10/07/2010 - 07:00 - ATUALIZADO EM 10/07/2010 - 10:07
Sexo, mentiras e vídeo na internet
Um caso extraconjugal no interior de São Paulo cai na rede e vira um reality show visto por milhões. O que isso ensina sobre a privacidade na era digital
HUMBERTO MAIA JUNIOR, DE SOROCABA, E BRUNO FERRARI E CAMILA GUIMARÃES COM RODRIGO TURRER
A VINGADORA
Vivian de Oliveira, a advogada que gravou um vídeo em que extrai uma confissão da amante de seu marido. Sua atitude pode torná-la a vilã
Na noite de 27 de junho, a advogada Vivian Almeida de Oliveira, de 34 anos, colocou na internet, em sua página da rede de relacionamento Orkut, a prova de que seu marido, o comerciante Cícero Oliveira, de 54 anos, a traíra. As imagens escolhidas por Vivian não eram de um flagrante de adultério. Por dez minutos e 18 segundos, ela aparece num vídeo caseiro falando com sua melhor amiga, a comerciante Juliana Cordeiro, de 33 anos. A conversa se desenrola na casa de Vivian. O conteúdo é hipnótico.
Vivian vai mostrando à amiga as peças de um dossiê montado por ela mesma ao longo de dois meses. São cópias de e-mails trocados entre Cícero e Juliana que confirmam que os dois mantinham um caso havia cinco anos. O vídeo mostra o momento em que a esposa traída confronta a amiga com as evidências de sua impostura – e exige explicações. São cenas difíceis de assistir e, ao mesmo tempo, é inevitável chegar ao fim uma vez que se tenha começado. O vídeo atinge um pedaço escuro da alma humana em que se misturam curiosidade, indignação, violência e prazer.
Vivian disse a ÉPOCA que, ao fazer a gravação e colocá-la na internet, só queria mostrar à sociedade de Sorocaba, cidade do interior paulista onde vive, o verdadeiro caráter da ex-amiga, que é casada com o empresário Fábio Cordeiro, de 39 anos. Mas a conversa da mulher traída com a amante do marido termina mal. Aos poucos, Vivian vai perdendo o controle, até que passa a estapear, empurrar e, finalmente, chutar Juliana caída, enquanto a cobre de insultos. Tudo isso diante da câmera ligada. E oculta.
Uma semana depois do encontro, na noite da quinta-feira 8, as imagens constrangedoras já haviam sido vistas por pelo menos 1 milhão de pessoas na internet – e o drama privado de Vivian se tornara uma novela de domínio público. Cópias e paródias do vídeo ocuparam 16 das 20 posições de peças mais vistas no YouTube brasileiro. Dali, o caso transbordou para os jornais e para a televisão. No final da semana passada, caminhava rapidamente para tornar-se um dos episódios mais vistos e comentados da internet brasileira, ainda que não envolva pessoas famosas. A mistura de traição e agressão, apresentada em clima de reality show, fez do “barraco de Sorocaba”, como ficou conhecido na rede, um chamariz irresistível. E constitui um exemplo contundente de como a internet pode afetar a intimidade das pessoas de forma radical. No passado, já houve no Brasil situações assemelhadas (leia o quadro na página 56). Mas a audiência da internet não era tão grande, nem a capacidade de ver e distribuir vídeos pela rede estava tão disseminada. Tampouco eram fortes as redes sociais, que funcionaram neste caso como multiplicadoras do vídeo. A consequência é que os quatro envolvidos, até então anônimos, passaram por um julgamento público, distribuído em comentários pelo Twitter e outros fóruns virtuais.
A audiência popular condenou Juliana, que enganara tanto o marido quanto a amiga. Condenou Cícero, que enganara a mulher mantendo um caso com a melhor amiga dela. Condenou também Fábio, por ter sido passado para trás pela mulher e pelo amigo. O rapaz chegou a ter sua masculinidade questionada. Fotos de todos os protagonistas desse drama interiorano circularam pela internet junto com o vídeo e acompanhadas de comentários cada vez mais mordazes. Vivian, a protagonista, dividiu opiniões: há quem a considere maluca, pela agressão e por ter exposto na internet uma situação que deveria ser resolvida na intimidade. E há quem tenha visto nela uma heroína, capaz de confrontar a amante do marido. “Quis mostrar minha resposta à humilhação. Para verem que eu não sou uma coitada. Eu agi”, disse na quinta-feira, em seu escritório no centro de Sorocaba. Seu gesto pode vir a ter consequências.
O vídeo ganhou mais de 60 réplicas na internet. As pessoas que replicaram podem ser processadas
Vivian está sendo processada por Juliana, que registrou contra a ex-amiga uma queixa por lesão corporal. A vítima da traição conjugal poderá ser obrigada a indenizar a amiga que a enganou. “Fui traída dentro de minha própria casa por duas pessoas em quem confiava”, afirma. Os dois casais eram íntimos. “Fomos padrinhos de casamento deles, e Juliana é madrinha de um dos meus filhos.” Eram sempre vistos juntos em festas, bares e restaurantes de Sorocaba. Faziam viagens. Nem na lua de mel de Fábio e Juliana eles se separaram. “Passamos quase uma semana juntos no Recife. Depois, eles foram para Fernando de Noronha e nós (Vivian e Cícero) para Fortaleza”, diz Vivian. Os dois casais tinham apartamento no mesmo prédio no Guarujá e, há um ano, moram no mesmo condomínio.
