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domingo, 24 de junho de 2012

Saiba até que ponto a homeopatia ajuda a engravidar

22 de junho de 2012  09h08

Não há estudos que comprovem a influência dos fitoterápicos e homeopatia na fertilidade. Foto: Dreamstime/Especial para Terra
Não há estudos que comprovem a influência dos fitoterápicos e homeopatia na fertilidade
Foto: Dreamstime/Especial para Terra

Até que ponto o uso de fitoterápicos e de homeopatia pode ajudar a mulheres que estão planejando engravidar? A resposta para essa pergunta é um tanto quanto complexa. Não há estudos que comprovem a influência desses preparados na fertilidade. No entanto, segundo Arnaldo Schizzi Cambiaghi, ginecologista e obstetra diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO), de São Paulo, todo o tratamento complementar que puder trazer algum benefício às técnicas de reprodução assistida são bem-vindos. "Fitoterápicos, acupuntura, homeopatia, ou seja, todo tratamento que possa ajudar o casal a passar por esse momento, e que não atrapalhe na técnica de reprodução, será muito bem aceito", explica. 

Para Sérgio Pereira Gonçalves, especialista em reprodução humana e diretor médico da clínica Monteleone, de São Paulo, os tratamentos são liberados, mas com algumas ressalvas. "Eu não indico. Mas, se a pessoa quiser fazer, ou se já faz um tratamento com homeopatia ou fitoterápicos, não vou contraindicar. No entanto, vou deixar esse casal ciente de que não há estudos que comprovem que esses tratamentos auxiliares de fato dão resultados", diz. 

O médico alerta que, no caso das medicações fitoterápicas, o cuidado tem que ser grande. Para Sérgio, o especialista em reprodução que atende os pacientes que fazem o uso dessas medicações tem que estar ciente do que está sendo receitado, porque, mesmo que sejam naturais, os princípios ativos podem trazer efeitos colaterais. Já os homeopáticos, por serem ultradiluídos, não apresentam riscos às técnicas de reprodução assistida. 

Homeopatia
A homeopatia é uma técnica muito antiga que tem como forma de tratamento o princípio dos semelhantes. "A homeopatia receita uma substância que, ao ser administrada em pessoas sadias, causou os mesmos sintomas que o paciente doente está apresentando", explica Marcus Zulian Teixeira, médico homeopata e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). "É como se o medicamento homeopático mostrasse para o organismo como se defender dos problemas que ele vem enfrentando." 

O remédio que será receitado aos pacientes com problema de fertilidade é indicado de acordo com as consultas. Segundo Marcus, na homeopatia não existe uma receita pronta de remédio. Cada caso é um caso. 

A substância homeopática é ultradiluída para que o princípio ativo das medicações não agrave o problema. "Imagine receitar uma alta dose de uma substância que causa dor de cabeça em uma pessoa que já tem o problema. O caso só vai piorar", esclarece. "É para fugir do agravamento das doenças que o remédio é ultradiluído." 

O médico afirma que a homeopatia deve ser um tratamento coadjuvante às técnicas de reprodução assistida. Para ele, assim como a medicina alopática (tratamentos convencionais) tem suas limitações, a homeopatia também possui. 

Fitoterápicos
A fitoterapia é o uso de medicamentos à base de plantas medicinais. De acordo com o livro: Fertilidade natural(Editora LaVida Press), de Arnaldo Schizzi Cambiaghi e Daniella Spilborghs Cartellotti - ambos ginecologistas e especialistas em reprodução humana - e colaboradores, a aspirina, por exemplo, é um medicamento derivado da casca do salgueiro. 

Segundo a publicação, a fitoterapia é uma opção de tratamento coadjuvante às técnicas de reprodução assistida, "mas deve ser receitada por profissionais que tenham experiência na sua utilização. O fato de serem produtos naturais não os isenta de causarem efeitos colaterais indesejados", alertam os autores.
http://vidaeestilo.terra.com.br/fertilidade/noticias/0,,OI5850485-EI20147,00-Saiba+ate+que+ponto+a+homeopatia+ajuda+a+engravidar.html

sábado, 21 de abril de 2012

Ao contrário da mulher, homem é fértil até ficar velho


19 de abril de 2012  08h56


Ao contrário das mulheres, a idade dos homens não influencia significativamente aa qualidade e a quantidade de espermatozoides. Foto: Shutterstock/Especial para Terra
Ao contrário das mulheres, a idade dos homens não influencia significativamente aa qualidade e a quantidade de espermatozoides
Foto: Shutterstock/Especial para Terra

Ao contrário da mulher, o homem não tem sua fertilidade alterada significativamente conforme os anos passam. De acordo com Marcelo Horta Furtado, coordenador do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e urologista da clínica Pró-Criar, de Belo Horizonte, se não houver nenhuma doença ou algum fator externo que influencie a fertilidade, o homem tem um potencial de produção de espermatozoides que não muda muito com o passar dos anos. 

Conforme o homem vai ficando mais velho, ele passa a ter uma diminuição da testosterona. Esse fator costuma causar uma leve alteração nos espermatozoides e uma diminuição na quantidade de líquido ejaculado, mas nada que seja tão significativo a ponto de deixá-lo infértil. "Apesar de haver essa queda, na grande maioria dos casos não há uma diminuição de fertilidade por conta desse fator isolado", explica o urologista. 

Doenças
Mas algumas doenças que normalmente chegam junto da idade, como diabetes e hipertensão, podem influenciar a fertilidade masculina. No caso da hipertensão, os medicamentos podem prejudicar tanto a vida sexual quanto a fertilidade. 

O diabetes descontrolado, por exemplo, pode causar disfunção erétil, ejaculação retrógrada ou fazer com que o paciente deixe de ejacular. Mas, se o paciente controlar a doença, ela deixa de ser impeditivo para as funções reprodutivas. 

No caso de outras doenças, como as do coração, a medicação também pode causar os mesmo sintomas relacionados ao tratamento para hipertensão: disfunção erétil e modificação na qualidade ou quantidade dos espermatozoides. 

Cross Content

http://vidaeestilo.terra.com.br/fertilidade/noticias/0,,OI5727083-EI20145,00.html

segunda-feira, 5 de março de 2012

Infertilidad: los hombres se sienten peor que las mujeres


SALUD REPRODUCTIVA
Los "padres frustrados" parecen sufrir más que sus parejas cuando no pueden engendrar hijos.
Hace ya mucho tiempo que se sabe que la infertilidad no es problema sólo de mujeres. Incluso, según estudios científicos citados por la "Revista chilena de neuropsiquiatría", casi se ha descartado que los síndromes psiquiátricos jueguen un rol significativo en la génesis de la infertilidad. "Sólo dos excepciones ameritan ser consideradas: la anorexia nerviosa, que se genera, por la significativa baja de peso, una alteración hormonal que inhibe la ovulación; y disfunciones sexuales, como la eyaculación precoz, la disfunción eréctil y el vaginismo, porque impiden la consumación de la relación sexual". Lo afirman los doctores Estela Palacios y Enrique Jadresic en su artículo "Aspectos emocionales en la infertilidad: una revisión de la literatura reciente". 

En cambio, resaltan las secuelas psicológicas que produce la infertilidad en la autoestima, la identidad sexual, el funcionamiento social y la sexualidad. "En estos ámbitos -afirman- se describen grados importantes de ansiedad y depresión, sentimientos de culpa, miedos y aislamiento".

Los hombres, peor Y ahora parece poder demostrarse que las consecuencias de la infertildad impactan psicológicamente mucho más en los hombres, que la sufren silenciosamente, ya que no están acostumbrados como las mujeres a lidiar con este tipo de asuntos. Para colmo, la sociedad muchas veces sostiene el mito de que la fertilidad de un hombre está asociada a su masculinidad. Como consecuencia suelen aparecer ansiedad, culpa, depresión y pérdida de la autoestima, al punto que muchos comienzan a verse como "fracasados". 

Las causas de infertilidad masculina pueden ser muy variadas: disminución en la cantidad de espermatozoides, alteraciones en la calidad y funcionalidad de los mismos, infecciones, etc. Y en los últimos tiempos se ha comprendido la importancia de la acción de contaminantes ambientales, del estrés urbano, del abuso de drogas, del consumo de alcohol y de las enfermedades de transmisión sexual. 

