terça-feira, 25 de abril de 2017

Fato e farsa!: Pornocracia da “Idade das trevas”: você conhece es...

Fato e farsa!: Pornocracia da “Idade das trevas”: você conhece es...: Alguns autores abordam muito este termo: “ Pornocracia ”, mas poucas pessoas sabem de onde ele vem e qual a sua historicidade. Se formos ana...

erça-feira, 13 de agosto de 2013

Pornocracia da “Idade das trevas”: você conhece este termo e esse período da história?

Alguns autores abordam muito este termo: “Pornocracia”, mas poucas pessoas sabem de onde ele vem e qual a sua historicidade. Se formos analisar a palavra como si, teremos os compostos “pornô” (que atiça a libido, a sexualidade) + “cracia” (governo). Ou seja, um governo sob a égide das regras da libertinagem, da sexualidade, ou a falta de qualquer tipo de regra social (o que não deve ser confundido com a anarquia, que é o governo sem instituições).

Enfim, hoje vamos conhecer um pouco deste período obscuro da história humana, que envolve a Idade Média, a Igreja católica e a governança dos seres humanos. A pornocracia não ficou relegada aos porões historiográficos, e é bem trabalhada por diversos autores que tentam remontar o período conhecido como “Idade das trevas” e, principalmente, aqueles que lidam com a história das religiões.


A Pornocracia é conhecida oficialmente como “Saeculum obscurum” (ou “Idade das trevas” em latim), um termo que designa um período da história do papado da Igreja que se estendeu da primeira metade do século 10, com a instalação do Papa Sérgio III, em 904, e terminou após a morte do Papa João XII, em 963. Alguns historiadores medievalistas afirmam que este período foi menor, tendo durado apenas 30 anos e terminado com 935, com o reinado do Papa João XI.

O período foi primeiramente identificado e nomeado pelo cardeal italiano e historiador eclesiástico César Barônio em seu “Annales ecclesiastici”, no século 16, cuja fonte primária foi de Liutprando de Cremona. O historiador Will Durant se refere ao período de 867-1049 como o ponto “mais baixo do papado” e um dos mais bizarros do catolicismo em toda sua história, mesmo séculos depois com a venda exagerada de indulgências e relíquias, que culminou na Reforma Protestante.


Algum tempo depois, outros estudiosos passaram a usar termos pejorativos para este período, como “Pornocracia” (originalmente vindo do alemão “Pornokratie”, ou “Governo das prostitutas”), ou ainda “Estado das meretrizes” (também originalmente vindo do alemão “Hurenregiment”), ambos inventados por teólogos protestantes no século 19 com o objetivo de atacar o catolicismo. Com o tempo, o termo “Pornocracia” ganhou o mundo, os livros e a linguagem da maior parte dos historiadores contemporâneos.

Mas, afinal de contas, o que aconteceu neste período?
Durante este período, os papas eram fortemente influenciados por uma poderosa família aristocrática, Theofilato e seus parentes e sob forte influência de mulheres – embora nem todas fossem prostitutas –, em especial Teodora e sua filha Marózia. A família Teofilato ocupava posições de importância crescente na nobreza romana; Teodora (mãe) e suas filhas, Teodora e Marozia tinham uma grande influência sobre a escolha do papa e dos assuntos religiosos em Roma, através de conspirações, negociatas e casamentos.

Durante a Idade Média a Igreja católica era a instituição mais poderosa do mundo ocidental, sendo que os reis e governos estavam abaixo dela e deveriam respeitá-la. Por isso, neste período, houve grande influência na compra, venda e negociação de títulos eclesiásticos. Não havendo seminários de formação como os de hoje (criados somente no século 16), rapazes de apenas 22 anos poderiam ser nomeados cardeais ou arcebispos graças às fortunas e influência de seus familiares.

De acordo com o que nos informa Liutprando de Cremona, durante a Pornocracia Marozia teria sido concubina do Papa Sérgio III, quando ela tinha 15 anos e mais tarde teve outros amantes e maridos. Ainda segundo ele, João X foi nomeado para o cargo por Teodora, Marozia tornou-se sua amante e mais tarde o assassinou através de seu marido, Guy da Toscana, para eleger seu favorito atual como o Papa Leão VI, que posteriormente também foi assassinado e substituído pelo filho de Marózia, como o Papa João XI.


