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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Não grita comigo!


Você acha normal seu namorado gritar com você? Então por que deixa?
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13.05.2011 | Texto por Nina Lemos Fotos Rodrigo Sacramento

Um tom de voz mais alto, uma discussão sem motivo ou mesmo a indiferença do seu namorado podem parecer uma simples alteração de humor. Tem certeza? Tpm mostra que a violência numa relação começa por aí. E por que muitas mulheres demoram a dizer: Não grite comigo!


Rodrigo Sacramento

A cantora Nana Rizinni tinha 20 anos quando decidiu passar o fim de semana na casa de praia do namorado de dois anos (nada mais corriqueiro para um relacionamento longo e estável). Ao entrar, ela “não fechou a porta da casa direito” (nada mais normal para uma garota distraída). Foi o suficiente para que seu namorado começasse a gritar: “Você não faz nada certo! Como assim não fechou a porta? Você não tem respeito por nada, nem pelo teto que os meus pais construíram!”. Passada a tempestade verbal, ele colocou a menina para fora de casa. Absurdo. Mas normal para um relacionamento marcado pela agressividade do rapaz.
“Fiquei muito machucada. Fui pra casa de uma prima e passei o feriado chorando. Ali vi que realmente tinha acabado”, conta a menina. Antes disso, claro, Nana aguentou “explosões que vinham do nada” pelo tempo que o namoro durou. “Ele mudava de cara, ficava com os olhos vermelhos e era sempre por causa de alguma bobagem. Eu era muito nova e achava que esse era o jeito dele”, lembra.
“Você trata muito mal sua menina”
Você não deve estranhar ao perceber que uma garota descolada como essa, que lança disco solo mês que vem, canta, compõe e toca bateria, tenha vivido isso. Afinal, que mulher já não passou por situação parecida? E você, nunca teve um namorado que tinha o hábito de dar uns gritos, chamar você de burra, socar o capô do carro? OK. Vai ver o seu era de outro tipo: ele não berrava, mas te humilhava, te ignorava, te achava um lixo. E deixava isso claro. Até que você começava a acreditar.
O abuso moral em relacionamentos amorosos é comum (demais). “Nunca pensei que isso podia ser uma coisa tão corriqueira”, diz o cineasta João Jardim, diretor do filme Amor?. O documentário, em cartaz nos cinemas, mostra histórias reais de mulheres que sofreram abusos físicos e psicológicos (e de homens que abusaram), interpretadas por atrizes como Lília Cabral e Julia Lemmertz. “As histórias contadas no filme têm sempre violência física. Mas são tão loucas emocionalmente que isso chega a ser quase um detalhe”, afirma João. Em suas pesquisas, o diretor chamou a atenção para o medo que essas mulheres sentem. “Elas vivem um tipo de relacionamento em que se sentem ameaçadas, mas também não conseguem sair dele”, conta o diretor. A terapeuta familiar Tai Castilho, que atende casais há mais de 20 anos, diagnostica: “Um relacionamento em que você sente que pisa em ovos o tempo inteiro é um relacionamento de risco”.
“A forma mais cruel de violência que vejo os homens praticarem contra as mulheres é a ausência. É não prestar atenção nela", Diana Corso, psicanalista
“Você olha para ela com desprezo”
A atriz Silvia Lourenço, 30 anos, já viveu isso. Não só no filme Amor?, em que interpreta uma garota que vive um relacionamento homossexual para lá de conturbado, como também na vida real. Ela conta que a relação com o primeiro namorado era completamente neurótica. “Ele morria de ciúmes. Era só eu chegar 5 minutos atrasada para ele inventar a maior história. E quando a gente bebia acabava brigando pra valer.” Silvia ficou mais de um ano nessa. E admite sua parcela de lenha na fogueira. “Acho que eu queria testar os meus limites. Então, se ele falava mais alto, falava também. Era uma coisa de 
desafiar mesmo. Acho que eu queria, de certa forma, correr perigo”, analisa.
Até que um dia o perigo ficou real. “Tínhamos bebido, brigamos, e ele subiu a Cardeal Arcoverde [rua movimentada de São Paulo] na contramão e aos berros. “Vi que eu podia morrer. Caí fora.” Hoje, adulta, Silvia consegue enxergar o que quer em um namoro. “Depois de fazer o filme passei a reparar muito nisso. A violência pode ser silenciosa. O cara tratar você como uma burra já é uma forma de violência.”
“A violência pode ser silenciosa. O cara tratar você como uma burra já é uma forma de violência”, Silvia Lourenço, atriz
A psicanalista e colunista do Zero Hora Diana Corso faz coro. “A forma mais cruel de violência que vejo os homens praticarem contra as mulheres é a ausência. É não prestar atenção nela”, defende. Em um dos depoimentos do filme Amor?, uma das agredidas reclama justamente disso: do cara que não repara nos quilos que ela perdeu, na mudança de cabelo, em nada. Calma. Se você tem um namorado que não repara quando você cortou o cabelo, não quer dizer que você esteja em um relacionamento doentio. Mas só que você namora um cara, huuum, normal. Estamos falando aqui de homens que elogiam outras mulheres na sua frente, chamam você de ignorante e, em alguns casos, te olham com cara de nojo.
A artista plástica carioca Maria (nome fictício), 35 anos, sabe muito bem o que é isso. Ano passado terminou um casamento de dois anos com um homem que não ligava muito pra ela. “Morávamos no Rio e, no fim do ano, íamos para Recife, de onde ele era. Uma vez ele viajou antes e fui encontrá-lo. Quando cheguei, já fui recebida com frieza. Sem sexo. Na temporada que se seguiu, ele fez tudo que podia para me deixar por baixo. Me ignorava e fazia questão de falar de outras mulheres ao meu redor, de como eram lindas. Hoje, olhando para trás, acho tudo uma loucura”, diz Maria, sem compreender exatamente como prolongou tanto o casamento.
Na época, infelizmente, ela não conseguiu pular fora. Difícil entender por quê. Quais são os motivos que fazem a gente continuar com alguém sabendo que a pessoa nos faz mal? Medo de ficar sozinha e de se separar são os motivos mais óbvios. Mas, de acordo com Tai Castilho, motivos, digamos, mais freudianos também fazem a gente “não conseguir se afastar”. “Nossos relacionamentos imitam outros que tivemos no passado. Se alguém teve uma mãe que foi maltratada pelo pai, por exemplo, pode copiar esse modelo.” Saber o que rolou lá atrás, quando ainda éramos crianças, bem, isso só com terapia mesmo.
“Ele me ignorava e fazia questão de falar de outras mulheres ao meu redor, de como eram lindas”, Maria, artista plástica
Agora, os motivos que fazem um sujeito agredir uma mulher dessa maneira podem até passar por transtornos psiquiátricos. Mas Tai dá outra pista. “Muitas vezes o que nos irrita no outro são coisas que nós mesmos temos. Ou invejamos”, explica. Traduzindo: seu namorado vive reclamando que você fala demais quando, na verdade, quem fala muito é ele. E se o cara também costuma falar mal da sua família isso acontece porque no fundo ele bem que gostaria de ter uma relação familiar tão bacana quanto a sua.