Tratamientos
La ciencia ha desarrollado técnicas que permiten mejorar los resultados de los tratamientos de fertilización asistida y, con ello, lograr el sueño del hijo deseado. Algunas permiten detectar espermatozoides con ADN deteriorado y excluirlos a la hora de fertilizar los óvulos. Otro procedimiento incorpora el uso de un microscopio de alta resolución, por medio del cual se pueden seleccionar espermatozoides morfológicamente mejores y descartar aquellos que no son aptos para la fecundación. 

Buscar apoyo Si bien es cierto, que la evaluación de diagnóstico y las mismas técnicas de fertilización pueden ser emocionalmente traumáticas, el apoyo de los profesionales de salud mental presentes en los equipos interdisciplinarios ayudará a los hombres a asumir esta condición, superar barreras, derrumbar tabúes y aceptar los tratamientos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Casi la mitad de las parejas que recurren a un tratamiento de reproducción asistida lo deja tras un primer intento


La ansiedad y estrés que provocan estas terapias y la crisis, principales motivos de este incremento

Salud | 08/11/2011 - 14:49h
Madrid. (EP).- En España se estima que unas 250.000 parejas se someten a un tratamiento de técnicas de reproducción asistida para poder tener hijos pero, de estos, se estima que casi la mitad (40%) lo abandonan después de un primer intento, según el director médico del Grupo IVI, Antonio Requena, quien también codirige el centro IVI de Madrid.
Además, y según ha reconocido durante el lanzamiento de una nueva presentación de 'Menopur 1200' (Ferring Pharmaceuticals), el problema es que la tasa de abandono de estas parejas tras un primer tratamiento "cada vez va subiendo más" y duplica los datos de 2005, cuando sólo desistían menos de un 20 por ciento de las parejas.
"Cada vez hay más parejas que después de un tratamiento abandonan, y esto es una pena porque son parejas que no van a poder darse esa segunda oportunidad para poder conseguir un embarazo", asegura Requena.
De hecho, el avance en el desarrollo de nuevas técnicas ha permitido alcanzar unas tasas de natalidad del 40 por ciento en el caso de fecundación 'in vitro' y 50 por ciento en donación de ovocitos, que "son similares en el primer, segundo y tercer tratamiento".
El motivo de este abandono está, por un lado en el "gran estrés" que provoca en la pareja. De hecho, hasta un 30 por ciento presenta problemas de ansiedad que hacen necesario "más apoyo de las unidades de Psicología".
"La esterilidad les provoca a las parejas mucha ansiedad ¿voy a conseguir embarazarme? ¿Voy a poder tener un hijo? Son algunas de las preguntas que se hacen al iniciar el tratamiento", como reconoce este experto, que avanza que "si no se ha conseguido el embarazo, es muy difícil volver a tener ánimos para hacerlo de nuevo".
"La crisis en esto también se nota"
Pero además, precisa Requena, el otro motivo que está haciendo que aumenten las tasas de abandono es el económico, ya que "hoy día, después de un primer tratamiento, poder planteárselo o ahorrar para un segundo tratamiento les está costando más que antes. La crisis económica en esto también se nota".
El coste de un tratamiento de inseminación artificial oscila entre los 800 y 1.000 euros, mientras que la fecundación 'in vitro' asciende a entre 4.000 y 5.000 euros por tratamiento "dependiendo de la complejidad de cada caso".
Por ello, tanto la industria como los propios centros que ofrecen estos tratamientos están haciendo "esfuerzos" para que estas parejas puedan continuar con ellos, ofreciendo "facilidades" de financiación y buscando "fármacos más baratos".
De hecho, el director general de Ferring España, Juan Carlos Aguilera, ha reconocido un decrecimiento en las ventas del 15 por ciento.
Cambia el perfil
Además, el jefe de Servicio de Medicina de la Reproducción del Departamento de Obstetricia, Ginecología y Reproducción del Instituto Universitario Dexeus de Barcelona, Buenaventura Coroleu, ha recordado que el perfil de las parejas que recurren a estos tratamientos está cambiando, ya que "cada vez acuden parejas de edad más avanzada".
"Muchas parejas jóvenes piensan que todavía hay tiempo", recuerda este experto, que achaca este cambio al retraso en la edad para tener hijos y en el progresivo deterioro de la calidad del semen.
Por otro lado, este experto ha reclamado que las autoridades sanitarias intenten garantizar el acceso al tratamiento de los problemas de fertilidad y, como alternativa a las listas de espera que actualmente se generan en la sanidad pública, propone fomentar la crioconservación de ovocitos "para incrementar las posibilidades de éxito en el futuro".

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Reprodução assistida – ou desassistida?

Reprodução assistida – ou desassistida?
O caso das trigêmeas e o lugar da maternidade em nosso tempo
ELIANE BRUM

Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
E-mail: elianebrum@uol.com.br
Twitter: @brumelianebrum
No início deste ano, imprensa e público se chocaram com o caso de um casal paranaense que teve trigêmeas, depois de se submeter a técnicas de reprodução assistida, e quis dar uma delas para adoção. As meninas nasceram em janeiro de um parto prematuro e ficaram por quase um mês na UTI neonatal de uma maternidade de Curitiba. Os pais já haviam manifestado a intenção de entregar um dos bebês para ser adotado antes do nascimento. Mas, “denunciados” pelos funcionários do hospital ao Conselho Tutelar por “rejeitar” uma das filhas, supostamente a mais frágil, perderam a guarda das três. Em fevereiro, as meninas foram colocadas em um abrigo por intervenção judicial. Os bebês ficaram afastados dos pais por dois meses e meio, com visitas restritas a duas horas semanais. Em maio, a Justiça deu a guarda temporária a parentes e permitiu que os pais pudessem visitá-las diariamente. Desde o início, os pais declararam-se arrependidos de terem desejado dar uma das crianças para adoção e tentaram reaver a guarda das três filhas. O médico que acompanhou o casal em todo o processo da reprodução assistida, disse à imprensa: “Eu nunca vi um casal rejeitar os filhos após um tratamento para engravidar. Muito menos rejeitar um ou rejeitar dois. Isso realmente é uma novidade”.

Quando o caso tornou-se público, o casal virou uma espécie de monstro. A ideia, disseminada no senso comum, era: como pais, que desejaram tanto ter filhos, a ponto de se submeter a um procedimento caro e nem sempre bem sucedido, tiveram a coragem de “abandonar” a mais frágil das crianças? Danielle Breyton, Helena Albuquerque e Verônica Melo estavam entre as poucas vozes dissonantes. Psicanalistas do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo, elas pesquisam as questões da reprodução assistida desde 1997, no grupo denominado “O feminino no imaginário cultural contemporâneo”.

Impressionadas com o linchamento dos pais pela sociedade, elas escreveram um texto para a imprensa intitulado “Responsabilidades no caso das trigêmeas”. Tiveram dificuldade para encontrar espaço para publicá-lo, apesar da qualidade do trabalho e da experiência de 14 anos de estudos da questão da reprodução assistida. Vale a pena pensar se a falta de espaço pode significar uma resistência a escutar algo que adicione maior complexidade ao debate e algo que nos implique a todos – em vez de apenas demonizar os pais.

No texto, que tive a oportunidade de ler, as psicanalistas fazem algumas perguntas incômodas: “De quem é a responsabilidade pela implantação de três ou quatro embriões no útero de uma jovem de 28 anos? A quem cabe a decisão que implica tamanhos riscos? Ao casal? À equipe médica? Ao Estado?”. Desde o início deste ano, uma norma do Conselho Federal de Medicina determina que, no caso de mulheres com até 35 anos, devem ser implantados no máximo dois embriões, já que uma gravidez múltipla traz riscos para a mãe e para os bebês, sem contar as demais sequelas físicas e psíquicas. Entre os 36 e os 39 anos recomenda-se implantar três embriões. E apenas mulheres com mais de 40 anos podem ter quatro embriões implantados.

