12/11/2011 -
Stephanie Rosenbloom
Há milhões de americanos à procura do amor na internet. Mal sabem eles que equipes de cientistas estão avidamente os observando tentar encontrá-lo.
Como Margaret Meads contemporâneos, esses acadêmicos reuniram dados de sites de relacionamento como Match.com, OkCupid e Yahoo! Personals para estudar atração, confiança, fingimento – até mesmo o papel de raça e política na perspectiva de romance.
Eles observaram, por exemplo, que muitos candidatos preferiam admitir serem gordos a liberais ou conservadores, que os brancos relutavam em namorar alguém de outra raça e que há formas de detectar mentirosos. Essas descobertas resultaram das tentativas de responder uma questão mais ampla que atormenta a humanidade desde Adão e Eva: como e por que as pessoas se apaixonam? “Há relativamente poucos dados a respeito de namoros, e grande parte do que existe na literatura sobre seleção do parceiro e formação do relacionamento se baseia nos dados do censo americano”, disse Gerald A. Mendelsohn, um professor do departamento de psicologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Sua pesquisa envolvendo mais de 1 milhão de perfis de sites de relacionamento foi financiada em parte por uma verba da Fundação Nacional de Ciência. “Isso agora nos dá acesso aos relacionamentos de uma forma que nunca tivemos antes”, ele disse. (Coletivamente, os grandes sites de relacionamento tiveram mais de 593 milhões de visitas nos Estados Unidos no mês passado, segundo a firma de monitoramento da Internet, Experian Hitwise.)
Andrew T. Fiore, cientista de dados do Facebook e ex-professor assistente visitante da Universidade Estadual de Michigan, disse que, diferente dos estudos em laboratório, “o namoro online fornece um contexto ecologicamente válido ou verdadeiro para exame dos riscos, incertezas e recompensas de iniciar relacionamentos reais com pessoas reais, em uma escala sem precedente”.
“À medida que mais e mais da vida acontece online, cada vez menos esse online é um vácuo”, ele acrescentou. “É a vida.”
Dos relacionamentos românticos formados nos Estados Unidos entre 2007 e 2009, 21% dos casais heterossexuais e 61% dos casais de mesmo sexo se conheceram online, segundo um estudo de Michael J. Rosenfeld, um professor associado de sociologia de Stanford. (Os acadêmicos dizem que grande parte dos estudos que usam dados online é sobre heterossexuais, porque eles correspondem a uma proporção maior da população.)
Os sites de namoro e acadêmicos já trabalharam juntos antes; a antropóloga biológica Helen Fisher, da Rutgers, por exemplo, é a consultora científica chefe do Chemistry.com, e ela ajudou a desenvolver o site, um irmão do Match.com.
Mas os acadêmicos também estão realizando pesquisa usando conteúdo anônimo, dado para eles como cortesia profissional pelos sites de relacionamento. Frequentemente os pesquisadores complementam isso com pesquisas e entrevistas pessoais, recrutando os usuários dos sites por meio de propagandas nos campi, jornais e em sites como Craigslist.
Aqui estão algumas das coisas que descobriram, incluindo máximas para os solteiros: por que os opostos não se atraem e honestidade nem sempre é a melhor política.
Verdade intuitiva
As pessoas que namoram online têm propensão a mentir? Nós realmente precisamos de cientistas para responder essa pergunta?
Em caso de curiosidade pelos números: aproximadamente 81% das pessoas não informam honestamente seu peso, altura ou idade em seus perfis, segundo um estudo conduzido por Catalina L. Toma, uma professora assistente do Departamento de Comunicação e Artes da Universidade de Wisconsin-Madison, que queria saber mais sobre como as pessoas se apresentam e como julgam uma declaração falsa. No lado positivo: as pessoas tendem a dizer pequenas mentiras, porque, afinal, elas poderão vir a se encontrar pessoalmente.
Toma; Jeffrey T. Hancock, um professor associado em Cornell; e Nicole B. Ellison, uma professora associada do Departamento de Telecomunicação, Estudos da Informação e Mídia da Universidade Estadual de Michigan, entrevistaram os usuários de sites de relacionamento em Nova York, os pesaram e mediram, fotografaram, checaram suas idades em suas carteiras de motorista e estudaram seus perfis nos sites.
Em média, as mulheres se descreviam como sendo 4 kg mais magras em seus perfis do que na realidade. Os homens mentiam apenas 1 quilo, apesar de mentirem mais do que as mulheres a respeito de sua altura, as aumentando em média em 1 centímetro (aparentemente, cada centímetro conta).
As pessoas eram mais honestas a respeito da idade, algo que Toma disse que provavelmente se deve porque elas podem alegar não saber seu peso e altura. Mesmo assim, em um estudo diferente ela descobriu que as fotos nos perfis das mulheres tendiam a ter em média 1,5 ano de idade. As dos homens tinham em média 6 meses. “Os usuários mentem para atender as expectativas do que acreditam ser seu público”, disse Toma.
Um artigo publicado no “Journal of Communication” usou uma análise por computador para mostrar que quatro indicadores linguísticos podem ajudar a detectar mentira no perfil de alguém.
Os mentirosos tendem a usar menos pronomes da primeira pessoa. Toma disse que é um indício de distanciamento psicológico: “Você está se sentindo culpado, ansioso ou nervoso”. Os mentirosos usam mais palavras negativas como “não” e “nunca”, outra forma de erguer uma separação. Os mentirosos usam menos palavras de emoções negativas como “triste” e “chateado”, e escrevem perfis pessoais online mais curtos. (É mais fácil não ser pego quanto menos disser.)
