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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Paraná pode ter ambulatório exclusivo para travestis

19/12/2012 -- 18h24

Agência Estadual de Notícias
O secretário estadual da Saúde, Michele Caputo Neto, instituiu terça-feira (18), com a presença de lideranças LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros), o Comitê Técnico de Trabalho para discutir a implementação do Ambulatório voltado ao atendimento ao público LGBT, sobretudo os transsexuais e travestis. O comitê é composto por membros da Secretaria da Saúde e de entidades da sociedade civil. 

"Sabemos que a assistência a essa população ainda carece de atenção e investimento", afirmou o secretário. 

O centro de referência – cuja localização ainda não está definida – deverá prestar atendimento integral ao paciente, levando em conta as particularidades e doenças que mais atingem esse público. Exames e testes rápidos também serão ofertados. 

Além disso, o Estado vai estudar uma forma de capacitação dos profissionais de saúde dos municípios para prestar assistência adequada ao público LGBT nas unidades básicas de saúde (UBS). De acordo com Carla Amaral, representante do Grupo Marcela Prado, é preciso eliminar o preconceito nos serviços de saúde. "O atendimento deve ser humanizado e respeitar os direitos do cidadão, independente de sua opção sexual", disse.

http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-27--133-20121219

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Por incompreensão, travestis estão entre grupos mais discriminados da sociedade


Ronaldo Pamplona da Costa, autor do livro 'Os Onze sexos', diz que são raros os médicos que aceitam travestis como pacientes e fala de recentes estudos sobre sexualidade

Publicado em 30/08/2012, 08:58
São Paulo – Travestis são pessoas que sofrem muito porque o mundo não está preparado para compreendê-las. O médico, psiquiatra e psicodramatista Ronaldo Pamplona da Costa as define como o grupo das pessoas mais marginais, não apenas na sociedade, mas também nos estudos sobre sexualidade. Os terapeutas têm muita dificuldade para entendê-las e são raríssimos os que as aceitam como pacientes. Neste entrevista, Pamplona, autor do livro Os Onze Sexos – As múltiplas faces da sexualidade humana, faz uma análise deste grupo, destacando recentes estudos sobre o cérebro humano. 
O médico explica que a sexualidade deve ser compreendida do ponto de vista biológico, psicológico e social, todos interligados. Mas a diferença básica está centrada no biológico, o que já pode ser comprovado pelas pesquisas da neurociência. “No cérebro aparecem todas as diferenças entre o comportamento dos seres humanos. Existe uma vertente masculina e uma vertente feminina. Na masculina, temos homens heterossexuais, homossexuais e bissexuais. Na feminina, a mesma coisa. Só que o homem heterossexual é muito diferente da mulher hetero; o homem homo é muito diferente da mulher lésbica, e os bissexuais também são muito diferentes em se tratando de um homem e de uma mulher”, detalha.
O que podemos entender por identidade sexual e identidade de gênero relativamente aos indivíduos travestis?
Nós temos uma identidade sexual, que tem dois aspectos – um é a orientação sexual, a parte da identidade que faz com que o ser humano busque uma parceria. O outro é a identidade de gênero, que vai determinar se um indivíduo é masculino ou feminino. Só que a orientação sexual e a identidade de gênero independem uma da outra. Os indivíduos que são travestis, tanto as travestis homens quanto os travestis mulheres (muito raros, mas existem) têm uma identidade de gênero dupla, porque é um gênero masculino e um feminino mesclados dentro da mesma pessoa.
Isso explica o comportamento às vezes ambíguo de travestis?
Por essa identidade de gênero dupla, um homem travesti se sente também mulher, mas não deixa de se sentir homem em algumas situações por mais feminino que ele seja. Temos o exemplo da artista Rogéria, que se diz mulher, que se comporta como mulher, que gosta de se relacionar com homens, mas que em determinado momento da vida baixa o Astolfo (nome de registro) e ela se comporta como um homem bravo. Há travestis homens que se relacionam com mulher ou com homem e alguns até com os dois sexos. Estes seriam travestis homossexuais, bissexuais ou heterossexuais.
E seria a mesma definição para o transexual?
O transexual é um indivíduo que nasce homem do ponto de vista biológico, tem corpo masculino, se desenvolve como homem, mas sempre se sente mulher. Então, é uma pessoa que não consegue aceitar o corpo que tem, não aceita o pênis, a barba, a voz ou qualquer outro aspecto masculino, que são os caracteres sexuais secundários. 
Daí a necessidade de fazer a cirurgia para trocar de sexo?
Sim, porque a única conclusão que a medicina chegou até hoje é que é preciso mudar o corpo porque não dá para mudar a cabeça. Tem de operar para mudar de sexo, seja homem ou mulher transexual. A mulher não aceita a vagina, a menstruação, as mamas porque se sente homem. Quando menstrua se sente muito mal. As poucas que acabam engravidando têm muita dificuldade na parte biológica da gestação e da amamentação.
Travestis aceitam o corpo?
Travestis aceitam a genitália, mas não aceitam os caracteres sexuais secundários. A travesti homem jamais vai fazer uma cirurgia que mude seu pênis, porque ela gosta. Em geral, usa o pênis no relacionamento sexual, mas rejeita a voz, a distribuição dos pelos, da gordura, a falta da mama. Tanto que acaba usando hormônio ou também fazendo cirurgia para colocar prótese mamária de silicone.
Então a diferença entre travestis e transexuais está na aceitação dos órgãos sexuais?
Sim, a diferença básica entre transexual e travesti é que os travestis nunca vão modificar a genitália, a não ser que estejam em fase transitória de transexualismo. Vamos supor que ele ou ela ainda não chegaram à conclusão de que são mulher ou homem por inteiro. Pode ser que cheguem ou não a fazer a cirurgia. Tanto a cirurgia quanto a hormonioterapia são tratamentos médicos que não se pode fazer sem assistência médica porque vai comprometer o organismo com um todo. 
Fala-se muito sobre os perigos das mudanças feitas nos corpos para adequação à identidade de gênero.
Muitas vezes as travestis usam silicone por conta própria, se medicam sozinhas, e é um desastre porque elas fazem tudo sem a técnica que tem de ser usada e acabam danificando o corpo.
O que dizem os estudos que começam a revelar informações sobre a sexualidade?
É recente nas pesquisas médicas o estudo do cérebro humano. Até 1990 não tínhamos meios de estudar o órgão porque não havia aparelhos. Hoje em dia há aparelhos de todo tipo para entender o cérebro em funcionamento. Em relação à sexualidade, se grupos de homens heterossexuais e homens homossexuais são submetidos à exibição de filmes com apelo sexual fica claro que nos heterossexuais a região do cérebro estimulada pelo desejo é uma, e nos homossexuais é outra. Os estudos avançaram mais e mostraram que essas regiões são determinadas durante a gestação. 
Isso significa que a pessoa já nasce com a sexualidade definida?
Sim, é genético. Cada um tem uma carga genética que vai promover o desenvolvimento das glândulas e do cérebro. A definição do desejo por homens ou mulheres só vai aparecer na adolescência. O cérebro vai amadurecendo e quando chega na adolescência o corpo começa a produzir hormônios. Os hormônios são relacionados com o desejo e essas regiões do cérebro começam a agir de tal forma que o indivíduo vai sentir desejo mesmo que ele não queira, porque é uma coisa biológica. Até hoje tudo o que se sabia era que essas aspectos sexuais eram todos desenvolvidos graças ao psicológico: o relacionamento do pai com a mãe, a resolução do complexo de édipo. Só que isso não faz sentido com as novas descobertas. 
Então dá para dizer que a pessoa nasce homossexual ou heterossexual? 
Sim, esse estudo foi publicado em 2011 por grupos que estudam o cérebro na Holanda, Suécia, Inglaterra, EUA, e vários países que têm comunicação entre si, principalmente na Europa. O Brasil tem pouco contato com esses estudos europeus, que estão avançando cada vez mais. Desde 1990 acompanho tudo e essa conclusão pode ser vista no livro Sex Differences in the Human Brain, their underpinnings and implications (As diferenças sexuais no cérebro humano, seus fundamentos e implicações), escrito por Ivanka Savic, editado pela editora Elsevier, da Suécia. Os autores se basearam em mais de 130 pesquisas sobre o cérebro nesse tema, e como fruto dessa compilação fecharam o conceito de que a homossexualidade ou a heterossexualidade é algo inato.
'A sexualidade envolve as pessoas como um todo e influencia diretamente os sentimentos e a maneira de ser, agir e pensar'(Ronaldo Pamplona da Costa)

