terça-feira, 5 de julho de 2011

Exposição em Berlim aborda sexualidade e o papel da mulher no futebol

Cultura | 04.07.2011

Exposição em Berlim aborda sexualidade e o papel da mulher no futebol
'Private dancer', de Katja Schneider
Em cartaz no Museu Gay de Berlim, mostra alusiva à Copa do Mundo feminina reúne a visão de 22 artistas sobre a participação da mulher no futebol e a homossexualidade no esporte.
Em alusão à Copa do Mundo de futebol feminino, realizada na Alemanha, o Museu Gay de Berlim apresenta uma exposição em que diversos artistas investigam a complexa relação entre gênero, homossexualidade e futebol, explorando o esporte como fenômeno social e cultural, no qual a redefinição de papéis só pode acontecer a preço de muita controvérsia.

Em campos como a pintura, a escultura, o vídeo, a instalação e os documentários, os trabalhos de 22 artistas reunidos na exibição transitam pelo tema, indo do retrato abstrato à estética nos gramados, da homossexualidade ao papel social da mulher no esporte, passando pela definição dos gêneros.

"Foram abertas inscrições e recebemos uma quantidade enorme de interessados. Alguns dos trabalhos já existiam e se encaixavam no tema. Outros foram desenvolvidos especialmente para a exposição", conta Birgit Bosold, diretora da exposição, chamada Andererseits ("por outro lado", em tradução livre).

Estádios vazios

Obra da artista Franziska VollbornPara uma mulher, jogar futebol é mais difícil do que parece. Em 1956, a Federação Alemã de Futebol (DFB) proibiu a presença das mulheres nos gramados, alegando que a agressividade do esporte não fazia parte da natureza feminina. O banimento caiu em 1970, mas o primeiro campeonato nacional de futebol feminino no país apoiado pela entidade só aconteceu em 1990.

Hoje, mais de um milhão de mulheres praticam o esporte na Alemanha, e o time alemão é um dos mais poderosos do mundo. As alemãs já foram sete vezes campeãs europeias e duas vezes campeãs do mundo. Mesmo assim, o esporte ainda recebe pouca atenção da mídia. "Mesmo em partidas importantes, com um bom número de espectadores pela televisão, os estádios estão sempre vazios", lamenta Bosold.

A igualdade de direitos ainda é um sonho distante nos campos de futebol, mesmo em países como a Alemanha. "Como o futebol feminino muitas vezes não é profissional, muitas das jogadoras têm problemas em se dedicar somente ao esporte", ressalta a curadora da exposição.

Para trazer um pouco mais de atenção da mídia e mais dinheiro ao esporte, o slogan da Copa desde ano é "O lado mais bonito de 2011". O ajuste da imagem das jogadoras ao perfil do público masculino heterossexual é, segundo Bosold, um preço muito alto a se pagar. "Não podemos criar uma imagem consistente em cima de um estereótipo. Esse slogan expressa que, para o mundo masculino, a beleza ainda é o melhor que as mulheres podem oferecer", completa.

Homossexualidade nos campos

Outro ponto abordado na exibição é a questão da homossexualidade. Um tema que aparentemente não é tabu na sociedade alemã, onde diversas celebridades artísticas e políticas são abertamente gays, como o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit.

Mas, no mundo do futebol masculino alemão, ainda permanece assunto proibido devido ao jogo de poder, segundo Bosold. "O futebol masculino é como um clube fechado e cheio de poder. Um elemento homossexual quebra esse círculo, e o risco de se perder o poder é assustador. Um membro homossexual enfraquece o grupo e pode manchar sua reputação e, consequentemente, seu poder", diz a responsável pela mostra.

Quadros de Katja Schneider abordam o homossexualismo no futebol masculino

A ambiguidade do relacionamento entre jogadores de futebol é o tema da obra da artista Katja Schneider. Baseadas em fotos reais de jogadores, as pinturas descontextualizam seus personagens do campo e revelam que o contato entre homens no gramado tem mais elementos homoeróticos do que o aceitável no meio. Em contraponto, no futebol feminino a homossexualidade é melhor aceita dentro do grupo, mas gera um marketing negativo para o público heterossexual masculino.

Dois documentários que fazem parte da exposição trazem questões interessantes. O diretor alemão Tom Weller mostra em seu filme como a tradicional divisão dos sexos no esporte não vale para os jogos gays, onde os transsexuais competem de acordo com sua identificação psicológica.

Já o filme da alemã Christine Olderdissen, feito em 91, mostra a viagem de um time feminino de Berlim para uma competição em Dresden. Ao selecionar o filme, os responsáveis quiseram levantar a discussão sobre o que mudou no esporte nesses 20 anos.

A exposição questiona o futebol como um esporte tradicionalmente masculino, mostrando que ele também pode ser o espaço ideal para as mulheres conquistarem força e poder.

A exposição Andererseits está em cartaz no Museu Gay de Berlim até o dia 25 de setembro.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15205271,00.html

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