Os acadêmicos dizem que um pouco de mentira é socialmente aceitável – até mesmo necessário – para competir na cultura de relacionamentos online. A pesquisa de Ellison mostra que mentir é parcialmente resultado da tensão entre o desejo de ser verdadeiro e o desejo de apresentar o que alguém tem de melhor.
Assim, os perfis frequentemente descrevem uma versão idealizada; uma com as qualidades que pretendem desenvolver (isto é, “eu pratico mergulho”) ou coisas que já tiveram (isto é, um emprego). Alguns usuários distorcem a verdade para se enquadrarem em parâmetros de busca mais amplos; outros falseiam não intencionalmente suas personalidades porque seu autoconhecimento é imperfeito.
O padrão de distorção da verdade pode frustrar os honestos. “Então, se eu digo que tenho 44 anos, as pessoas pensam que eu tenho 48”, disse um homem entrevistado por Ellison e colegas em um estudo separado.
Mas há um lado positivo no logro: ele pode inspirar alguém, como colocou Ellison, a “reduzir a diferença entre a imagem real e a ideal”. Uma entrevistada mentiu sobre seu peso em seu perfil, e foi a motivação que ela precisava. Ela posteriormente perdeu 20 quilos enquanto namorava online.
Adivinhe quem não vem para jantar?
“Fique com seus iguais”, diz o refrão em “West Side Story”, um fenômeno que os sociólogos chamam de homofilia: o amor pelo mesmo. E eles observaram isso entre as pessoas que namoram online. Mas aqui está o que não esperavam descobrir: uma taxa muita alta de namoros de mesma etnia.
“Uma das teorias de como a internet poderia afetar os relacionamentos é que poderia minar a tendência das pessoas namorarem pessoas iguais a elas”, disse Rosenfeld, de Stanford. “Eu realmente esperava que surgiriam mais relacionamentos inter-raciais nos namoros online. Mas não é o que vemos.”
A pesquisa em um grande site de relacionamento entre fevereiro de 2009 e fevereiro de 2010, realizada por Mendelsohn e seus colegas, mostra que mais de 80% dos contatos iniciados por membros brancos foram com outros membros brancos, e apenas 3% com membros negros. Os membros negros eram menos rígidos: eles apresentaram uma probabilidade 10 vezes maior de contatarem brancos do que os brancos contatarem negros.
“O que há é basicamente uma relutância dos americanos brancos em namorarem ou contatarem pessoas de outras etnias, particularmente afro-americanos”, ele disse. “Nós ainda estamos longe de uma era pós-racial.”
Mendelsohn buscava estudar a formação do relacionamento, não aspectos étnicos. Mas no caminho ele descobriu que os brancos mais do que os negros, que as mulheres mais do que os homens, que os velhos mais do que os jovens, preferem um parceiro de mesma raça.
Algumas pessoas indicavam que estavam dispostas a namorar pessoas de outras etnias, mas não estavam. “O que as pessoas dizem que querem em um par e as qualidades que elas buscam não tendem a corresponder”, disse Coye Cheshire, um professor associado da Escola de Informação de Berkeley, que estudou isso com Fiore, Mendelsohn e Lindsay Shaw Taylor, integrante do laboratório de personalidade, identidade e relacionamentos da escola.
Ele disse, ela disse
Igualdade de gênero, ao que parece, não é sensual. As mulheres querem homens que sejam – imagine – altos e ricos, segundo a pesquisa de relacionamentos online de Gunter J. Hitsch e Ali Hortacsu, da Universidade de Chicago, e Dan Ariely da Duke. Os pesquisadores examinaram milhares de perfis que incluíam altura, peso e, em muitos casos, fotografias. Eles descobriram que as mulheres preferem homens ligeiramente acima do peso, enquanto os homens preferem mulheres ligeiramente abaixo do peso e que não sejam mais altas do que eles. Essas são as mulheres que têm a melhor chance de receberem um e-mail de apresentação de um homem.
E, apesar dos homens poderem escapar com alguns quilinhos a mais, eles têm que arcar com a expectativa de terem uma conta bancária mais gorda: os acadêmicos descobriram que as mulheres têm uma maior preferência do que os homens pela renda do que pelos atributos físicos.
Parceiros estranhos
Décadas de descobertas sobre ideologia política sugerem que ela é em parte passada dos pais para os filhos, disse Rose McDermott, professora de ciência política da Universidade Brown. E como estudos anteriores mostram que pessoas em longos casamentos se alinham politicamente (fora raras exceções), ela quis estudar como as pessoas acabam com parceiros de mentalidade semelhante.
McDermott e colegas da Universidade de Miami e da Estadual de Pensilvânia examinaram 2.944 perfis de usuários de sites de relacionamento, e poucas pessoas estavam dispostas a expressar sua preferência política ou interesse político. McDermott suspeita que isso acontece porque querem atrair o máximo de pessoas interessadas possível.
Mas, apesar disso contribuir para um ano de campanha eleitoral interessante, essas pessoas podem estar cometendo um erro se estiverem procurando por relacionamentos duradouros.
“Eu fiquei pessoalmente chocada”, disse McDermott, cujo estudo foi publicado neste ano na revista “Evolution and Human Behavior”. “As pessoas apresentavam maior probabilidade de dizer que eram gordas do que conservadoras.”
Tradução: George El Khouri Andolfato