Quais são os onze sexos
homem heterossexual
homem homossexual
homem bissexual
mulher heterossexual
mulher homossexual
mulher bissexual
travesti homem
travesti mulher
transexual homem
transexual mulher
intersexos (como os hermafroditas)
Isso derruba todos os tabus a respeito da homossexualidade. Ou seja, não é uma opção.
O desejo fica armazenado no cérebro até a adolescência e aí brota de um jeito muito complicado. A pessoa que está sentindo não consegue explicar. Os pais, por conta das antigas teorias psicológicas, acham que são os responsáveis. Só que, na realidade, não são. Não é possível eliminar por completo o desejo. Você pode forçar a mudança do comportamento da pessoa, pode reprimir ou sublimar – os dois aspectos que a religião utiliza para dizer que "curou" o homossexual. Não é doença – foi considerado doença até 1985, mas de lá para cá, não mais.
E há alguma característica específica no cérebro de travestis?
Tem uma outra região do cérebro, que fica no hipotálamo (estrutura do sistema nervoso central), responsável pelo gênero. Todas as regiões do cérebro relacionadas com sexualidade estão no hipotálamo. Homens com identidade de gênero feminino ou mulheres com identidade masculina, do ponto de vista biológico, já nascem assim. Por isso crianças de dois anos e meio ou três anos muitas vezes dizem que não são do gênero ao qual nasceram. É o menino que diz: 'eu não sou menino, eu sou menina'. Ou a menina que diz: 'eu sou menino'. Isso é muito complicado. Para fechar o diagnóstico numa criança ou adolescente é difícil, é um diagnóstico evolutivo, o médico acompanha até fechar. Existem pouquíssimos centros no mundo, tem um em Boston, onde o médico atende a crianças com distúrbio de gênero. Porque também se nasce com a predisposição de masculino ou feminino. Quando se estudar a área do cérebro pelo masculino ou feminino, nos travestis e transexuais, é diferente. É um corpo de homem e no cérebro, uma identidade feminina, cabeça de mulher. Ou menina com cabeça de homem.
A identidade de gênero aparece em que momento?
Muito cedo. Um menino de três anos já sabe que é um menino. A sociedade vai ensinando e o cérebro já está mais amadurecido para a identidade de gênero, então começa a aparecer o comportamento masculino ou feminino, só que às vezes na criança a identidade vem trocada, apesar de a educação estar de acordo com o padrão. Porque o mundo só funciona com dois gêneros – o masculino e o feminino. Daí, os banheiros de homens e de mulheres. Não tem banheiro de outro gênero. 
É mesmo muito difícil fugir às regras... 
Sim, travestis são pessoas que sofrem muito porque o mundo não está preparado para comprendê-los. Acho que são as pessoas mais marginais que há dentro da sexualidade. Estão à margem de tudo. Porque nos estudos da sexualidade os travestis também estão excluídos. Os terapeutas têm muita dificuldade para entendê-los e são pouquíssimos os que os aceitam como pacientes.
A não aceitação tem a ver com sentimentos enraizados de uma sociedade de homens e mulheres?
Para o homem machista, ser travesti é ser menos. O homem não aceita ter seu papel de macho cumprido e ver um outro 'homem' querendo ficar no lugar de uma mulher. Para o machista, a mulher é menos, por isso, a travesti também é. Essas raízes são muito do passado, primitivas, da época em que o homem era tudo e a mulher, nada. Então, se deitar com outro homem e fazer o papel de 'mulher' é uma coisa menor.
Então por que tantos homens procuram travestis para se relacionar? 
Essa sua pergunta não tem resposta. Não conheço nenhum estudo feito sobre homens que desejam travestis e a cabeça deles. Tive alguns poucos pacientes que relataram desejo por travestis, que seria o desejo de estar com uma mulher, mas com uma mulher que tenha pênis – então, é um desejo muito mais relacionado com a ambiguidade do que qualquer outra coisa. Se ele deseja um homem, travesti não serve. Se deseja uma mulher, travesti não serve. Muita gente avalia que homens procuram travestis porque têm desejos por outros homens, mas boicotam o desejo saindo com um homem que parece mulher. Mas eu não concordo. Porque o desejo por outro homem é tão profundo e direto que nada serve no lugar. Acho que é um desejo por travestis mesmo, mas não conheço estudos a respeito.
Os fato de os estudos serem tardios certamente ajudaram aumentar o preconceito ao qual os homossexuais estão sujeitos. Isso pode mudar?
Os estudos sobre homossexualidade só foram feitos a partir do surgimento da Aids. Sou de um tempo em que não tinha Aids. Ninguém no meio médico tinha interesse em estudar homossexual. No momento em que veio a 'peste gay', os médicos foram obrigados a aceitá-los como pacientes, e a ciência foi atrás de estudá-los. Talvez algo tenha de acontecer para que os homens que desejam travestis sejam objetos de estudo.
É muito mais raro encontrar mulheres travestis ou elas se expõem menos?
A única referência que tenho de mulheres travestis é de filme pornográfico. É uma mulher que se sente mulher e ao mesmo tempo, homem. Ela se veste de homem, tira os seios, toma hormônio para se virilizar e ter pelos, engrossa a voz com os hormônios, mas não mexe na genitália, preserva a genitália e a usa no relacionamento sexual. Tem o prazer que uma mulher tem e tanto faz que seja se relacionando com outra mulher quanto com um homem.
No seu livro, o senhor fala em intersexos. Como se explica esse grupo?
São pessoas que nascem com defeito biológico, seja tanto nos genitais internos ou externos, como seja genético, com repercussões as mais variadas possíveis. Os casos devem ser encaminhados para os hospitais-escola, porque precisa de tratamento endocrinológico, com geneticista, pediatra. São raros os casos que chegam à idade adulta sem ter havido uma correção. Mais fácil encontrar na zona rural por falta de assistência médica. Um exemplo são os hermafroditas. A criança nasce com os dois genitais malformados, e os médicos concluem que é melhor deixar a vagina do que o pênis. Só que aí, é feita uma menina que pode se revelar masculina logo cedo. Mas a medicina a fez menina. A medicina, na verdade, a fez transexual. Porque a identidade de gênero era masculina.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Travestis e transexuais podem pedir inclusão de nome social em documentos da Prefeitura de São Paulo