Um dia ela vai sair de cena”
Como enxergar que você está em uma roubada e que precisa sair dela? “Se você começa a perceber que está sendo maltratada, que está sendo humilhada, a questionar se aquilo é o que você quer para você, já é um sinal”, avisa Tai. E ela complementa: “Você tem que tomar a responsabilidade do que está acontecendo para você, não esperar que o outro mude. Se ele não te trata bem, você vai embora porque quem não quer ser tratada assim é você”. É o famoso “impor os seus limites”. Fácil não é. Mas a gente sempre consegue – e depois se sente muito bem, obrigada.

Rodrigo Sacramento



Não somos santas

Ao contrário do que pensam muitas mulheres, não são só elas que sofrem com parceiros agressivos. os homens também são vítimas do comportamento violento das namoradas

No fim de um namoro-casamento que durou ao todo dez anos, o designer Renato (nome fictício), 34 anos, foi obrigado a lidar com uma mordida. Séria. “Ela voou em cima de mim, me dando tapas e depois me mordeu. Tive que dar um jeito de apartá-la de mim sem machucá-la”, diz o sujeito, que se sentiu agredido e humilhado “até por não poder bater”. “Tem mulher que sabe quando o homem é gente boa e não vai bater nela de jeito nenhum. E se aproveita disso para pisotear. Elas te deixam em situações em que você chega a se sentir mal por ser homem e mais forte, mas não reage por princípio. ”
O desabafo faz sentido. Você já deve ter feito isso alguma vez na vida. Ou será que não? “As mulheres às vezes provocam o homem para que ele mostre o pior lado da sua masculinidade, como se ele fosse um incrível Hulk. Algumas querem ver esse monstro. Fazem isso para testar mesmo”, diz a psicanalista Diana Corso. O assédio feminino, segundo ela, também costuma ser sutil. “A mulher vai soltando farpas, falando coisas que machucam até que o cara se sinta muito mal no relacionamento.” De acordo com a terapeuta Tai Castilho, é comum a pessoa se utilizar de uma confissão que o outro fez, ou de um momento de fraqueza, e usar isso contra na hora de uma briga.
Nesse relacionamento que teve, entre outras coisas, mordidas (e não de amor) Renato passou a se sentir completamente “incapacitado”. “Ela dizia que eu não sabia fazer nada. Se tentava lavar um prato, falava que eu estava fazendo do jeito errado.” Sim, nesse ponto não somos muito diferentes dos homens que reclamam o tempo todo da mulher que “não serve para nada”.
“Muitos problemas hoje em dia acontecem quando a mulher, por exemplo, ganha mais do que o homem. Os papéis de gênero não estão ainda totalmente definidos na sociedade. O cara começa a se sentir um fraco e a mulher se aproveita disso para exibir poder”, afirma Tai. Não, também não somos santas – temos nossa parcela de loucura. E você, será que está dando uma de louca?

http://revistatpm.uol.com.br/revista/109/reportagens/nao-grita-comigo.html

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lançamento da Editora Fiocruz: Amor e Violência

Lançamento da Editora Fiocruz: Amor e Violência
Outros Eventos
Sex, 12 de Agosto de 2011 11:43

Gerar conhecimento estratégico sobre o tema da violência no namoro e no ‘ficar’ dos adolescentes brasileiros: este foi o objetivo de um estudo pioneiro realizado por pesquisadores de nove universidades públicas e da Fiocruz. O trabalho, que teve início em 2007, coletou, produziu e analisou dados quantitativos e qualitativos de âmbito nacional.
O estudo foi realizado com cerca de 3.200 jovens, de 15 a 19 anos, matriculados em escolas públicas e particulares de dez cidades (Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Florianópolis, Manaus, Porto Alegre, Porto Velho, Rio de Janeiro, Recife e Teresina). Os resultados da investigação deram origem ao livro Amor e Violência: um paradoxo das relações de namoro e do ‘ficar’ entre jovens brasileiros, lançamento da Editora Fiocruz. A coletânea – organizada pelas pesquisadoras Maria Cecília de Souza Minayo, Simone Gonçalves de Assis e Kathie Njaine, do Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde (Claves/Fiocruz) – faz uma síntese dos achados, mas também das interrogações do estudo.