“Se eu apenas contasse o que sabia, ninguém iria acreditar”, diz Vivian. Para ela, as pessoas não conseguiriam imaginar que Juliana, casada com um jovem rico, bonito e com boas relações na cidade, iria se envolver com Cícero, um homem de pouca estatura, enrugado, que pinta os cabelos de acaju e tenta esconder a calvície. “Meu marido não é nenhum modelo de beleza”, afirma Vivian. Por isso, ela precisaria da confissão gravada em vídeo para se vingar. A gravação original tem pouco mais de uma hora de duração. O que se tornou de conhecimento público foi uma versão editada de dez minutos, que termina com a agressão de Vivian contra Juliana. A parte que não foi ao ar na internet contém 50 minutos de discussão posterior à conversa e à agressão e envolve os dois maridos, que chegaram à casa depois. Vivian diz que se arrepende das agressões. E também de divulgar o vídeo. “Não deveria ter feito. Mas, na hora, a emoção falou mais forte. Divulguei o vídeo para o meu círculo de amigos”, diz. Poucas horas depois de colocar o vídeo na rede, Vivian foi convencida pela filha a removê-lo. Mas já era tarde. Ela admite ter sido ingênua quanto à repercussão que as imagens poderiam ganhar. “Não achei que tantas pessoas fossem se interessar.” Diz que usa a internet apenas para conversar com amigos que vivem em outras cidades e para auxiliar seu trabalho.
As suspeitas de que Cícero tinha um caso com Juliana surgiram no começo de maio, quando Vivian descobriu que os dois trocavam mensagens pelo MSN, o serviço de mensagens instantâneas da Microsoft. Ela e o marido discutiram por causa disso, e Vivian diz que se sentiu insultada. Pediu a Cícero que ele saísse de casa. E passou a segui-lo com uma câmera. Assim, teria flagrado vários momentos íntimos entre ele e Juliana. “Fiz papel de detetive”, afirma ela. No dia 10 de junho, aniversário de Cícero, ele a convidou para jantar e pediu para fazerem as pazes. “Ele chorou e se desculpou”, diz Vivian. Ela acreditava que a traição era algo recente. Sem querer o divórcio, e por pressão dos filhos, aceitou o marido de volta. Mas o trabalho de espionagem não parou. Vivian descobriu 985 e-mails de Juliana para Cícero e mais de 870 dele para a amante. Passou uma noite em claro lendo a correspondência. “Vi um e-mail em que ele dava os parabéns pelos cinco anos de namoro e chamando ela de ‘amor verdadeiro’.” As provas escritas e gravadas, porém, não lhe pareciam suficientes para o divórcio. Ela acreditava que os dois poderiam alegar que os e-mails não eram deles e as gravações poderiam não servir como prova porque foram feitas sem o conhecimento dos dois. “As provas eram contestáveis”, diz a advogada. Daí a ideia de gravar clandestinamente a confissão de Juliana. “Eu liguei para ela e disse: ‘Aí, Ju, tô em casa sozinha, tô mal. Você não pode vir aqui conversar?’ Ela disse: ‘Claro, tô subindo’.” O resto já se sabe.
O que o vídeo mostra
Depois de quase dez minutos de conversa, o acerto de contas vira pancadaria
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI154042-15224,00-SEXO+MENTIRAS+E+VIDEO+NA+INTERNET.html
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Vera Fischer: "Tem sexo porque eu não sou freira"
18/12/2010 - 09:35 - ATUALIZADO EM 18/12/2010 - 09:35
Vera Fischer: "Tem sexo porque eu não sou freira"
Vera Fischer estreia na literatura com dez volumes de ficção escritos à mão, em apenas um ano. Autobiografia? “Algumas pequenas coisinhas, sim”
NELITO FERNANDES
Vera Fischer fala rápido, atropela o entrevistador. Mal dá tempo de anotar. Ela escreve mais rápido ainda do que fala. Aos 59 anos, produziu dez livros em um ano. Tudo à mão. Não usa computador porque não tem paciência para aprender. “Tem secretária que pode usar para mim”, diz. A ex-miss, musa da TV e atriz escreve a lápis. “Eu gosto de sentir as palavras saindo. Ainda escrevo cartas para os amigos”, afirma. Seu livro de estreia, Serena, tem 244 páginas. A assessoria de Vera enviou seis capítulos a ÉPOCA. A nova autora diz que o livro completo não está pronto ainda e, por isso, não permite a reprodução de trechos. “As pessoas têm de ler tudo para saber o que é”, diz. Medo de críticas? “Não, o que interessa é o público. É para eles que eu escrevo, não para a crítica.”
Vera tem um estilo de escrita direto, que não se atém a descrições longas (“Ninguém tem paciência para ler livros muito grossos, só os aficionados de literatura”). Um dos personagens vai do aborto à morte, passando pela UTI, septicemia e falência múltipla dos órgãos em apenas seis linhas e meia. A estreante usa imagens comuns como “seu coração parecia estar tão apertado que mal conseguia respirar” e “as horas se arrastavam lentamente”.
Na entrevista que deu por telefone, Vera explica seu processo criativo, seus personagens e suas fontes de pesquisa. “Tem amor, carinho e paixão, mas não é um romance. É ficção.”