publicado em 15/01/2010 às 12h00:

Interessado deverá preencher cadastro; associação da Parada Gay comemora

Clayton Freitas, do R7





Os transexuais e travestis poderão pedir na Prefeitura de São Paulo a inclusão do nome que usam normalmente – chamado de social – em documentos de órgãos públicos. 

Nesta sexta-feira (15) um decreto do prefeito Gilberto Kassab (DEM) dá a permissão para que todos aqueles que prefiram ser chamados com o nome social tenham o mesmo incluído em documentos como formulários, fichas de cadastro, registros escolares e outros. 

O decreto define nome social como “aquele pelo qual travestis e transexuais se reconhecem, bem como são identificados por sua comunidade em seu meio social”. 

O nome social do travesti ou transexual deverá ser incluído entre parênteses antes do nome civil. Os interessados, segundo o decreto, devem manifestar por escrito o desejo de terem o seu nome incluído nos cadastros municipais. Para isso ele terá de preencher um requerimento. 

O presidente da APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT- que significa gays, lésbicas, bissexuais e transexuais), que organiza a Parada Gay, o transexual Alexandre dos Santos, afirma que a medida é positiva e aprova a necessidade de requerimento para troca do nome em documentos públicos. 

Antes Alexandra, ele afirma ser constrangedor receber um documento com seu nome de batismo. 

- Estou muito contente que isso tenha acontecido. É uma vitória do movimento. Faltava São Paulo, já que outros Estados já adotaram.

Entre outros órgãos que já adotam o nome social de transexuais ou travestis em seus registros está o SUS (Sistema Único de Saúde). O folheto elaborado pelo Ministério da Saúde denominado "Saúde da população de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais" permite que o prontuário de atendimento conste o nome social. 

No folheto, o ministério libera o uso do nome social nos prontuários de atendimento do SUS e ainda reconhece a discriminação como problema que justifica um olhar diferenciado ao tratamento.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/travestis-e-transexuais-podem-pedir-inclusao-de-nome-social-em-documentos-da-prefeitura-de-sao-paulo-20100115.html

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Espião britânico achado morto em mala tinha R$ 40 mil em roupas de mulher