“O que cotidianamente vemos na televisão, lemos nos jornais e ouvimos em conversas entre amigos sobre fatos concretos de mortes, agressões e lesões entre jovens nas relações afetivo-sexuais aqui se revela com dados e informações colhidos em um processo de intersubjetividade com estudantes de norte a sul do país”, resumem as organizadoras na apresentação do livro. “Nosso intento não foi apenas criar um conhecimento novo; ele vai muito além da publicação do livro. Envidaremos todos os esforços possíveis para que as descobertas aqui apresentadas possam subsidiar políticas, programas e planos de ação nos campos social, educacional e de saúde”, completam. A seguir, em entrevista, a pesquisadora Cecília Minayo discute alguns dos principais temas tratados na coletânea.

Logo o primeiro capítulo do livro aborda a condição juvenil no século XXI. O significado de ‘ser jovem’ sofreu transformações nos últimos tempos? Quais as principais mudanças e permanências?
O significado de ser jovem mudou muito nos últimos tempos, em vários sentidos, no mundo e no Brasil, principalmente para a classe média. Por causa da elevação da expectativa de vida, o tempo da juventude se ampliou – em vários países da Europa, atualmente, já o consideram até 30 anos. Essa ampliação – que é histórica, pois a própria delimitação do tempo da adolescência e da juventude é uma criação da modernidade – ocorreu por causa das exigências de formação muito mais prolongada nesta era globalizada e extremamente competitiva, e por causa do índice elevado de desemprego, que, entre os jovens, chega a ser o dobro do que na população adulta. Como consequência, os jovens ficam muito mais tempo na casa dos pais e constituem família tardiamente.

Nas classes mais pobres, a realidade vem mudando também, porém muito mais lentamente. Os jovens permanecem mais tempo na casa dos pais porque estão desempregados ou porque o que ganham não é suficiente para se manter. Muitos jovens das classes populares continuam, ao contrário, a ter a juventude reduzida porque constituem família muito cedo. Por outro lado, a mudança mais fundamental é a ampliação do acesso à educação formal, que vem ocorrendo pelo efeito de políticas afirmativas.

Houve mudanças também nas relações amorosas entre os jovens?
Quanto às relações amorosas contemporâneas, elas são mais provisórias, temporárias e contingentes, mas ainda estão impregnadas pela força da reprodução de padrões afetivo-sexuais tradicionais. Constatamos que o machismo continua forte e vigente, constituindo-se como um (anti)valor de longa duração. As violências mais graves são cometidas por homens, sobretudo quando se sentem preteridos ou traídos, mesmo nas relações de namoro, mantendo-se uma visão arcaica da mulher como posse e objeto do poder masculino. No entanto, existem mudanças provocadas, particularmente, pelas mulheres, que se colocam numa condição de parceiras capazes de questionar e propor novas modalidades de relacionamento. Muitas delas também adotam a violência física e psicológica como argumentos relacionais com seus namorados, repetindo o que era considerado essencialmente como comportamento masculino. Este último ponto, que já vinha sendo observado em estudos internacionais e nacionais, foi constatado na pesquisa que deu origem ao livro, mostrando que elas – proporcionalmente e sem considerar a gravidade do ato – agridem tanto quanto os rapazes. Em geral, o ciúme é o combustível das mútuas agressões.

É comum ouvirmos falar da violência do marido contra a esposa, do homem contra a mulher. Na pesquisa, vocês identificaram casos de violência praticada pelas meninas?
O livro todo, na verdade, trata de questões de gênero na medida em que analisa relações entre os jovens. A pesquisa mostra que, em geral, as agressões praticadas pelos rapazes são mais cruéis e causam danos físicos maiores. Porém, a não ser no caso da violência sexual, que é predominantemente praticada pelos homens, os outros tipos são comuns de ambas as partes. É importante ressaltar que as violências físicas, sexuais e psicológicas vivenciadas ou praticadas pelos jovens, frequentemente, ocorrem simultaneamente, indicando a necessidade de termos sempre em mente que não há características únicas e simplificadas que identifiquem uma pessoa como vítima ou agressora. Há, ao contrário, uma constante interseção de papéis entre vítimas e perpetradores, por parte tanto dos rapazes como das moças. No entanto, conceber que jovens de ambos os sexos, ao interagirem na relação afetiva, atuam de forma violenta não significa diminuir a importância da subordinação feminina. A violência contra a mulher no ambiente privado – incluindo-se os feminicídios – encontra-se entre as violações de direitos humanos mais comuns e entre os problemas sociais mais relevantes e com maiores repercussões sobre a saúde desse grupo social, o que afeta toda a família.

E quanto às relações sexuais?
A pesquisa mostra também que estão naturalizadas no país, de norte a sul, as relações sexuais antes do casamento, que ocorrem predominantemente, mas não exclusivamente, por insistência dos rapazes e com o consentimento das meninas. Os meninos fazem uso de estratégias românticas para transar com suas parceiras, com o argumento de que isso seria uma prova de amor. E muitas meninas, em tais circunstâncias, reproduzem valores de subjugação. Mas um número não desprezível delas toma a iniciativa e testa os garotos na sua sexualidade, às vezes humilhando os que não querem transar com elas. A pressão para transar, em alguns casos, costuma acontecer já no ‘ficar’ e se torna comum na situação de namoro, que representa, para os jovens de hoje, um compromisso bastante forte, embora informal.

Uma resultante dessa permissividade para a experimentação sexual – com pouco mais da metade dos jovens usando camisinha em todas as relações, como constatamos – é que 9,2% das meninas já fizeram aborto alguma vez e 1,2%, mais de uma vez. Além disso, 0,4% das meninas entrevistadas e 2,1% dos rapazes já são pais. Meninos e meninas com filhos precocemente estão principalmente na Região Norte do país.

