a rejeição no olhar, na fala deles. Ficaram perguntando se já consegui trocar de nome, se já está no RG. Enfrento isso todo dia, pois a sociedade nos vê como diferentes", diz.
"Esses dois anos de acompanhamento que oferecemos com psicoterapeuta, psiquiatra e endocrinologista servem para a pessoa ter certeza sobre a cirurgia. Aí fazemos o encaminhamento ao HC. Nesse período, alguns desistem. Outros vão para a Tailândia, mudam de sexo e se arrependem, porque lá não existe todo esse protocolo daqui", diz a diretora técnica substituta do ambulatório, Angela Peres.
Segundo ela, o local conta com uma equipe de 30 profissionais – entre clínicos gerais, endocrinologista, psiquiatra, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, urologista, ginecologista, proctologista, assistentes sociais e recepcionistas – e atende brasileiros de vários estados, como Minas Gerais, Bahia e Acre.

Cirurgia, felicidade ou arrependimento

Em 14 anos, o HC de São Paulo já operou 50 pacientes para mudança de sexo, a maioria homem que se sente mulher, segundo o chefe de urologia pediátrica e disfunção sexual do hospital, Francisco Dénes.
"Nunca vi um caso de alguém que tenha se arrependido. Isso ocorre quando o paciente é mal orientado", ressalta.
Para trocar do sexo masculino para o feminino, em geral são feitos tratamento hormonal e uma única cirurgia de 4 horas. Já o inverso exige duas ou mais operações de cerca de 3 horas. Apesar de o primeiro caso, em que há a desconstrução do pênis e dos testículos para a formação de uma vagina, parecer mais tranquilo, o urologista diz que pode exigir retoques, ter mais problemas anatômicos, risco de infecção, abertura dos pontos ou necrose (morte do tecido).
O pós-operatório envolve o uso de curativos, sonda e pelo menos sete a dez dias de repouso no hospital. Se não houver problema, a pessoa pode voltar logo às atividade normais. E nos dois anos seguintes, pelo menos, deve fazer acompanhamento médico.
Em entrevista ao Fantástico, em janeiro, a transexual Lea T, filha do ex-jogador de futebol Toninho Cerezo, disse que se arrepende de ter feito a troca de sexo em março do ano passado e que não aconselha o procedimento para ninguém. Ela foi operada na Tailândia e passou um mês e meio no hospital sentindo dores.
"Eu achava que a minha felicidade era embasada na cirurgia. Fiquei mais à vontade, mas um pênis e uma vagina não trazem felicidade para ninguém. Nunca vou ser 100% mulher. Calço 42, minha mão é enorme, meu ombro é largo. Quando fiquei deitada na cama, entendi que isso tudo é uma bobeira. É um detalhe importante para a sociedade", disse na época.
Segundo o psicólogo Rafael Cossi, ver a cirurgia como forma de "normalização" social, para se adequar ao pensamento heterossexual, é uma das maiores críticas à mudança de sexo. Ele cita o site sexchangeregret.com, em que um grupo de transexuais arrependidos após a operação contesta a ideia de que a troca de sexo é o fim para todos os males.
"Muitas pessoas não ficam em paz consigo mesmas, não têm benefícios nem se veem de uma forma mais tranquila. Algumas desenvolvem problemas que não tinham antes, como alcoolismo ou dependência de drogas. Isso porque a cirurgia não altera só a imagem corporal para pertencer a outro sexo, mas tem várias complicações, pelo fato de o indivíduo passar a apresentar outro status na vida, um novo nome e ser visto de maneira diferente pela sociedade", explica.
Mas, por outro lado, tem gente que é muito beneficiada com a cirurgia, diz o psicólogo.
"É caso a caso. Para a (ex-BBB) Ariadna, por exemplo, pelo que ela deu de entrevista, foi algo muito bom", ressalta.
Desde 2008, o SUS já fez 2.451 cirurgias de mudança de sexo de homem para mulher, único grupo de pacientes atendido atualmente, pelo fato de o Ministério da Saúde considerar que são casos mais comuns (três homens para uma mulher), mais bem padronizados e aprovados pelos conselhos de medicina.
Fonte: G1
http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/?vCod=143062

domingo, 12 de agosto de 2012

Reportagem - Transexualidade: um drama existencial



ESTA REPORTAGEM ESTA ESCRITA E INTEGRADA NO CENÁRIO BRASILEIRO. 