Foto de Gareth Williams divulgada pela polícia
O espião era especialista em códigos e levava uma vida reservada
A polícia londrina revelou detalhes da vida privada do espião Gareth Williams, encontrado morto, sem roupas, preso em uma sacola esportiva dentro de seu próprio apartamento em 23 de agosto.
Os detalhes – como o fato de que Williams tinha uma coleção de roupas de mulher avaliada em R$ 40 mil e acessara sites de conteúdo sexual – podem ser a chave para explicar sua misteriosa morte, que intriga as autoridades há quatro meses.
Williams, de 32 anos, trabalhava no MI6 (serviço secreto britânico) e era especialista em decifrar códigos. A bolsa em que o cadáver foi encontrado estava fechada com zíper, e peritos estimam que ele tenha morrido na semana anterior à descoberta do corpo.
A polícia acredita que nada foi roubado do local e não encontrou vestígios de drogas ou de arrombamento. Entretanto, os investigadores acham impossível que Williams tenha se prendido sozinho na mala e supõem que havia uma outra pessoa com ele.
Descrito como extremamente reservado, Williams só foi encontrado porque a polícia foi comunicada que ele faltara ao trabalho.
Também intriga os policiais a visita de um casal não identificado ao apartamento da vítima entre junho e julho.
“Após ganhar acesso à área comum do prédio, eles alegaram que tinham a chave do apartamento de Gareth e foram vistos andando em sua direção”, diz comunicado da polícia, que divulgou retrato falado do casal.
Vida privada
Para tentar desvendar os motivos da morte, a polícia divulgou informações que sabe que podem causar “embaraço” à família da vítima, mas fez um “apelo” para que pessoas que tenham encontrado Williams em distintas ocasiões venham a público.
Retrato falado do casal que visitou apartamento de Williams meses atrás
Visita de casal não identificado à casa da vítima intriga policiais
Dentro de seu apartamento, foram encontradas caixas com roupas novas de grife femininas, além de perucas. Williams fez dois cursos de design de moda para iniciantes durante fins de semana e noites, o que não era de conhecimento de seus colegas e parentes.
A vítima também foi vista em maio em um bar frequentado por homossexuais e, em 11 de agosto, em outro bar, onde assistiu a um show de uma drag queen. Ele possuía ingressos individuais para mais dois dias de shows do tipo. No entanto, a polícia não conseguiu localizar nenhum parceiro sexual de Williams, homossexual ou heterossexual, relata o jornalTheIndependent.
Investigações em seu laptop e smartphone apontam que Williams visitou poucas vezes alguns sites de bondage, um tipo de fetiche que em que as pessoas buscam prazer ao serem amarradas ou imobilizadas.
Suspeitas
Os legistas ainda não concluíram qual foi a causa da morte do espião, mas acredita-se que tenha sido sufocamento.
O corpo tinha pequenos ferimentos na área do cotovelo, provavelmente feitos enquanto Williams tentava sair da sacola à medida em que ficava sem ar. Fora isso, “não há sinais de luta ou violência física”, disse o detetive Hamish Campbell, chefe do departamento de homicídios da Scotland Yard (polícia metropolitana de Londres).
A polícia, segundo o jornal TheGuardian, trabalha com a suspeita de que Williams tenha sido assassinado ou vítima de algum jogo sexual que tenha se tornado trágico involuntariamente.
“O cenário alternativo é que haja algo mais sinistro (na história). Simplesmente não sabemos”, afirmou Campbell, de acordo com o The Guardian, agregando que as suspeitas até o momento indicam que a morte de Williams não está “ligada ao seu trabalho, e sim à sua vida pessoal”.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Excluídas do mercado de trabalho, travestis encontram sustento e aceitação na prostituição


UOL
 
Estilo
01/12/2011 - 07h00

VLADIMIR MALUF

Da Redação
Estariam as travestis condenadas à prostituição? Pode ser exagero dizer que sim. Mas pode não ser. Antes de qualquer julgamento, reflita: quantas travestis você tem como colegas de trabalho? Seja chefe ou funcionária. E fazendo faxina na sua casa? Na loja onde você compra roupas, talvez? Abastecendo o seu carro ou te atendendo no “por quilo” onde você almoça diariamente? A verdade é que o mercado de trabalho é duro com esse grupo de pessoas que, muito frequentemente, encontra na prostituição o sustento e, principalmente, acolhimento. E se você ainda duvida que elas tenham poucas opções, responda para si mesmo, honestamente, se você contrataria uma.

O psicólogo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-Sorocaba) Marcos Garcia realizou uma pesquisa sobre a prostituição das travestis. Segundo ele, a maioria delas tem origem humilde e procura fazer programas como meio de vida. “Um jovem gay, efeminado, sem apoio financeiro e familiar, vindo de camadas populares e sem possibilidade de estudos vê no comércio sexual uma das poucas saídas.“
  • Arquivo pessoal
    Giovanna Di Pietro, que afirma que o mercado de trabalho é difícil para as travestis

Além do problema da documentação -pois as travestis assumem uma personalidade feminina, mas dependem de sua identidade oficial- o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, diz que as travestis são associadas à prostituição, violência e ilegalidade. “São encaradas de modo negativo, o que as impede de serem contratadas. A percepção é sempre preconcebida. O mecanismo cognitivo exige utilizar vivências passadas para compreender o presente e decidir o futuro. Assim, tudo o que foi ouvido desde criança a respeito de travestis influenciará na tomada de decisões agora.”
Tão importante quanto a renda, o mercado sexual traz o bem-estar que travestis não encontram em outros grupos, normalmente. “É onde elas são valorizadas, principalmente, por clientes. Elas se sentem desejadas por seu corpo feminino. A demonstração do desejo é um fator importante. Se a pessoa está em um processo de buscar se sentir mais feminina, o interesse do cliente, que mostra que ela é feminina, é acalentador”, afirma Marcos Garcia.
Para Giovanna Di Pietro (à dir.), 28, travesti brasileira que faz programas na Europa, não há muita escolha a não ser a prostituição. “É a saída que uma travesti encontra para se transformar. Quando eu comecei a mudar meu corpo, os trabalhos convencionais ficaram praticamente impossíveis”, conta ela, que era assistente de produção de figurino em uma agência de publicidade. “Nessa fase, você passa a ser menos aceita socialmente. Consequentemente, a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho é quase nula.” 
Em sua pesquisa, o psicólogo Marco apurou que o mercado sexual também tem como principal atrativo a alta remuneração. “Na prostituição, a exemplo de outras profissões como modelo e jogador de futebol, há um período que traz muito dinheiro. Mas isso muda com o avanço da idade. Os clientes vão rareando. Com isso, a travesti tem uma perda financeira e passa a ser menos desejada, o que é muito sofrido.”
Jovem e bonita, Giovanna concorda que os ganhos são um grande convite para entrar na prostituição. “Quando você está se prostituindo, começa a ganhar dinheiro como nunca ganhou. E esse dinheiro lhe permite investir em você, mudar o corpo, comprar bens materiais etc.”
 