O ‘ficar’ dos adolescentes é um fenômeno bastante contemporâneo. A pesquisa apresentada no livro, portanto, é inovadora ao propor uma reflexão sobre o tema no âmbito científico e acadêmico. Gostaria que a senhora comentasse essa questão.
Enquanto o namoro indica escolhas um pouco mais elaboradas, o ‘ficar’ caracteriza uma fase de atração sem grandes compromissos de fidelidade, mas chega a envolver um tipo de relação que pode se estender a beijos e contatos sexuais. Esse fenômeno da vida dos adolescentes e jovens contemporâneos, que precede o namoro, tem a ver com as mudanças nas relações e culturas de gênero ocorridas, principalmente, a partir da segunda metade do século XX e muito influenciadas pela liberação feminina. As características do ‘ficar’ se encaixam com as da adolescência, etapa de intensa transformação biopsicossocial, em que a sexualidade está no auge, à flor da pele, momento em que se definem os papéis sexuais. A escolha dos parceiros amorosos ganha lugar de destaque, mas como um aprendizado sexual não restrito à genitalidade ou à primeira relação sexual.

Como a violência se manifesta no ‘ficar’?
Nosso estudo mostra que a violência no ‘ficar’, assim como no namoro, é predominantemente recíproca, isto é, ocorre entre casais violentos, onde ambos os parceiros são, provavelmente, perpetradores de violência. Vários fatores contribuem para o surgimento da violência afetivo-sexual entre adolescentes e jovens, mas estruturas familiares e comunitárias violentas são das mais relevantes. Nesse sentido, a violência na relação amorosa pode ser um continuum que começa com as agressões sofridas pelos jovens na família de origem, ainda na infância, e que tendem a se reproduzir.

Então, adolescentes que vivenciam cenas de violência em casa e na comunidade estão mais propensos a se envolverem em relações afetivo-sexuais violentas?
Os jovens que vivem em famílias violentas estão mais propícios a serem agressivos nas relações afetivo-sexuais. No entanto, e é preciso dizer isso em alto e bom som: não existe nenhuma determinação cultural ou social nesse sentido. Ou seja: qualquer jovem vítima de violência no seu lar pode ser capaz de compreender o mal que isso lhe causa ou causou e criar laços afetivos saudáveis.

Quais os tipos de violência identificados na pesquisa? Quais os mais prevalentes?
Os tipos mais prevalentes encontrados na pesquisa são a violência verbal, relatada por mais de 85% dos entrevistados; a violência sexual, que chega a quase 40%; as ameaças, com 29%; e a violência física, com 24%. É importante observar que a violência afetivo-sexual é uma forma de violência interpessoal; portanto, com a exceção da violência sexual – muito mais praticada pelos meninos do que pelas meninas –, quase todas as outras modalidades apresentam poucas diferenças entre quem sofre e quem perpetra. Em relação às violências perpetradas há similaridade entre os sexos; entre os estudantes da rede de ensino pública e particular; e entre os jovens de todas as dez cidades estudadas.

Em relação aos dados quantitativos, existe algum número que, particularmente, chame a atenção? Em caso afirmativo, por quê?
Embora possa parecer de baixa intensidade, destaca-se o elevado percentual de jovens que cometem violência verbal (85%) e ameaças (29%). No entanto, o que mais chama atenção é a convivência com vários tipos de violência ao mesmo tempo, como é o caso da co-ocorrência de violência psicológica e sexual (32,3%) e de todos os tipos de violência juntos (24,9%).

Apesar desses percentuais elevados e da ocorrência de vários tipos de violência ao mesmo tempo, determinados comportamentos violentos são considerados ‘normais’. Como ‘desnaturalizar’ o problema?
A sociedade, em geral, e a escola, em particular, quase sempre, consideram normais os arroubos temperamentais dos jovens ou prestam pouca atenção no que ocorre nas relações entre eles. No entanto, a violência no ‘ficar’ ou no namoro pode prenunciar ou dar continuidade à constituição de famílias violentas. Mostrar os dados deste estudo e retornar essas informações para os próprios jovens e, principalmente, para as escolas é uma forma de contribuir para dar visibilidade ao fenômeno, mostrando o que ele pode significar de pernicioso. Assim como na vida adulta, apesar de todas as lutas do feminismo, continua existindo, para muitos jovens, um mundo privado onde o direito e a lei não têm importância. Todos os estudos sobre o fenômeno da violência ressaltam que a violência familiar potencializa a violência social e vice-versa.

A pesquisa foi conduzida em dez cidades. Quais as principais diferenças regionais verificadas nos resultados?
Quanto à estrutura familiar, 61,1% dos jovens entrevistados tinham uma composição familiar tradicional; em Belo Horizonte, Florianópolis e Porto Alegre, a estrutura familiar tradicional prevaleceu (cerca de 66%). Os jovens de Brasília, Manaus, Recife e Rio de Janeiro tinham de 20% a 22% dos seus lares chefiados por mulheres. Jovens cujas mães viviam com padrastos estavam em maior número em Manaus (10%) e no Rio de Janeiro (12%). Quanto às expressões das relações, o ‘ficar’ e o ‘pegar’ são comuns a todas as regiões. A expressão ‘rolo’ é mais utilizada no Sudeste; o ‘colar’, no Nordeste; o ‘breth’, no Sul; e a ‘paquera’, no Centro-Oeste. Há muitas outras especificidades elaboradas detalhadamente no livro.

Porém, ainda que existam diferenças sociais em muitos aspectos das relações violentas entre jovens das classes médias e populares, entre meninos e meninas, entre os que frequentam escolas públicas e particulares, o fenômeno perpassa e se entranha por todos os grupos e segmentos. E um dos efeitos mais deletérios apontados por este e outros estudos é que a violência praticada nas relações de namoro é preditiva da ocorrência de violência conjugal.

