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domingo, 17 de julho de 2011

Quero Ser mãe

15/07/2011
"Há uma indústria muito forte em ascensão, a da fertilidade"
Dias atrás, a Maria Lígia Pagenotto entrou em contato comigo para sugerir uma pauta. Na mensagem, comentou rapidamente sua experiência com duas gravidezes tardias. Achei a história bárbara e pedi a ela um depoimento. Maria Lígia gentilmente escreveu um relato, o qual divido abaixo com vocês. Espero que gostem!
Fiquei grávida da minha primogênita, Isadora, prestes a completar 40 anos de idade (nasci em 6 de dezembro de 1960 e engravidei – naturalmente – no início de novembro do ano 2000).
Do Francisco, engravidei – também naturalmente – em julho de 2004, com 43 anos e meio. As duas gestações foram extremamente tranquilas: não tive nenhuma intercorrência que pudesse me perturbar. Nada de enjoo, pressão alta, diabetes, dor nas costas, varizes, hemorroidas. Pelo contrário: no meu caso os hormônios trabalharam extremamente a favor o tempo todo: fui uma grávida cheia de energia até o fim, a ponto de todos ao meu redor comentarem sobre isso.
Minha libido nunca esteve tão em alta – e isso não é exagero de forma alguma. Sentia-me muito feliz, bonita, satisfeita com meu corpo como nunca estive. Engordei uns 12 quilos na primeira gestação e mais ou menos 14 na segunda. Amamentei e voltei rapidamente ao meu peso normal, sem sofrimento. Trabalhei, nas duas vezes, até o dia de dar à luz. Ambos nasceram por meio de cesariana, mas da Isadora tive contrações na manhã do dia marcado para o parto.
Acho que minha história chama um pouco de atenção porque havia tentado engravidar mais cedo (1996/97), num outro relacionamento. Como tivemos dificuldade, recorremos a alguns especialistas (cinco ao todo, pois me sentia insatisfeita com o tratamento pessoal que recebia e decidia mudar de médico. Adianto que só me consultei com professores doutores da USP e Unifesp).
A explicação mais clara que recebi para o meu problema foi a de uma espécie de incompatibilidade orgânica para a gestação entre o meu então marido, que já tinha um filho de outra relação, e eu. Nada foi encontrado de concreto, mas acatei o diagnóstico, porque sei que isso é provável. O tratamento, no caso, seria a fertilização in vitro.
No fundo, porém, nunca tive certeza de que queria fazer esse tratamento, por várias razões: meu casamento não andava muito bem das pernas; pensava que sempre haveria a opção de adotar; achava muito custoso economicamente e, especialmente, do ponto de vista emocional.
Não sentia também firmeza nos médicos quanto ao diagnóstico. Também não confiava tecnicamente pra valer em ninguém.
E, o mais sério: ouvi muitas coisas chatas desses doutores, do tipo: “Você já tem 36 anos, vai esperar até quando pra engravidar?”; “Melhor você fazer logo esse tratamento, porque, quando chegar aos 40 e resolver fazer, imagina se engravida de gêmeos? Melhor pular da janela, pois o risco de uma gestação dupla nessa idade é muito grande”; “Talvez você pudesse até esperar por uma gravidez natural se fosse mais jovem. Nessa idade (36/37 anos), a chance de você engravidar naturalmente é muito pequena. Se adiar, o bebê pode ter problemas e você também”.
Em todas as consultas me sentia pressionada a fazer o tratamento por uma questão de tempo.
Enfim, quando estava prestes a pegar a medicação com a última médica que consultei, desisti de vez. O casamento não tardou a acabar também. Isso foi em meados de 1999. No final desse ano conheci meu atual marido. Assim que nosso relacionamento ganhou mais fôlego, disse a ele que eu não sabia se poderia engravidar. Ele não se importou, e acenou com a possibilidade da adoção.
Mais pra frente, relaxamos um pouco na prevenção – foi quando fiquei grávida da Isadora, em novembro de 2000. O resto da história já foi contado acima.
Sei que não sou nenhuma exceção. Conheço muitas mulheres que tiveram filhos aos 40 anos ou mais sem tratamento algum. O que me incomodou profundamente foi a postura dos médicos quando busquei tratamento. Eles insistiam que eu deveria apostar na ciência porque engravidar mais velha seria um grande risco.
Discuto especialmente isso e acho, de fato, que há uma indústria muito forte em ascensão, a da fertilidade. Há realmente muitas pessoas que precisam se submeter a tratamentos, mas acho ainda que há muitas que passam por isso absolutamente sem necessidade. Nem digo que seria o meu caso com o primeiro marido, talvez a única saída mesmo seria o tratamento.
Mas acredito que há outras situações bem gritantes - nos dizem que estamos velhas para gerar um filho naturalmente e embarcamos no tratamento, caro, dolorido, e, muitas vezes, sem resultado. Sei de uma mulher que decidiu fazer um tratamento, aos 35 anos, porque, depois de tentar alguns meses, o filho não veio. Ansiosa, procurou assistência, e o médico disse que não havia problema nenhum com o casal, mas seria melhor “tratar”, porque, se esperassem mais, a gravidez poderia só vir mais perto do 40, e ela já entraria na zona de risco.
Sinceramente, acho que subestimam muito ainda nossa capacidade de gerar um bebê aos 40 e de ter uma gestação absolutamente tranquila nessa idade. Repito mais uma vez: há casos e casos. O que só reforça a ideia de que o tratamento não é para todas, definitivamente.
E até quando esperar? Qual esse limite? Será que é apenas o que dita a ciência, a biologia, o tempo cronológico, a indústria da fertilidade?
Cobro, sim, mais ética dos médicos e mais delicadeza em tratar com suas pacientes. Não fiquei grávida de gêmeos, mas “segurei” muito bem duas gestações com mais de 40 anos. E, nenhum momento, achei que pular da janela seria menos arriscado do que ir em frente, como me disse certo doutor – sua clínica hoje, em plena atividade, é, aliás, bastante próspera, e ele ficou bem famoso. Decerto, parte deste sucesso, deve às “velhas” mulheres, na faixa dos 35/40 anos, ávidas por ter um filho.
Escrito por Cláudia Collucci às 18h41
http://claudiacollucci.blog.uol.com.br/arch2011-07-01_2011-07-31.html#2011_07-15_19_41_42-9496746-0