ENTREVISTA - VERA FISCHER
QUEM É
Catarinense, foi escolhida Miss Brasil em 1969, aos 18 anos. Ganhou fama pela beleza e pela vida pessoal tumultuada. Tem 59 anos e dois filhos
O QUE FEZ
Começou em pornochanchadas, mas construiu uma carreira premiada de atriz de televisão
O QUE ESCREVEU
Diz que escreveu dez livros de ficção em apenas um ano. Serena, de 244 páginas, está em processo de edição
ÉPOCA – Você publicou duas memórias, qual é a diferença entre escrever ficção e fazer autobiografia?
Vera Fischer – A diferença é que para fazer memória você tem de parar para lembrar.
ÉPOCA – E na ficção você se inspirou em quê? Há coisas suas nos personagens?
Vera – Algumas pequenas coisinhas, sim. Mas não posso dizer o que é. Eu sou muito diferente da Serena, porque ela é medrosa. Eu não sou medrosa. Não tenho medo de nada.
ÉPOCA – Como você conseguiu escrever dez livros em um ano? Isso é mais do que a obra da vida inteira de muitos escritores.
Vera – Uma vez eu pintei 200 quadros em um ano. E agora em um ano eu fiz dez livros. Eu não penso, não. Eu sento e ponho assim: capítulo um. E o capítulo um sai. E o que vai acontecer agora? É isso, pum. E agora? Agora vai ser aquilo. Não fico pensando no que vai acontecer, não faço espinha dorsal de livro, não. É tudo muito rápido. Meu pensamento e minha criatividade fluem.
ÉPOCA – Mas como foi a decisão de começar a escrever? Veio assim do nada?
Vera – Eu estava sem fazer teatro, sem novela. É incrível como quando você está sem fazer nada as coisas brotam. Não sou de ficar pensando muito, planejando muuuito. Meu pensamento não é planejado. Eu faço e depois vejo o que acontece. Sentei, escrevi os livros e depois procurei uma editora. Falei para uma assessora: “Eu fiz esses livros. E agora? O que eu faço com eles? Vamos ver se alguém quer publicar?”.
ÉPOCA – Algum escritor a influenciou?
Vera – Não, nenhum. Acho que meus livros são diferentes de tudo. Não fiz esforço para ser assim, saiu dessa maneira.
ÉPOCA – O que você gosta de ler?
Vera – Eu gosto de tudo. Eu adoro ler desde pequena. Eu roubava dinheiro da minha mãe quando eu tinha 13 anos para ler. Li de tudo. Minha favorita é a Yourcenar (Marguerite Yourcenar, escritora franco-belga).
ÉPOCA – Alguns escritores dizem que sofrem para escrever, que o processo é longo, a escolha das palavras. Você parece ter feito tudo muito facilmente...
Vera – Eu não sofri nada. Não tem esse negócio de ficar descrevendo tudo nos mínimos detalhes, não. Ninguém tem paciência para isso, para livro grosso, muito erudito, só os aficionados da literatura. Hoje em dia, com computador, as pessoas querem tudo rápido. Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido.
ÉPOCA – Você agora quer ser chamada de atriz ou de escritora?
Vera – Não posso dizer que sou escritora, sou uma contadora de histórias. Eu sou uma artista, antigamente eu era só atriz. Eu pinto, escrevo, faço vídeo. Sou uma artista mais completa.
ÉPOCA – Como é para alguém que se acostumou a interpretar textos dos outros passar a criar os textos?
Vera – Eu não interpreto. Eu vivo o personagem. Não faço construção, não sou assim. Eu vou lá e faço. Aquela lá sou eu fazendo. Meus livros também são assim.
ÉPOCA – Do que você mais gostou ao escrever?
Vera – É gostoso inventar personagem e eu inventei vários. Todo livro tem uma viagem ao estrangeiro. Este primeiro tem Marrocos e Caribe. Eu pesquiso esses lugares, os vinhos que eles bebem.
"Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros
são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido"
ÉPOCA – Você pesquisa em livros, na internet?
Vera – Pesquiso muito naquele guia Publifolha. Tenho muitos livros de viagem. É muito interessante colocar meus personagens em lugares que eu nem conheço, como Praga, por exemplo. O hotel existe, o restaurante existe, isso é uma coisa que não tem muito nos outros livros.
ÉPOCA – Pesquisa no Google também?
Vera – Não uso computador porque eu não sei e não quero aprender. Tem secretária que passa para o computador para mim. Eu escrevi tudo à mão, com lápis. Quando eu escrevo à mão, é como se as palavras saíssem de mim, tem outro sentido. Quando eu vejo assim impressa na tela não parece que fui eu.
ÉPOCA – Eu li seis capítulos do livro e vi uma agressão, uma tentativa de estupro, negociação de peças preciosas, sequestro e fugas. Acontece muita coisa, não é?
Vera – Ah, acontece. Não posso contar, senão perde a graça. Mas tem de acontecer. Não pode ficar duas páginas só descrevendo. Eu gosto de ver coisas acontecendo, como um filme. O texto é meio falado, é bacana, é natural.
ÉPOCA – Não deu para perceber bem qual é o gênero. Como eu classifico? É um policial?
Vera – Não é suspense, policial, drama, nada. Pode ser catalogado no máximo como romance. Tem amor, carinho, paixão, mas não é um romance. É ficção.