A partir dos achados da pesquisa, como prevenir a violência nas relações afetivo-sexuais entre os adolescentes?
No Brasil, a preocupação com as violências nas relações de gênero é um tema muito recente. Apesar de haver alguns estudos sobre o assunto, eles são pontuais. Em outros países, como Estados Unidos, Canadá e Espanha, por exemplo, o tema já está mais consolidado, embora também seja bastante recente.
Nossa pesquisa é a primeira de âmbito nacional. Ela precisa, ao mesmo tempo, ter continuidade e ser devolvida à sociedade, especialmente às escolas. Estamos cuidando disso e já temos várias iniciativas, principalmente por parte dos pesquisadores das dez cidades que trabalharam conosco. Devo ressaltar também o curso à distância para professores sobre violência nas escolas, liderado pela pesquisadora Simone Gonçalves de Assis, com apoio do Ministério da Educação. Sempre buscamos encaminhar os resultados de nossas pesquisas para os fóruns competentes. E, nesse caso, sabemos que o apoio social e comunitário é fundamental, conforme demonstram algumas pesquisas sobre intervenções realizadas, sobretudo nos Estados Unidos e no Canadá.
http://www.planetauniversitario.com/index.php?option=com_content&view=article&id=23499:lancamento-da-editora-fiocruz-amor-e-violencia&catid=29:outros-eventos&Itemid=65

sábado, 30 de julho de 2011

Violência no Namoro

Violência no Namoro
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Saúde e Bem-Estar - Psicologia
01-07-2011

Um gesto que tende sempre a repetir-se

Por Erika Morbeck*

A violência doméstica tem sido um assunto cada vez mais abordado e o número de mulheres que procura auxílio tem aumentado. Actualmente existem Associações de Apoio à Vítima, como a APAV, e a violência doméstica passou a ser um crime público, podendo qualquer cidadão fazer denúncia diante de episódios de violência doméstica.



A violência no namoro, por lei, também se integra na violência doméstica. No entanto, por vezes, este assunto é negligenciado. A violência não acontece apenas com adulto e/ou nos casamentos/união de facto e, na fase do namoro, pode ser precursora de um caso de violência entre casais, constituindo um factor de risco para violência marital.

Há uma tendência em descurar os sinais de agressões nas relações de namoro, pois ainda está associado a alguns mitos, tais como a violência no namoro não é uma situação comum nem séria; as adolescentes gostam dessas relações ou não continuariam com o namoro; um rapaz grita ou bate porque gosta da namorada, caso contrário não tinha ciúme; de alguma forma, o outro provocou a agressão, pois são imaturos; quando alguém conta sobre a agressão, é exagero ou mentira, é uma chamada de atenção.

Trata-se de um assunto sério, um problema social e de saúde que deve ser tratado com todo o cuidado e apoio. Estima-se que entre 20 e 30 por cento dos adolescentes já tenham vivido situações de violência em relacionamentos de namoro. Entre os jovens adultos, esta percentagem sobe para os 50 por cento.

A violência não conhece fronteiras de estratos sociais, faixas etárias, géneros, religiões, etnias e ocorre em todos os casais (heterossexuais e homossexuais). Existe violência quando, numa relação amorosa, um exerce poder e controlo sobre o outro, com o objectivo de obter o que deseja. Esta pode-se manifestar de várias formas: física: acção ou omissão que coloque em risco ou cause dano à integridade física de uma pessoa; psicológica: ameaça directa ou indirecta, humilhação, isolamento, ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal e/ou; sexual: acção que obriga uma pessoa a manter contacto sexual, físico ou verbal, ou participar de outras relações sexuais com o uso da força, intimidação, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal.

Geralmente existem sinais específicos que configuram a violência no namoro. Os pais, amigos e familiares devem ficar atentos a sinais como beliscões, empurrões, arranhões…, ordens ou tomadas de decisões sozinho/a, sem valorizar ou ouvir a do/a namorado/a, não valorização das opiniões do/a namorado/a, ciúme exagerado, sentimento e comportamento de posse e de controlo, humilhação (insultos, diz que nada seria sem ele/ela, etc.), culpabilização do outro pelos seus comportamentos violentos, ameaças ao ponto do outro ter medo da reacção mediante o que diz ou faz, pressão para ter relações sexuais (às vezes sem protecção ou práticas sexuais não desejadas pelo outro), pressão para consumir álcool ou outras drogas que poderão desinibir sexualmente, intimidação e não-aceitação que o outro ponha termo à relação, oferta de prendas em excesso, especialmente após um comportamento violento.

Por vezes, os episódios de violência estão associados ao consumo e/ou abuso de substâncias e psicopatologias. Regra geral, a violência não é uma constante na relação, acontece ocasionalmente, e após o episódio de violência existe a chamada fase de calma. Nesta fase o agressor procura desculpabilizar-se e desresponsabilizar-se, pedindo desculpa, oferecendo presentes e prometendo que não voltará a acontecer.

As vítimas não estão com o namorado/a por gostarem de sofrer ou ser agredido/a. Costumam achar que gostam realmente do namorado/a, acreditam que a violência vai acabar e que poderá mudá-lo/a. Por vezes, sofrem a pressão do grupo, no que se refere aquilo que os/as amigos/as pensam e por querer sentir-se aceite, sentem vergonha (de contar à família e amigas/os o que se está a passar) e medo (das represálias, perseguições, ameaças…).

Conhecer os sinais e ficar atento são bons princípios para ajudar as vítimas. Caso conheça algum caso, pode denunciar à polícia, indicar a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV – 707 2000 77) e incentivar a vítima e o agressor a procurarem apoio psicológico.

* Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta, Terapeuta Sexual e Sexóloga

www.erikamorbeck.info

http://sexoforte.net/mulher/artigos.php?id=3450&w=sexualidade_na_gravidez

sábado, 23 de julho de 2011

Escolas podem ajudar contra práticas sexuais violentas

14/07/2011 -- 16h31
Escolas podem ajudar contra práticas sexuais violentas
Atualmente práticas de assédio moral e sexual são constantes, por isso além da escola é necessário que haja um planejamento comunitário

O que hoje denominamos bullying, ou assédio moral, constitui-se num conjunto de práticas violentas, normalmente relacionadas às ideologias preconceituosas, como racismo, sexismo, homofobia, e, estranhamente, contra pessoas responsáveis e cumpridoras de seus deveres.

A palavra designa todo comportamento violento, seja no plano material ou emocional, exercido sobre algum outro mais frágil e que sofre normalmente em silêncio. Este assédio acontece em agremiações esportivas, ou mesmo em ambientes de trabalho. Possivelmente as próprias pressões do dia a dia, com sua imensa carga de frustrações, induzam algumas pessoas sem muitos freios morais a esta conduta, transferindo aos mais fracos seus rancores e decepções.

Infelizmente, tem ocorrido nas áreas públicas e privadas, denotando sociedades com vivência histórica e social de alto grau de violência real e simbólica. Organizações, sites ou blogs focados na exibição violência, muitas vezes até de seu culto, aceleram este problema e dificultam uma ação eficaz de controle.

Como todas as organizações, escolas também sofrem com várias modalidades de assédio, visíveis no ambiente escolar apesar de este ser um espaço normalmente idealizado para a compreensão, a solidariedade e o acolhimento. Alguns tipos de apelidos, a coerção do mais forte em relação ao mais fraco, muitas vezes leva ao abandono dos estudos ou isolamento social de alguns estudantes.

Os assediadores, em qualquer nível, têm em comum uma imensa dor e uma desmedida covardia. E isso ocorre em toda a sociedade de modo alarmante: condutores de veículos desrespeitando pedestres, assaltantes armados impondo sua vontade, políticos escondendo-se do julgamento de crimes em sua impunidade, clientes humilhando vendedores, comerciantes praticando preços abusivos, países fortes invadindo países fracos, patrões degradando empregados, corruptos espoliando os bens públicos.

Subordinados que aceitam a sujeição mais abjeta tendem a serem os chefes mais arrogantes. Crianças molestadas podem tornar-se adultos molestadores. Ou seja, a violência tende à autogeração, em moto contínuo, e aparentemente estabelece-se um modelo doente, em que aquilo que se sofreu é o que se deve impor em sofrimento quando possível.

Até mesmo, lamentavelmente, uma parte dos pais, ausentes da educação de seus filhos por vários motivos, dentre eles a excessiva carga de trabalho na competitividade que caracteriza a moderna civilização, exerce certo assédio moral em relação aos professores, esperando deles responsabilidade total sobre aprendizado de seus filhos. É como se a escola pudesse ''dar conta'' sozinha de toda a educação, aí incluídas noções de moral e de bons costumes, de comportamento e relações interpessoais.

Uma escola sozinha não constrói outro padrão de comportamento, é preciso o engajamento comunitário na solução deste problema. Nas palavras do poeta Paulo Leminski: haja presente para tanto passado.

Wanda Camargo - professora da Unibrasil (Curitiba)
http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-27--80-20110714&tit=escolas+podem+ajudar+contra+praticas+sexuais+violentas

terça-feira, 12 de julho de 2011

‘Violência contra as mulheres’ é tema do I Seminário Nacional de Mulheres

‘Violência contra as mulheres’ é tema do I Seminário Nacional de Mulheres do ANDES-SN, em Fortaleza

30/6/2011 15:32, Por Adital

O I Seminário Nacional de Mulheres do ANDES- SN,organizado pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de EnsinoSuperior, iniciou as suas atividades nesta quinta-feira (30), às 10h, abordandoa temática da ‘violência contra as mulheres’. O evento tem programação até amanhã(1°), no Auditório José Albano, na Área 1 do Centro de Humanidades – Campus doBenfica, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Além do tema ‘violência contra as mulheres’, queserá ministrado pela Professora Acácia Batista Dias, da Universidade Estadualde Feira de Santana, o Seminário contará com grupos de trabalhos e mesas dedebates sobre os temas: “Mulheres, docência universitária e movimentosindical”, “Saúde sexual e reprodutiva das mulheres, sexualidade e lesbofobia”,”Mulheres e diversidade: geracional e étnico-racial” e “Violência contra asmulheres: políticas públicas e legislação”.

Mais informações e a programação completa nos siteswww.ufc.br e http://www.andes.org.br/andes/portal.andes

Fonte:Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
http://correiodobrasil.com.br/%E2%80%98violencia-contra-as-mulheres%E2%80%99-e-tema-do-i-seminario-nacional-de-mulheres-do-andes-sn-em-fortaleza/262244/

domingo, 10 de julho de 2011

A violência sexual é um mal diário que afeta as mulheres no Egito

10/07/2011
A violência sexual é um mal diário que afeta as mulheres no Egito

Souad Mekhennet
Cairo (Egito)

Mulher senta perto de barricada na praça Tahrir
Antes de Warda entrar num elevador hoje em dia, ela se assegura de que haja pelo menos uma mulher lá com ela. Em 16 de janeiro, Warda quase foi estuprada. Aconteceu num início de tarde, no coração do centro do Cairo, num elevador.

Um homem com cabelo preto curto entrou, lembra-se Warda. Eles não se olharam. "Eu estava lendo algumas mensagens no meu telefone”, disse ela. O elevador, grande o suficiente para quatro pessoas, parou de repente, e as luzes se apagaram. A eletricidade foi cortada, nada incomum em alguns bairros do Cairo. Eles chamaram o “bawab” - o zelador – mas ninguém respondeu.