Dificuldade de compreensão e desrespeito
Marco afirma que nenhum grupo social no Brasil sofre mais discriminação do que as travestis. “Esse preconceito é tão intenso que há quem use o termo ‘transfobia’. Os assassinatos de travestis costumam ser muito cruéis. É um nível de violência altíssimo. Há o preconceito pela orientação sexual, mas, principalmente, pela identidade de gênero.“
Para o psicólogo Rafael Kalaf Cossi, autor de “Corpo em Obra” (Ed. nVersos), sobre transexuais, o preconceito contra homossexuais, em especial as travestis e transexuais, tem uma explicação. “Nós não temos a certeza absoluta da nossa identidade sexual. Isso é uma ilusão. O terreno é muito embaralhado. Quando vemos uma travesti, isso traz à tona algo que a gente não quer saber.“
Excluindo a existência de homossexuais ou qualquer variação pelos pais, as crianças  aprendem que só há homens e mulheres, que devem desejar, respectivamente, mulheres e homens. “Passamos de 15 a 20 anos reforçando essas ideias para confirmar o que somos. Mas há variações inúmeras que não são socialmente compreendidas ou assumidas como reais. Desta maneira, não podemos admitir que exista uma pessoa que destoe do que aprendemos”, explica Oswaldo.

Na opinião do especialista, para compreender as pessoas que são diferentes necessitaria de um grande esforço emocional e comportamental, mas a maior parte das pessoas prefere usar essa energia para investir em outros assuntos, principalmente os de maior retorno financeiro.
“Mesmo as famílias que vivem com uma pessoa transexual, e precisariam adaptar-se, mostrarão grande dificuldade em compreender, elaborar e mudar suas perspectivas cotidianas e adaptar-se a esta identidade não prevista pela família", diz o psicólogo. Outras pessoas têm menos necessidades de se adaptar, "pois há um afastamento afetivo que permita gastar menos energia para modificar suas formas de compreender a realidade.”

Para Oswaldo, que concorda que a sociedade em geral não recebe bem as travestis, as coisas seriam diferentes se não houvesse tamanha discriminação. "A prostituição será abandonada se elas forem reconhecidas pela identidade que compreendem pertencer, mesmo que isso traga dificuldades sociais financeiras."

http://m.estilo.uol.com.br/comportamento/ultnot/2011/12/01/vitimas-de-preconceito-travestis-encontram-na-prostituicao-o-sustento-e-a-aceitacao.htm

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Práticas travestis lidam com identidades sociais de forma estratégica


Por Maria Teresa Manfredo
23/09/2011
Práticas travestis entre adolescentes, nos dias de hoje, têm sido construídas em moldes diferentes da geração anterior. Por meio de montagens e desmontagens do que se compreende socialmente como masculino e feminino, esses jovens têm buscado manipular identidades sociais de forma estratégica. Além disso, esses comportamentos seriam um misto de resistência e inserção em códigos já sedimentados de sexualidade e gênero. É o que afirma Tiago Duque no livro recém-lançado Montagens e Desmontagens: desejo, estigma e vergonha entre travestis adolescentes.

Entendendo por montagem e a desmontagem não só o fato de se vestir com roupa de mulher mas também o uso de hormônios femininos e técnicas de modificação do próprio corpo, Duque reforça que o comportamento desses jovens diz muito sobre o que rege a vida social, valores e relações de poder. Por trás do temor e da recusa da travestilidade está a busca da manutenção e reprodução de uma forma idealizada e predominante de sexualidade. Assim, a estratégia de saber, ou procurar saber, onde se pode ir montada ou desmontada (sem, contudo, perder a identidade travesti e, muitas vezes, ganhando outras - como a de gay e a de dragqueen), mostra o potencial de resistência e, ao mesmo tempo, controle, que o desejo aciona nesses sujeitos, transformando-os de acordo com as circunstâncias.

Em meio às reações repressoras e preconceituosas, os adolescentes pesquisados desenvolveram formas diversas de enfrentar as rejeições àqueles que buscam uma vivência da sexualidade e uma construção dos corpos em contradição às normas socialmente aceitas e constantemente impostas. Tratam-se de maneiras de vivenciar identidades sexuais de forma fluída, transitória e reversível.

Isso indicaria uma mudança nos referenciais e repertórios mais restritos de gerações travestis anteriores. Duque explica que tal fato ocorre porque, dentre outras coisas, o aprendizado de “como se tornar travesti” e as possibilidades de se concretizar a montagem têm ocupado, ainda que timidamente, um número maior de espaços sociais - como serviços públicos de saúde, o movimento social Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis (LGBT) ou mesmo boates de público Gay, Lésbicas e Simpatizantes (GLS). Esses espaços agregam novas características, novas referências e valores às experiências de travestilidade que, em contrapartida, tendem a transformá-los também. Dentre essas novidades no ato de ser travesti destaca-se a flexibilização do ideal de “estar como mulher 24 horas por dia”, o qual tem perdido força entre os mais jovens. Seriam maneiras de driblar as imposições das normas coercitivas e de realizar desejos não reconhecidos e não aceitos pela sociedade.

“O cenário das sexualidades atual é amplo, diverso e de difícil mapeamento”, expõe Duque, pois as fronteiras do que chama de culturais sexuais estão em constante modificação e interpenetração. As mudanças na esfera da sexualidade se associariam ao que chama de novas tecnologias corporais e a uma ampliação do debate de gênero e sexualidade para além das heterossexualidades. Além disso, as atuais possibilidades de construção do feminino (com cirurgias e tratamentos estéticos) teriam trazido novas implicações identitárias para as travestis e tornado os corpos mais plásticos à construção e desconstrução do que se deseja. Contudo, entre as travestis, estas novidades não se dariam de forma desconectada de padrões e práticas já legitimadas, o que contribui para uma reflexão sobre o que é ser travesti nos dias atuais.

Nesse sentido, a manipulação do estigma de forma estratégica ou tática parece ser uma característica marcante da geração que buscaria maior aceitabilidade e respeito, o que, talvez, substituiria, ao menos em parte, as estratégias cotidianas de escândalo que marcaram as gerações anteriores. Naquelas, “muitas travestis eram destituídas até mesmo da aspiração ao respeito social”, nas palavras de Duque. Assim, ele tenta compreender como esses adolescentes têm manipulado a travestilidade – o “virar travesti” – para terem acesso não somente a lugares públicos e privados, mas às relações afetivo-sexuais que desejam.