As psicanalistas apontam que, no caso das trigêmeas, os pais incorporaram algo que faz parte do discurso hegemônico, plenamente assimilado pela sociedade e amplamente divulgado pela mídia em centenas de reportagens. Neste discurso, os termos “escolha, doação, descarte e redução” são corriqueiros na área da reprodução assistida. No texto, elas criticam a desimplicação de todos no caso, a começar pelo médico, e afirmam que as trigêmeas não são apenas filhas de seus pais – mas de uma cultura. Neste sentido, são filhas de todos nós.

Quando o caso tornou-se público, chamou a atenção a incapacidade da maioria das pessoas que se manifestaram de parar para pensar, ainda que por um instante: “Como deve se sentir uma mulher de 28 anos com três bebês prematuros ao mesmo tempo?”. Quem tem apenas um, saudável e nascido de nove meses, sabe que não é fácil, especialmente nos primeiros tempos. É possível para qualquer um imaginar como pode ser difícil e assustador cuidar de três prematuros. Reconhecer a dor do outro não significa tirar-lhe a responsabilidade, apenas admitir que é preciso ter mais cuidado antes de julgar. Por que a condenação dos pais pela sociedade foi imediata e massiva é algo que vale a pena pensar. E talvez as imagens estampadas em jornais e revistas, assim como nas telas da TV, de casais sorridentes com sua ninhada de filhos nascidos na mesma gestação, que todos nós já vimos alguma vez, possam ser uma pequena parte da explicação.

O caso provoca ainda uma série de questões. Que Justiça é esta que prefere colocar três recém-nascidas em um abrigo em vez de deixá-las com os pais, que se dizem arrependidos e dispostos a criar as três filhas? Por que, como disse a advogada do casal, não ajudá-los a lidar com as dificuldades em vez de puni-los? E que sociedade é esta que se apressa a linchar o casal, preferindo transformar os pais em monstros e assim se afastar por completo do que a horroriza, em vez de pensar se não tem nada a ver com isso? O debate vale a pena não para que possamos encontrar outro culpado, mas para compreender o que tudo isso diz da época em que vivemos.

Convidei Danielle, Helena e Verônica para uma conversa nesta coluna. Não apenas sobre o caso das trigêmeas, mas sobre a reprodução assistida e o lugar da maternidade no nosso tempo. Na entrevista a seguir, destaco três temas que considero mais instigantes. O primeiro é a percepção de um paralelo entre parto natural e cesárea/reprodução natural e reprodução assistida. As psicanalistas perceberam, ao acompanhar grupos de pais à espera do procedimento, que, se o parto natural tornou-se exceção no Brasil, com prevalência da cesariana na maioria dos nascimentos, o mesmo começa a acontecer com a reprodução: um número crescente de mulheres, cada vez mais jovens e cada vez mais cedo, se consideram inférteis e incapazes de engravidar naturalmente, em relações sexuais com seus parceiros.

Outro tema muito interessante é que a tecnologia é amplamente usada e festejada no processo da reprodução e do nascimento, mas assim que o filho nasce volta-se imediatamente ao mito do amor materno: todos aqueles que colaboraram e às vezes até decidiram os processos relativos à reprodução e ao parto saem de cena, e o filho volta a ser dos pais e principalmente da mãe, já que é ela que tem licença maternidade de quatro ou seis meses. E então a sociedade exige que esta mãe ame incondicionalmente e de imediato seu filho e dê conta de tudo, mesmo que sejam três prematuras, como no caso que gerou a polêmica. Esta mãe não pode ter conflitos, dúvidas ou medos. Qualquer sentimento menos nobre diante de um bebê que chora sem parar ou que ela teme perder é considerado “antinatural” e ameaçaria um determinado ideal de maternidade. Da mulher se espera que seja uma supermãe – ou então correrá o risco de a sociedade transformá-la numa bruxa a ser queimada na fogueira midiática.

Por fim, vale a pena pensar no que a tecnologia deu às mulheres. É importante sublinhar que a tecnologia deu muito. Mas o reconhecimento dos benefícios deve servir também para nos estimular a problematizar as questões. Na conversa a seguir, Danielle, Helena e Verônica mostram que, de certo modo, o controle de novo está fora das mulheres – e na mão do poder hegemônico sobre o corpo na nossa época, que é o da Medicina. Perguntar sempre vale a pena. E pode nos levar a respostas intrigantes. É isso que tento fazer na conversa a seguir.


- Como surgiu a ideia de pesquisar a reprodução assistida?

Helena Albuquerque - A ideia do grupo era pesquisar o feminino na cultura e buscar respostas para uma série de perguntas. Mudou alguma coisa em relação à mulher? Os conflitos e as angústias das mulheres são os mesmos? A mulher lida melhor com a sexualidade do que já lidou numa época mais repressiva? O grupo intercalava o estudo de textos psicanalíticos sobre o feminino com as questões da cultura e da clínica. Estávamos às voltas com a questão da reprodução assistida no consultório, e o tema surgiu na discussão. Resolvemos montar, então, um pequeno grupo para estudar os efeitos da tecnologia da reprodução assistida no feminino: na mulher, no jeito de conceber de um casal, no jeito de conceber a gravidez, o parto, a criança; se estas coisas se mantinham no mesmo lugar, se mudavam de lugar. Depois de um tempo de estudo teórico, fomos fazer uma pesquisa de campo no Hospital Pérola Byington, onde há um Serviço de Reprodução Humana totalmente gratuito que atende mulheres do Brasil inteiro. O foco da nossa pesquisa era investigar como ficava a ideia da infertilidade uma vez dado o diagnóstico: como os casais processavam isso subjetivamente, o que para eles era infertilidade, o que o diagnóstico causava em suas vidas. Trabalhamos com dois grupos de casais que selecionamos na fila de espera do Serviço de Reprodução Humana.


- Por que vocês escolheram este tema e não outro?

Verônica Melo - Acho que partimos de situações que a gente vivia, ou na clínica, ou com pessoas próximas, amigos que estavam buscando a reprodução assistida.
A mulher começa a se atrapalhar com coisas que sempre foram sentidas como sendo dela, sobre as quais tinha uma maior apropriação: menstruação, gravidez, amamentação passam a ser tomadas por uma parte da Medicina e da Mídia quase como se fosse doenças, disfunções. Ou seja, ficam na fronteira da patologia. Aparecem situações como, por exemplo: se a menstruação atrapalha, uma injeção a elimina.

A Psicanálise nasce, como todo mundo sabe, a partir das mulheres histéricas. Na época de Freud, a mulher tinha como marco de valor a procriação. Era este o papel social dela. Então, vamos estudando o que foi se passando na história da cultura e que lugares a mulher foi percorrendo e foi assumindo. E aí chegamos hoje a uma mulher que pilota aviões, mas se atrapalha com a amamentação. Começamos a prestar atenção nas propagandas de laboratórios e de clínicas especializadas em reprodução assistida, chamando a mulher com um tipo de mensagem mais ou menos assim: “Você não precisa mais ter de decidir entre progredir na carreira e ter filhos. Não se incomode com isso, porque você pode congelar óvulos, você pode congelar os embriões e postergar. Você pode ter filho lá pra frente”.

Danielle Breyton - O que inclusive não é verdade, não é? É uma propaganda enganosa. Porque uma mulher, depois dos 40 anos, mesmo com reprodução assistida possivelmente vai ter dificuldades para engravidar.


- O que começa a chamar a atenção de vocês é uma espécie de ilusão de controle da mulher sobre o seu próprio corpo?

Verônica – Sim, é uma armadilha para a mulher. Como se ela tivesse o poder nas mãos dela de decidir: “Então eu posso parar a minha menstruação; então eu posso ter uma carreira brilhante e depois eu vou ser mãe”. E é uma mentira porque, na verdade, depois de tudo o que ela conquistou, vai acabar sucumbindo, de novo, a uma demanda da cultura. De certo modo, depois de tudo o que conquistou acaba virando um objeto da Medicina.

Danielle - De um lado, temos um discurso supostamente libertador, de autonomia sobre o próprio corpo. De outro, há um controle absoluto sobre os corpos e sobre o tempo.