ÉPOCA – Tem muito sexo também.
Vera – Tem porque eu não sou freira. Não posso escrever que eles deram um beijo e viveram felizes para sempre. Todos os livros têm sexo. Isso existe na vida de qualquer pessoa, uma transa. Em um livro eu escrevi uma transa homossexual. Eu nunca vi, nem sei como é, mas a gente inventa as coisas.
ÉPOCA – Você disse que seus livros não são para pobres?
Vera – Não. Distorceram o que eu disse. Eu já vi que você não pode dar entrevista para certos veículos porque eles distorcem tudo o que você diz. O que eu disse é que meu livro não tem pobre. Eles vão à luta e vencem na vida.
ÉPOCA – Mas por que só esse universo?
Vera – Que universo?
ÉPOCA – Da riqueza.
Vera – Eu gosto de mostrar que as pessoas que lutam se dão bem.
ÉPOCA – Mas não há um miserável?
Vera – Tem, no meu outro livro tem uma pessoa que veio da favela. Eu não tenho nenhum problema em escrever sobre pobre. Os pobres também vão gostar. Porque meus personagens não são deuses, não são ícones, as pessoas vão se identificar. Eles são bons e maus, ninguém é só bonzinho. Tem os só maus, mas só bonzinho não tem.
ÉPOCA – Mas na vida real há gente que é só má?
Vera – Eu acho que sim.
ÉPOCA – E só boa, não há?
Vera – Só boa deve ter também, mas eu não conheço. A Madre Tereza (de Calcutá, morta em 1997) deve ser só boa, né?
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI196824-15228,00-VERA+FISCHER+TEM+SEXO+PORQUE+EU+NAO+SOU+FREIRA.html
Vera Fischer: "Tem sexo porque eu não sou freira"
Vera Fischer estreia na literatura com dez volumes de ficção escritos à mão, em apenas um ano. Autobiografia? “Algumas pequenas coisinhas, sim”
NELITO FERNANDES
Vera Fischer fala rápido, atropela o entrevistador. Mal dá tempo de anotar. Ela escreve mais rápido ainda do que fala. Aos 59 anos, produziu dez livros em um ano. Tudo à mão. Não usa computador porque não tem paciência para aprender. “Tem secretária que pode usar para mim”, diz. A ex-miss, musa da TV e atriz escreve a lápis. “Eu gosto de sentir as palavras saindo. Ainda escrevo cartas para os amigos”, afirma. Seu livro de estreia, Serena, tem 244 páginas. A assessoria de Vera enviou seis capítulos a ÉPOCA. A nova autora diz que o livro completo não está pronto ainda e, por isso, não permite a reprodução de trechos. “As pessoas têm de ler tudo para saber o que é”, diz. Medo de críticas? “Não, o que interessa é o público. É para eles que eu escrevo, não para a crítica.”
Vera tem um estilo de escrita direto, que não se atém a descrições longas (“Ninguém tem paciência para ler livros muito grossos, só os aficionados de literatura”). Um dos personagens vai do aborto à morte, passando pela UTI, septicemia e falência múltipla dos órgãos em apenas seis linhas e meia. A estreante usa imagens comuns como “seu coração parecia estar tão apertado que mal conseguia respirar” e “as horas se arrastavam lentamente”.
Na entrevista que deu por telefone, Vera explica seu processo criativo, seus personagens e suas fontes de pesquisa. “Tem amor, carinho e paixão, mas não é um romance. É ficção.”
ENTREVISTA - VERA FISCHER
QUEM É
Catarinense, foi escolhida Miss Brasil em 1969, aos 18 anos. Ganhou fama pela beleza e pela vida pessoal tumultuada. Tem 59 anos e dois filhos
O QUE FEZ
Começou em pornochanchadas, mas construiu uma carreira premiada de atriz de televisão
O QUE ESCREVEU
Diz que escreveu dez livros de ficção em apenas um ano. Serena, de 244 páginas, está em processo de edição
ÉPOCA – Você publicou duas memórias, qual é a diferença entre escrever ficção e fazer autobiografia?
Vera Fischer – A diferença é que para fazer memória você tem de parar para lembrar.
ÉPOCA – E na ficção você se inspirou em quê? Há coisas suas nos personagens?
Vera – Algumas pequenas coisinhas, sim. Mas não posso dizer o que é. Eu sou muito diferente da Serena, porque ela é medrosa. Eu não sou medrosa. Não tenho medo de nada.
ÉPOCA – Como você conseguiu escrever dez livros em um ano? Isso é mais do que a obra da vida inteira de muitos escritores.
Vera – Uma vez eu pintei 200 quadros em um ano. E agora em um ano eu fiz dez livros. Eu não penso, não. Eu sento e ponho assim: capítulo um. E o capítulo um sai. E o que vai acontecer agora? É isso, pum. E agora? Agora vai ser aquilo. Não fico pensando no que vai acontecer, não faço espinha dorsal de livro, não. É tudo muito rápido. Meu pensamento e minha criatividade fluem.
ÉPOCA – Mas como foi a decisão de começar a escrever? Veio assim do nada?