O pesquisador destaca que uma característica que revela certa continuidade no ser travesti ao longo dos últimos anos: o fato dessas jovens, quando montadas, buscarem uma condição de feminilidade que as faça “passar por mulher”, tentando legitimar uma feminilidade vista como “natural”, reproduzindo, assim, normas e padrões de gênero já reconhecidos e classificados hierarquicamente em seu meio. “O ideal de beleza travesti segue o padrão hegemônico disseminado pela mídia, sendo, portanto, branco, rico e sexualizado.”, afirma.

Sexualidade um fenômeno biológico e natural?

Atualmente, distintas perspectivas sociológicas convergem no sentido de compreender a sexualidade como histórica e culturalmente variável, além de ser uma das formas mais poderosas de diferenciação social e vetor de maneiras diversas de desigualdade. Portanto, para a sociologia, a sexualidade, para mais do que biológica e natural, é uma construção social e histórica de poder que procura ordenar o corpo por meio de práticas e saberes sociais a ele vinculadas.

Tendo isso como premissa, o estudo de Duque defende que a distinção homossexual/heterossexual serviu de base para a classificação, controle e até discriminação de sujeitos contemporâneos. Além disso, segundo o estudioso, mais do que numa identidade travesti universal, há uma constante construção e reconstrução desses sujeitos socialmente estigmatizados. Haveria multiplicidades das experiências travestis e elas revelam as ligações entre o desejo, a vergonha e o estigma. Esses sentimentos seriam relacionados com uma lógica de normalização social, fundamentada na heterossexualidade como valor central em nossa cultura.

O desejo que de alguma forma contraria com a sexualidade tida como padrão causa a vergonha, e até a dor de não atender às exigências no que toca à escolha de parceiros afetivos e sexuais. Se gostar de alguém do mesmo sexo é visto socialmente como algo vergonhoso, ainda mais punido é o desejo de se apresentar e viver em um gênero distinto do prescrito pelo sexo biológico.

Originalmente criado como dissertação de mestrado em sociologia na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), o livro de Duque partiu de pesquisa etnográfica junto a adolescentes de Campinas (SP). 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"Gosto de parecer mulher, mas adoro ser homem", diz Rogéria em estreia de monólogo musical no Rio

14/09/2011 - 09h56FABÍOLA ORTIZ Colaboração para o UOL, do Rio
  • Rogéria, nome artístico de Astolfo Barroso Pinto, estreia monólogo musical (setembro/2011)
    Rogéria, nome artístico de Astolfo Barroso Pinto, estreia monólogo musical (setembro/2011)
Aos 68 anos de idade e prestes a completar 50 anos de carreira, o transformista Rogéria se define como um grande ator. “As pessoas acham que sou transexual, que estou operada, mas eu digo que não tenho cabeça de mulher, sou homem e não estou nada operada. Nunca tive pretensões de ser mulher, eu gosto de passar por mulher. Eu adoro ser homem, adoro ser Astolfo Barroso Pinto, pinto eu ainda tenho. No fundo é um trabalho de ator, isso é muito gostoso para mim”, contou ao UOL Rogéria ainda no camarim, antes da estreia do monólogo “Rogéria e os Astolfos”, no Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira (13).
O espetáculo é um musical, em que o transformista, ex-vedete e ex-maquiadora de TV, alterna números musicais em português, inglês e francês com confissões sobre a infância, o despertar de sua carreira profissional, o sexo e a transexualidade. No palco, o transformista é acompanhado por um grupo de músicos, “Os Astolfos” (Rodrigo Revellis no sax, Paulo Proença na percussão e Otávio Santos no teclado e direção musical). 
Sem pudor, Rogéria improvisa no palco. "O babado era saber que eu era homem, se não, não tinha graça. Gosto de parecer mulher, mas prefiro ser homem mesmo”, diz num tom descontraído e bastante humorado. “Eu não sofri porra nenhuma. As pessoas perguntavam se eu tinha sofrido, não sofri nada. A minha mãe nunca teve vergonha de mim. Eu era bem viadinho e ela disse ‘você já era um artista’. Ai como eu pintava o sete”.

"Artista não tem sexo, como diria Fernanda Montenegro"; assista à entrevista

‘Sem o salto nada acontece’

O espetáculo, explica Rogéria antes de subir ao palco, é a “minha vida contada e recontada, o meu stage o meu palco. Quero que o público venha se divertir comigo”. Para o artista, sem o salto nada acontece. “Não posso mais descer do salto. Depois que virei Rogéria, tenho que respeitar meu público. Na rua, o povo quer falar comigo”, comenta.

O despertar da sua carreira foi em um concurso de fantasias no Teatro República, em 1964. “Eu era maquiador e fiz um teste, ganhei o concurso de Carnaval e estreei no dia 29 de maio daquele ano”, conta. Mas um dos causos que lhe marcou o seu início, foi quando Astolfo, como maquiador da extinta TV Rio, ouviu de Fernanda Montenegro o veredito que a levaria a abraçar de vez a carreira artística. “Um dia eu disse a Fernanda Montenegro que queria tanto fazer teatro, mas não vestido de homem. E ela me disse: arte independe de sexo, você precisa de talento e vocação. Eu fui seguindo o caminho dela e hoje estou por aí fazendo quase 50 anos de carreira, mas consciente de que sou Astolfo”, disse Rogéria.
Nunca sofri bullying, eu era terrível, geminiana, eu é que dava porrada, nunca recebi. A maior coisa na minha vida era a minha mãe. Ela nunca teve vergonha de Astolfo Rogéria, isso era fantástico. E se alguém tentasse fazer alguma coisa contra mim as unhas eram verdadeiras
Rogéria, sobre sofrer com o preconceito
Loucuras

Uma de suas maiores loucuras, diz Rogéria, foi fazer sexo dentro de um avião, inspirada em uma cena do filme erótico francês ‘Emanuelle’, da década de 70. “Eu vi o filme Emanuelle, aquela cena de sexo dentro do avião, eu fiz num avião da Japan Airlines. Encontrei um cara que não sabia que eu era homem, eu estava vindo do Cairo e ele ia saltar na Itália e ele saiu sem saber e tudo passou em branco. Foi uma grande jogada de mulher fatal”, lembrou.