segunda-feira, 11 de julho de 2011

ISLAM RADICAL - La niña 'burka' española

- REPORTAJE: ISLAM RADICAL - La niña 'burka' española
"Sin 'burka' no quiero vivir"
Una adolescente abandona los estudios en un instituto de Melilla porque no le permiten acudir completamente tapada y llevar guantes hasta el codo. Solo tiene 15 años. Con su testimonio y otras versiones, EL PAÍS reconstruye su historia íntima y secreta.- Las amigas: "Es tonta, se tapa y quiere que nos tapemos todas. No le basta con castigarse ella sola. Se ha echado un barbudo"
JOSÉ MARÍA IRUJO 10/07/2011
Chadia tiene 15 años y unos preciosos ojos verdes que desde hace meses solo ven su madre y sus cuatro hermanos cuando conviven en la intimidad de su casa alquilada de 90 metros cuadrados en el barrio de Reina Regente en Melilla. La niña cubre su rostro con un burka negro y envuelve sus frágiles brazos en unos guantes azul oscuro que le llegan hasta el codo, unas prendas que antes no se habían visto en esta ciudad de 71.000 habitantes, de los que la mitad son musulmanes. Chadia ha abandonado sus clases en el instituto público de su barrio y perdido el curso de 3º de la ESO, pero asegura "ser feliz". "La mujer más feliz", afirma.
• 'Tú puedes ser la mujer más feliz del mundo'
• Fracaso escolar en Melilla: 42,4%
La peluquera: "Cierro la peluquería para ellas. No quieren que nadie las vea. Me dicen: 'Mi marido solo permite que me veas tú'
"Van a una playa marroquí que alquilan sus esposos y se bañan solas durante la noche. Es uno de sus secretos"
"No me importa perder el curso. Si no me dejan llevar el 'burka' no quiero estudiar. Quiero hacer algo útil"
"¡Que Dios me libre de los novios! Nadie me ha aleccionado. Alá es el único que lo ha hecho. Lo descubrí en el Corán"
El secreto de Chadia, nombre supuesto para preservar su intimidad, duró varias semanas, las mismas que tardó el sistema escolar en alertar a la fiscalía de que una niña tranquila y aplicada llevaba días desaparecida de clase sin que sus padres dieran ninguna explicación. Nadie imaginó en el centro que una de sus alumnas vivía desde entonces encerrada en "la felicidad" de su burka, el mismo que visten la mayoría de las mujeres en Afganistán, a miles de kilómetros de distancia. Este es el primer caso de una niña española, nació en Melilla y es hija de padres españoles, que pretende asistir con burka al colegio, un centro con más de mil alumnos, en su gran mayoría musulmanes.
Mimón, de 42 años, la madre de la adolescente tapa su cabello con el hiyab (pañuelo islámico), viste una túnica color toffee y calza babuchas. Está separada de su marido y se ha hecho cargo de la educación y cuidado de sus cinco hijos. Ella fue la que explicó a la fiscal por qué su hija no asistía al colegio. Lo relata sentada en el salón de su casa, una estancia decorada con varios suras enmarcados del Corán: "Hace dos meses me llamaron y dieron cita con la fiscal y con Protección de Menores. Fuimos a verla y le dijo a la niña que tenía que ir al colegio y cumplir las normas. La niña le contestó que no quería ir al instituto, que no quería estudiar, que llevaba el burka y que no la iban a dejar entrar. Nos pidió que habláramos con el director y lo hicimos, pero este se negó a que acudiera con el burka. Le pidió que se lo quitara en la puerta del colegio. '¡Si sigue con esta actitud es mejor que no venga!', nos dijo".
Mohamed, cinco años, el pequeño de los hermanos, juega sentado en el suelo con un muñeco y observa a su madre en el mismo instante en que se abre una puerta interior y aparece Chadia cubierta con su burka. Anda muy despacio, empujando sus pies hacia delante como si fuera una novia que teme tropezar con su traje, se dirige hacia el periodista y le niega su mano. "Lo siento, pero no puedo tocarle". Se sienta tiesa y erguida junto a su madre y levanta el velo que tapa su cara y lo echa hacia atrás. Una diminuta rejilla del pañuelo negro que cubre su rostro descubre sus ojos.
-¿Por qué dejas que ahora se vean tus ojos?
-Es por respeto a usted que está en mi casa. En la calle nunca me lo permitiría.
Chadia interrumpe a su madre y asegura que quiere contar por qué viste el burka, por qué ha dejado el instituto en el que han estudiado sus hermanas mayores y ella misma desde pequeña, el centro público donde hasta hace unos meses saltaba a la cuerda en el patio con las que antes eran sus mejores amigas. La niña gira la cabeza, mira a los ojos de su interlocutor, los baja levemente e inicia su relato: "Fui con el burka hasta la puerta del colegio, me lo quité en la puerta y lo metí en la mochila. Se me veía la cara. Di mis clases y en el recreo hablé con las niñas. Todas me preguntaban: ¿por qué te pones el burka?, ¿te has echado un novio? Yo les di mis razones. Cuando me llamó el director me dijo: '¡No hables con ellas! Si vienes en ese plan mejor que no vuelvas!'. El director me cogió manía desde que le dejé las cosas claras. Le contesté a él y a la jefa de estudios que seguiría yendo. Volví varios días hasta que lo dejé. Iban a empezar las recuperaciones y no quería estudiar. No me importa perder el curso. Si no me dejan ir con burka no quiero estudiar, quiero hacer algo útil, no estudiar. Además, ahora ni con estudios encuentras trabajo". Mimón, la madre, observa a su hija y asiente con un leve gesto de cabeza.
Miguel Ángel López Díaz, director del instituto, ofrece una versión diferente. "Le comunicamos a la madre que la niña no podía acudir con burka. Le insistimos en que tenía que asistir a clase. Quiso negociar con nosotros: '¿Y si viene sin los guantes?'. Al final regresó al colegio sin el burka, pero con guantes. Le dijimos que se los quitara y lo hizo. En el recreo estuvo haciendo proselitismo con otras niñas y buscando apoyos. Cuando vino a hablar conmigo se lo quitaba y ponía. '¿Qué pasa si me lo pongo y me lo quito?', me decía. Le pedí que, por favor, no viniera tapada ni con guantes, que no enredara a otras niñas. Ya no ha vuelto a venir. Aquí, un 30% de las alumnas llevan el hiyab con toda naturalidad. Nunca hemos tenido problemas. Es una prenda más. Nunca habíamos tenido una niña con burka y no nos gustaría que esto se extienda. No es de aquí, es importado".
