6/1/2013 às 2h18
DIÁRIO DA MANHÃ
DALVA MACHADO
A atividade sexual é realizada pelo ser humano de forma absolutamente sigilosa entre quatro paredes. Ao contrário do que muitos dizem, fazem sexo das diferentes formas, ou seja, dizem uma coisa e fazem outra bem diferente. Afinal, o ser humano é um eterno construto, está sempre se transformando e evoluindo, nunca está completo, é inacabado e vive em busca de novos conhecimentos.
Quando se fala das diferentes formas de fazer sexo, ainda existem mitos e tabus relacionados a esta atividade e, com isto, aguça a imaginação das pessoas que querem saber mais a respeito do assunto em função da falta de informação e educação sexual esclarecedora. Então, é natural surgir curiosidades a respeito do assunto. A atividade sexual é um processo extremamente complexo e completo, é uma necessidade humana, sendo composta de uma interligação de vários fatores como exemplo: orgânicos, neurológico, endócrino, características sócio culturais, religiosos e estados psicológicos. Quaisquer alterações em um desses fatores podem levar a um comprometimento do comportamento sexual em uma, ou em todas as fases do processo sexual o que se torna muito difícil conceituar sexualidade normal. Porém, seria muito mais fácil conceituar sexualidade anormal.
As pessoas têm desejos sexuais que se manifestam desde cedo ou mais tardiamente por várias razões que são importantes desde que elas tenham compreensão daquilo que a satisfaz. As práticas sexuais obedecem a uma grande diversidade, sendo que nem todas são devidamente compreendidas. Uma destas práticas é o Sadismo.
A pessoa sádica somente consegue a excitação e orgasmo quando durante o ato sexual produz dor, humilhação, sofrimento (físico, emocional ou psicológico) no parceiro (a). O prazer do sádico inclui o domínio e a observação do sofrimento da pessoa. Então, pode-se dizer que este tipo de prática sexual por não ser consensual é considerada anormal, pois causa dor e sofrimento ao outro, sendo que o ser humano está programado para sentir prazer e não dor.
É muito importante distinguir os tipos de sadismo conforme a intensidade da violência, entre eles, estão o Pequeno Sadismo e Grande Sadismo.
Alguns autores consideram o Pequeno Sadismo uma prática sexual muito aplicada entre os casais e envolve fantasias sexuais que servem de excitação para o relacionamento sexual, seja porque a relação caiu na rotina ou porque existe desejo de incrementá-la um pouco mais. Por envolver romantismo e sentimentos entre dominante e submisso a “vítima” poderá sofrer pequenas mordidas, beliscões, tapinhas e quando ocorre lesões são pequenas em decorrência do comportamento não ser tão agressivo. Lembrando que esse tipo de situação são sutis e imprecisos durante o ato sexual, os casais praticam como uma forma de erotização por meio de atitudes que não causa grande desconforto ao parceiro, é exclusivamente vinculada à esfera da sexualidade, preservando todos os demais traços da personalidade, inclusive obedecendo limites dos excessos. Sendo uma forma de diversificar a relação sexual do qual o parceiro é conivente com a situação, ainda o dominante respeita o limite do submisso, que participa do jogo sexual com total liberdade e nem sempre tem exclusiva intenção de coito, esses pequenos atos é tido pela “vítima” como impulsos lascivos do parceiro. Muito importante dizer que algumas formas de fantasias são consideradas formidáveis para apimentar o relacionamento sexual, não tendo nada de anormal, ao contrário, são saudáveis e capaz de trazer benefícios para a relação sexual.
Bem diferente das fantasias que são arriscadas e perigosas, ignoram os limites da moral, da ética, e da censura. É fato que as fantasias sádicas são as mais diversas e exigem, habitualmente, o controle total ou parcial sobre a vítima como, por exemplo, chicotear, beliscar, vendar, algemar, dar palmadas, espancar, queimar, administrar choques elétricos, estuprar, cortar, esfaquear, estrangular, torturar e até mutilar a vítima. Como consequência de tanta violência, a pessoa se sente amedrontada e aterrorizada ante o ato do grande sádico.
O Grande Sadismo é um tipo de parafilia que são caracterizadas por impulsos sexuais intensos, persistentes e recorrentes, associados por fantasias sexuais excitantes e manifestações de comportamentos inadequados. A pessoa que as pratica não tem atividade sexual natural, sua preferência sexual inadequada se torna exclusiva. Só consegue excitação e orgasmo dessa maneira.
O indivíduo que apresenta esse tipo de comportamento, comumente é agressivo e com forte potencial hostil, principalmente, com as mulheres, exibe conduta desadaptada e insegurança com sua masculinidade. Apresenta característica desumana, insensibilidade com relação ao próximo, ausência de sentimento de culpa, piedade, remorso e valores éticos, atitude impulsiva, incontrolável, habilidade de sedução e para mentir, apresenta transtorno sexual, empregando uma postura violenta como expressão de sua fantasia cruel. Pode-se observar a personalidade do indivíduo como instável, imaturo, reprimido, com autoestima rebaixada, carente de afeto, inseguro e temeroso. Ele é considerado o mais perigoso dos violentadores.
Quanto ao Sadomasoquismo é uma preferência por prática sexual que provoca dor, humilhação ou subserviência. Se a pessoa prefere ser o submisso de tal estímulo fala-se de masoquismo, se prefere ser o executante, trata-se de sadismo. Em regra, o sádico possui excitações sexuais pelo desejo de domínio e o masoquista pela vontade de ser humilhado. O sádico geralmente tem sentimentos de abandono e, por isso, precisa exercer domínio sobre o outro, enquanto o masoquista tem sentimentos de inferioridade e por isso se submete a tal prática.
O termo Sadomasoquismo trás em si uma carga pejorativa, por essa razão os adeptos dessa prática têm preferido usar a sigla BDSM (Bondagismo, Dominação, Sadismo e Masoquismo) exatamente para evitar o estereótipo da situação onde um bate e o outro apanha. Quando a relação é consensual, considera-se como uma busca de diferentes formas de prazer. As práticas e os jogos que lhes dão prazer são de comum acordo, sendo que o casal cria suas próprias regras. Adverte-se que tal comportamento poderá gerar conflitos para os praticantes.
Cabe lembrar que em ambos os casos os sádicos e os masoquistas devem procurar ajuda psicoterápica apropriada, pois a sexualidade deve ser um ato humanizado, prazeroso e responsável. E nunca de agressão, humilhação e sofrimento seja ela consentida ou não. O prazer deve ser alcançado pelo contato cuidadoso, amoroso, ainda que exista impulsos lascivos do parceiro, a relação deve ser pautada na confiança, respeito e admiração pelo outro, e nunca uma relação que causa humilhação, sofrimento seja físico, psíquico ou emocional. Ressalta-se ainda, que o ser humano não é apenas um corpo, mas também consciência, sentidos e sentimentos. Equalizar bem o físico/psíquico é o grande segredo da relação humana.
(Dalva de Jesus Cutrim Machado, psicóloga clínica; terapeuta sexual; mestre em Psicologia; palestrante; especialista em Sexualidade Humana e Psicopatologia Clínica; professora dos cursos de Sexualidade Humana e Sexologia Forense – PUC-GO, e pós-graduação. E-mail: dalva_psi@yahoo.com.br)
http://www.dm.com.br/texto/84166-agora-a-a-vez-do-sexo