Helena - E este é outro tema forte na nossa pesquisa. Como se dá o discurso médico, qual é a proposta da Medicina. Não é que todo médico seja assim, mas é o que prevalece. Percebemos que, desde que o parto foi transferido para a mão da Medicina, ele foi, de certa forma, patologizado. E o discurso feminista, de uma forma enviesada, acaba submetendo a mulher a um controle maior do corpo, via Medicina. Parece que antes havia mais espaços para a mulher ocupar por conta própria do que depois que a Medicina se impõe com um discurso muito hegemônico. Décadas atrás, o problema da mulher era a fertilidade e a tentativa de ter uma vida sexual sem engravidar. Isso dá uma virada muito impressionante. O filho não é mais algo que acontece um pouco imprevistamente, sem planejamento. Você decide ter um filho. Então, tem uma conta a fazer: é preciso saber se o filho cabe no orçamento. É muito comum ouvirmos: “Olha, a gente vai ter um filho só. Não vai ter o segundo filho porque não temos dinheiro”. Então, há uma contabilidade. Há a questão da carreira, do corpo, do tempo e do filho, entre outras. Há uma decisão que precisa ser ser tomada e que torna mais difícil ter um filho. Sem contar que agora seu filho tem de ser feliz. (Risos)

Danielle – E você tem de continuar com seu corpo incrível e trabalhando como você sempre trabalhou...

Helena - E seu filho tem de ter um carro, uma casa...

Verônica - Tem um custo que já é pré-avaliado do filho. Em reunião de escola, há pais falando: “Olha, com a mensalidade dava para comprar um carro por ano...”.

Helena - Com uma equação colocada desta maneira, ter um filho torna-se uma decisão difícil de ser tomada.


- Vocês acham que a mulher perdeu muito nessa mudança?

Helena - Ela ganhou muito também.

Danielle - Ganha e perde. Problematizar isso não é questionar todo o ganho que as mulheres tiveram, pelo contrário.


- Vocês mencionaram a questão do controle do corpo e do tempo. Como a questão do tempo entra na infertilidade e na reprodução assistida?

Verônica - Quando a gente entrou no tema da infertilidade, nos deparamos com trabalhos que apontavam para uma mudança. Se antes considerar que uma mulher tinha problemas de infertilidade se dava após um certo tempo de pesquisa, de estudo da própria mulher mesmo, da fisiologia dela e tal, este tempo foi sendo suprimido. Hoje, o diagnóstico é dado num tempo muito mais curto: “É infértil, vamos começar a fazer tratamento”.


- Mais ou menos quanto tempo?

Verônica - Na Europa, eram dois anos de espera. E nos Estados Unidos um ano. Aqui também, mas está diminuindo.

Danielle - Três meses...

Helena - Três meses, elas estão ansiosas, e os médicos – alguns, outros não – as encaminham para começar uma reprodução assistida, que vai virando um pouco uma questão mercadológica, né? São procedimentos caros. Em nossa pesquisa, percebemos um paralelo com a questão do parto normal e da cesariana. A cesariana salva a vida de muitas mulheres que têm complicações no parto, assim como de bebês. Mas virou uma distorção, na medida em que hoje, no Brasil, 80% dos partos são cesarianas. Da mesma forma, há um paralelo entre engravidar com relações sexuais, do jeito natural, e ter filhos via reprodução assistida. É como se um deslocamento parecido começasse a ser feito. O francês Jacques Testart (responsável pelo nascimento do primeiro bebê de proveta na França, em 1982) disse que engravidar normalmente vai virar coisa de ecologista. E aí temos vários filmes sobre esse tema, como “Gattaca – A Experiência Genética” (Andrew Niccol, 1997).

Danielle - É como se a liberdade passasse pelo controle. É uma questão do controle esse deslocamento da cesariana. Se organiza, planeja e ponto. Já há muitos casais que resolvem partir para a reprodução assistida com esse intuito: controlar, já. De uma vez só tem dois filhos e já resolve o problema.

Verônica - E para os médicos também. No parto normal, por exemplo. Uma coisa é ficar ali, com um trabalho de parto que vai levar cinco, seis, sete horas. A outra é marcar horário e resolver. Na questão da reprodução há este mesmo paralelo. Como determinar se ali existe um caso de infertilidade, de esterilidade? Quanto tempo se espera a gravidez acontecer sem intervenção? O tempo está diminuindo, mesmo para casais muito jovens. Nos chamava muito a atenção os números do ESCA (Esterilidade Sem Causa Aparente). Essas estatísticas agora estão diminuindo, porque é necessário justificar o procedimento e acabam achando uma causa. Acham a causa, às vezes, e um mês depois a mulher engravida sem intervenção nenhuma.


- É como se o médico, simbolicamente, fosse para a cama com o casal, não?


Helena – Ele passa a fazer parte da cena...


- Vocês perceberam, ao longo da pesquisa, que alguns casais que se declaravam inférteis no consultório médico nem mesmo tinham relações sexuais. Precisavam de reprodução assistida porque não transavam...

Danielle – Há, inclusive, um livro sobre isso, (“Mal-Estar na Procriação – As mulheres e A Medicina da Reprodução”), de uma psicanalista francesa, Marie-Magdeleine Chatel. Ela percebeu que, nas entrevistas médicas, o médico não perguntava sobre as relações sexuais. Então, numa das consultas, das quais participava como observadora, ela pergunta sobre a frequência com que tinham relações sexuais, e o casal responde que não tinha. Mas não ocorria aos médicos fazer essa pergunta.

Verônica – Essa é outra escuta que tem de ser incluída na entrevista médica. Porque não existe um olhar para algo que possa também ser coadjuvante nessa infertilidade.

Helena - É como se não interessasse, não precisasse. A relação sexual fosse supérflua.

Verônica - Tanto é que os folhetinhos que a gente ia arrecadando nas clínicas de fertilização falavam para a mulher o seguinte: “Se distraia, não pense no assunto, vá ao shopping...”. (Risos)


- Vocês perceberam que, assim como as mulheres estão se sentindo incapazes de assumir seu próprio parto, de dar à luz naturalmente, elas também começam a se sentir incapazes de engravidar sem a ajuda do médico e da Medicina?

Helena – E isso é também efeito de um discurso que está na cultura. As razões são muitas. Acho que há o medo da responsabilidade, na medida em que vira uma decisão de tantas consequências econômicas e corporais. E há um certo distanciamento do próprio corpo, dos processos que acontecem no corpo e que assustam. Muitas mulheres empresárias, executivas não menstruam mais, por exemplo.


- O que vocês estão dizendo é que supostamente as mulheres teriam hoje um maior controle sobre o próprio corpo. Mas, de certo modo, as decisões estão sendo delegadas à Medicina?

Danielle - Exatamente.

Verônica - É interessante pensar que lá atrás havia uma leitura nas Ciências Sociais de que a mulher sofria mais repressão na cultura porque, por causa desses processos fisiológicos, a mulher tinha um pé mais dentro da natureza. A hipótese era de que, por isso ser ameaçador, então o homem/a cultura exercia um controle maior sobre a vida dela. Se a gente atualizar essa ideia, hoje, ao tentar reassumir o controle sobre o corpo, a mulher está sendo novamente controlada. Acho que é isso que a gente foi observando.


- Outra questão que vocês levantam na pesquisa é que, para ser mãe, é preciso deixar de ser filha. E parece que esta tem sido uma passagem difícil para muitas mulheres...

Verônica - Dentro dessa cultura que valoriza muito a imagem, essa coisa de não poder envelhecer, de não haver diferenças entre gerações, encontramos também isso. Para ser mãe, você tem que deixar de ser filha, você tem que deixar agora o seu filho acontecer. Então, passar para este lugar, o de deixar de ser filha para ser mãe, exige uma operação subjetiva muito grande. É muito difícil.

Helena – Justamente. E aí entra a questão de como se lida com as perdas atualmente. Os lutos e as perdas. Está mais difícil fazer luto hoje. E virar mãe implica em um luto. O luto da filha, o luto de uma posição. Isso também estaria dificultado, na cultura atual, onde não se pode perder nada.

Verônica – E nada pode deixar marcas. Nem marca da velhice, nem marca da gravidez. Então você pega os famosos, que são formadores de opinião/imagem: mulheres que têm filhos e já aparecem na sequência com um corpo sem marca nenhuma de uma gravidez. Nessa cultura, nada pode fazer marca, nada pode fazer ruga.