Una profesora del instituto, que pide que se omita su identidad, describe a Chadia como una niña normal que al principio del curso vestía vaqueros y no llevaba pañuelo. Y reconstruye el diálogo que mantuvo con varias compañeras de la niña cuando esta regresó después de varios meses de ausencia. "Me decían: 'Es tonta, se tapa y quiere que nos tapemos los demás. No le basta con castigarse ella sola. Lo que pasa es que se ha echado un novio barbudo. No nos deja decir barbudo porque dice que es pecado'. Ninguna de sus amigas se cree que se le ha ocurrido a ella sola vestirse con burka. Nosotros, los profesores, tampoco".
Chadia habla con cierta ironía cuando se le pregunta por los comentarios de sus amigas del colegio y siempre en pasado, aunque se separó de ellas hace pocas semanas. Y sonríe por primera vez ante la pregunta de si se ha echado un novio barbudo como aseguran algunas de sus compañeras de clase, uno de esos jóvenes salafistas que en los últimos años han aparecido como hongos por los barrios musulmanes de Melilla con sus pantalones por encima del tobillo para parecer más puros. "¡Que Dios me libre de los novios! Nadie me ha aleccionado. Alá es el único que me ha aleccionado, nadie más. Me he puesto a leer el Corán y lo he descubierto sola. Es una cuestión de fe. Alá quiere que lo interprete así. ¡Hasta yo me he quedado sorprendida de mi cambio! Por favor, escriba Alá con mayúsculas", ruega.
Mimón, su madre, asegura que la decisión de su hija fue una sorpresa para ella. "Mira lo que me he comprado', me dijo un día. Yo no tenía ni idea. No tiene novio. La gente cree que al ponerse el burka hay un hombre detrás. En este caso no es así. Se lo ha puesto por voluntad propia. Ha dicho que no se lo va a quitar, y no se lo va a quitar. Está feliz y decidida".
-¿Cómo te sientes totalmente tapada, cubierta bajo esa capa de velos tan oscuros? ¿Dónde dice el Corán que la mujer debe vestir así?
-Mire, me siento feliz y orgullosa de llevarlo. Me ha dado luz y ahora sé que estoy yendo por el camino recto. Si das un paso para creer en Alá, él te abre el corazón. Si crees en él y cultivas tu fe no tendrás dudas. En los suras [capítulos del Corán]de las mujeres, en la de la vaca, en la de la luz, en la de Mohamed se explica cómo debe ser la mujer. La única religión que existe es el islam, no hay otra".
Chadia no responde a la pregunta de si considera enemigos o infieles a los que no practican el islam. La niña afirma que no reza en ninguna mezquita, salvo alguna vez en la que frecuentan sus hermanos, en el barrio de La Cañada de Hidun, uno de los más deprimidos de la ciudad. Asegura que se compró el burka durante un viaje a Marruecos, donde también hizo "otras cosas", y sin que su madre conociera sus intenciones. No da detalles de si viajó sola o acompañada, ni de dónde sacó el dinero para adquirir su nueva vestimenta. "Rezo en mi cuarto cinco veces al día. Allí, entre mis libros, es donde me encuentro más cómoda, donde aprendo con mis lecturas y rezos, pero también salgo a la calle. No estoy encerrada ni aislada". Entre sus planes está hacer un curso de cocina, pero "donde haya solo mujeres". "Un hombre no me puede ver".
Chadia solo habla del Corán como su libro de cabecera, no ofrece detalles sobre otras lecturas, y describe así su futura relación con los hombres: "Aunque vista un burka y no deje que ningún hombre me vea, no renuncio a tener una familia e hijos. Mi marido tiene que ser musulmán, debe tener la misma fe que yo y aceptar sin ninguna duda lo que dice el Corán. Sin todo eso no podría aceptarlo como esposo". Su padre no parece ser su ejemplo. "Él y mi hermano Rashid me dicen que me quite el burka. No les gusta. A este pequeño, en cambio, le encanta y me pide que me lo ponga", añade señalando con la mirada a Mohamed que parece atento a la conversación y mira a su hermana con admiración. "Estoy decidida a seguir así toda la vida. Sin el burka no quiero vivir", apostilla.
Durante casi dos horas de conversación la figura paterna no está presente en el hogar de Chadia, un piso humilde sin ascensor, pero ordenado, limpio y luminoso, un bloque de pisos sociales construidos por la Empresa Municipal de la Vivienda, habitadas casi en su totalidad por familias musulmanas y un exlegionario retirado que pasa horas muertas en su terraza, en pantalón corto y pijama, fumando un cigarrillo tras otro y mirando al infinito. En el patio de la calle los niños juegan y charlan apoyados en la pared. El barrio en el que vive esta familia se sitúa cerca del centro de la ciudad y alejado de las zonas más deprimidas como La Cañada de Hidun, donde se han construido centenares de casas ilegales, pero no escapa a las tasas de paro y fracaso escolar, de las más altas de España. Muchos jóvenes de éste y otros barrios viven del trapicheo del hachís y su única salida es una plaza en el Ejército. Un caldo de cultivo para que florezca el salafismo propagado desde algunas mezquitas y escuelas coránicas.
"Estoy separada de mi marido desde hace 10 años. Nos abandonó con cinco hijos: tres niños y dos niñas. No esperamos nada de él. Nos arreglamos como podemos", apostilla la madre. Chadia calla y mira hacia el suelo. Rashid, el hermano mayor, irrumpe en la vivienda y observa al periodista con desconfianza. Viste pantalones vaqueros, camiseta de manga corta y deportivas. Certifica que no le gusta que su hermana pequeña se encierre en un burka. Es viernes al mediodía, la hora del rezo, y el joven que trabaja, conduce un pequeño turismo y ayuda a la familia, anuncia a su madre que va a subir a rezar a la mezquita de Los Pinares, en la parte alta de La Cañada, a unos quince minutos en coche desde su domicilio.