Transexualidade: um drama existencial
Cirurgia de redesignação sexual e documentação adequada são apenas duas das difíceis etapas e angústias por que passam aqueles que buscam concordância entre a anatomia e o psíquico


shutterstock

Faz 10 anos que o Conselho Federal de Medicina aprovou a cirurgia de redesignação sexual em pessoas que nasceram homens, mas que interiormente eram mulheres como também o oposto, mulheres que em sua essência sentiam-se homens. “A transexualidade pode ser determinada por uma alteração genética no componente cerebral, combinada com alteração hormonal e fator social. Entretanto, a hipótese mais aceita é de que se trata de uma diferenciação sexual prejudicada no nível cerebral”, esclarece a profª Maria Jaqueline Coelho Pinto, psicóloga da Equipe de Adequação Sexual da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP e membro do Grupo Sexualidade Vida, da USP/CNPq.
Alguns especialistas acreditam que após a cirurgia este transtorno de identidade seja sanado, como explica o psiquiatra, sexólogo e prof. doutor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Dr. Sergio Almeida: “é feita uma adequação entre o corpo fisiológico e o mental, então a pessoa entra em harmonia, pois não irá mais existir esta discrepância entre a identidade de gênero e a fisiológica”, afirma.
Da mesma opinião, a psiquiatra Coordenadora do Comitê de Sexualidade da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e Professora da Faculdade de Medicina da USP, Dra. Carmita Helena Najjar Abdo, diz que o transexual resolve o seu drama de identidade e se sente curado após fazer a cirurgia.
Indo mais além nesta questão, a advogada Tereza Vieira afirma que a cura global só acontecerá depois de adequar a documentação, pois só assim não será mais vítima de preconceito ou discriminação social. “Não precisará se candidatar a subempregos nem terá mais vergonha de mostrar a identidade. O nome corresponderá ao seu biotipo”, diz.
Já a endocrinologista do Hospital das Clínicas, Dra. Elaine Maria Frade Costa, acredita que a cirurgia não corrigirá o transtorno de identidade sexual do indivíduo. “Ela apenas proporcionará uma adequação do fenótipo (características externas) ao sexo psíquico, porém o transtorno continuará existindo apesar de o indivíduo ser adequado socialmente, pois o transexual nunca será um homem ou mulher absoluto em relação ao órgão genital e suas funções, mas a cirurgia deixará apenas a aparência e função da genitália o mais próximo possível da sua identificação”, diz.
O ciurgião-plástico Dr. Jalma Jurado lembra que nenhum ser humano está plenamente satisfeito com sua plástica; ninguém afirma que nasceu perfeito, independente de ser ou não transexual. É importante ter consciência de que a medicina evoluiu e que não é mais preciso esconder-se ou não se aceitar. “O médico vai ajudá-lo, respeitando o que está impresso no cérebro dele e tornando-o adequado à linha masculina ou feminina”, argumenta.

As Cirurgias de Transgenitalização
Redesignado mulher 
Para o cirurgião-plástico Jalma Jurado o grande drama é o aspecto externo da vulva. “A vagina é o canal e a vulva é o aspecto externo. O que precisa ser feito é uma vulva que não choque o parceiro”, diz.

Procedimento cirúrgico: a técnica mais avançada é aquela que usa somente a pele do pênis, que é muito elástica, extremamente lisa e tem pouco pêlo. “Eu deixo os vasos que nutrem a pele e os nervos porque o gatilho do orgasmo precisa de sensibilidade normal”, explica Jurado.

Vantagens: essa pele virada ao contrário vai fazer o forro da vagina, sua fricção vai provocar prazer chegando até o orgasmo.

Pós-operatório: fisioterapia no canal vaginal durante dois meses ou o uso do molde vaginal por pelo menos quatro horas ao dia. “O objetivo é assegurar que a neovagina se recupere corretamente e que mantenha seu tamanho e funcionalidade”, diz Jaqueline.
Após a retirada dos testículos, indica-se tomar hormônio indefinidamente para não ocorrer menopausa instantânea, “ou problemas relacionados à falta de hormônio como osteoporose, perda da musculatura, insônia, calor, irritação etc.”, orienta o urologista e prof. Dr. Carlos Cury da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.
Existem outras técnicas para se fazer a neovagina, como a realizada pelo cirurgião plástico norte-americano, Dr. Gary Alter, que faz o clitóris a partir da cabeça do pênis (glande) e garante que há bem poucas complicações depois que ocorre a cirurgia de redesignação. “É uma mulher, urina sentada, já que o canal da urina é encurtado”, diz. Já Dr. Jurado usa partes restantes do canal urinário para fazer o clitóris e mantém a glande no interior da vagina imitando o útero.

Redesignado homem 
A cirurgia se baseia no conhecimento da técnica que foi feita num homem que perdeu ou amputou o pênis para fazer num transexual feminino que vai ser redesignado homem.

Procedimentos cirúrgicos: intervenções complexas que envolvem a mastectomia bilateral – redução significativa dos seios, a histerectomia – retirada do útero, a ooforectomia bilateral – extirpação dos ovários e tratamento hormonal, vaginectomia – remoção da cavidade vaginal, colocação de próteses testiculares de silicone e faloplastia – construção plástica do pênis.
Como é feita a faloplastia: a operação é feita com a pele ou o músculo do abdômen ou ainda com a pele da virilha. “Dentro do tubo de pele é construído um canal por onde vai passar a urina e dentro deste tubo colocam- se materiais aloplásticos (prolipropileno) que farão o neopênis ter um pequeno enrijecimento que permitirá a relação sexual”, explica Jurado. Durante a operação é criado o escroto usando os lábios vaginais.
Pós-operatório: não haverá ereção espontânea. O transexual terá que levantar o órgão para introduzi-lo. O orgasmo poderá ser decorrente da sensibilidade do clitóris que estará embaixo do pênis. “No mundo inteiro os resultados desta cirurgia não são bons, porém os transexuais femininos encontram outras formas para agradar suas parceiras”, revela Dr. Cury.
No Brasil esta cirurgia ainda é experimental. Há cirurgiões que usam a pele do braço para reconstruir o pênis por meio de microcirurgia; porém, o procedimento deixa uma marca muito grande e caso a cirurgia não seja bem-sucedida poderá ocorrer trombose no neopênis. Alguns operam a cartilagem do pescoço e outros as cordas vocais. “O que muda a voz são os exercícios praticados com uma fonoaudióloga (60%) ou a cirurgia da corda vocal (40%)”, esclarece Dr. Cury.