- E como entra esta questão, que também é muito presente na nossa cultura, de que não há limites, de que se pode tudo?

Verônica – Percebemos isso... Se eu tenho vontade, eu posso. Que vai até para a coisa da educação da criança, da falta de limites, de eu não poder lidar com o meu desejo. O meu desejo impera, é imperativo. Então, eu QUERO ter um filho, e a qualquer custo eu vou ter esse filho. Agora, esse filho, às vezes, muitas vezes até, não está no lugar de filho mesmo. Ele está mais como objeto de satisfação narcísica para esse casal, para essa mulher. A gente continua achando que existe uma tendência para isso: para não poder lidar com a perda, com a frustração, com o limite que às vezes o próprio corpo impõe. Só que a coisa se complica bastante porque às vezes, muitas vezes, essa limitação que o corpo mostra é um sintoma. É um sintoma dessas próprias dificuldades, da própria falta de condições de exercer a maternidade. A certa altura, propusemos, em nossa pesquisa, uma divisão entre vontade e desejo. Quando a mulher chega para o médico e fala “eu quero ter um filho”, seria importante se ele pudesse sugerir questões para essa mulher, levando-a a diferenciar entre vontade e desejo. Eu posso querer ter um filho, e te digo que quero, mas desejo mesmo? Inconscientemente talvez o desejo desta mulher não seja este. Se você percebe isso, você consegue trabalhar com essa pessoa, ajudando-a a desfazer esse conflito que está lá dentro, o de querer e não querer, e poder falar que quer e não quer. Porque fala muito que quer, mas onde há espaço para aparecer a parte que não quer? E o “não quer” também não é absoluto, né? Porque tem um lado que quer também.

Danielle - É importante deixar claro que a questão não é com a técnica, ou com quem procura essa tecnologia. A questão é cultural. Diz respeito ao lugar que tem um filho hoje, ao lugar dos corpos, ao lugar do controle. A gente não está discutindo os casos de reprodução assistida, mas o que isso nos faz ver sobre os tempos em que vivemos.

Verônica – Quando a mulher chega ao consultório, a dor daquela mulher que quer ter um filho é verdadeira. Achamos que ela pode ter um filho, mas achamos também que é preciso tomar cuidado. Aquela mulher vive a deficiência como sendo dela, quando a gente acha que essa infertilidade diz respeito à forma como está sendo processada toda essa questão na cultura: da mulher, do lugar de mãe, do lugar da maternidade. Não se trata de ser contra a reprodução assistida, mas de questionar como estamos lidando com a tecnologia. E o que essa forma de lidar diz da nossa época.


- Uma das questões da reprodução assistida trazida por vocês é a de que, já que você pagou tão caro e se submeteu a tantos procedimentos para engravidar, então está provado que você deseja este filho e é certo que você vai amá-lo. A realidade tem mostrado que as relações humanas são mais complicadas que isso...

Helena - Eu acho que uma coisa muito complicada em relação a isso é a questão da ambivalência. Porque toda grávida, toda mãe, é ambivalente em relação aos filhos. Quer, não quer; ama e odeia... Uma vez feita a reprodução assistida, o filho tem de ser amado. É como se a ambivalência pudesse ser eliminada da cena.

Danielle - É como se o fato de ter procurado a reprodução assistida eliminasse, automaticamente, qualquer ambivalência. Isso é uma loucura completa.

Helena - E isso penaliza as mães, porque, afinal, fizeram tanto esforço... Ou seja, a mulher usou essa tecnologia que custa tão caro, que no SUS não estão pagando, e depois fica em conflito com a gravidez, com a maternidade? Como assim? Parte-se da ideia de que a tecnologia pode tornar o processo da maternidade asséptico e sem conflitos. Só que, na realidade, não é assim que acontece. O conflito não some, a ambivalência não some porque usou tecnologia para engravidar.


- Pegando este gancho, me deparo hoje com um certo desamparo dos pais. Porque, para se tornar pai e mãe é preciso abrir um espaço interno. Não é só transformar uma parte da casa em quarto do bebê e chamar uma decoradora. Mas parece que esse processo de abrir um espaço interno e se preparar internamente para receber o filho não é vivido por muitos pais ao longo da gestação. E então, de repente, estão com um filho nos braços, mas sem espaço interno, porque os conflitos não foram vividos no seu tempo – e nem mesmo se admite que os conflitos existam. Então, esses pais ficam muito angustiados, às vezes desesperados... Faz sentido para vocês o que estou dizendo?

Helena - Achamos que não ter espaço interno tem a ver com a efetividade atual. Por que a efetividade hoje em dia prevalece sobre a afetividade. Deu uma virada nisso. Por falta de espaço interno.

Verônica – Temos uma situação ocorrida no grupo que pode traduzir isso. O que a gente vai vendo com essas mulheres é que assumem muito cedo a questão da infertilidade. Elas assumem o discurso da infertilidade de uma forma intensa. E num desamparo muito grande. Tivemos um momento no grupo em que, depois de falar sobre a Medicina e a técnica, lá pelas tantas uma delas começou a lembrar que a mãe fazia um caldo de galinha, elas começaram a lembrar do resguardo, e que no tempo de suas avós ou mães não se podia lavar o cabelo durante a menstruação. E aí começa um movimento no grupo que foi muito interessante, o de resgatar algo do simbólico mesmo, algo de um corpo olhado pelo outro. Disso que a gente estava falando: de as mulheres trocarem informações sobre o que está acontecendo com o próprio corpo.


- De um saber que não é médico....

Helena – Sim, de um saber que era herdado das mães. Porque hoje você não pergunta mais para a mãe, para a avó: “Como é que faz isso?”. Antes, o pedido de como se faz isso ou aquilo era para as mulheres da família. Hoje, elas ligam para o pediatra. Acho que é importante pensar o quanto o processo de reprodução assistida, e todas essas questões, repercutem na forma como os pais se apropriam dos filhos.


- Eu escuto muito a seguinte frase dita por mulheres as mais diversas: “Acho que não vou conseguir engravidar...”. Assim, do nada. Ao longo da pesquisa, vocês chegaram a perceber se as mulheres já se consideravam inférteis antes dos exames e do diagnóstico? Se o médico apenas confirmava uma infertilidade em que elas já acreditavam mesmo antes de procurá-lo?

Danielle – Eu me lembro de exemplos do consultório. Acho que atualmente a questão da infertilidade está muito presente. As mulheres, realmente, de 25, 27, 28 anos, se perguntam se vão conseguir engravidar, se vão ter dificuldade... Faz parte, já, do discurso. E este discurso costuma ser confirmado muito facilmente. Bastam seis meses de tentativa e já partem para a tecnologia.

Helena - A forma como a idéia da reprodução aparece na mídia já traz embutida a ideia de que as mulheres são inférteis, que precisam de uma assistência para engravidar.


- Vocês acham que toda essa questão também se dá, em parte, por uma relação de consumo? Porque há um momento em que a maior parte dos casais se sente obrigada a ter um filho. Não parece só ser uma questão de desejo, para alguns, mas também de imagem. Aí tem o filho. Só que ter um filho não é como ter um carro. Não dá pra vender e comprar outro – ou devolver se não está satisfeito com o desempenho. Nem dá para escolher o modelo, o sexo ou a cor dos olhos. Há algo da ordem do incontrolável de ter um filho que parece estar surpreendendo alguns pais...

Danielle - Tive uma paciente que fez um lapso a respeito do filho. Ela o chamou de carro. E o trabalho foi entender que, naquele momento, o que ela queria era um carro – e não um filho. Um carro em que ela escolhia a cor, o tamanho, o preço... Naquele momento da análise, para ela, soltou alguma coisa. Ela investiu no carro, ela e o marido compraram um carro incrível. Porque o projeto era esse mesmo. Muito mais tarde, ela começou a se preparar para ter um filho, e daí toda a história já era outra: os sonhos, como fazer ninho etc. Porque daí a história passa por como é que você vai lidar com a situação da ordem do não-controle mesmo. Era importante distinguir estas duas coisas e ficar tranquila. No momento em que o projeto é carro, o projeto é carro. Mas carro e filho não vão coincidir, não são a mesma coisa. Não dá para comprar um filho. E aí você protege a mãe e protege o filho.