Chadia y su madre reconocen que es la única menor que usa el burka en Melilla, no conocen otro caso, pero aseguran que otras niñas quieren hacerlo. "La mayoría de mis amigas piensan como yo, pero no se atreven a dar el paso. Están discriminando a las mujeres musulmanas. Poco a poco esto irá cambiando, mientras haya vida hay esperanza. ¿Cómo van a hacerlo ahora si no te dejan ni estudiar, si te miran por la calle como si fueran un bicho raro, si pierdes todas las oportunidades de hacer algo? Pero ya verá como esto cambia. No tenemos prisa. Hay que ser paciente".
La estampa de Melilla está cambiando. Las palabras de Chadia no son una exageración. En los barrios periféricos más deprimidos y alejados del centro urbano el visitante se encuentra con algunas jóvenes que visten el niqab, la prenda que cubre todo el rostro de la mujer salvo una leve rejilla. Una vestimenta que antes no era visible, la antesala del burka, una prenda importada desde Arabia Saudí y ajena a las costumbres tradicionales de las mujeres musulmanas de esta ciudad que acostumbran a cubrir su cabello con el hiyab, aunque algunas no lo hacen.
"Soy Saida. ¡Por favor resérvame hora para mañana a las 11.00! Ya sabes". Abida [súbdita de Dios], de 24 años, la encargada de la peluquería Lamia, sabe que cuando recibe esta clase de llamadas telefónicas tiene que cerrar su pequeño y coqueto local para atender a una cliente especial. A una sola, a una de esas mujeres "perfectas" que leen la obra Tú puedes ser la mujer más feliz del mundo. A una de esas chicas a las que nadie, ni otra mujer, salvo esta peluquera menuda, puede ver ni adivinar su rostro o su cabello. "Cierro la puerta para ellas. No quieren que las vean otros clientes, aunque aquí atendemos a mujeres. Tengo que organizar las horas para que no aparezca nadie, para que no molesten. Me dicen: 'Mi marido no quiere que me vea nadie salvo tú'. Son muy coquetas y se arreglan mucho, pero solo para ellos. Ayer estuvo aquí una con burka. Se hizo un tratamiento completo, se alisó el pelo, se echó un tinte y se lo cortó. Todo en la más absoluta intimidad. Tiene unos 30 años y vive aquí en La Cañada. El niqab o el burka no les impide arreglarse. No significa que estén castigadas. Al menos, es lo que ellas me cuentan. Tenemos dos clientas solteras, una de 17 y otra de 20 años, el resto son siempre casadas y con niños. No estudian porque tienen las puertas cerradas en todos los lados. Les dicen que está prohibido usar el niqab".
La peluquería Lamia tiene dos cómodos sillones mecánicos para sus clientas, amplios cristales y un sofá con cojines de vivos colores en el que esperan su turno varias clientas. Unas cortinas correderas aíslan el despacho de Abida, la peluquera. Saida, melillense de 25 años, confiesa sin ningún pudor que dos de sus familiares usan el niqab. "Yo tengo a mi hermana Salwa, de 21 años, y a mi prima Fátima de 22. Mi hermana salía con un grupo de amigas, iban a clase de islam cada día porque querían saber más. Estaba obsesionada con saber. Conoció a un chico, se prometieron y se puso el niqab. Nosotros lo respetamos, pero mi madre no quería. Se llevó un disgusto. Al final hemos aceptado su decisión. Fue un golpe muy fuerte. Nos dijo que quería vestirse como la mujer del profeta".
Al igual que Abida, esta joven española asegura que su hermana y su prima son discriminadas por su vestimenta. "Salwa iba a hacer uno de los cursos de hostelería, albañilería y pintura en el centro de monjas de la caridad María Inmaculada y le dijeron que vestida de esa manera, no. Está prohibido. Mi hermana lleva a su niño al parque, se ha sacado el carné de conducir y tiene solo el bachillerato. No le importa lo que diga la gente. Al principio le molestaba mucho que la gente del barrio se preguntara: '¿Quién será? ¿Quién será?'. Ha aprendido árabe en muy poco tiempo y está todo el día pidiéndome que me ponga ropa larga".
Guarda [Rosa], una joven de 27 años que cubre su cabello con el hiyab, la interrumpe y se dirige al periodista. "Yo si me animo a lo mejor me pongo el niqab. Me siento más valorada si me cubro. Si vuelve por aquí en un par de meses a lo mejor me encuentra totalmente tapada. No conozco a nadie con burka, pero todas las chicas que se ponen el niqab son guapas, o morenas de ojos negros o rubias de ojos verdes y azules. Esto es igual que si viene tu hijo un día y te dice que es gay. Llevar el niqab no es obligatorio, el pañuelo sí".
-¿Has leído el libro Tú puedes ser la mujer más feliz del mundo?
-Sí, me parece maravilloso. Me ha ayudado y cambiado mucho. No hay sometimiento de la mujer al hombre. Solo amor.
La peluquera Abida asoma tras las cortinas y espeta: "Yo he estudiado árabe y no me gusta el burka. Es una exageración. No le veo justificación ni religiosa ni personal. Llevan una vida muy aburrida. Mi hermana no puede venir ni al campo ni a la playa con nosotras", reconoce Saida.
Las mujeres españolas que usan el niqab en Melilla no se bañan en sus playas. Cruzan la frontera, donde se tienen que identificar, y viajan en coche hasta un lugar secreto que muy pocos conocen, una pequeña playa en Marruecos que alquilan sus maridos para que nadie pueda verlas. "Van a una playa marroquí y se bañan solas durante la noche. La compran por horas sus esposos. No creo que la encuentre, es uno de sus secretos mejor guardados", dice Abida.
En la despedida, Mimón, la madre de Chadia, niega la mano al periodista y lanza una pregunta: "A las niñas cristianas las dejan ir con minifalda. ¿Por qué no se respeta a las musulmanas que van tapadas y recatadas? Cuando Chadia abre la puerta de su casa cubre su rostro con el burka y sus ojos desaparecen: "Vayan con Alá".
http://www.elpais.com/articulo/reportajes/burka/quiero/vivir/elpepusocdmg/20110710elpdmgrep_1/Tes