Um dos 'causos' que Rogéria conta no palco é sobre o seu cabelo - que, aliás, é verdadeiro, assim como as unhas, garante. “Cabelo, ou você tem ou não tem. Eu alisava o cabelo e ainda queria que fosse loiro. Já fiz loucuras com o cabelo. Um dia fui a um baile de Carnaval e queria uma cor diferente mas não entendia nada de pintura. Peguei mercúrio cromo e passei no cabelo, no dia seguinte tive que raspar. Já passei ate água sanitária”.

Mas Rogéria conta que descobriu o seu cabelo mesmo em Paris e deixou de usar peruca. “As pessoas gostam muito de perguntar: como é que ficou esse cabelo assim? No Brasil, eu usava peruca, só fui descobrir o cabelo em Paris porque lá o clima é seco. Aqui é úmido e frisava, eu ficava com medo e alisava. Em Paris, ele cresceu. Aliás, cabelo e unha são meus, naturais”.

‘Minha mãe nunca teve vergonha’

Num balanço de quase cinco décadas de carreira artística, Rogéria diz que agradece primeiro aos seus santos protetores e presta homenagem à sua mãe Eloá Barroso. “Realmente não tenho culpa nenhuma, nunca sofri bullying, eu era terrível, geminiana, eu é que dava porrada, nunca recebi. A maior coisa na minha vida era a minha mãe. Ela nunca teve vergonha de 'Astolfo Rogéria', isso era fantástico. E se alguém tentasse fazer alguma coisa contra mim as unhas eram verdadeiras”, brincou.

No roteiro do espetáculo, Rogéria interpreta canções como “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, escolhida para fazer a abertura, assim como “La vie em rose” e “Je ne regrette rien”.
O espetáculo fica em cartaz até dia 26 de outubro no Rio de Janeiro e a expectativa da produção é prorrogar até final do ano no Rio e depois seguir para São Paulo e outras capitais brasileiras, especialmente no Sul. Rogéria diz que se cansou da Europa e quer investir no Brasil e na Argentina. “Amo São Paulo, amo o Brasil, quero ir a tudo quanto é lugar, não quero mais saber de Europa nem América. Minha meta agora é Buenos Aires que ainda não conheço, dizem que é belíssima”.

 “ROGÉRIA E OS ASTOLFOS”
Onde: Teatro Clara Nunes (Rua Marquês de São Vicente, 52 – 3º piso do Shopping da Gávea)
Quando: Terças e quartas, às 20h (até 26 de outubro)
Quanto: R$ 40 / R$ 20 (meia entrada para idosos e estudantes)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Livro: A Princesa

TERÇA-FEIRA, 21 DE JUNHO DE 2011

Livro: A Princesa

Livro:
Albuquerque, F. F. e Jannelli, M. (1994) A Princesa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira.

A PRINCESA
por Carolina Freitas

“As mulheres de um lado, os homens de outro. E eu?”

Do relato de um travesti brasileiro e na voz de um ex-terrorista italiano, diretamente da prisão em Roma, nasce A Princesa, a curiosa soma de três sexos. Duas pessoas que se perderam na noção de tempo e futuro, mas sobrevivem ao caos através dos relatos e escritos.

Das calçadas brasileiras às calçadas da Europa, Fernanda nos mostra sua “tragédia de mulher aprisionada dentro do corpo de um homem”. E, também, como construiu sua identidade e corpo femininos.

Ao entrar no mundo dos travestis nos fica a confusão entre quem é o travesti e quem é o transexual. O transexual difere do travesti no sentimento de identidade, ou seja, o transexual sente-se sendo do outro sexo, aprisionado em um corpo que não te pertence, por isso a solicitação da mudança do corpo. Fernanda dizia sentir-se mulher desde sempre, desde pequena sentia-se assim. Já o travesti sente-se homem. E, difere também quanto a importância do pênis, para o transexual não passa de um pedaço de carne odioso, o travesti usa-o no prazer.

Podemos então definir o travesti como o indivíduo que se veste de acordo com o sexo oposto, mas sem desejo de alteração sexual. Pode ser uma fase anterior ao transexualismo. O transexual tem o distúrbio de identidade de gênero, ou seja, sente-se sendo do sexo oposto.

Fernanda relata uma relação estreita com sua mãe e um pai inexistente. Ela sofreu abuso, participou de “brincadeiras de crianças”, levou surras que a fizeram fugir de casa e entrar no mundo da prostituição, não se sabe se para sobreviver ou se porque assim gostava. “ Eu sou puta, é essa a questão”, diz ela. Tendo sempre cúmplices em suas relações.

Por fim, o livro relata uma busca pela completude e mostra o que os travestis e os transexuais realmente querem: serem (re)conhecidos como seres humanos!
http://linavidapsicologiaesexologia.blogspot.com/2011/06/livro-princesa.html

sexta-feira, 1 de julho de 2011

CFP permite uso do nome social na carteira de identidade profissional

22.06.2011
CFP permite uso do nome social na carteira de identidade profissional


O Conselho Federal de Psicologia decidiu que os profissionais da psicologia transexuais ou travestis podem usar o nome social na carteira de identidade profissional, bem como em documentos como relatórios e laudos. A partir da publicação da Resolução CFP n° 14/11 no Diário Oficial da União, que ocorreu na sexta-feira, 24 de junho de 2011, os interessados deverão solicitar por escrito, aos seus Conselhos Regionais, a inclusão do nome social. Ele será adicionado no campo de observações do registro profissional.

Com a Resolução, fica permitida a assinatura nos documentos resultantes do trabalho da(o) psicóloga(o) ou nos instrumentos de sua divulgação o uso do nome social, juntamente com o nome e o número de registro do profissional.

A decisão representa um reconhecimento da igualdade de direitos destes profissionais e um respeito pela maneira como são identificados, reconhecidos e denominados por sua comunidade e em suas relações sociais.