HUTTERSTOCK
A transexualidade é um distúrbio de identidade sexual no qual o indivíduo necessita alterar a anatomia

No Brasil, a maioria dos transexuais chega ao consultório com a nova aparência formada. “O transexual masculino já está tomando hormônio feminino e o transexual feminino já vem tomando hormônio masculino, ou seja, o fenótipo está bastante modificado. Resta para esta pessoa uma situação muito mais relacionada com o genital para adequar ao seu fenótipo”, explica Carmita. O nome dado a este fenômeno é transexualidade
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LONGO PERCURSO 
A maior dificuldade dos transexuais é esperar por muitos anos para fazer a cirurgia. Recentemente, houve uma determinação da Justiça Federal para que o Sistema Único de Saúde (SUS) inclua em sua lista de procedimentos a cirurgia de transgenitalização. A medida é resultado de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a União. O MPF considera a garantia da cirurgia um direito constitucional.
Os transexuais reivindicam o direito à saúde e, por ser um problema diagnosticável e com tratamento, não há motivo para que eles não sejam atendidos. Caso o SUS não inclua a cirurgia terá que pagar multa diária no valor de R$ 10 mil. A decisão vale para todo o território nacional. “Encaro essa decisão como um grande avanço em prol de pessoas que sofrem inconformados com o seu sexo. Mas penso que a discussão em relação à falta de atenção com os transexuais deva ir além da cirurgia”, adverte a psicóloga Maria Jaqueline.