Vera – Eu estava sem fazer teatro, sem novela. É incrível como quando você está sem fazer nada as coisas brotam. Não sou de ficar pensando muito, planejando muuuito. Meu pensamento não é planejado. Eu faço e depois vejo o que acontece. Sentei, escrevi os livros e depois procurei uma editora. Falei para uma assessora: “Eu fiz esses livros. E agora? O que eu faço com eles? Vamos ver se alguém quer publicar?”.
ÉPOCA – Algum escritor a influenciou?
Vera – Não, nenhum. Acho que meus livros são diferentes de tudo. Não fiz esforço para ser assim, saiu dessa maneira.
ÉPOCA – O que você gosta de ler?
Vera – Eu gosto de tudo. Eu adoro ler desde pequena. Eu roubava dinheiro da minha mãe quando eu tinha 13 anos para ler. Li de tudo. Minha favorita é a Yourcenar (Marguerite Yourcenar, escritora franco-belga).
ÉPOCA – Alguns escritores dizem que sofrem para escrever, que o processo é longo, a escolha das palavras. Você parece ter feito tudo muito facilmente...
Vera – Eu não sofri nada. Não tem esse negócio de ficar descrevendo tudo nos mínimos detalhes, não. Ninguém tem paciência para isso, para livro grosso, muito erudito, só os aficionados da literatura. Hoje em dia, com computador, as pessoas querem tudo rápido. Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido.
ÉPOCA – Você agora quer ser chamada de atriz ou de escritora?
Vera – Não posso dizer que sou escritora, sou uma contadora de histórias. Eu sou uma artista, antigamente eu era só atriz. Eu pinto, escrevo, faço vídeo. Sou uma artista mais completa.
ÉPOCA – Como é para alguém que se acostumou a interpretar textos dos outros passar a criar os textos?
Vera – Eu não interpreto. Eu vivo o personagem. Não faço construção, não sou assim. Eu vou lá e faço. Aquela lá sou eu fazendo. Meus livros também são assim.
ÉPOCA – Do que você mais gostou ao escrever?
Vera – É gostoso inventar personagem e eu inventei vários. Todo livro tem uma viagem ao estrangeiro. Este primeiro tem Marrocos e Caribe. Eu pesquiso esses lugares, os vinhos que eles bebem.
"Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros
são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido"
ÉPOCA – Você pesquisa em livros, na internet?
Vera – Pesquiso muito naquele guia Publifolha. Tenho muitos livros de viagem. É muito interessante colocar meus personagens em lugares que eu nem conheço, como Praga, por exemplo. O hotel existe, o restaurante existe, isso é uma coisa que não tem muito nos outros livros.
ÉPOCA – Pesquisa no Google também?
Vera – Não uso computador porque eu não sei e não quero aprender. Tem secretária que passa para o computador para mim. Eu escrevi tudo à mão, com lápis. Quando eu escrevo à mão, é como se as palavras saíssem de mim, tem outro sentido. Quando eu vejo assim impressa na tela não parece que fui eu.
ÉPOCA – Eu li seis capítulos do livro e vi uma agressão, uma tentativa de estupro, negociação de peças preciosas, sequestro e fugas. Acontece muita coisa, não é?
Vera – Ah, acontece. Não posso contar, senão perde a graça. Mas tem de acontecer. Não pode ficar duas páginas só descrevendo. Eu gosto de ver coisas acontecendo, como um filme. O texto é meio falado, é bacana, é natural.
ÉPOCA – Não deu para perceber bem qual é o gênero. Como eu classifico? É um policial?
Vera – Não é suspense, policial, drama, nada. Pode ser catalogado no máximo como romance. Tem amor, carinho, paixão, mas não é um romance. É ficção.
ÉPOCA – Tem muito sexo também.
Vera – Tem porque eu não sou freira. Não posso escrever que eles deram um beijo e viveram felizes para sempre. Todos os livros têm sexo. Isso existe na vida de qualquer pessoa, uma transa. Em um livro eu escrevi uma transa homossexual. Eu nunca vi, nem sei como é, mas a gente inventa as coisas.
ÉPOCA – Você disse que seus livros não são para pobres?
Vera – Não. Distorceram o que eu disse. Eu já vi que você não pode dar entrevista para certos veículos porque eles distorcem tudo o que você diz. O que eu disse é que meu livro não tem pobre. Eles vão à luta e vencem na vida.
ÉPOCA – Mas por que só esse universo?
Vera – Que universo?
ÉPOCA – Da riqueza.
Vera – Eu gosto de mostrar que as pessoas que lutam se dão bem.
ÉPOCA – Mas não há um miserável?
Vera – Tem, no meu outro livro tem uma pessoa que veio da favela. Eu não tenho nenhum problema em escrever sobre pobre. Os pobres também vão gostar. Porque meus personagens não são deuses, não são ícones, as pessoas vão se identificar. Eles são bons e maus, ninguém é só bonzinho. Tem os só maus, mas só bonzinho não tem.
ÉPOCA – Mas na vida real há gente que é só má?
Vera – Eu acho que sim.
ÉPOCA – E só boa, não há?
Vera – Só boa deve ter também, mas eu não conheço. A Madre Tereza (de Calcutá, morta em 1997) deve ser só boa, né?