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Cientistas sabem o que é que querem as mulheres

Ciência
Cientistas sabem o que é que querem as mulheres
08.07.2011
O que é realmente importante para as mulheres na cama? Não só os homens mas também os cientistas têm procurado uma resposta para esta pergunta. Há uma infinidade de opiniões diferentes de ambos os sexos. Os autores de um novo livro, famosos neurologistas americanos, argumentam que o mecanismo do desejo sexual de mulheres e homens é muito diferente.
Em um livro recém lançado nos EUA com o título " Um bilhão de maus pensamentos" (A Billion Wicked Thoughts), os famosos cientistas, os neurologistas Ogi Ogãs e Sai Gaddam argumentam que o cérebro feminino é muito mais complexo do que o de um homem quando se trata da escolha de um parceiro sexual. Para suas descobertas, eles usaram os dados estatísticos de bilhões de consultas relacionadas ao sexo do motor de busca Dogpile, que combina resultados de pesquisa de Google, Yahoo e Bing, sua própria experiência na sexologia e psicologia, bem como as mais recentes evidências científicas sobre as diferenças atividade cerebral masculina e feminina.


Todo mundo tem um sistema de alarme ligado a partes específicas do cérebro, que os analisa e dá um comando para responder. Sistema de sinalização sexual masculina é mais visual, portanto, os homens obtêm prazer visando o orgasmo de mulher, de que muitas mulheres estão bem cientes e, portanto, simulam-na. Segundo os cientistas o cérebro feminino funciona como uma "agência de detectives", examinando e repetidamente calculando todas as qualidades de um parceiro para determinar se o homem merece sua atenção. "A mulher quer saber se haverá uma próxima vez, se o homem é responsável, e se ele vai voltar para ela", disse Ogas em uma entrevista a CNN.
Outra diferença, segundo os cientistas, é que para o cérebro masculino lançar o desejo sexual, é preciso apenas um sinal visual. As mulheres devem analisar uma combinação de elementos, e têm que envolver significativamente mais áreas do cérebro. Fazia sentido a partir de uma perspectiva evolutiva. No início da Humanidade a boa escolha do homem assegurava a sobrevivência das crianças. A mulher precisava de mais tempo para se certificar de que ele não seria cruel, infiel, ou negligente, que ele será capaz de protegê-la e seus filhos. A longo prazo, uma fêmea exigente sempre ganhou.

O "software" embutido nas áreas do cérebro responsáveis pela libido também é importante. A este respeito os homens são simples também. Cérebro masculino é "projetado" de modo que qualquer imagem visual ou tátil pode causar excitação. Pode ser um certo tipo de sapato ou pé, ou cheiro. Os homens formam um conjunto de fetiches que liga seu "botão" sexual. E só muitos poucas mulheres têm um fetiche e, geralmente, é uma história, ou um tema romântico, ou estrela de cinema.