É interessante pontuar que durante os séculos 15 e 16, Roma era conhecida como “a prostituta da Europa”. Havia vários bordéis e casas de banho especializadas em atender aos religiosos e peregrinos; desde prostituição heterossexual até prostituição homossexual. A venda de relíquias supostamente santas e a venda de indulgências para a construção do Complexo Vaticano que conhecemos hoje revoltou uma série de burgueses e religiosos do baixo clero, dentre eles Martinho Lutero, que graças a isso – e com outros objetivos variados – iniciou o movimento conhecido como Reforma Protestante.

Em seus relatos e de outras pessoas daquela época, Lutero cita que em Roma havia prostituição em todos os cantos; religiosos procuravam por dinheiro e a cidade “cheirava a sexo”. A luxúria explodia em bordéis extremamente luxuosos para altos cardeais, arcebispos e papas, ou pequenas casas para religiosos menores na hierarquia religiosa. A partir deste contexto que os alemães criaram a nomenclatura “Pornocracia”.

Também é justamente deste período entre 867 e 1049 que vemos o curioso caso da suposta Papisa Joana, reconhecidamente uma história inventada por iconoclastas para quebrantar a imagem da Igreja, instituição mais forte e poderosa da época.


Lista dos papas que governaram a Santa Sé durante a “Pornocracia”...
  • Papa Sérgio III, suposto amante de Marozia
  • Papa Anastácio III
  • Papa Lando
  • Papa João X, suposto amante de Teodora (a mãe), alegadamente morto por Marozia
  • Papa Leão VI
  • Papa Estêvão VII
  • Papa João XI, filho de Marozia com o Papa Sérgio III
  • Papa Leão VII
  • Papa Estêvão VIII
  • Papa Marinho II
  • Papa Agapito II
  • Papa João XII, neto de Marozia, por seu filho Alberico II de Spoleto

Conhecer esse período da história é interessante porque nos faz refletir uma série de modificações que ocorreram dentro da própria Igreja católica – como a Contrarreforma – além dos rompimentos e continuações da própria história da humanidade. Onde o homem está presente, também estão presentes luxúria, interesses, ciúmes, angústias, jogos de poder e de interesses etc.

Fato e farsa!: Tesão de vaca: fato ou farsa?! Uma das mais famosa...

Fato e farsa!: Tesão de vaca: fato ou farsa?! Uma das mais famosa...: Hoje nós vamos falar de uma lenda urbana extremamente popular nas últimas décadas, que não faz sucesso somente no Brasil, mas também em algu...

Tesão de vaca: fato ou farsa?! Uma das mais famosas lendas urbanas da história...

Hoje nós vamos falar de uma lenda urbana extremamente popular nas últimas décadas, que não faz sucesso somente no Brasil, mas também em alguns países da América Latina – tais como: Argentina, Chile, Colômbia e México. Trata-se do chamado “tesão de vaca”. Será que isso realmente existe, tem algum fundo de verdade, ou simplesmente é uma farsa total? É o que vamos descobrir na postagem de hoje.


Tesão de vaca é uma lenda urbana surgida nos anos 80 na Argentina, referente a um suposto composto químico que, ao ser colocado na bebida das mulheres, geralmente em noitadas em boates, faria com que tivessem sua libido aumentada a níveis extremamente altos e acima do normal, passando a ter, momentaneamente, uma vontade obsessiva de praticar sexo com quem quer que fosse.

De acordo com a lenda urbana, o tesão de vaca seria um medicamento de uso veterinário, proibido para humanos, que faria com que vacas, ovelhas e éguas tivessem a ovulação exacerbada no cio e aumentasse a vontade de ter o coito com o macho, facilitando a gravidez destes animais.