Os transexuais reivindicam o direito à saúde e, por ser um transtorno diagnosticável e com tratamento, não há motivo para que eles não sejam atendidos
Pessoas contrárias à cirurgia dizem que, como o órgão masculino funciona e as mamas são perfeitas, a operação seria um crime. Em razão deste pensamento, muitos transexuais mutilaram-se, massacraram suas mamas, entraram em profunda depressão e até se suicidaram. Além disso, é por meio do órgão masculino que se constrói a neovagina, tanto que os tratamentos atuais já orientam aos transexuais a aceitarem o órgão, pois têm que estar sadios para ser usados para reconstrução da vagina (veja no quadro As Cirurgias de Transgenitalização como é feito o procedimento).
Cabe aqui citar a opinião do juiz federal Roger Raupp Rios: “a partir de uma perspectiva biomédica, a transexualidade pode ser descrita como um distúrbio de identidade sexual no qual o indivíduo necessita alterar a designação sexual sob pena de graves conseqüências para sua vida, dentre as quais se destacam o intenso sofrimento, a possibilidade de auto-mutilação e de suicídio”.
O magistrado decidiu obrigar o SUS a pagar os custos da cirurgia de transgenitalização com o seguinte parecer “a prestação de saúde requerida é de vital importância para a garantia da sobrevivência e de padrões mínimos de bem-estar dos indivíduos que dela necessitam e se relaciona diretamente ao respeito da dignidade humana”.
                  Wilton Junior/AE
O que ainda continua moroso é não haver uma lei completa, pois são precisos laudos médicos, às vezes perícia, e um advogado que seja profundo conhecedor das leis de saúde e jurídicas para provar ao juiz e promotor que esta pessoa precisa adequar o seu nome e documentos para gozar o direito de uma vida sem discriminações. “Como prega a Constituição, o direito à saúde é dever do Estado e no Art.13 do Código Civil de 2002 está escrito que, salvo por exigência médica, a pessoa não poderia dispor de uma parte do corpo. Portanto, por exigência médica, para melhorar a saúde pode ser realizada a cirurgia”, defende Dra. Tereza, responsável por regularizar a documentação da transexual Roberta Close e de inúmeros casos de transexuais no Brasil.
Para acabar com preconceitos ou falta de informação sobre este assunto vale relembrar o que disse o juiz Raupp Rios “quanto à possibilidade de criminalização do médico – que poderia decorrer do efeito mutilador da cirurgia, conforme alegou a União, cito a doutrina segundo a qual, em procedimentos cirúrgicos realizados com o consentimento expresso ou tácito do paciente, em caso de interesse médico, não há crime” (AC 2001.71.00.026279-9/TRF)”.
A advogada vai mais além e faz a seguinte comparação: “se não existisse a lei (Art 13, Cód. Civil 2002), ninguém poderia retirar o rim saudável para transplantá-lo em uma pessoa doente, como também não existiriam vários tipos de cirurgia plástica visando reparar alguma parte do corpo afetada por um acidente ou deformidade congênita”.
Esta constatação é comprovada por médicos de diferentes áreas da saúde e por especialistas da área psi. Por esses motivos, a Justiça percebeu que a saúde física e psíquica do ser humano não é da sua alçada. “Tanto que, quando surge este tipo de problema, o juiz nomeia um perito, figura desempenhada por um médico ou psicólogo”, complementa Tereza.
Será que nestes casos comprovados de transexualidade não seria menos desumano aprovar o ajuste da documentação enquanto se espera pela realização da cirurgia? “Eu defendo que o nome é aquele pelo qual a pessoa é conhecida, e não o do registro. Como também a troca de nome para pessoas cujos nomes as colocam em situações sociais de extremo sofrimento e constrangimento. Imagine uma pessoa com todas as feições femininas e silhueta arredondada ser obrigada a apresentar a identidade com o nome de João”, questiona Tereza.
Após a cirurgia tem de haver uma adequação social e profissional, pois a cirurgia apenas elimina a discrepância entre o genital e o mental
Será que nestes casos comprovados de transexualidade não seria menos desumano aprovar o ajuste da documentação enquanto se espera pela realização da cirurgia? “Eu defendo que o nome é aquele pelo qual a pessoa é conhecida, e não o do registro. Como também a troca de nome para pessoas cujos nomes as colocam em situações sociais de extremo sofrimento e constrangimento. Imagine uma pessoa com todas as feições femininas e silhueta arredondada ser obrigada a apresentar a identidade com o nome de João”, questiona Tereza.
Para Dr. Oswaldo M. Rodrigues Júnior, diretor e psicoterapeuta sexual do Instituto Paulista de Sexualidade, a adequação cirúrgica é apenas uma parte do que será necessário para que os transexuais se sintam felizes e confortáveis. “Desenvolver a capacidade de lidar com as novas situações de vida ainda é uma necessidade primordial para alcançar um equilíbrio e felicidade”, enfatiza.
Além disso, após a cirurgia haverá a necessidade da adequação social aliada ao histórico profissional que permita obter uma vaga numa empresa, pois a cirurgia apenas elimina a discrepância entre o genital e o mental. “Muitos acabam até se prostituindo por não conseguirem emprego depois da cirurgia; inclusive aqueles que têm um emprego o fazem pela impossibilidade de continuar no trabalho que exerciam antes”, lamenta a psiquiatra Carmita.
“O primeiro avanço seria a sociedade perceber o transexual como cidadão, reconhecendo os seus direitos à família, educação, saúde, moradia, trabalho etc.”, defende Cassio Rodrigo, Coordenador Geral de Assuntos de Diversidade Sexual da Prefeitura de São Paulo.
Durante a terapia pode-se atestar a subjetividade do indivíduo, para certificar a importância de viver no gênero desejado antes da cirurgia
Com certeza a fase mais conflitante vivida pelo transexual é a adolescência. Neste período ocorre o inverso para cada gênero: para as meninas os pêlos; para os meninos as mamas se acentuam, ocorre a menstruação, tudo isto ocasionado pelas transformações hormonais.
Talvez por este fator muitos transexuais se arrisquem a já ir tomando o hormônio adequado a sua identidade e, não raro, sem prescrição médica. “Essa fase é caracterizada pela exacerbação da diferenciação sexual, que conduz a uma sensação de inadequação, ocasionando vergonha e não aceitação de seu genital”, esclarece Jaqueline.

Estudos sobre transexualidade: medicina baseada em evidências
A identificação ocorre na fase intra-útero quando o transexual sofrerá uma ambigüidade cerebral. “O hipotálamo tem um núcleo de células responsáveis pela sexualidade. No caso dos transexuais eles têm um “inprint” exatamente do outro sexo. A anatomia destas células, dos transexuais masculinos, é idêntica à da mulher. Nasce com células cerebrais femininas que obrigam o corpo e a mente a se comportarem no outro sexo e o inverso também ocorre. O transexual tem certeza de sua identidade e sempre vai querer ser operado”, explica Dr. Jurado.
Experiências e estudos realizados na Holanda, em autópsias com transexuais, verificaram que o tamanho das células do transexual masculino é semelhante ao da mulher e dos transexuais femininos, igual ao do homem.
“Pesquisadores holandeses acham que nascemos com a identidade de gênero (masculina ou feminina) já definida por células de uma parte do cérebro chamada Stria Terminalis, localizada no hipotálamo”, diz o psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Ronaldo Pamplona da Costa em seu livro Os Onze Sexos – As múltiplas faces da Sexualidade Humana, Kondo Editora.Para Ronaldo, esta região cerebral se apresenta maior no homem do que na mulher e é ela que regula o comportamento de gênero masculino ou feminino. Esta região cerebral também recebe influências do meio ambiente e educação, porém após os três anos de idade não sofrerá nenhuma mudança; o gênero já estará totalmente definido. “Em 1995, um estudo do Instituto do Cérebro, também na Holanda, verificou em seis transexuais masculinos que todos tinham o mesmo tamanho da Stria Terminalis de uma mulher”, revela Dr. Ronaldo.
Atualmente a medicina considera que o hipotálamo tem fundamental importância no comportamento do ser humano. “O sistema nervoso central tem o cérebro como seu principal órgão; nele estão zonas relacionadas a todas as atividades biológicas e psicológicas do ser humano. Durante a gestação o cérebro receberá banhos de hormônios masculinos no feto macho e hormônios femininos no feto fêmea que influenciarão no desenvolvimento do hipotálamo”, afirma.
A endocrinologista e psicoterapeuta Dra. Dorina Epps, pioneira no tratamento da transexualidade no HC, revelou que ocorre alteração hormonal nos transexuais. “Revendo a literatura sobre o assunto, verificou-se que alguns hormônios hipotalâmicos não são secretados de maneira normal e, sim, com picos sucessivos e com maior freqüência”, relata.
“Os transexuais têm a sensação de terem nascido num corpo trocado, ou seja, sentem-se aprisionados num outro corpo e com o desejo de viverem e serem aceitos como pessoas do sexo oposto”