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI196824-15228,00-VERA+FISCHER+TEM+SEXO+PORQUE+EU+NAO+SOU+FREIRA.html
Sexo e literatura
23/10/2010 - 00:04 - ATUALIZADO EM 25/10/2010 - 11:58
Sexo e literatura
Com "Memórias do Condado de Hecate", o célebre crítico Edmund Wilson foi acusado de pornografia
CADÃO VOLPATO
Edmund Wilson era um homem de apetites incomuns. Nos anos 20 e 30, poderia passar o dia inteiro trabalhando numa miscelânea de artigos brilhantes sobre vida e arte em Nova York e depois esticar para uma noitada num dancing, em geral regada a bebida barata. Além de beber e comer generosamente, queria abarcar o mundo com a força e o vigor do pensamento. Foi dos críticos mais lúcidos e respeitados de sua época, homem capaz de pontos de vista generosos e surpreendentes e um dos primeiros a ler Ulysses, de James Joyce, e Terra Devastada, de T.S. Eliot, marcos da vanguarda. Experimentou a poesia, o romance e o conto (em todos, se não foi um mestre, tentou, pelo menos, caminhos nada óbvios). Mas foi no ensaio que sua mente se expandiu nas direções mais marcantes: Rumo à Estação Finlândia, um "romance de idéias" sobre socialismo e Revolução Russa, e O Castelo de Axel, um estudo indispensável sobre o simbolismo. Foi sempre original.
Seus diários, reunidos em parte no volume Os Anos 20, póstumo, contêm anotações de todo tipo, de aventuras gastronômicas a comentários sobre fachadas e paisagens. Mas sobretudo falam de gente. Por suas páginas desfilam os amigos Scott Fitzgerald e e.e. cummings (que assinava em minúsculas) e poetas como a lendária Edna St. Vincent Millay, um grande, fantasioso e conturbado amor do jovem Wilson. O apetite sexual do escritor também ocupa largos espaços no livro. Suas descrições sexuais, detalhistas mas também poéticas, levaram aos tribunais aquele que ele próprio considerava seu melhor livro, Memórias do Condado de Hecate, publicado nos Estados Unidos em 1946, mas banido até 1959. São seis contos fortes, sendo o mais impressionante "A princesa dos cabelos dourados", em que ele escreve sobre um romance com duas mulheres. Uma delas, Anna, dançarina, aparece com o mesmo nome nos diários. Aliás, algumas cenas inteiras da história foram arrancadas da realidade, o que o torna ainda mais fascinante. Os contos de Memórias do Condado de Hecate mostram que Edmund Wilson não separava a literatura da vida. Ele as tratava com a mesma intensa voracidade.
Título
Memórias do Condado de Hecate
Autor
Edmund Wilson
Editora
Companhia das Letras
Preço e páginas
R$ 31/414
PERFIL
Edmund Wilson
Nascimento e morte
1895, em Nova Jersey, EUA; morreu em 1972.
Universidade
Estudou em Princeton (1912-1916). Scott Fitzgerald foi seu colega.
Evento sentimental REm 1920, conhece a poetisa Edna Millay, primeiro grande amor.
Principais livros
Rumo à Estação Finlândia, O Castelo de Axel e I Thought of Daisy.
"Disse que usava os calções para se proteger dos rapazes na 'escola de dança', que por vezes saíam com ela depois do encerramento: 'Quando tocam sua pele nua, ficam loucos', disse, 'e então aqui estou eu sem os calções, com você!' Estava mais para circunspecta sobre o fato, mas consegui fazer com que sorrisse ao lhe dizer que ficava bonita com o rosto ruborizado."
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI181841-15220,00-SEXO+E+LITERATURA.html
Sexo e literatura
Com "Memórias do Condado de Hecate", o célebre crítico Edmund Wilson foi acusado de pornografia
CADÃO VOLPATO
Edmund Wilson era um homem de apetites incomuns. Nos anos 20 e 30, poderia passar o dia inteiro trabalhando numa miscelânea de artigos brilhantes sobre vida e arte em Nova York e depois esticar para uma noitada num dancing, em geral regada a bebida barata. Além de beber e comer generosamente, queria abarcar o mundo com a força e o vigor do pensamento. Foi dos críticos mais lúcidos e respeitados de sua época, homem capaz de pontos de vista generosos e surpreendentes e um dos primeiros a ler Ulysses, de James Joyce, e Terra Devastada, de T.S. Eliot, marcos da vanguarda. Experimentou a poesia, o romance e o conto (em todos, se não foi um mestre, tentou, pelo menos, caminhos nada óbvios). Mas foi no ensaio que sua mente se expandiu nas direções mais marcantes: Rumo à Estação Finlândia, um "romance de idéias" sobre socialismo e Revolução Russa, e O Castelo de Axel, um estudo indispensável sobre o simbolismo. Foi sempre original.
Seus diários, reunidos em parte no volume Os Anos 20, póstumo, contêm anotações de todo tipo, de aventuras gastronômicas a comentários sobre fachadas e paisagens. Mas sobretudo falam de gente. Por suas páginas desfilam os amigos Scott Fitzgerald e e.e. cummings (que assinava em minúsculas) e poetas como a lendária Edna St. Vincent Millay, um grande, fantasioso e conturbado amor do jovem Wilson. O apetite sexual do escritor também ocupa largos espaços no livro. Suas descrições sexuais, detalhistas mas também poéticas, levaram aos tribunais aquele que ele próprio considerava seu melhor livro, Memórias do Condado de Hecate, publicado nos Estados Unidos em 1946, mas banido até 1959. São seis contos fortes, sendo o mais impressionante "A princesa dos cabelos dourados", em que ele escreve sobre um romance com duas mulheres. Uma delas, Anna, dançarina, aparece com o mesmo nome nos diários. Aliás, algumas cenas inteiras da história foram arrancadas da realidade, o que o torna ainda mais fascinante. Os contos de Memórias do Condado de Hecate mostram que Edmund Wilson não separava a literatura da vida. Ele as tratava com a mesma intensa voracidade.
