domingo, 13 de março de 2011

Busca do desejo sexual

Zenilce Vieira Bruno - Psicóloga, pedagoga e sexóloga
zenilcebruno@ uol.com.br

A busca da melhora na sexualidade é tão antiga quanto a história da própria humanidade. Práticas eram usadas na Idade Média para ter e conseguir a pessoa amada. Inúmeros fetiches foram e são usados no ritual do sexo.

Portanto, não é de admirar que os seres humanos venham buscando formas fáceis e até mágicas de modificar e elevar a libido. Muitas substâncias foram anunciadas como tendo propriedades afrodisíacas com capacidade de realçar o impulso sexual.

Os afrodisíacos têm como principal característica a problemática de sua variância, pois o mesmo “agente”, instigante para uns, pode ser elemento de bloqueio para outros, daí torna-se antiafrodisíaco, inibindo o desejo sexual. A finalidade dos afrodisíacos é incitar o amor carnal.

De fato, não existe qualquer substância que aumente o desejo sexual em todas as pessoas. É necessário compreender que o elemento liberador da sexualidade está, não no afrodisíaco, mas dentro da própria mente, não podendo criar nada que já não exista.

Muitos dos fatores que afetam nosso impulso sexual estão fora do nosso controle, pois a marca da sexualidade humana é o papel central desempenhado pelo parceiro e não apenas as características exibidas por aquela pessoa, mas seu comportamento. Outra razão é que algumas das variáveis que afetam nosso impulso sexual estão além da nossa percepção consciente.

Desde sempre, a humanidade tem recorrido a substâncias, truques e jogos que as pessoas tidas como sérias e virtuosas se apressam a classificar como perversões, para estimular o desejo amoroso e a fertilidade. No entanto, para os simples mortais, a sexualidade é um componente da boa saúde e faz parte do caminho da alma; não está associada a culpas.

Vivemos obcecados por um insaciável apetite de sensações cada vez mais fortes, porque, na pressa de devorar tudo, dissociamos o corpo da alma. Já não basta uma carícia sutil, o prazer da pele contra pele ou compartilhar uma fantasia; exigimos exaltação cósmica.

Penso que há tanto descaso com o outro e com as emoções nessa olimpíada de desempenhos que tudo termina por se inverter. Na falta de alegrias consistentes, de sinceridade, de espontaneidade do sentimento, tem lugar a

indústria erótica que serve mais

à competição que à expressão amorosa.

A cultura na qual se enquadra hoje o sexual é aquela do espetacular, que se mostra, expõe, revela, se manifesta em eficiência. Daí a necessidade gerada de se parecer que é o melhor, que se é potente, competente e até onipotente, mesmo que lá no íntimo, sintamo-nos frágeis e até impotentes.

É necessário anunciar de peito aberto que o único afrodisíaco verdadeiramente infalível é o amor. Nada consegue deter a paixão acesa de duas pessoas apaixonadas. Neste caso, não importam os achaques da existência, o furor dos anos, o envelhecimento físico ou a mesquinhez de oportunidades; os amantes dão um jeito de se amarem porque, por definição, esse é seu destino.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/03/12/noticiaopiniaojornal,2112472/busca-do-desejo-sexual.shtml

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