“Então senti a mão do homem nas minhas calças. Eu pedi para ele parar, mas ele disse que era melhor eu ficar quieta ou ele tiraria suas facas”, disse ela, lutando contra as lágrimas. Ele abriu as calças e pressionou seu corpo contra ela por um tempo que pareceu durar horas, disse ela. Por sorte, a luz voltou. “Ele parou e me soltou. Eu simplesmente não queria olhá-lo no rosto.”

O elevador retornou ao térreo. Ele saiu, sem correr, e cumprimentou o bawab.

Warda, que pediu que seu sobrenome fosse ocultado, nunca reportou o incidente. No Egito – como na maior parte do mundo – as mulheres que sofrem assédio sexual ficam quietas; elas não querem correr o risco de serem culpadas ou humilhadas.

De acordo com organizações pelos direitos humanos e direitos das mulheres, pesquisas sugerem que centenas de mulheres egípcias são vítimas diárias de assédio sexual.

“Se falarmos em assédio verbal, então, é uma coisa pela qual praticamente toda mulher passa no Egito, e muitas mulheres nem pensam em denunciar isso”, disse Heba Morayef, pesquisadora egípcia da Human Rights Watch.

Um estudo de 2008 feito pelo Centro Egípcio Pelos Direitos das Mulheres, um grupo não-governamental, revelou que 83% das mulheres egípcias haviam reportado assédio sexual, e 62% dos homens egípcios admitiram ter assediado mulheres.

“Mas temos certeza de que os números são mais altos”, disse Mona Ezzat, da New Woman Foundation, um grupo de defesa com sede no Cairo. O telefone dela toca sem parar. Ela aconselha mulheres e coordena os esforços de 23 grupos que assistem mulheres em todo o Egito.

Heba Habib, uma estudante de direito do Cairo, disse que “não podia mais aceitar”. “Todos os dias, comentários sujos, e eles agarram quando você anda de ônibus.”

Uma vez, diz ela, um motorista de táxi começou a contar suas fantasias sexuais. “Eu fiquei com tanta vergonha e tentei superá-la dando risada”, disse a moça de 22 anos, colocando seus longos cabelos negros atrás da orelha esquerda. “Quando eu saí do carro e queria pagá-lo, vi que ele estava com as calças abaixadas e tinha se masturbado.”

Ela jogou o dinheiro no assento e foi embora. “Sinto-me cada dia menos como um ser humano.”

Habib se tornou colaboradora do Harassmpa, um site feito por voluntários e lançado em dezembro passado. Qualquer um que tenha visto ou presenciado assédio sexual pode reportar enviando uma mensagem de texto.

Em resposta, elas recebem ofertas de apoio e ajuda. “Esses relatos nos ajudam a construir um mapa, que é público na internet”, diz Engy Ghozlan, co-fundadora. “Nós apontamos onde são os lugares mais perigosos e que tipo de coisa nos foi relatada.”

Os homens também enviam textos, diz ela. Os 300 voluntários dão às mulheres assediadas o endereço dos centros que oferecem assistência psicológica e de outros tipos.

As atitudes em relação ao assédio e ao estupro são com frequência contra as vítimas, e as mulheres, em vez dos homens, são consideradas culpadas.

As 12 mulheres entrevistadas para este artigo e os grupos de defesa todos dizem que mesmo que a mulher reporte casos graves de assédio sexual, oficiais de polícia não costumam mostrar nenhuma sensibilidade. Em alguns casos, os policiais disseram às meninas que elas criariam problemas para si mesmas, que as pessoas as chamariam de prostitutas, e levariam vergonha para suas famílias se denunciassem o crime.

“Este é um problema muito sério de nossa sociedade”, disse Morayef, da Human Rights Watch. “As mulheres sabem que terão que lutar para levar seu caso adiante, e elas têm a sensação de que não conseguirão nada com isso, exceto culpa.”

Na pesquisa de 2008 feita pelo centro de mulheres, 53% dos homens egípcios disseram que as mulheres assediadas são responsáveis. Recentemente, uma mulher membro do movimento Irmandade Muçulmana sugeriu que as mulheres deveriam mudar sua forma de vestir, banindo roupas justas, curtas e sem mangas. Uma separação entre as mulheres e os homens também ajudaria, ela sugeriu.

“Isso é ridículo”, disse Ezzat, que usa um véu, blusas largas, sais e calças longas. “Não é uma questão de vestuário, porque muitas das mulheres assediadas usam véu, e tampouco é uma questão de religião ou religiosidade”, disse ela – os assediadores vêm de todos os bairros; há muçulmanos e cristãos cópticos.

Muitos grupos de mulheres no Egito participaram da revolta contra Hosni Mubarak, em parte porque esperavam por uma mudança para as mulheres. Em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Ezzat e outros membros do grupo voltaram para a Praça Tahrir para reivindicar mais direitos.

Alguns homens cercaram duas das integrantes mais jovens e “começaram a tocar em diferentes partes de seus corpos”, disse Ezzat, 37. As mulheres correram para pedir ajuda, e um soldado eventualmente interveio.

Em junho, uma jornalista egípcia foi atacada enquanto entrevistava manifestantes na Praça Tahrir. Um oficial de segurança a par do caso disse que um grupo de homens começou a chamá-la de “espiã judia alemã” e a rasgar suas roupas. Um policial eventualmente foi ajudá-la. (Em fevereiro, a jornalista de televisão norte-americana Lara Logan também foi atacada na Praça Tahrir.)

Todas as mulheres egípcias e ativistas entrevistadas dizem que estavam mais preocupadas com o futuro próximo. No Egito e em outros lugares da região, os homens são tradicionalmente os principais assalariados. Com o grande declínio do turismo depois da revolução e o número crescente de homens desempregados, as coisas podem piorar, dizem as mulheres.