Verônica - Lembrei de uma psicanalista que fala dos efeitos da tecnologia sobre a subjetividade humana. Acho que isso também é uma das coisas que assusta no fato de ter filhos, isso de que supostamente a felicidade do filho teria de ser garantida pelo oferecimento de TUDO pelos pais. O filho tem de ser feliz e você tem de dar todas as respostas para ele, tem de supostamente atender todas as necessidades dele. Essa psicanalista fala que um dos efeitos da tecnologia, por exemplo, se dá sobre a experiência do tempo de espera. Antigamente, você ligava a televisão e esperava a válvula esquentar, a imagem demorava a aparecer. Depois, você passa a apertar o botão e a imagem imediatamente aparece. E ela começa a notar no consultório que antes os filhos chamavam a mãe puxando a saia, puxando a roupa. (Verônica mostra o movimento de puxar.) E que depois passou a ser apertando assim... (Ela simula o toque em um controle remoto). É uma imagem de como a resposta tem de ser imediata. Se aperta, tem de responder. Então, eu acho que tem isso, essa coisa do controle, de que eu posso programar ter um filho, faço as contas de quanto vai custar. E também parece que é necessário se antecipar a tudo. Não é algo que está dado, e vamos ver o que acontece. É como se você não contasse com a experiência vivida. Que a experiência, no processo de construção desta maternidade e desta paternidade, fosse abrindo caminhos e trazendo elementos para você construir uma resposta para a situação. Essa questão do tempo é fundamental. E ela aparece em todas as etapas do processo.


- Por que vocês se indignaram com o tratamento dado aos pais que manifestaram a intenção de entregar para adoção uma das trigêmeas?

Helena - A gente foi lendo na imprensa e se dando conta de que havia um linchamento moral daquele casal. Uma mulher de 28 anos teve três meninas. Desde o início o casal se angustiou e anunciou que queria dar uma das meninas para adoção. E, quando nasceram as três, eles reafirmaram esse desejo. Não dá para ter certeza, porque as informações dadas pela imprensa são desencontradas, mas é possível que tenham escolhido dar para adoção a mais frágil das três. E aí o hospital denuncia para o Conselho Tutelar que esses pais estão rejeitando uma das crianças e a medida da Justiça é separá-las dos pais. Mandaram as trigêmeas para um abrigo. E os pais só poderiam vê-las durante duas horas por semana. Achamos que toda essa história tem que ser contextualizada para que a responsabilidade não recaia apenas sobre o casal. Há outros atores e fatores em cena.

- Vocês acham que os pais foram abandonados?

Danielle - Foram.

Verônica - Mas acho que eles não foram abandonados neste momento. Porque não deveria ser assim: eu tenho três filhos e escolho um. Você já sabe disso antes, e o que vai fazer. Porque aí vem de novo essa coisa da vontade. Do controle. Dessa coisa de que eu posso tudo. Então, se eu engravidei de três eu posso querer só dois. Como é que você se implica naquilo que acontece na sua vida? Eu me desfaço disso? É que nem novela? Mata, porque aquele personagem está demais? Descarto? O que nos chama a atenção é o que a gente vinha falando: como uma questão que é montada culturalmente – faz parte do discurso da cultura – é jogada, e esse casal passa a ser o único representante da falha. Quando é muito claro que a falha está em todo o processo. A questão não passa por tirar a responsabilidade do casal, mas a falha começou muito antes e estamos todos implicados nela. Qual é o discurso da Medicina, amplamente divulgado pela mídia? Implanta, escolhe, descarta, reduz...


- Aí, de repente, fica todo mundo surpreendido, não é? Somos todos inocentes... Nunca ninguém tinha falado nisso...

Helena – Nos cabe perguntar sobre a responsabilidade pela implantação de três embriões no útero de uma jovem de 28 anos. De que forma essa decisão foi tomada? A decisão cabe ao casal ou à equipe médica responsável pelo procedimento da reprodução assistida? Os casais são suficientemente esclarecidos sobre todo o processo da fertilização in vitro e sobre o destino dado aos embriões que não forem utilizados? É certo que o procedimento de implantação de embriões numa mulher jovem tem mais chances de dar certo, de os embriões se fixarem e seguirem se desenvolvendo, do que numa mulher de mais idade.
Vale a pena lembrar também da existência da técnica de redução embrionária, muito discutida no âmbito da medicina reprodutiva e praticada, embora proibida, no Brasil. Trata-se da técnica que permite a eliminação de um ou mais embriões, ainda em fase celular, em pacientes que geraram mais de um. Também chamada de técnica de “descarte de embriões”, é defendida por uma parte dos médicos como sendo necessária em mulheres com gravidez de risco por se tratar de uma gestação múltipla.

É evidente que o dilema vivido pelo casal não é um dilema que só lhes diz respeito, pois é explicitamente trazido à cena e posto em prática pela Medicina, cujas tecnologias de reprodução assistida estão à disposição no mercado. Este casal está, então, inserido em uma cultura em que a opção de “descartar um dos fetos” está colocada.

Já vimos reportagens, antes deste caso, contra as quais ninguém se manifestou ou se indignou. O título de uma delas, manchete de uma revista, era o seguinte: “A escolha mais difícil. O aumento no numero de gestações múltiplas coloca o dilema: abortar ou não alguns dos fetos?”. Quer dizer, está na manchete de uma revista, mas, na hora em que isso se encarna em alguém, que eu posso escolher, que eu posso descartar, porque está na Mídia, está na Medicina... há toda essa reação. E, paradoxalmente, na hora em que a Justiça determina a separação entre as crianças e os pais, como uma medida supostamente protetora, a amamentação é interrompida e impõe-se o abandono das crianças.

Danielle – Fala-se, por exemplo, da gravidez de risco. Mas há outra questão, que é o risco subjetivo, que fica completamente anulada. A gravidez é de risco não apenas porque são três bebês. Mas também porque lidar com três crianças que nascem, em geral, superprematuras, em situações de uma fragilidade extrema e absoluta, é um risco gigantesco. Porque é complicado fazer laço com três filhos ao mesmo tempo; é complicado fazer laço com três bebês que nascem frágeis, perigando morrer, perigando ter mil sequelas. Todas essas questões ficam muito negligenciadas no processo da reprodução assistida.

Verônica – Assim como fica negligenciada a figura do médico, que surge numa fala totalmente impávida neste caso. Ele disse: “Nunca vi um caso desses acontecer antes, de uma mãe rejeitar o filho”.

Helena – Ele foi o médico da mulher, foi ele quem implantou os embriões. Ela era paciente dele, e em vez de defendê-la e dizer “Eu conheço esta pessoa...”, ele se desimplica de um jeito muito irresponsável.


- Por que vocês acham que este casal sofreu um linchamento moral?

Helena - No cenário da reprodução assistida se intensifica de novo a questão do mito do amor materno. É isso o que, afinal, o médico enfatiza no discurso dele: “Eu nunca vi pais que, depois de quererem engravidar, rejeitam um filho...” Parece que, no mundo da reprodução assistida, não pode existir dor, perda, luto, conflito, ambivalência. Fica uma coisa chapada, onde só cabe sucesso, sentimentos positivos, potência, amor. Há um nível de negação muito intenso neste mundo. Há uma negação intensa de todo o lado do sombrio, digamos assim. E a positivação e a intensificação muito hipócrita, inclusive, de que não há conflito, não há ambivalência.

Danielle - Neste mundo obviamente todos querem ter um filho, obviamente todos querem ter muitos filhos e obviamente todos vão amá-los. De repente, há um encontro com o avesso disso. Então, é o seguinte: eu não tenho nada a ver com isso. Isso é ela – não eu. Jogam o conflito para cima do mais frágil.