"Desejo sexual masculino é gerido por um interruptor, enquanto que no sexo feminino é controlado por um conjunto de botões, semelhante ao que está na cabine do Air Force F-1", comentou Gaddam. Ogãs brincou que erótica do homem é individual, enquanto a de mulheres — social. Ele explicou que os homens, por exemplo, preferem assistir à pornografia na solidão, e as mulheres em redes sociais muitas vezes trocam de fofocas sobre a vida privada dos seus ídolos, e lêem mais histórias erótico, em vez de assistir à pornografia.

Os autores dão a descrição dos interesses para compara-los a partir de um site de namoro. Um homem escreve: cheerleaders em faculdades, cheerleaders do Havaí, belas garotas de biquíni, as garotas bronzeadas de biquíni, fotos nua, aconselhamento cristão na contenção da luxúria. Uma mulher escreve: Orlando Bloom, histórias de vampiros, vestidos de Cinderela, fofocas sobre Orlando Bloom, Legolas e erotismo heterossexual. Interesses do homem aqui são claros, pragmáticos e transparentes, enquanto uma mulher fantasia sobre Orlando Bloom e sua personagem de "O Senhor dos Anéis" — Legolas.

Com base da análise de perfis de usuário em sites de pornografia, os pesquisadores descobriram que muito mais escasso público feminino consiste principalmente em "socialmente agressivas" aventureiras, normalmente propensas à relações bissexuais.

Os homens preferem continuar a ver a pornografia envolvendo mulheres jovens, mas há um aumento significativo na demanda de vídeos envolvendo mulheres com idade entre 40, 50 e 60. Isto sugere que os homens modernos considerem as mulheres "de idade" mais atraentes. Os autores explicam o fato de que as mulheres maduras cuidem melhor de si mesmas, têm maior auto-estima e não hesitam em enviar sinais visuais para os homens.

Os cientistas também argumentam que é quase impossível inventar uma droga para aumentar libido feminina semelhante a Viagra. "Sistema sexual" feminina funciona de forma independente em dois níveis — físico e mental. Ela pode estar pronta fisicamente, mas ao mesmo tempo mentalmente "desligada".

Este estudo pode levar a uma conclusão muito importante — por incrível que pareça, em termos de interação sexual homens são mais gerenciáveis ​​e previsíveis do que as mulheres. Afinal, para transformar um homem é suficiente empurrar um botão, enquanto que com as mulheres é uma história completamente diferente. Para transformá-la envolvem-se muitos fatores, alguns dos quais os homens desconhecem. É por isso que as mulheres ainda permanecem um mistério para os homens.

Lyubov Lulko
Pravda.Ru
http://port.pravda.ru/science/08-07-2011/31851-sabemcerebro-0/

terça-feira, 5 de julho de 2011

Exposição em Berlim aborda sexualidade e o papel da mulher no futebol

Cultura | 04.07.2011

Exposição em Berlim aborda sexualidade e o papel da mulher no futebol
'Private dancer', de Katja Schneider
Em cartaz no Museu Gay de Berlim, mostra alusiva à Copa do Mundo feminina reúne a visão de 22 artistas sobre a participação da mulher no futebol e a homossexualidade no esporte.
Em alusão à Copa do Mundo de futebol feminino, realizada na Alemanha, o Museu Gay de Berlim apresenta uma exposição em que diversos artistas investigam a complexa relação entre gênero, homossexualidade e futebol, explorando o esporte como fenômeno social e cultural, no qual a redefinição de papéis só pode acontecer a preço de muita controvérsia.

Em campos como a pintura, a escultura, o vídeo, a instalação e os documentários, os trabalhos de 22 artistas reunidos na exibição transitam pelo tema, indo do retrato abstrato à estética nos gramados, da homossexualidade ao papel social da mulher no esporte, passando pela definição dos gêneros.

"Foram abertas inscrições e recebemos uma quantidade enorme de interessados. Alguns dos trabalhos já existiam e se encaixavam no tema. Outros foram desenvolvidos especialmente para a exposição", conta Birgit Bosold, diretora da exposição, chamada Andererseits ("por outro lado", em tradução livre).

Estádios vazios

Obra da artista Franziska VollbornPara uma mulher, jogar futebol é mais difícil do que parece. Em 1956, a Federação Alemã de Futebol (DFB) proibiu a presença das mulheres nos gramados, alegando que a agressividade do esporte não fazia parte da natureza feminina. O banimento caiu em 1970, mas o primeiro campeonato nacional de futebol feminino no país apoiado pela entidade só aconteceu em 1990.

Hoje, mais de um milhão de mulheres praticam o esporte na Alemanha, e o time alemão é um dos mais poderosos do mundo. As alemãs já foram sete vezes campeãs europeias e duas vezes campeãs do mundo. Mesmo assim, o esporte ainda recebe pouca atenção da mídia. "Mesmo em partidas importantes, com um bom número de espectadores pela televisão, os estádios estão sempre vazios", lamenta Bosold.

A igualdade de direitos ainda é um sonho distante nos campos de futebol, mesmo em países como a Alemanha. "Como o futebol feminino muitas vezes não é profissional, muitas das jogadoras têm problemas em se dedicar somente ao esporte", ressalta a curadora da exposição.

Para trazer um pouco mais de atenção da mídia e mais dinheiro ao esporte, o slogan da Copa desde ano é "O lado mais bonito de 2011". O ajuste da imagem das jogadoras ao perfil do público masculino heterossexual é, segundo Bosold, um preço muito alto a se pagar. "Não podemos criar uma imagem consistente em cima de um estereótipo. Esse slogan expressa que, para o mundo masculino, a beleza ainda é o melhor que as mulheres podem oferecer", completa.

