30/07/2011 22:30
‘Quando o assunto é sexo todo mundo mente muito’
O professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto e um dos nomes mais conceituados nas áreas da psiquiatria e sexologia da cidade, Sérgio Almeida fala como os estressantes dias de hoje afetam o corpo e a alma das pessoas
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Agência BOM DIA
O sabatinado Sérgio Almeida e os membros do Conselho de Leitores durante entrevista no BOM DIA
Luciano Moura
Maria Elena Covre
Agência BOM DIA
Se para muitas pessoas falar sobre sexo ainda é tabu, para o psiquiatra e sexólogo Sérgio Almeida é como falar do tempo ou de um jogo de futebol. Sérgio fez medicina na UFG (Universidade Federal de Goiás), psiquiatria na Universidade Complutense de Madri e curso de sexologia na Sedes-Sapiens, orgão ligado à PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
Ele atende no consultório particular, dá aulas e trabalha no Departamento de Urologia da Famerp (Faculdade de Medicina e Enfermagem de Rio Preto). Sem papas na língua, rasgou o verbo ao responder às dúvidas, principalmente sobre sexo, que “rondam” as mentes dos membros do Conselho de Leitores do BOM DIA. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Cleuza Idalgo - O senhor acha que o mundo de hoje, tão louco e conturbado, está fazendo as pessoas ficarem mais broxas?
Acho que sim. Temos que dividir problemas, pois homens e mulheres não são atingidos da mesma maneira. A sexualidade do homem sofre mais com as crises do que a da mulher, porque ele dá mais valor ao sexo. O homem é susceptível a dinheiro, perda de emprego, ansiedade no trabalho e disputa pelo poder. Esses fatores já não influenciam tanto a mulher. A parte sexual da mulher é influenciada por como ela se dá com o parceiro, ou seja, o relacionamento afetivo existente entre ambos. Por mais que as mulheres se modernizem, ainda existe essa relação de afetividade e sexo. Devido a isso, para o homem, dar um rapidinha por aí é algo normal. Muitas mulheres fazem também, mas não é normal na cabeça feminina. Graças a Deus temos remédios que deram uma aliviada.
Marco Antonio Vanzeli - Por que o número de pessoas à procura de atendimento psiquiátrico tem aumentado ?
Se compararmos hoje com 10 anos atrás, o número de procura triplicou ou até quadriplicou nos consultórios. A minha faixa dentro da psquiatria é basicamente ansiedade e depressão. Não vence tratar. A pressão sofrida pelas pessoas, principalmente as lutas por emprego, faz com que a ansiedade aumente. Muitas pessoas possuem tendência de depressão e isso vai se agravando. Novos antidepressivos vão surgindo a cada dia, devido ao número alto de vendas.
Davi Augusto Leme - O jovem está sofrendo pressão dos amigos para fazer sexo mais cedo?
Sim, mas acho que as mulheres estão começando mais cedo e os homens, não. O adolescente não pode contar que com certa idade é virgem ainda, pois vira motivo de zoação. Mesmo os que zoam não têm experiência, já que o sexo em qualquer idade é hipervalorizado, muito mais do que deveria ser. A pressão sofrida é dele mesmo. Sexo é como conversa de pescador: as pessoas mentem pra caramba, exageram demais nas histórias.
Erina Ferreira - Quanto tempo um casal de adolescentes consegue esperar para fazer sexo?
Depende. Há pessoas que fazem um pacto de casar virgens e outros que vão para cama dois dias depois de ter se conhecido. Não tem um padrão. Entretanto, sexo no primeiro dia é pouco discutido com as mulheres, porque mulher que vai para cama com um homem no primeiro dia é apontada como biscate, não? Existe ainda esse preconceito de ser intitulada de mulher fácil, ou seja, caiu o tabu da virgindade e entrou outro, o da promiscuidade.
Willian Gustavo Batista - O que determina a preferência sexual de uma pessoa: as características do seu corpo, da sua mente ou as suas experiências?
É uma questão de orientação sexual, de como a pessoa se vê e como se sente. A identidade sexual se fecha aos três anos de idade. Então, nessa idade, vai estabelecer a heterossexualidade, bissexualidade, a homossexualidade e todas as suas variações. Ela pode aflorar em qualquer época: adolescência, fase adulta ou aos 50 anos. Ninguém vira nada (no caso do homossexual). A pessoa já nasce. Como também não existe ex-gay ou ex-drogado. Existe drogado que não está se drogando e existe gay que tem um comportamento reprimido ou controlado, podendo resultar em série de doenças, inclusive.