Os especialistas ensinam que neste período é melhor compreender que a mudança é gradual respeitando o seu processo de aceitação e adaptação. “Muitos casos de dúvida acabam levando a conseqüências altamente desastrosas, depressões profundas, até risco de suicídio quando o que deveria ser feito não o é devidamente”, constata Carmita.
O drama poderá ficar maior quando estão terminando a faculdade. “O compromisso social com o trabalho invoca mais conflitos”, considera Rodrigues Junior. O incômodo pode se acentuar quando já exercem atividade financeiramente produtiva e o trabalho exige atitudes apropriadas ao gênero que não é sentido como próprio.
“A família e a sociedade precisam entender que o transexual é realmente o que sente e acredita ser e, como todo ser humano, ele é responsável por seus atos. Portanto, não pode ser mais vítima de humilhação ou marginalização nem de repressão”, adverte a psicóloga Dra. Lourdes Brunini, diretora-presidente da Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.
O Prazer após redesignação sexual
A relação sexual da mulher (transexual masculino), na maioria das vezes, é satisfatória com penetração peniana completa. “O clitóris é uma estrutura estética e a paciente tem prazer na relação com a penetração, pois a glande peniana no fundo da vagina funciona como tecido excitável”, conta Dra. Elaine.
Após a cirurgia ela deve investigar o novo genital e ao se masturbar vai experimentar os primeiros orgasmos e assim se encaminhar a desenvolver a sua plena sexualidade. “Possibilitará o ‘encontro’; o corpo fragmentado e parcial reconhece- se agora como integrado e próprio. O clitóris é apenas colocado esteticamente, o prazer e sensações mesmo vão ser explorados na vagina”, revela Jaqueline.
De acordo com o psiquiatra Sergio Almeida a relação com a neovagina será ótima. Em média a mulher passa a ter orgasmos depois de 6 meses quando a cabeça, o psicológico, já se adapta ao novo corpo feminino. “O prazer se dá pela fricção. No transexual o clitóris só tem função estética”, revela o psiquiatra e sexólogo.
O orgasmo se dará quando o pênis do parceiro bater na glande que está lá no fundo da neovagina. “Chamamos a glande de “útero”, pois após a cirurgia ela ficará semelhante a um útero”, explica Sergio.
No caso do homem, seu novo pênis deverá passar pelos mesmos processos experimentais e poderá atingir orgasmo, porém com ausência de ejaculação. “O prazer orgásmico se dá pelo processo de percepção e não pela fricção física. O orgasmo é sentido mentalmente”, revela Dr. Oswaldo.
É mais comum os homens (transexuais femininos) ficarem satisfeitos com a ablação das mamas, terem o corpo masculinizado, com barba, e não menstruar, já que foram retirados o útero e os ovários. “Vivem a sexualidade sem a necessidade de transformação, completando o prazer com o uso de objetos”, explica Dra. Carmita.


AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Compreender os principais problemas vivenciados pelos transexuais requer entrevistas. "Também utilizamos recursos psicoterápicos para o atendimento individual e/ou grupal, orientação e conscientização do processo pré, trans e pósoperatório, orientação dos pacientes e familiares no período de internação e nos retornos ambulatoriais e facilitação para a ressocialização no período pós-operatório”, explica Jaqueline.
Segundo a psicóloga, durante o tratamento poderá ser atestada a subjetividade daquele indivíduo, que deverá se apresentar diferente em gênero da sua natureza física e, assim, será certificada a importância da experiência de viver no gênero desejado antes da definição cirúrgica, que é irreversível.
A psicoterapia serve para que o terapeuta ajude o paciente a fortalecer sua real identidade. “Compreender o contexto de suas relações e valores, adquirir uma visão mais realista do tratamento cirúrgico e de sua vida após a cirurgia, pois a maioria deposita na cirurgia o poder mágico de solução para todos os problemas”, esclarece Jaqueline.
reprodução
O filme A Má Educação (La Mala Educación), de Pedro Almadôvar, fez grande sucesso com o ator Gael Garcia Bernal dando vida à personagem transexual vivendo seus dramas