Vários psicólogos já haviam pedido a troca de nome aos conselhos regionais, mas, como não havia diretrizes sobre o assunto, os requerimentos foram negados. O conselheiro do CFP, Celso Tondin explica: “Não havia regulamentação específica sobre o tema, isso provocou o Sistema Conselhos a fazer essa discussão, o que também atende a uma reivindicação histórica dos movimentos sociais”.
http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/noticias/noticia_110622_001.html

quarta-feira, 15 de junho de 2011

"Quem se importa com a velhice das travestis?"

"Quem se importa com a velhice das travestis?"
Pedro Sammarco |
Há padrões estabelecidos que respondem a uma determinada forma de organização econômica e social. O que nos importa é saber qual é o impacto que as normas de gênero têm sobre as travestis que atravessam a vida e atingem a velhice.

Seus corpos foram apropriados pelos saberes religiosos, jurídicos e científicos determinando como eles deveriam se comportar. Ao invés de viver o que pode um corpo, são pressionadas a viver o que “deve” um corpo. O trajeto que descreverei não tem a intenção de estabelecer uma regra. No entanto, diante da bibliografia especializada consultada e dos relatos obtidos, pôde-se perceber que os percursos e a dificuldades enfrentadas são parecidas para a grande maioria delas.

Desde pequenas começam a perceber que não estão em um bom encontro em relação ao que é estabelecido. Conforme dados levantados e presentes em diversas passagens dessa dissertação, a exclusão da travesti já começa na família, justamente por não se adequarem as regras sociais. Podem até mesmo sofrer violência por parte de seus familiares.

Acontece um mau encontro que diminui sua potência de agir. O próximo desafio vem na escola. O nome social que elas desejam usar combinado com a aparência são elementos para que sejam rechaçadas na escola, tanto pelos colegas como professores e demais funcionários. Muitas relatam que por causa disso, não conseguem terminar os estudos.

Ao mesmo tempo, saem de casa ou são expulsas, encontrando nas travestis mais velhas a referência para construir seu modo próprio de ser. Travestis mais experientes terão um papel importante na vida das mais novas. Ajudarão a construir os novos corpos, estilos de vestir e formas de ser das novas travestis.

Devido à dificuldade de encontrar um emprego, por causa da aparência, aliada a baixa escolaridade, acabam se prostituindo para sobreviver. Precisam modelar seus corpos de forma quase que clandestina e arriscada, pois não contam com políticas públicas de saúde que as amparem. Isso exige altos investimentos, pois quanto menos considerado ambíguo e atraente for o corpo, menos discriminação e maiores os ganhos financeiros.

A condição de seres patológicos que são colocadas facilita que a sociedade não as veja como humanas e sim como seres abjetas. Em sua maioria, são consideradas aberrações, sujeitas a tratamento, punição ou até mesmo extermínio. Desde cedo seu drama como não humanas já começa e se arrasta até quando conseguirem sobreviver.

As que conseguiram driblar os riscos inerentes ao contexto existencial de marginalidade, precisam adotar estratégias. Para isso, seguem um estilo próprio de existir. Não há como generalizar sua forma de lidar com as adversidades da vida. Cada uma terá seu jeito próprio. Além de ter sobrevivido, chegar à velhice é também sinônimo de referência, exemplo e alerta para as mais jovens.

Ser travesti na atualidade não é o mesmo que ter sido travesti antes da década de 1960. Se um homem saísse na rua vestido de mulher, geralmente era preso. Não havia hormônios nem silicone. Porém, mesmo assim, muitas podiam ser travestis durante os bailes de carnaval. Outras se tornavam artistas, o que possibilitava que pudessem ser mais travestis em um contexto de artes cênicas. As prostituições eram veladas e sutis, conforme acompanhamos nos relatos de vida de duas de nossas entrevistadas.

Após as revoluções sexuais ocorridas no final do século XX no mundo, os conceitos de família e gênero sofreram profundas transformações. A travesti passou a ter mais espaço. Saiu da clandestinidade e começou a se prostituir nas ruas dos grandes centros urbanos. Assim como os jogadores de futebol, muitas saíram de contextos socioeconômicos mais humildes. Como prostitutas, galgaram espaço nos grandes centros até chegarem ao exterior. Lá, precisavam ganhar muito dinheiro em curto espaço de tempo, para que pudessem ter um futuro.

Quando não pudessem mais viver do corpo, já seriam consideradas velhas. Para as travestis o conceito de velhice está vinculado ao trabalho que desempenham como prostitutas. Enquanto trabalham são úteis, produtivas e, portanto jovens.

Conhecer suas trajetórias de vida possibilita identificar quais são os pontos mais críticos onde não há qualquer amparo existencial. Elas são grandes improvisadoras, visto que não são reconhecidas como pessoas humanas. Precisam inventar suas vidas de forma original. Como não “existem” perante a lei, estão sujeitas a todo tipo de violência e aniquilamento. Quem as defenderá?

É preciso haver políticas públicas que as amparem, começando pela família e escola. Depois necessitarão de políticas de saúde que as auxiliem em seus processos de transformação corporal para que não tenham que se arriscar clandestinamente com silicone industrial e ingestão hormonal desregrada. Em seguida está outro grande desafio: sua profissão e meio de sobrevivência. Ocupações onde não precisem se arriscar a doenças e violências. E que se assim for, que seja por escolha e não por ser a única forma de sobreviver.

Por fim, as políticas públicas continuarão amparando suas velhices, pois se adequarão às necessidades especificas de cada travesti que envelhece. Embora sujeitas aos mecanismos de controle, as políticas públicas dão reconhecimento e condição de existência para as travestis.

Existir por meio de políticas públicas, as retira da situação de marginalidade e violência. Alegam que muitas vezes são violentas, para se defender da violência que sofrem por serem invisíveis.

Vemos que o assunto é muito complexo e que há muito ainda o que ser feito. Estou satisfeito com os resultados desse estudo, pois o primeiro passo já foi dado: começar a conhecer quem elas são. Trazendo-as a visibilidade, teremos melhores condições de traçar políticas específicas que as amparem desde tenra idade. Convido todos os pesquisadores interessados nesse assunto a continuar esse trabalho gratificante e desafiador.
http://www.vidag.com.br/sao-paulo/destaques/pedro-sammarco--quem-se-importa-com-a-velhice-das-travestis/