Título
Memórias do Condado de Hecate
Autor
Edmund Wilson
Editora
Companhia das Letras
Preço e páginas
R$ 31/414
PERFIL
Edmund Wilson
Nascimento e morte
1895, em Nova Jersey, EUA; morreu em 1972.
Universidade
Estudou em Princeton (1912-1916). Scott Fitzgerald foi seu colega.
Evento sentimental REm 1920, conhece a poetisa Edna Millay, primeiro grande amor.
Principais livros
Rumo à Estação Finlândia, O Castelo de Axel e I Thought of Daisy.
"Disse que usava os calções para se proteger dos rapazes na 'escola de dança', que por vezes saíam com ela depois do encerramento: 'Quando tocam sua pele nua, ficam loucos', disse, 'e então aqui estou eu sem os calções, com você!' Estava mais para circunspecta sobre o fato, mas consegui fazer com que sorrisse ao lhe dizer que ficava bonita com o rosto ruborizado."
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI181841-15220,00-SEXO+E+LITERATURA.html
O que é sexo normal?
27/02/2010 - 00:39 - ATUALIZADO EM 27/02/2010 - 01:03
O que é sexo normal?
O manual da psiquiatria está sendo revisto. Entre os novos distúrbios deverá estar o impulso incontrolável de fazer sexo
FERNANDA COLAVITTI E RODRIGO TURRER
AMARRADA
Praticante de sadomasoquismo imobilizada por uma técnica japonesa, em um clube BDSM de São Paulo. Prazer ou distúrbio?
A paulistana Priscila S., de 49 anos, considera sua vida absolutamente normal. Ela dá aulas de inglês, faz ginástica, gosta de ir ao teatro e a bares e restaurantes com o marido e os amigos. Priscila diz que seu casamento sempre foi ótimo e está ainda melhor desde 2000, depois que o casal descobriu o BDSM, sigla para a expressão Bondage, Disciplina, Sadismo e Masoquismo. Os adeptos da prática gostam de dominar ou ser submissos para atingir o prazer sexual, o que pode ou não envolver dor. Há os que, como Priscila, se excitam ao ser amarrados ou ficar pendurados nus por horas sendo observados. E aqueles que, como seu marido, sentem prazer em amarrar, dominar e, às vezes, dar mais do que uns tapinhas. Tudo é feito com o consentimento do outro. “É uma sensação indescritível de bem-estar”, afirma a professora. A prática que dá prazer a Priscila é classificada como distúrbio psiquiátrico pela Associação de Psiquiatria Americana (APA). A entidade elabora o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais (DSM), referência para médicos de todo o mundo.
Publicado em 1952 e atualizado pela quarta e última vez em 1994 (houve apenas uma revisão de texto em 2000), o documento de 943 páginas, que descreve cerca de 300 distúrbios psiquiátricos – entre eles os sexuais –, está sendo reformulado. O DSM-5 será publicado em 2013, mas a lista com as propostas dos comportamentos que passam a ser considerados anormais, os que deixam de ser e os que se mantêm foi divulgada em fevereiro. Aqueles que, como Priscila, não concordam com a permanência das práticas de BDSM no manual, como está sendo proposto, ou com qualquer outro item da lista, poderão se manifestar. O rascunho ficará disponível na internet (www.dsm5.org) até abril.
Se depender do apoio de maridos pegos sobre a cerca, uma das propostas que deve fazer sucesso é transformar o impulso sexual excessivo – ou compulsão sexual – oficialmente em transtorno psiquiátrico. Estima-se que o problema – caracterizado pela obsessão incontrolável pelo ato sexual, capaz de prejudicar a capacidade de concentração e de dedicação às tarefas do dia a dia e comprometer o trabalho, a saúde e os relacionamentos da pessoa – afete cerca de 6% da população dos Estados Unidos. Mesmo assim, tal impulso incontrolável é visto com certa desconfiança, dada a quantidade de homens que já apelaram a ele para justificar suas aventuras sexuais fora do casamento. Depois de antecessores famosos como os atores Michael Douglas e David Duchovny, o compulsivo da vez é Tiger Woods, que deu uma entrevista coletiva se desculpando por seu problema incontrolável na semana passada. O campeão de golfe passou um tempo internado para tratar da suposta compulsão sexual depois que vieram à tona seu caso extraconjugal com uma garçonete de Nova York e aventuras com pelo menos uma dezena de outras mulheres.
