Mães precoces
As necessidades são muitas. Abandonadas pelos pais das crianças e sem ter onde tirar o sustento para o bebé, as adolescentes tornam-se vulneráveis, confrontando-se com desafios e perspectivas obscuras.
“O meu filho não mama peito por isso sou obrigada constantemente a comprar leite Nutriben para amamenta-lo”, disse, Paula António (nome fictício), de 16 anos de idade, mãe do pequeno Serginho.
As amigas são o único apoio, solidárias com o sofrimento da companheira com quem brincavam às casinhas e bonecas juntam o pouco que têm para a compra do leite, da fralda descartável, do pó talco e, quando possível, para cobrirem algumas consultas médicas obrigatórias para o recém-nascido.“Sem a ajuda das minhas amigas não sei o que seria de mim”, lamentou.
Para além dos riscos de saúde advindos da maternidade precoce, atribui-se à gravidez e a maternidade na adolescência a exclusão social, não só em Angola como noutras partes do mundo.
Paula namorava com um rapaz seis anos mais velho, “ele era muito carinhoso e vinha constantemente a minha busca para passear e ajudava-me financeiramente”.O martírio de Paula começou quando descobriu que estava grávida, depois do terceiro mês de gestação, e contou ao parceiro que prontamente negou a paternidade, justificando-se com ao tempo que a gravidez já levava.
“Eu não havia dado conta que estava grávida, foi a minha tia quem descobriu. Quando lhe contei simplesmente negou”.“Os pais dele disserem que também não assumiriam nada até o bebé nascer e por ironia do destino o Serginho tem a cara do pai”, acrescentou.
O pequeno nasceu com considerábom emprego devido a idade optei por fazer amizade com os “tios”, eles sabiam da minha situação por isso sempre que podiam davam-me algum dinheiro”.
Na procura do sustento para o seu filho, Ana tornou-se vulnerável e acreditava nas muitas promessa que ouvia, “sofri, mas com isso aprendi muita coisa sobre a vida”.
Hoje, Ana vive com um homem muito mais velho que apoia financeiramente a sua família. Mas confessa que descobriu que não é o tipo de homem que ela queria, “ele é muito mais velho para mim”.
Mas por causa do filho e principalmente pelos seus pais, não pode deixa-lo.Clarisse Octávio (nome fictício) moradora do bairro Boavista e é uma das meninas mais vistosas do bairro.
Engravidou aos 16 anos de idade e os pais expulsaram-na de casa.“Antes de ter o bebé fiquei seis meses em casa de uma amiga só depois os pais do meu namorado foram lá a minha busca”.
Reclama contra o facto de a mãe ter sido muito agressiva com ela quando criança, facto que a “obrigou” a engravidar: “engravidei de muita raiva pelo que ela me fazia”.
A mãe da pequena era muito exigente, proibindo-a de ter amigos e controlando todos os seus passos, chegando e pedir a alguém que a vigiasse durante as aulas.A rixa entre Mãe e filha aumentou depois ter mandado prender o seu namorado e quando diante do inspector a pequena respondeu que o moço não a coagiu a ter relações sexuais, que eram namorados e o amava demais.
“Depois desse facto, a minha mãe disse que eu não era mais filha dela e pediu-me para nunca mais a procurar. Foi o pior momento da minha vida”, recorda.
As aulas e parte da vida de Clarisse atrasaram-se com esse incidente, interrompeu o ano lectivo e alguns cursos técnico profissionais que frequentava para sozinha cuidar da gravidez. “A minha vida parou em torno disso”. Um acidente durante o oitavo mês de gravidez obrigou a mãe a aceita-la de volta a casa. Nessa altura e tendo de volta o carinho da sua mãe, Clarisse separou-se do pai do seu filho. A tenra idade e o carinho que sente pelos pais não lhe permitiram viver longe destes.
Com o filho ao colo, Clarisse voltou às aulas com um bom aproveitamento no fim do ano lectivo. Vive com os pais mas pretende trabalhar porque o que recebe mensalmente do pai da criança não chega para os gastos, USD150.