“Alguns deles tentarão encontrar uma válvula de escape para sua raiva, e há uma grande chance de que sejamos nós, mulheres”, disse Lamya Lofty, 32, da New Woman Foundation.

Tradução: Eloise De Vylder
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2011/07/10/um-mal-diario-afeta-o-egito-o-assedio-sexual.jhtm

sábado, 11 de junho de 2011

Hombres que odian a las mujeres

Hombres que odian a las mujeres

Por lo general, los hombres aman a las mujeres. Pero hay hombres que odian a las mujeres.
Pese a odiar a las mujeres, como le pasa a todos los humanos, tienen necesidad de amor… por lo que muchos de ellos conviven con mujeres a los que acaban maltratando, insultando, dominando y haciendo la vida imposible.

Ahora que me siento a escribir, me doy cuenta que como colaboradora en un portal para mujeres; me gustaría escribir sobre otras temáticas; quiero decir, anhelaría que la realidad que nos rodea a “nosotras” sea más placentera, armónica, y satisfactoria.
Que no hubiera necesidad de crear artículos con información acerca de la violencia de género, las consecuencias del abandono emocional, infidelidades, traiciones, abusos, humillaciones. Tomo conciencia que osaría redactar fantasías, tips para que te liberes a tus sueños, listas de posibilidades para que sigas riendo, consejos para que puedas seguir desarrollando tu potencial interior.
Sin embargo, pasando revistas, la vida actual es un escenario de cotidianas violencias, de infracciones para el alma, que tienen la mayoría de las veces como escenario: la pareja.
Pienso, ¿Qué pasará en la cabeza de las personas que buscamos la mayor parte de nuestro tiempo el amor, y cuando lo tenemos lo dejamos ir? Si el amor es el bien más deseado, ¿por qué lo castigamos? ¿Por qué le huimos?
¿Por qué hay hombres capaces de escupir, golpear, e insultar a sus novias o esposas? ¿Por qué hay hombres que creen que golpear a una mujer es signo de masculinidad? ¿Por qué habrá hombres que engañan, se burlan y victimizan con sus parejas? ¿Por qué habrá tantos hombres que odian a nuestro género?
Investigando un poco, y con conocimiento de experiencias personales –propias y ajenas- pero todas cercanas, me topé con una palabra muy concurrida y escuchada: “misógino”.
Busque la etimología del vocablo para aclarar mis inquietudes y descubro que la misma deviene del griego “miso” que significa odiar y “gyné” que significa “mujer”, por ende “misógino es el que odia a las mujeres”.
La pregunta consiguiente es:
¿Por qué un hombre llega a odiar a una mujer?
Porque es la respuesta emocional que encuentra para protegerse de lo que teme. El misógino como cualquier otro ser humano, anhela ser amado pero a su vez teme ser abandonado o destruido emocionalmente por esa mujer.
En esa ambigüedad amor-temor se origina el odio. Para el misógino la mujer representa el poder; y el poder se desea, se aspira, se pretende porque no se tiene; pero así mismo se detesta, se reprocha por es inalcanzable. El poder es el instrumento que representa “lo que quiero y lo que no tengo”, lo que me recuerda “lo que quisiera y el temor de nunca poseerlo”.
La mujer para el misógino es la figura que puede satisfacer sus carencias emocionales y a la vez, reducirlo a nada. El misógino se basa en la creencia de que el amor es dependencia, y sufrimiento.
Si se entrega a esa mujer y la ama; ella lo abandonará, lo castigará; él perderá el control.
Por eso su mejor defensa es la estrategia de “desvirtuar el poder de la mujer”; utilizando como herramientas la humillación, los insultos, el desinterés, la indiferencia, los golpes. Busca avasallar el amor propio de su pareja para restarle poder; para “controlar”, para sentir lo que no tiene: “poder.”
De esta forma la mujer aplastada en su autoestima comenzará a depender de él, y se aferrará a la relación por temor a ser abandonada.
Sus conductas abusivas, humillantes, agresivas, ultrajantes tienen origen en las vivencias infantiles; en la historia del seno familiar, en la relación que sus padres tuvieron, en los códigos que les trasmitieron, en las vivencias.
Si este hombre nació en una familia donde los golpes e insultos hacia la mujer era moneda corriente, repetirá la historia; pues para él “eso es amor”. Su cosmovisión sobre las relaciones de pareja se dispara desde lo vivido en su hogar.
Los padres son protagonistas fundamentales en nuestras vidas; la madre es el contacto primerizo con el amor, y el padre con la primera experiencia de límites. En el caso de los hombres misóginos, “el odio surge” por imitación de la imagen paterna (padre misógino que detenta el poder, que todo lo puede, que se le respeta por temor) o por representación de la imagen materna (madre controladora). En ambos casos el niño busca identificarse con aquél que se arrogué el “poder/control”.
Cuando no existe un equilibrio entre los progenitores, los roles se invierten, los que tienen que cuidar requieren protección de quién tendrían que cuidar. Si la madre sufre, el niño siente que debe protegerla, convertirse en el hombre de la casa. Esta función no acorde a su edad, crea los resentimientos que en el futuro proyectará en sus mujeres.
Un misógino es el niño interior herido en el cuerpo de un hombre adulto; que no ha sido recompensado en sus necesidades de protección y dependencia; al que no se le ha permitido crecer, desarrollarse, expandirse. Un hombre que alberga un inmenso enojo, ira, bronca y odio hacia su madre; que años más tarde traslada a la mujeres; pues vive en él, el sentimiento latente del abandono que recibió cuando niño – madre víctima a la que debía proteger/madre sofocante que no le permitía ser – y se defiende a cualquier precio.
Autor: Chuchi González.
Coach Motivacional.
http://www.todamujeresbella.com/9338/hombres-que-odian-a-las-mujeres/