Heloísa Noronha
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Tirar a roupa diante de outros homens pode ser algo assustador para quem tem receio da comparação
Mais do que brochar com uma mulher que há tempos deseja levar para cama, o que alguns sujeitos mais temem, no que diz respeito ao órgão sexual, é tirar a roupa diante de outros homens. O motivo? Receio da comparação e de que, na disputa, o seu pênis acabe levando a pior por ser menor do que o dos demais. "A chamada 'síndrome do vestiário' provoca enorme sofrimento", diz o urologista Valter Javaroni, chefe do Departamento de Andrologia da SBU-Rio (Sociedade Brasileira de Urologia - Regional Rio).
"Em alguns casos, o desconforto é tanto que atrapalha a vida social e pode levar o homem a atitudes extremas, como deixar de ir à academia ou de praticar esportes para não ter de tirar a roupa na frente dos outros, não usar sunga na piscina ou na praia porque pensa que vão comentar sobre o pênis pequeno e buscar recursos para aparentar um membro maior no estado de flacidez", afirma.
A vida sexual também é abalada. De acordo com a psicóloga e terapeuta sexual Carla Cecarello, presidente da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade), homens excessivamente preocupados com o tamanho de seu pênis acabam ejaculando de forma rápida e sem intensidade. "É como se eles quisessem se livrar logo do problema que é transar", explica Carla. Além disso, a baixa autoestima e a insegurança afasta as mulheres, que não costumam se interessar por homens pouco assertivos sexualmente.
Início na infância
O terapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Junior diz que, de geração para geração, ainda que implicitamente, é transmitida aos meninos a ideia de que a aparência e o tamanho dos órgãos genitais são fundamentais para se reconhecerem como homens. "É na infância que isso se torna mais evidente. Nos vestiários das aulas de educação física, por exemplo, o menino se olha, observa os colegas e passa a estabelecer se é melhor ou pior que os outros", afirma Rodrigues Junior, que é diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade).
Além disso, para o homem, o pênis representa o seu poder. "Se o pênis está menor por conta da falta de ereção, há o temor de que os demais considerem que ele tem um membro pequeno e que vire motivo de chacota. Ele pode até saber que sem ereção todo pênis é assim, mas na presença de outra pessoa esse tipo de informação cai por terra", diz Carla.
Além disso, para o homem, o pênis representa o seu poder. "Se o pênis está menor por conta da falta de ereção, há o temor de que os demais considerem que ele tem um membro pequeno e que vire motivo de chacota. Ele pode até saber que sem ereção todo pênis é assim, mas na presença de outra pessoa esse tipo de informação cai por terra", diz Carla.
Um fator importante é a percepção distorcida que leva a perceber que o outro sempre tem um pênis mais avantajado. E isso, de acordo com Rodrigues Junior, é válido para boa parte dos meninos, incluindo os que realmente tem o pênis maior. A crença de que o pênis maior é melhor atravessa a maturidade e provoca vergonha, medo e timidez ao ter que tirar a roupa diante de outro homem, mesmo que o sujeito em questão seja um médico.
Inquietação em vão
A maneira mais adequada de lidar com a dúvida e se livrar da síndrome é procurar ajuda especializada. Nesses casos, o papo com amigos pode agravar ainda mais o problema. Uma piadinha fora de hora ou um companheiro que goste de se exibir como o garanhão da turma ou da vizinhança exacerba a sensação de inferioridade. Só um especialista pode dar as orientações e o diagnóstico adequados.
"Quando a impressão pessoal nada tem a ver com a realidade, o homem apresenta dismorfofobia, também denominada transtorno dismórfico corporal ou síndrome da distorção da imagem, um transtorno psicológico caracterizado pela preocupação obsessiva com algum defeito inexistente ou mínimo na aparência física", afirma o urologista Valter Javaroni.
Alternativas e autoestima
É possível que as dimensões de quem sofre com a "síndrome do vestiário" estejam mesmo abaixo do padrão? Segundo estima a SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia - Seção São Paulo), menos de 1% dos homens que querem aumentar o pênis têm, de fato, um problema real. Dados clínicos informam que um pênis flácido mede, em média, de 5 cm a 10 cm e, para ser considerado um micropênis, o membro não deve alcançar mais do que 2,5 cm flácido ou 7,5 cm ereto.
Caso um médico aprove, há procedimentos cirúrgicos para aumento do pênis, mas as técnicas têm resultados controversos e podem ser perigosas. Entre elas estão a lipoaspiração da região pubiana para tratar os casos de pênis embutidos na gordura abdominal (a técnica não aumenta o tamanho do pênis, apenas faz com que ele pareça maior em pacientes acima do peso) e a seção do ligamento suspensor peniano até a porção inferior da sínfise pubiana (articulação que une os ramos direito e esquerdo do osso pubiano). Neste último caso,o aumento varia de 2 cm a 4 cm.
Como são poucos os homens que apresentam um problema físico, a terapia é bastante indicada, pois ajuda a aumentar a autoconfiança. "A ajuda psicológica é importante para que o homem possa se reconhecer como pessoa e não apenas como um pênis, o que contribui bastante para a melhora sexual", diz Carla Cecarello. O que conta, segundo os especialistas, é o desempenho. O tamanho não é nada diante de um homem confiante, que sabe conduzir bem o sexo e agradar a parceira.
É preciso, ainda, modificar as crenças que governam a sexualidade. "Se o homem acredita que somente um pênis maior tem valor, acaba dedicando pouca atenção ao prazer dele e da mulher. E isso é o que mais importa", afirma Rodrigues.
É preciso, ainda, modificar as crenças que governam a sexualidade. "Se o homem acredita que somente um pênis maior tem valor, acaba dedicando pouca atenção ao prazer dele e da mulher. E isso é o que mais importa", afirma Rodrigues.