No decorrer do trabalho psicoterápico, Rodrigues Junior cita a importância da terapia individual para desenvolver o mecanismo de confiança social. “O processo psicoterápico pode durar anos, porém as mudanças psicossociais básicas precisam de cerca de dois anos para se instalar e a pessoa passar a viver pelas regras do gênero psicológico, aprontando- se para os processos cirúrgicos”, diz.
De acordo com o psiquiatra Sergio Almeida, para ser feita a cirurgia de adequação para o gênero feminino, os resultados das avaliações psicológicas precisam ficar em torno de 90 a 95% para o perfil feminino. “Assim como heterossexuais teriam este valor. Pois ninguém é 100% homem ou mulher”, afirma.
Todas as especialidades citadas até aqui na reportagem só existem em atividade concomitante nos Hospitais das Escolas de Medicina, porém o tratamento terapêutico também é encontrado em consultórios particulares.
INSERÇÃO SOCIAL 
Com o laudo médico, o advogado entra com um processo para ajustar a certidão de nascimento e carteira de identidade com o nome real, um passaporte condizente com o gênero (feminino ou masculino), sem nenhum tipo de discriminação, para atestar que se trata de transexual. “Nós, profissionais do Direito, devemos contribuir para o não-prolongamento do sofrimento destas pessoas auxiliando- as na necessária adequação de seus documentos, pois sua manutenção impede a inserção social e profissional do indivíduo. Ao Direito e à sociedade interessam a identificação correta do indivíduo, portanto sexo social, psicológico e jurídico devem coincidir sob pena de o indivíduo acometido por este problema ser condenado ao ostracismo, a subempregos, ser um verdadeiro pária social, sem poder gozar dos seus direitos mais básicos como saúde e educação”, esclarece Tereza.

Segundo a advogada, na carteira de identidade ocorrerá apenas a mudança de nome, pois dela não consta o sexo. Na certidão de nascimento haverá a alteração do prenome e do sexo. “No espaço destinado às observações poder-se-á inscrever ‘registro feito na forma da lei’, ‘contém averbações’, mas nada que exponha o indivíduo a situações vexatórias. Há sentenças em que o juiz solicita que nada se inscreva no espaço destinado às observações na certidão de parcial teor”, explica.
João MIguel Júnior
Rogéria: travesti conhecido é um dos poucos que mantêm sua identidade feminina sem recorrer à cirurgia ou à nova documentação
Quando o assunto é casamento, trata-se de uma questão ética e moral, muitas vezes não há como dizer se é certo ou errado contar o passado para quem vai se casar. O futuro cônjuge pode não ter a compreensão e conhecimento esclarecido sobre a disforia de gênero e assim pode exigir a anulação até três anos depois da data da celebração. “Em havendo o temor da realização de um possível casamento, incorrendo em erro o pretendente, basta se averbar no livro de registro (não na certidão) de nascimento que tal alteração é determinada por sentença judicial. Assim, o eventual pretendente (bem como as autoridades) conhecerá sua história, caso ainda não tenha sido contada, pois para se casar será exigida a certidão de nascimento de inteiro teor (com todas as informações)”, explica Dra. Tereza.
Quanto aos diplomas escolares e universitários, basta levar a certidão para que a secretaria escolar regularize toda a documentação condizente com o correto gênero.
Dentre outros, o direito do transexual está baseado no direito à saúde (art. 196), no direito à vida privada (art.5, X) tutelados pela Constituição Federal. Os arts. 13 e 21 do novo Código Civil resguardam a disposição do próprio corpo quando recomendadas por médicos e tutelam a vida privada, respectivamente.
Além disso, a advogada alerta a sociedade dizendo: “o Direito deve facilitar e colaborar para inclusão social do transexual, pois, conforme declarou certa vez o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso Mello, ‘de nada adianta superar este impasse – a dicotomia entre realidade morfológica e psíquica – se a pessoa continua vivendo o constrangimento de apresentar documentos do sexo oposto’”, relembra a doutora.

Saiba mais
Livros 
Vivência Transexual: o corpo desvela seu drama, Profª Maria Jaqueline Coelho Pinto, Editora Átomo (2003); Bioética – Temas Atuais e seus Aspectos Jurídicos, autora Dra. Tereza Rodrigues Vieira, Editora Consulex (2006); Os Onze Sexos – As Múltiplas Faces da Sexualidade Humana, autor Dr. Ronaldo Pamplona da Costa, Kondo Editora (2005); O extrasexo, autora Catherine Millot, Editora Escuta (1992).
Filmes
*Transamérica
*A Má Educação
*Os Homens também Choram
*Minha Vida em Cor-de-Rosa
Sites
www.transexual.com.br
www.osonzesexos.com.br
www.paradasp.gov.br
www.saude.gov.br
www.anvisa.gov.br
www.abiaids.org.br



De acordo com a Classificação Internacional de Doenças, o Transtorno da Identidade Sexual – Transexualismo é um desejo de viver e ser aceito como pessoa do sexo oposto. Este desejo se acompanha em geral de um sentimento de malestar ou de inadaptação por referência a seu próprio sexo anatômico e do desejo de submeter-se a uma intervenção cirúrgica ou a um tratamento hormonal a fim de tornar seu corpo tão conforme quanto possível ao sexo desejado.
Fonte: CID-10, F64 e F64.0
Anna Melo é jornalista e escreve sobre saúde

http://transexualidadeportuguesa.blogspot.com.br/2012/07/transexualidade-um-drama-existencial.html

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Travestis e transexuais podem pedir inclusão de nome social em documentos da Prefeitura de São Paulo

publicado em 15/01/2010 às 12h00:

Interessado deverá preencher cadastro; associação da Parada Gay comemora

Clayton Freitas, do R7





Os transexuais e travestis poderão pedir na Prefeitura de São Paulo a inclusão do nome que usam normalmente – chamado de social – em documentos de órgãos públicos. 