Helena – Quando surge algo assim, como neste caso das trigêmeas, vira um escândalo. O médico diz: “Bom, nunca vi isso”. É hipócrita, é cruel, é uma negação. Há uma coisa muito negadora, em vários campos, como o menino lá do Realengo que matou todo mundo. A sociedade, a escola, não tem nada a ver com isso. Ele é um monstro que fez isso. Então, acho que há um certo parentesco de colocar a monstruosidade no indivíduo e, assim, a sociedade pode negar ter qualquer relação com essa violência, ambivalência, rejeição. O problema está no indivíduo. Há várias situações em que todo mundo se exime da responsabilidade. Nós não somos violentos – o violento é o outro. Não só violento, como um monstro. Como neste caso das trigêmeas. Ninguém diz: “Não cuidamos direito desta menina, que engravidou de três bebês”. É melhor negar e simplificar. Agora, você imagina o estrago que foi feito nesse começo de família, nestes pais e nestas filhas...


- Ao analisar o caso das trigêmeas, vocês afirmam o seguinte: “Tomemos, que o filho é nosso!”. O que significa isso?

Helena - Acho que “o filho é nosso” neste sentido, de que a gente precisa se comprometer com aquilo que está em jogo.

Danielle - E que a gente, como cultura, está veiculando e fazendo aparecer. Então acho que a ideia do “nosso” é: precisamos nos implicar e nos responsabilizar por aquilo que estamos fazendo acontecer.

Verônica – O que este casal está explicitando da nossa cultura? Por que causaram tanta indignação? São questões que precisamos nos colocar. Há uma banalização do processo todo, doação e descarte de óvulos, há uma banalização do que é ter três filhos ao mesmo tempo. Pensar sobre isso é responsabilidade de todo mundo. Esta, afinal, é uma produção da nossa cultura. Neste sentido é que “o filho é nosso”. É preciso também olhar para a idealização desse controle. Porque, de fato, não existe controle nesse nível. Implantam-se cinco embriões para tentar que dois deem certo. Então, os médicos jogam com isso. Só que o problema de jogar com isso é que no final da linha há um bebê. Ele está ali. E, agora, faz o que com ele?

Helena - Estamos todos implicados. Mas, em vez de problematizar, acusamos. E nos retiramos da cena. A ideia do “Tomemos, que o filho é nosso!” é reconhecer que estamos todos dentro da cena. O casal também tem de se responsabilizar. O problema foi responsabilizar a eles, exclusivamente, deixando-os sós. Eu acho que o “Tomemos que o filho é nosso!” é assim: este é um fruto da nossa cultura. É filho da cultura, não só deste casal.


- O que eu acho muito curioso é que existe essa tecnologia toda, nada precisa ser natural, nem o parto nem a reprodução, que pode ser feita num tubo de ensaio e não na cama, e no fim disso tudo a sociedade abre uns olhos espantados e exige a sacralidade do amor materno. “Como assim, essa mãe não acha maravilhosos ter três bebês ao mesmo tempo? Ah, nunca se viu uma coisa dessas...” Voltamos ao mito, como vocês disseram.

Helena - Eu acho que a mãe volta ao lugar idealizado via tecnologia. Ela foi destituída desse lugar tão idealizado, e ela volta a ser restituída a esse lugar com a tecnologia da reprodução assistida. O que volta com a reprodução assistida é justamente o mito do amor materno.


- Como assim?

Helena - Desse jeito. Se ser mãe passa a não ser mais tão valorizado – ser executiva talvez tenha mais valor, ou ser uma grande esportista, ou ter dinheiro, ou ter um carro bacana... As tecnologias de reprodução assistida possibilitam que as mulheres voltem a ser mães. Essa mãe que eles fabricam, que eles possibilitam/produzem, tem de ser uma mãe com letra maiúscula: uma mãe sem conflito com a maternidade, que nunca vai rejeitar o filho. De certo modo, a tecnologia possibilita a volta de “A Mãe”. E esta mãe não tem sombra, não tem marca. É a mãe com o letreiro e as luzes piscando. Ela retorna, e tem de refazer o mito do amor materno, porque também isso justifica a existência das tecnologias, da pesquisa, das ampliações dessas fronteiras tecnológicas. Então, é como o médico das trigêmeas falou: “Nossa, toda essa tecnologia, todo esse empenho, e eu nunca vi uma mãe depois de tudo isso não querer um filho”.


- O médico parece ter se sentido traído, né?

Verônica - Nesta pesquisa, a gente participou de algumas reuniões dos médicos do setor de reprodução. Em uma das discussões, eles debatiam a taxa de fertilidade. Um dos participantes disse: “Bom, a inseminação artificial bovina é perfeita, ela tem resultados ótimos, porque você usa o melhor reprodutor com aquela que tem mais condições de reproduzir. Nossos pacientes aqui são os piores reprodutores. As matrizes que a gente tem são falhas”. O que pensamos é que essa idéia remete ao biológico, ao corpo como uma máquina de procriação.

Helena – A gente fala muito que a Medicina retira o sujeito de cena, né? Acho que tem um pouco a ver com isso. O sujeito é aquele que é dividido, que tem conflitos. Sem conflitos não há sujeito.
(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI251605-15230,00.html

sábado, 23 de julho de 2011

Infertilidade masculina causada por remédio para calvície é reversível?

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Infertilidade masculina causada por remédio para calvície é reversível?
SEX, 01 DE JULHO DE 2011 10:44 ESCRITO POR REDAÇÃO 0 COMENTÁRIOS

por Conceição Lemes

O remédio chama-se finasterida. A descoberta da sua ação contra a calvície foi por acaso. Ao usar no tratamento de hiperplasia benigna da próstata (HBP), os médicos notaram um efeito colateral nos pacientes que tomavam o medicamento: evitava a queda de cabelos.

Explicação. A finasterida inibe a ação da enzima que transforma a testosterona em diidrotestosterona, que é o hormônio masculino ativo. Com esse bloqueio, a testosterona age menos no organismo, inibindo o crescimento da próstata. Daí ser usada no tratamento da HBP, a doença mais comum dessa glândula masculina. Mas combate também a perda de cabelos em homens.

Em 2005, porém, o urologista Sidney Glina observou que esse medicamento poderia levar à infertilidade. Foi o primeiro pesquisador no mundo a fazer essa associação, encarada, na época, com ceticismo pelos colegas. Mas, aos poucos, outros estudos foram lhe dando razão. O mais recente foi publicado pela revista Fertility and Sterility , publicação da Associação Americana de Medicina de Reprodutiva.

Conversei com o doutor Glina lá atrás e voltei a falar agora, já que a finasterida é o remédio mais usado para prevenir e tratar a calvície androgenética, ou masculina. Ex-presidente das sociedades Internacional de Pesquisa de Disfunção Erétil e Brasileira de Urologia, Sidney Glina é professor livre-docente de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC e chefe da Clínica Urológica do Hospital Ipiranga, em São Paulo.

Viomundo – Nas farmácias, há uma quantidade imensa de medicamentos à base de finastertida [Propecia, Pracap, Pro Hair, Finastec, Finasterida Euro, Merck, Medley, Eurofarma, Legrand, Calvin, Biosintética, Neo-Química, Sanval]. Todo homem que usa finasterida pode ter infertilidade?

Sidney Glina – Não. Existem trabalhos que mostram que homens que tomaram 1mg por dia finasterida por dia [é a dosagem recomendada para tratar a calvície] durante pelo menos seis meses, não apresentaram alteração do espermograma. Entretanto, há vários relatos de homens que apresentaram alterações significativas do espermograma enquanto tomavam a droga nessa dosagem. Esses homens têm outras causas de infertilidade, como, por exemplo, a varicocele (varizes dentro do escroto). A finasterida amplifica a varicocele.

Viomundo – O senhor foi o primeiro pesquisador no mundo a relacionar a finasterida à infertilidade masculina. Como descobriu isso?

Sidney Glina – Há alguns anos comecei a ver pacientes que apresentavam infertilidade e estavam tomando finasterida. Como sempre houve suspeita de que a finasterida pudesse ter essa ação, eu optei junto com os pacientes por suspender a medicação para ver se a alteração encontrada no espermograma era revertida. E isso ocorreu. Daí ter estabelecido o nexo. Em 2004, publiquei trabalho científico mostrando tal evidência.

Viomundo – De lá para cá, outros trabalhos também mostraram esse efeito. Recentemente, uma revista internacional importante apontou o mesmo resultado.