Homossexualidade nos campos

Outro ponto abordado na exibição é a questão da homossexualidade. Um tema que aparentemente não é tabu na sociedade alemã, onde diversas celebridades artísticas e políticas são abertamente gays, como o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit.

Mas, no mundo do futebol masculino alemão, ainda permanece assunto proibido devido ao jogo de poder, segundo Bosold. "O futebol masculino é como um clube fechado e cheio de poder. Um elemento homossexual quebra esse círculo, e o risco de se perder o poder é assustador. Um membro homossexual enfraquece o grupo e pode manchar sua reputação e, consequentemente, seu poder", diz a responsável pela mostra.

Quadros de Katja Schneider abordam o homossexualismo no futebol masculino

A ambiguidade do relacionamento entre jogadores de futebol é o tema da obra da artista Katja Schneider. Baseadas em fotos reais de jogadores, as pinturas descontextualizam seus personagens do campo e revelam que o contato entre homens no gramado tem mais elementos homoeróticos do que o aceitável no meio. Em contraponto, no futebol feminino a homossexualidade é melhor aceita dentro do grupo, mas gera um marketing negativo para o público heterossexual masculino.

Dois documentários que fazem parte da exposição trazem questões interessantes. O diretor alemão Tom Weller mostra em seu filme como a tradicional divisão dos sexos no esporte não vale para os jogos gays, onde os transsexuais competem de acordo com sua identificação psicológica.

Já o filme da alemã Christine Olderdissen, feito em 91, mostra a viagem de um time feminino de Berlim para uma competição em Dresden. Ao selecionar o filme, os responsáveis quiseram levantar a discussão sobre o que mudou no esporte nesses 20 anos.

A exposição questiona o futebol como um esporte tradicionalmente masculino, mostrando que ele também pode ser o espaço ideal para as mulheres conquistarem força e poder.

A exposição Andererseits está em cartaz no Museu Gay de Berlim até o dia 25 de setembro.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15205271,00.html

domingo, 3 de julho de 2011

Tania Navarro-Swain: A busca do feminino sem a maternidade

Tania Navarro-Swain: A busca do feminino sem a maternidade
QUI, 05 DE MAIO DE 2011 17:52 ESCRITO POR REDAÇÃO

A historiadora Tania Navarro-Swain acredita que a força das representações sociais incute nas mulheres a compulsão à maternidade e ao casamento como definição do feminino.

por Anelise Zanoni, no IHU On-Line



Com a chegada da revolução sexual feminina, principalmente com o lançamento da pílula anticoncepcional, começaram as grandes transformações nos cenários até então desenhados para as mulheres. O medicamento, mais seguro que os demais métodos existentes, permitiu a decisão sobre o próprio corpo. Entretanto, para a historiadora Tania Navarro-Swain algumas regras seguiram semelhantes: “O Estado, a medicina e a religião continuam a lutar por suas prerrogativas masculinas de decidir sobre os corpos das mulheres. A sociedade cobra das mulheres a reprodução e as que não têm uma consciência feminista sentem-se inferiorizadas, excluídas dos laços sociais”, afirma.

Em entrevista por e-mail para a IHU On-Line, a pesquisadora feminista considera que a maternidade é parte das possibilidades de uma mulher, não uma obrigação ou um elemento constitutivo como ser humano.

“Uma vez que as mulheres se desfaçam da obrigação incontornável de casar e ter filhos, como essência de ser-no-mundo, elas passam a decidir de seus afetos e de seus engajamentos”, diz. Além disso, para ela, a força das representações sociais que incute nas mulheres a compulsão à maternidade e ao casamento como definição do feminino é forte demais para que as estruturas familiares tradicionais sejam completamente rompidas e substituídas.

Pós-doutora em estudos femininos pela Universidade de Quebec, no Canadá, e em história na Universidade de Montreal, no mesmo país, Tania Navarro-Swain é professora da Universidade de Brasília – UnB e atua nas áreas de epistemologia feminista, sexualidade, gênero, história das mulheres, teoria e metodologia da história.

Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como podemos compreender os impactos da pílula anticoncepcional na liberação sexual das mulheres e, como consequência, na construção de uma mãe moderna?


Tânia Navarro-Swain – A pílula anticoncepcional foi um instrumento para que as mulheres se reapropriassem de seus corpos. De fato, na modernidade, as mulheres têm sido vinculadas a seus aparelhos genitais na definição do feminino. Desprovidas de razão, seu destino era o biológico, procriar e servir no domínio do privado, no âmbito do doméstico. A gravidez sucessiva é uma prática patriarcal para manter as mulheres fora do espaço público, um meio de mantê-las sob seu controle e determinar os limites de sua atuação. Neste sentido, a pílula permite às mulheres recuperar seus corpos sem renunciar à sexualidade ou sem sofrer as consequências do poder social conferido aos homens de exigir relações sexuais a seu bel prazer, com consentimento ou sem ele. Assim, este mesmo instrumento, mais seguro que outros existentes, permite que as mulheres decidam quando e se querem engravidar, quando e se querem ter e criar filhos. Mas se nos países ocidentais existe esta possibilidade, em muitíssimos países as mulheres só existem em função da reprodução e de preferência de meninos, como na China, na Índia e nos países muçulmanos.

De toda maneira, o acirramento patriarcal para impedir o aborto quando de uma gravidez indesejada – a pílula falhou ou não foi tomada – é a prova concreta de que a posse e o controle dos corpos das mulheres devem ficar em mãos masculinas. O Estado, a medicina e a religião continuam a lutar por suas prerrogativas masculinas de decidir sobre os corpos das mulheres.

IHU On-Line – Para algumas mulheres ser mãe ainda é uma obrigação social. Como você avalia esse pensamento?