Aproveitando-se desta lenda urbana disseminada na América Latina, e mais recentemente nos Estados Unidos, diversas empresas produtoras de itens para sex shops produzem supostos afrodisíacos com o nome “tesão de vaca” em seus produtos a fim de chamar comércio e publicidade boca a boca. Entretanto, há muitos esclarecimentos que devem ser pontuados em relação a isso.

1º esclarecimento – Em 2007, uma página mantida pelo Ministério da Saúde do Brasil traz o relato de uma menina que alegou ter tomado tesão de vaca antes de ter perdido a virgindade, sendo que este teria sido ministrado misturado a um refrigerante de guaraná;
2º esclarecimento – Em uma petição à Câmara Municipal de Unaí, Minas Gerais, um vereador apresentou uma denúncia contra a diretora de uma escola municipal, e dentre os supostos fatos citados estava a intenção da mesma em colocar o tesão de vaca na bebida de uma professora;
3º esclarecimento – Em setembro de 2011, um menor foi internado em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, com a informação de que teria ingerido tal substância;
4º esclarecimento – Na Argentina há várias histórias envolvendo suposto uso de tesão de vaca contra jovens em boates, festas e escolas.


Mas há outro ponto que deve ser considerado. De acordo com zootécnicos de universidades federais em diversos sites e blogs esclarecedores, há medicamentos que fazem, sim, o serviço da ovulação da fêmea ser acelerado, mas isso é feito mediante aplicação – via injeção – de hormônios específicos e que demoram certo tempo para atuarem no sistema reprodutor. Entretanto, a história do tesão de vaca instantâneo através da ingestão de comprimidos não é válida, de acordo com os zootécnicos.

Portanto, o tesão de vaca pode até existir, mas não pode existir na forma como as lendas urbanas latinas o concebem: um comprimido “milagroso” colocado na bebida das mulheres em festas. Ele só faria efeito desejado após a aplicação coordenada dos hormônios. Entretanto, no Paraguai, a droga ecstasy é conhecido como tesão de vaca.


De um modo geral, podemos dizer que o tesão de vaca existe e não existe ao mesmo tempo. Existe porque há medicamentos específicos na forma de hormônios e injeções tratados durante um tempo; e não existe porque não há uma maneira de fazer a mulher ovular instantaneamente mediante o uso de comprimidos escondidos na bebida.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

sua vida íntima: QUAL A DIFERENÇA ENTRE VAGINISMO E DISPAREUNIA?

sua vida íntima: QUAL A DIFERENÇA ENTRE VAGINISMO E DISPAREUNIA?: Na próxima semana darei uma aula no Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia, que acontecerá em Belo Horizonte, entre os dias 11 e 14...

QUAL A DIFERENÇA ENTRE VAGINISMO E DISPAREUNIA?