Nesta sexta-feira (15) um decreto do prefeito Gilberto Kassab (DEM) dá a permissão para que todos aqueles que prefiram ser chamados com o nome social tenham o mesmo incluído em documentos como formulários, fichas de cadastro, registros escolares e outros. 

O decreto define nome social como “aquele pelo qual travestis e transexuais se reconhecem, bem como são identificados por sua comunidade em seu meio social”. 

O nome social do travesti ou transexual deverá ser incluído entre parênteses antes do nome civil. Os interessados, segundo o decreto, devem manifestar por escrito o desejo de terem o seu nome incluído nos cadastros municipais. Para isso ele terá de preencher um requerimento. 

O presidente da APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT- que significa gays, lésbicas, bissexuais e transexuais), que organiza a Parada Gay, o transexual Alexandre dos Santos, afirma que a medida é positiva e aprova a necessidade de requerimento para troca do nome em documentos públicos. 

Antes Alexandra, ele afirma ser constrangedor receber um documento com seu nome de batismo. 

- Estou muito contente que isso tenha acontecido. É uma vitória do movimento. Faltava São Paulo, já que outros Estados já adotaram.

Entre outros órgãos que já adotam o nome social de transexuais ou travestis em seus registros está o SUS (Sistema Único de Saúde). O folheto elaborado pelo Ministério da Saúde denominado "Saúde da população de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais" permite que o prontuário de atendimento conste o nome social. 

No folheto, o ministério libera o uso do nome social nos prontuários de atendimento do SUS e ainda reconhece a discriminação como problema que justifica um olhar diferenciado ao tratamento.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/travestis-e-transexuais-podem-pedir-inclusao-de-nome-social-em-documentos-da-prefeitura-de-sao-paulo-20100115.html

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Hospital das Clínicas suspende procedimentos de transexualização


Cuidados pós-cirúrgicos também foram cancelados na unidade médica

Publicado em 31/03/2012, às 20h47

Fabiana Moraes

Agricultora Joicy Melo, 51 anos, fez duas reaberturas para dilatar as paredes vaginais / Foto: Rodrigo Lobo/JC Imagem

Agricultora Joicy Melo, 51 anos, fez duas reaberturas para dilatar as paredes vaginais

Foto: Rodrigo Lobo/JC Imagem

Faz um ano que Juliana Amorim, 26 anos, saiu do Hospital das Clínicas (HC) após se submeter a cirurgia de redesignação sexual. Estava certa que seu cotidiano se ajustaria ao corpo que finalmente traduzia por fora aquilo o que ela era por dentro. Doze meses depois, Juliana passa por constrangimentos parecidos com aqueles que enfrentava antes de iniciar o demorado processo de transexualização: tem vergonha do novo corpo, está depressiva e não fica nua na frente do próprio marido. Seu canal vaginal, aberto quando transexuais masculinos passam para o feminino, está fechado, com o novo sexo cumprindo uma função meramente estética. Ela procurou há meses o HC para resolver o problema e teve uma péssima notícia: os procedimentos de transexualização, assim como aqueles que podem ocorrer após a cirurgia, foram suspensos. Duas outras transexuais enfrentam o mesmo problema.

O colamento das paredes (estenose) da neovagina de Juliana foi provocado pela própria paciente . “Percebi que o canal não foi aberto totalmente no meio, e mais à direita. Quando eu movimentava a perna, o molde era expulso. Sentia dor para recolocar, sentia dor quando fazia movimentos simples. Deixei fechar para que reabrissem da maneira correta.” O molde ao qual ela se refere, um pênis de borracha com aproximadamente 12 centímetros, deve ser mantido dentro do canal para que a neovagina não se feche durante a cicatrização. Além de Juliana, outras pacientes estão com o canal fechado. Joicy Melo, 51, fez duas reaberturas para dilatar as paredes vaginais, sem sucesso. A agricultora e cabeleireira também foi informada que não há, atualmente, um médico para realizar a nova cirurgia. Outra paciente já operada que sofre de estenose, segundo o HC, é a cabeleireira Cynthia Lourenço, operada em 2006.