O refúgio
Mary (nome fictício), veio há três meses da Namíbia, não fala português, tem 20 anos e um filho de seis.Convidada por amigas a vir a Angola, Mary frequenta algumas casas nocturnas de Luanda – Pub Real e Zorba onde consegue o sustento para a criança.
A maternidade precoce obrigou-a a encontrar alternativas de sustento, a conversa ao telefone com as amigas de Angola, seduziu-a. Deixou o pequeno com os avós para quem regularmente manda algum dinheiro.
Bonita e de pele clara, a Namibiana descendente de pai Angolano, embora viver das noites em Luanda, sente-se feliz por conseguir, em três meses, mandar dinheiro para o filho.
Vive em casa das amigas que a ajudam a comunicar com as pessoas com quem se encontra nas noites.Mary receia arranjar um namorado, com medo de que a proíba de frequentar os seus lugares habituais.
Precisa mandar dinheiro para o filho e um emprego não lhe dará a facilidade de ganhar tanto dinheiro como o que se faz nas noites luandinas.
‘A deficiente educação sexual e a influência dos medias contribuem para o fenómeno’
O sociólogo Zeca Branco Dias aponta como sendo vários, os factores que favorecem o aumento do número de mães adolescentes solteiras numa sociedade como a nossa. A educação sexual, os meios de comunicação de massas, a religião e a pobreza foram alguns do factores listados pelo sociólogo, como causa da gravidez precoce nalgumas famílias.
O facto de estarmos numa sociedade em transição da vida tradicional a moderna causa certas rupturas nos chamados “modelos sexuais”. “Nas sociedades tradicionais cabe às tias o papel de educar sexualmente as sobrinhas; já nas mais industrializadas não existe uma preparação para a rapariga assumir a sexualidade, porquanto elas se auto-educam”.
Os meios de comunicação de massas difundem imagens estéticas, como telenovelas e mini-séries, “em que a ideia de relacionamento entre dois seres tende a resumir-se num beijo e carícias, sendo o adolescente o principal alvo, centrando-se na dimensão erótica dos programas”. famílias, a influência dos media e o fraco papel que a religião tem desempenhado no processo de instrução das crianças e dos adolescentes como sendo negativas ao despertar os mais pequenos para o início da vida sexual. "A probabilidade de filhas de adolescentes também engravidarem na adolescência é muito alta", concluiu.
Necessidade versus moral
Em Luanda, os pubs apresentamse como os locais preferenciais das chamadas mães precoces na busca do sustento para os filhos.
À semelhança da Mary, as irmãs Marilda e Mariza (nomes fictícios), angolanas, mães solteiras de 19 e 20 anos de idade respectivamente com filhos de dois, encontram na noite o sustento para os seus filhos.
O Pub Real na mutamba é o local preferencial, “já não vivemos com os nossos pais, tivemos que sair de casa para sustentarmos os nossos filhos aqui já somos conhecidas. Conquistamos o nosso espaço”.
De físicos elegantes as jovens são trabalhadoras especiais na casa, andam pelo Club servindo bebidas aos clientes, só os mais Vips, os especiais, têm direito aos seus serviços.
“Engravidamos quase em simultâneo, somos solteiras e os nossos pais não têm condições de nos sustentar, precisamos de alimentar os nossos filhos”
Algumas situações com que se confrontam adolescentes grávidas no mundo todo
•Filhos de pais adolescentes sofrem mais abusos e negligência do que aqueles com pais de mais idade.
•Os filhos de mãe precoces têm maiores probabilidades de terem um desenvolvimento mais lento comparado os demais n A maioria dos pais não casam com as mães adolescentes que engravidam n As probabilidades de casamentos entre adolescentes não dar certo são muito maiores do que os que envolvem mulheres com pelo menos 25 anos.
•Filhos de mães adolescentes têm mais probabilidade de nascerem prematuros e com peso abaixo do ideal, aumentando os riscos de problemas respiratórios crónicos, mentais e paralisia cerebral.
•Os filhos de mães precoces têm mais probabilidade de sofrerem mais com a fome e a subnutrição ou estarem mais expostos à violência
Waldney Oliveira
23 de Dezembro de 2009
http://www.opais.net/pt/opais/?id=1657&det=8392&ss=sexualidade
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