Gilberto Scandiuzzi - O que encaminhou o senhor para essa área do comportamento sexual ?
Quando me formei em medicina, resolvi ser psiquiatra. Agora sexualidade não se aprende na faculdade de medicina. No curso de formação psiquiátrica, muito pouco. Então comecei a trabalhar e percebi que a maioria dos paciente tinha problemas sexuais e não sabia como ajudá-los. Resolvi fazer sexologia e vi ser uma área super interessante. É muito mais interessante falar de sexo do que esquizofrenia.
José Carlos Sé - Quais os tipos de tratamento para o homem sobre disfunção erétil e ejaculação precoce? E no caso das mulheres, sobre falta de desejo e falta de orgasmo?
Se algum paciente chega com queixa de disfunção erétil ou ejaculação precoce, primeiro encaminho para um urologista para saber se existe um problema orgânico, já que 60% são problemas psicólogos e o restante físico. Depois disso, faço uma avaliação baseada na masturbação. Em seguida, proponho tratamento, geralmente na base de exercícios e, se houver necessidade, medicação. Quanto às mulheres, 25% não têm orgasmo, mas existe tratamento, mesmo que não tenha 100% de sucesso. Geralmente a falta de orgasmo requer uma terapia a longo prazo. Já as que têm orgasmo devem saber que o clitóris dá prazer e não a vagina. Isso a maioria dos homens desconhece, a mulher também. Nesse caso tem de orientar posições para que o clitóris seja manipulado, como exemplo, a posição em que a mulher fica por cima do parceiro, a ajuda a ficar com as mãos livres para masturbar-se. Por isso, ela tem de saber a se masturbar para depois usar isso durante a relação. Tenho uma paciente que chega a ter 25 orgasmos por relação. São orgasmos clitorianos. Sobre a falta de desejo nas mulheres, geralmente está ligada a problemas de relacionamento.
Edilberto Imbernom - E quando a pessoa, depois de adulta [até mesmo casada], resolve sair do armário?
Como já disse, ninguém vira nada. O que deve ter acontecido é que aos 45 anos, por exemplo, a pessoa não deve ter aguentado a barra ou encontrou uma pessoa especial para sair do armário. Nesse caso, entra todo o problema da família, porque cada um pensa de um jeito. Contudo, a reação vai variar de família para família. Umas acabam até aceitando razoavelmente. Isso tem a ver com o passado, como era o relacionamento desses pais com esses filhos. A mulher vai se sentir altamente traída. Geralmente as filhas aceitam melhor. É bem complexo e ainda mais difícil quando a pessoa resolve fazer uma cirurgia de mudança de sexo.
Doraci de Oliveira - A pessoa que faz troca de sexo precisa de um apoio psicológico depois?
Sim ela precisa. Porém muitas não voltam. Aconselho que elas façam tratamentos psiquiátricos e psicológicos pelo menos por dois anos. Acho até melhor fazer com pessoas que não participaram da equipe que fez a cirurgia, para a pessoa não lembrar do passado.
Maria Elena Covre - Por que o homem se incomoda tanto com o tamanho do pênis?
Isso corre paralelo ao mito de que quanto maior o tamanho, maior é o prazer proporcionado. Nada a ver uma coisa com a outra. Muitos homens têm essa mentalidade. Para muitos, o pênis representa simbolicamente o poder. Isso mexe com a cabeça do homem demais. A média brasileira varia entre 14,5 e 16 centímetros, mas todos querem se basear em atores de filmes pornô. Todo homem olha o pênis do outro, quando tem oportunidade, mas sempre vão negar.
Maria Elena Covre - De perto, ninguém é normal, como diz Caetano?
Essa frase é perfeita. Tem até livro sobre isso. E especialmente quando se trata de sexo, todo mundo tem alguma coisinha anormal.
http://www.redebomdia.com.br/noticias/dia-a-dia/62233/professor+de+medicina+sergio+almeida+fala+com+o+bom+dia+sobre+sexo+e+psiquiatria
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