Tânia Navarro-Swain - Como as mulheres foram definidas em relação à procriação, aquelas que não têm uma prole sentem-se fora do modelo da “verdadeira mulher”, esposa, mãe. Neste sentido, a sociedade cobra das mulheres a reprodução e as que não têm uma consciência feminista sentem-se inferiorizadas, excluídas dos laços sociais. Como feminista, considero que a maternidade é parte das possibilidades de uma mulher, não uma obrigação, nem um elemento constitutivo como ser humano.

IHU On-Line – Muitos pesquisadores afirmam que a falta de limites e a educação transgressora das crianças têm a ver com esse novo papel dos pais. Qual sua avaliação?


Tânia Navarro-Swain - Não vejo nenhum novo papel do pai. Ao contrário. Os pais, em grande número, estão ausentes da educação ou têm uma figura de punição e violência. Dos trabalhos domésticos, recusam-se a participar e dão um exemplo pernicioso aos meninos das famílias de uma divisão de trabalho desigual. Perpetuam assim, em casa, a hierarquia e a importância dada ao masculino. Se a educação das crianças tem sido considerada uma questão feminina – erroneamente –, hoje a mãe deve não só trabalhar fora, como assegurar um mínimo de higiene, alimentação e conforto nos lares.

De toda forma, esta tarefa deveria ser dividida igualmente, se as famílias fossem constituídas fora do esquema patriarcal de divisão de trabalho. Existe um sopro de violência que penetra em todas as esferas sociais: as escolas são um exemplo disto, a mídia, a TV, os filmes só falam de morte, sangue, drogas, polícia e bandidos. De fato, hoje, a escola e a mídia são os educadores e a permissividade é uma consequência disto.

Por outro lado, uma outra face da questão é que no Brasil há uma falta generalizada de educação das crianças para o convívio social: é permitido às crianças gritar, espernear, exigir, as famílias e a sociedade o aceitam; o convívio com crianças brasileiras é penoso, barulhento, quase incontrolável. Talvez a “nova atitude” dos pais (mãe e pai) seja a de uma permissividade, que faz crer às crianças que elas podem tudo, experimentar tudo, vivenciar tudo. Mas aí já estou saindo de minhas competências de análise.

IHU On-Line – As mudanças nos padrões de sexualidade são capazes de mudar a estrutura das famílias. E como fica a relação homem/mulher?


Tânia Navarro-Swain – Apenas mudanças nos padrões de sexualidade não mudam a estrutura das famílias se as representações sociais de feminino, demasculino, de hierarquia não forem transformadas igualmente. A relação homem/mulher ficou apenas um pouco mais livre. As teorias feministas apontam para uma “heterossexualidade compulsória” que obriga ou força a união entre mulheres e homens para que respondam às normas e às representações de feminino e masculino no sistema social. Ou seja, esta heterossexualidade institui os papéis sociais, de forma hierárquica, bem como as normas e comportamentos aceitáveis. É a base do patriarcado, com o controle e a apropriação social dos corpos e do trabalho das mulheres. Assim, uma vez que elas se desfaçam da obrigação incontornável de casar e ter filhos, como essência de ser-no-mundo, elas passam a decidir a respeito de seus afetos e de seus engajamentos; passam a decidir o que querem e pretendem fazer de seus corpos e suas vidas. A força das representações sociais que incute nas mulheres a compulsão à maternidade e casamento como definição do feminino é ainda forte demais para que as estruturas familiares tradicionais sejam completamente rompidas e substituídas por variáveis múltiplas. Entretanto, é cada vez maior o número de mulheres que formam famílias monoparentais. Isto é, mulheres que se recusam ou se ausentam de relações permanentes que se fundam em uma hierarquia familiar, onde o homem é depositário da autoridade. Assim, as relações passam a ter um caráter mais igualitário.
IHU On-Line – As constantes mudanças na estrutura social, principalmente dentro da família, podem influenciar atitudes de risco dos filhos, como o uso de drogas e o gosto por atividades perigosas?


Tânia Navarro-Swain – A incrível violência doméstica que se abate sobre as mulheres e crianças, e que hoje se torna cada vez mais visível – incita ao uso de drogas e à delinquência juvenil, a meu ver. A mudança mais significativa na estrutura familiar é a maior participação das mulheres no mercado formal do trabalho e sua independência econômica cada vez mais ampla. Os homens aceitam com dificuldade esta mudança e a violência contra as mulheres tem crescido de forma exponencial. É igualmente o crescente número de mulheres que são as provedoras únicas ou principais da sobrevivência familiar. Porém, no imaginário social o masculino é preponderante, e a representação social familiar básica é a ordem do pai. Assim, nada mudou, pois nas famílias os homens continuam a manter intacta a divisão de trabalho familiar, da qual se ausentam e cultivam seu papel de autoridade e poder, cujo eixo principal é a violência. De modo que há um desdobramento desta imagem, cada vez mais negativa entre a juventude, que sofre com a violência familiar e social e a reproduz.

Os discursos sociais que alegam uma desestruturação familiar por causa da crescente presença e participação das mulheres no mercado de trabalho não são mais uma artimanha do poder para culpá-las e trazê-las de volta ao “bom caminho” da “verdadeira mulher”: esposa e mãe. Esta é mais uma tentativa de fazer retroceder as conquistas das mulheres, pois a independência econômica é essencial para a autoestima, e sua afirmação enquanto sujeitos políticos.
http://www.planetaosasco.com/oeste/index.php?/2011050512963/Nosso-pais/tania-navarro-swain-a-busca-do-feminino-sem-a-maternidade.html