Sidney Glina – Existem mais seis trabalhos que relatam casos semelhantes aos que descrevemos em 2004. Este ano, a Fertility and Sterility, publicada pela Associação Americana de Medicina de Reprodutiva, apresentou mais um caso.

Viomundo – Afinal, como a finasterida pode interferir na fertiliddade masculina?

Sidney Glina – A finasterida inibe uma enzima chamada 5-alfa redutase que bloqueia a transformação da testosterona em diidrotestosterona, que é o hormônio masculino ativo. Isso diminui a queda de cabelo de alguns pacientes. E também o crescimento da próstata quando tomada na dose de 5 mg. Entretanto, a diidrotestosterona tem ação no testículo. A diminuição da concentração de diidrotestosterona no organismo leva à alteração na produção de espermatozóides em testículos que já estejam sofrendo algum tipo de problema.

Viomundo – Quais?

Sidney Glina – Parece que a associação de finasterida com varicocele altera a produção de espermatozóides. Também a associação de finasterida com obesidade.

Viomundo – Essa infertilidade é permanente?


Sidney Glina – Não. Uma vez interrompido o uso da finasterida, há reversão da infertilidade após cerca de três meses.

Viomundo — Qual a sua recomendação para homens com dificuldade de engravidar as suas parceiras e usam finasterida?



Sidney Glina – A primeira atitude é procurar um urologista e fazer um espermograma. Caso o exame venha alterado, a conduta é a suspensão da finasterida antes de tomar qualquer outra medida.

Viomundo – Na época em que publicou o seu estudo, lembro que alguns colegas seus questionaram o resultado. Como é que se sente hoje, quando cada vez mais as evidências mostram que estava correto?

Sidney Glina – Acho que isso faz parte da nossa vida. A única coisa relevante é que, lá atrás, em 2004, a Fertility and Sterility recusou a publicação do meu trabalho. E agora publicou outros dois citando o meu como pioneiro.

domingo, 17 de julho de 2011

Quero Ser mãe

15/07/2011
"Há uma indústria muito forte em ascensão, a da fertilidade"
Dias atrás, a Maria Lígia Pagenotto entrou em contato comigo para sugerir uma pauta. Na mensagem, comentou rapidamente sua experiência com duas gravidezes tardias. Achei a história bárbara e pedi a ela um depoimento. Maria Lígia gentilmente escreveu um relato, o qual divido abaixo com vocês. Espero que gostem!
Fiquei grávida da minha primogênita, Isadora, prestes a completar 40 anos de idade (nasci em 6 de dezembro de 1960 e engravidei – naturalmente – no início de novembro do ano 2000).
Do Francisco, engravidei – também naturalmente – em julho de 2004, com 43 anos e meio. As duas gestações foram extremamente tranquilas: não tive nenhuma intercorrência que pudesse me perturbar. Nada de enjoo, pressão alta, diabetes, dor nas costas, varizes, hemorroidas. Pelo contrário: no meu caso os hormônios trabalharam extremamente a favor o tempo todo: fui uma grávida cheia de energia até o fim, a ponto de todos ao meu redor comentarem sobre isso.
Minha libido nunca esteve tão em alta – e isso não é exagero de forma alguma. Sentia-me muito feliz, bonita, satisfeita com meu corpo como nunca estive. Engordei uns 12 quilos na primeira gestação e mais ou menos 14 na segunda. Amamentei e voltei rapidamente ao meu peso normal, sem sofrimento. Trabalhei, nas duas vezes, até o dia de dar à luz. Ambos nasceram por meio de cesariana, mas da Isadora tive contrações na manhã do dia marcado para o parto.
Acho que minha história chama um pouco de atenção porque havia tentado engravidar mais cedo (1996/97), num outro relacionamento. Como tivemos dificuldade, recorremos a alguns especialistas (cinco ao todo, pois me sentia insatisfeita com o tratamento pessoal que recebia e decidia mudar de médico. Adianto que só me consultei com professores doutores da USP e Unifesp).
A explicação mais clara que recebi para o meu problema foi a de uma espécie de incompatibilidade orgânica para a gestação entre o meu então marido, que já tinha um filho de outra relação, e eu. Nada foi encontrado de concreto, mas acatei o diagnóstico, porque sei que isso é provável. O tratamento, no caso, seria a fertilização in vitro.
No fundo, porém, nunca tive certeza de que queria fazer esse tratamento, por várias razões: meu casamento não andava muito bem das pernas; pensava que sempre haveria a opção de adotar; achava muito custoso economicamente e, especialmente, do ponto de vista emocional.
Não sentia também firmeza nos médicos quanto ao diagnóstico. Também não confiava tecnicamente pra valer em ninguém.
E, o mais sério: ouvi muitas coisas chatas desses doutores, do tipo: “Você já tem 36 anos, vai esperar até quando pra engravidar?”; “Melhor você fazer logo esse tratamento, porque, quando chegar aos 40 e resolver fazer, imagina se engravida de gêmeos? Melhor pular da janela, pois o risco de uma gestação dupla nessa idade é muito grande”; “Talvez você pudesse até esperar por uma gravidez natural se fosse mais jovem. Nessa idade (36/37 anos), a chance de você engravidar naturalmente é muito pequena. Se adiar, o bebê pode ter problemas e você também”.
Em todas as consultas me sentia pressionada a fazer o tratamento por uma questão de tempo.
Enfim, quando estava prestes a pegar a medicação com a última médica que consultei, desisti de vez. O casamento não tardou a acabar também. Isso foi em meados de 1999. No final desse ano conheci meu atual marido. Assim que nosso relacionamento ganhou mais fôlego, disse a ele que eu não sabia se poderia engravidar. Ele não se importou, e acenou com a possibilidade da adoção.
Mais pra frente, relaxamos um pouco na prevenção – foi quando fiquei grávida da Isadora, em novembro de 2000. O resto da história já foi contado acima.
Sei que não sou nenhuma exceção. Conheço muitas mulheres que tiveram filhos aos 40 anos ou mais sem tratamento algum. O que me incomodou profundamente foi a postura dos médicos quando busquei tratamento. Eles insistiam que eu deveria apostar na ciência porque engravidar mais velha seria um grande risco.
Discuto especialmente isso e acho, de fato, que há uma indústria muito forte em ascensão, a da fertilidade. Há realmente muitas pessoas que precisam se submeter a tratamentos, mas acho ainda que há muitas que passam por isso absolutamente sem necessidade. Nem digo que seria o meu caso com o primeiro marido, talvez a única saída mesmo seria o tratamento.
Mas acredito que há outras situações bem gritantes - nos dizem que estamos velhas para gerar um filho naturalmente e embarcamos no tratamento, caro, dolorido, e, muitas vezes, sem resultado. Sei de uma mulher que decidiu fazer um tratamento, aos 35 anos, porque, depois de tentar alguns meses, o filho não veio. Ansiosa, procurou assistência, e o médico disse que não havia problema nenhum com o casal, mas seria melhor “tratar”, porque, se esperassem mais, a gravidez poderia só vir mais perto do 40, e ela já entraria na zona de risco.
Sinceramente, acho que subestimam muito ainda nossa capacidade de gerar um bebê aos 40 e de ter uma gestação absolutamente tranquila nessa idade. Repito mais uma vez: há casos e casos. O que só reforça a ideia de que o tratamento não é para todas, definitivamente.
E até quando esperar? Qual esse limite? Será que é apenas o que dita a ciência, a biologia, o tempo cronológico, a indústria da fertilidade?
Cobro, sim, mais ética dos médicos e mais delicadeza em tratar com suas pacientes. Não fiquei grávida de gêmeos, mas “segurei” muito bem duas gestações com mais de 40 anos. E, nenhum momento, achei que pular da janela seria menos arriscado do que ir em frente, como me disse certo doutor – sua clínica hoje, em plena atividade, é, aliás, bastante próspera, e ele ficou bem famoso. Decerto, parte deste sucesso, deve às “velhas” mulheres, na faixa dos 35/40 anos, ávidas por ter um filho.
Escrito por Cláudia Collucci às 18h41
http://claudiacollucci.blog.uol.com.br/arch2011-07-01_2011-07-31.html#2011_07-15_19_41_42-9496746-0