Na próxima semana darei uma aula no Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia, que acontecerá em Belo Horizonte, entre os dias 11 e 14 de maio. O tema de minha aula é: DSM-V, A NOVA NOMENCLATURA DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS, IMPLICAÇÕES CLÍNICAS.
O tema desta aula incentivou-me a escrever algo sobre as síndromes de dor sexual, chamadas até agora de VAGINISMO E DISPAREUNIA. Mesmo no meio médico, pouca gente sabe o que é isso, ou qual a diferença entre essas duas disfunções sexuais. 
Diz-se que a mulher é portadora de vaginismo quando ela de alguma forma atrapalha ou impede a penetração vaginal(seja pelo pênis, ou por absorventes íntimos, ou por aparelhos ginecoógicos, ou brinquedos sexuais) devido a  uma contração dos músculos internos da pelve. O vaginismo pode ser completo. Nesse caso a mulher não consegue obter qualquer tipo de penetração vaginal. Pode ser, por outro lado, incompleto, permitindo alguma ou total penetração, porém com contração dos músculos da pelve, ou até dos músculos de todo o corpo.  Já a dispareunia é a dor à penetração. A mulher não tem uma contratura da vagina à penetração, mas sente dor, seja durante a relação sexual, a masturbação, a introdução de outros objetos, etc., e às vezes mesmo sem nenhuma penetração. 
O DSM-V, que é a quinta edição do manual da Associação Psiquiátrica Americana(APA) que regula os diagnósticos das doenças mentais retirou esses dois diagnósticos da publicação, englobando-os em um único nome: Transtornos da Dor Genito-Pélvica e da Penetração. Isso porque a a dispareunia e o vaginismo são às vezes indistinguíveis um do outro ou quase sempre aparecem juntos. O componente atual  destas duas disfunções é um medo da penetração vaginal, seja porque ela causa dor, sente porque a mulher tem medo de sentir a dor. O grau de medo varia de mulher para mulher, podendo  chegar a ser uma verdadeira fobia. Hoje em dia há muitos tratamentos para a dispareunia e o vaginismo, ou como quer o DSM-V, para o transtorno da dor gênito-pélvica e da penetração, mas sabemos que o melhor de todos os tratamentos é interdisciplinar. Medicina, psicologia e fisioterapia, principalmente, podem oferecer uma abordagem conjunta para a melhor resolução. Estas síndromes são mais complexas do que parecem e existe até uma associação internacional para o estudo delas. Só muito recentemente na medicina passamos a dar a verdadeira importância a elas, pois entre 15 a 25% das mulheres a possuem. Abaixo vou colocar a nomenclatura atual (do DSM_V) para o transtorno da dor gênito-pélvica e da penetração, para que as mulheres possam saber do que se trata. 
O DSM-V, tem alguns critérios básicos para a classificação de todas as disfunções sexuais, que é muito importante ter em mente para não tornar todas as mulheres doentes. Para que se classifique alguém como tendo o transtorno de dor gênito-pélvica e da penetração é preciso que :
a) o transtorno esteja ocorrendo há mais de 6 meses
b)Ele ocorra em mais de 75% das tentativas de penetração vaginal
c)Ele esteja provocando sofrimento psíquico à mulher(esse critério é muito importante).

Se então, os três critérios acima existirem  chamaremos de transtorno da dor gênito-pélvica e da penetração(segundo o DSM-V):
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TRANSTORNO DA DOR GÊNITO-PELVICA/PENETRAÇÃO(Genito-pelvic pain/penetration disorder)
A. Dificuldades persistentes ou recorrentes com um (ou mais) dos seguintes:
1. Penetração vaginal durante a relação sexual.
2. Dor vulvovaginal ou pélvica intensa durante a relação sexual vaginal ou nas tentativas
de penetração.
3. Medo ou ansiedade intensa de dor vulvovaginal ou pélvica em antecipação a, durante ou
como resultado de penetração vaginal.
4. Tensão ou contração acentuada dos músculos do assoalho pélvico durante tentativas
de penetração vaginal.


Na faculdade de Ciências Médicas, onde trabalho e coordeno o ambulatório de sexologia, fazemos trabalhos interdisciplinares sobre dor sexual, principalmente em conjunto com o departamento de fisioterapia da saúde da mulher. Em meu consultório particular, já atendi uma centena de mulheres com dor sexual. Essas mulheres  perambulam de consultório em consultório sem encontrar tratamento adequado, pois o conhecimento do problema é pequeno, entre os profissionais. Trata-se de uma área em que os estudos são crescentes. Há muito interesse no tema. 
A síndrome de dor sexual é uma síndrome psicossomática e assim deve ser abordada. Está fora do escopo deste artigo aprofundar mais sobre as causas, os procedimentos de tratamento, etc...
Para as mulheres que entendem bem a língua inglesa, indico um livro sobre o tema, escrito para leigos, denominado "When Sex Hurts ", de Andrew Goldstein, Corline |Pukall e Irwin Goldstein,, editora Da. Capo, Press., Em português há um livro específico de Fátima Protti e Oswaldo Rodrigues Júnior, intitulado "Vaginismo" da editora Biblioteca 24x7. Há artigos meus publicados em várias revistas médicas e no meu blog em artigos anteriores(onde se encontram as referências aos artigos)
O mais importante é a mulher entender o que tem e saber onde e como procurar ajuda, e acreditar que é possível ter uma vida sexual sem dor.