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2012/03/31/hospital-das-clinicas-suspende-procedimentos-de-transexualizacao-37785.php

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Transexual paulistana é a mais velha a fazer cirurgia de "troca de sexo"


01/04/2012 - 09h45

MARIANA VERSOLATO

DE SÃO PAULO

A cabeleireira aposentada Andréia Ferraresi, 68, de São Paulo, é a transexual mais velha do país a fazer uma cirurgia para troca de sexo. Registrada ao nascer como Orlando, ela esperava pela operação desde 1979, quando recebeu o diagnóstico de transexualidade. Sem dinheiro para pagar pelo procedimento, teve que aguardar até que a cirurgia fosse feita no SUS. Foi operada no dia 27 de fevereiro, no HC. Leia o depoimento concedido por ela à Folha.
Marisa Cauduro/Folhapress
Andréia Ferraresi, 68, no ambulatório para saúde de travestis e transexuais, em São Paulo
Andréia Ferraresi, 68, no ambulatório para saúde de travestis e transexuais, em São Paulo
"Sofri muito na vida por um conflito de identidade e esperei por essa cirurgia desde 1979, quando procurei o HC e recebi o diagnóstico de transexualidade.
Na época, o SUS não fazia a cirurgia. Quem fazia eram os médicos particulares. Fui a dois e me cobraram um preço exorbitante. Minha mãe disse que não tinha dinheiro e eu entendi. Ela já sofria, se sentia culpada por mim.
Sou a caçula de 11 irmãos e todos eram "normais". Os irmãos que nasceram pouco antes de mim eram homens e minha mãe queria que a última fosse menina. E nasceu uma menina, mas com os órgãos que os outros tinham.
O sofrimento sobrou para mim, com "bullying" na escola e aquele conflito de você sentir uma coisa e não ser o que você sente.
Na infância, só brincava com as meninas. Um dia, no colégio, ganhei uma boneca na rifa e os meninos falaram: "Mariquinha, mariquinha!". Eles pensavam que estavam me ofendendo, mas quanto mais falavam mais orgulho eu sentia da boneca.
Com 14 anos, peguei o vestido da minha irmã. O povo dizia que tinha caído certinho em mim. Minhas vizinhas me deram saias e comecei a usar roupa de mulher.
Quem aceitou mais foi minha mãe. Ela sempre quis me proteger. Mas meu pai e um irmão me perseguiram até eu fazer os exames que provaram que eu era transexual.
Quando saiu o diagnóstico me pediram até perdão. É muito ruim você se sentir reprimida pela própria família.
Ainda teve o regime militar. Os transexuais sofreram demais com perseguições policiais. Cheguei a ficar um mês na prisão, mas o juiz me soltou. Viram que eu não tinha perigo nenhum, nunca fui criatura de beber, de vida fácil. Sempre tive meu trabalho de cabeleireira.
O tempo foi passando até que encontrei o CRT [Ambulatório para Saúde Integral de Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids], em 2009. Quando cheguei, estava numa depressão fora do comum, um trapo.
Comecei o tratamento com o psiquiatra, tomei remédios por um ano e fui encaminhada para a operação. Sou a primeira do ambulatório a fazer a cirurgia e vou abrir a porta para muitas que precisam.
IDADE
O povo dizia: "Mas não é um pouco tarde para você fazer a cirurgia?". E eu respondia: "Não, eu ainda preciso viver, não vivi minha vida! Estou começando só agora".
Eu tenho idade de vovó, mas me sinto forte e feliz. A velhice está na cabeça das pessoas. Os homens, quando passam por mim na rua, falam: "Quanta saúde!".
Se eu puder pegar um forrozinho, eu vou, faço dança do ventre. Um médico me disse: "Do jeito que está indo, a senhora vai viver uns 95". E eu disse: "Quero viver ainda mais, doutor!".
A cirurgia mudou tudo. Esqueci aquele passado de sofrimento. O que interessa agora é daqui pra frente.
Fiquei muito satisfeita com o resultado. Não tem uma cicatriz. Parece que eu nasci assim. Estou até me sentindo mais bonita.
Já uso o nome Andréia Ferraresi porque um juiz me deu autorização, mas agora está correndo o processo de mudança de sexo também no registro. Quero que aconteça rápido porque preciso casar, preciso de um amor.
Estou solteira, mas a minha felicidade é tanta que namorar é coisa secundária. Quero um amorzinho, mas com o pé no chão. Ficar na vida promíscua eu não quero, porque hoje em dia a doença venérea está demais.
Eu transava bastante quando era mais nova e não tinha Aids. Era um tempo bom. Pena que não vivi integralmente com essa periquita (risos).
Hoje me valorizo mais. A vida não se resume em sexo. Não é porque fiz a cirurgia que vou ficar no oba-oba. Eu fiz para mim, para a minha identidade, para me olhar no espelho e ver que sou mulher, não ver aquela coisa estranha que não estava combinando.
A cabeça da gente muda quando sai da mesa de operação. Ela elimina o que você tem de transtorno na sua cabeça. Fui solta de uma gaiola que me aprisionou por todos esses anos.
Hoje, a passarinha está voando, solta, feliz da vida. Os problemas parecem não ter o tamanho que tinham. Antes pensava que se não consegui um emprego era por causa de preconceito.
Hoje dou uma banana pro preconceito. Só importa que estou feliz da vida, mostrando que idade não tem nada a ver."