Estima-se que a hipersexualidade prejudique
a vida de 6% da população americana
A vantagem de incluir no novo manual uma doença que já é tratada pela medicina, segundo o psiquiatra Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, é poder estudá-la mais detalhadamente e descobrir quais tratamentos e intervenções dão melhores resultados. No caso da hipersexualidade, isso também poderá aumentar a credibilidade dos pacientes. “Mas pode ter como efeito colateral mais justificativas médicas para casos de adultério”, diz. De acordo com Hetem, mais controversa do que a proposta de incluir a hipersexualidade no rol das doenças psiquiátricas é a que pode servir de argumento para livrar estupradores da cadeia. Ele diz que essa é a segunda vez que se considera incluir no DSM o Transtorno Obsessivo Coercivo, definido como “fantasias e desejos intensos com a possibilidade de forçar outra pessoa a fazer sexo”. A primeira foi em 1984, na terceira revisão do documento. A inclusão foi rejeitada, pois os responsáveis concluíram que seria impossível validar de maneira confiável o que diferenciava os estupradores doentes dos antissociais. A proposta atual continua com a mesma dificuldade. Mesmo os especialistas que não são contrários a ela, como o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, da Unifesp, acreditam que ela deve ser barrada novamente. “O conceito é bom, não me oponho. Nem toda pessoa que comete estupro tem personalidade amoral, a maior parte sofre com o que está fazendo”, afirma. “Mas é fato que qualquer estuprador pego vai alegar o transtorno. E o diagnóstico é feito com base no relato do paciente.”
Comportamentos sexuais só devem ser tratados quando
prejudicam a vida de alguém, dizem psiquiatras
Um dos grandes problemas de transformar comportamentos em distúrbios mentais é definir o limite entre a normalidade e o excêntrico, o inofensivo e o prejudicial. Em relação ao sexo, quais práticas são naturais e quais precisam de intervenção médica? Com base em que isso é definido? O conceito de saudável para a Organização Mundial da Saúde (OMS) define-se pelo “bem-estar biopsicossocial do ser humano”. Guiados por essa definição, os profissionais que estudam a mente humana dizem que comportamentos sexuais só precisam ser tratados quando afetam negativamente a vida do indivíduo ou dos que se relacionam com ele. “Se a pessoa não sofrer e não prejudicar terceiros, não é uma patologia”, diz Ronaldo Pamplona, psiquiatra e sexólogo, autor do livro Os 11 sexos, as múltiplas faces da sexualidade humana. O objetivo do DSM, portanto, é apenas servir como base para o diagnóstico e a identificação de um distúrbio.
“A partir do reconhecimento do problema é possível conduzir um tratamento não para curar, mas para reduzir o sofrimento da pessoa.” E apenas quando este for o desejo do indivíduo, como foi o do advogado paulistano que prefere ser identificado como Márcio (nome adotado para proteger sua identidade). Ele é crossdresser, alguém com compulsão de se vestir e se portar como mulher, e fez 15 anos de terapia. Aos 46, casado, com uma filha, profissional de sucesso, leva uma vida tranquila. Duas vezes por semana ele se transforma em Márcia, em um apartamento que mantém no centro da cidade. “Não me sinto doente. Sou diferente dos padrões morais e éticos da sociedade”, diz. “O fato de eu não poder pôr para fora meus sentimentos é que me causava problemas, mas a terapia me ajudou a me aceitar.” O comportamento do advogado está descrito na atual versão do DSM, no capítulo das “parafilias”, definidas como preferências ou obsessões por práticas sexuais socialmente não aceitas. A proposta é que continue no DSM-5.
Faça o teste e descubra se você sofre de transtorno hipersexual
Márcio tem duas visões distintas sobre a lista de parafilias do manual psiquiátrico, que também inclui – e deverá manter – o voyeurismo (obtenção de prazer sexual através da observação de outras pessoas) e o fetichismo (uso compulsivo de objetos ou partes do corpo como estímulo à satisfação sexual.). Como advogado, é contra a retirada de algumas delas da classificação. Na Justiça, é preciso comprovar a “doença” para ter direito a atendimento médico público – inclusive para a operação de mudança de sexo em transgêneros. Como crossdresser, não acredita na necessidade de estar incluído numa lista de distúrbios. “Os comportamentos desviantes têm de ser analisados caso a caso, não precisam estar numa lista”, diz.
A lista é necessária, afirmam os médicos, porque ela vai orientar os diagnósticos clínicos e a pesquisa científica. Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, a classificação ajuda a normatizar. “Um psiquiatra recém-formado se baseia nela até aprender todas as características que fazem parte de determinado quadro clínico”, diz. Daí a necessidade das revisões periódicas. Um psiquiatra que estudou há 30 anos aprendeu que a pedofilia era um distúrbio exclusivamente masculino. Não é verdade, hoje se sabe. Até 1970, a homossexualidade era tratada como doença e fazia parte do DSM. Talvez não tivesse permanecido ali por tanto tempo se os homossexuais tivessem tido a oportunidade de se manifestar, como agora podem fazer os sadomasoquistas, os crossdressers e todos os que se identificarem na lista que está sendo proposta e não concordarem com ela. “Ainda que a decisão final caiba ao grupo de pesquisadores envolvidos na revisão, tenho certeza de que a opinião pública vai pesar”, diz o psiquiatra Luiz Alberto Hetem.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI124233-15228,00-O+QUE+E+SEXO+NORMAL.html
O que é sexo normal?
O manual da psiquiatria está sendo revisto. Entre os novos distúrbios deverá estar o impulso incontrolável de fazer sexo
FERNANDA COLAVITTI E RODRIGO TURRER
AMARRADA
Praticante de sadomasoquismo imobilizada por uma técnica japonesa, em um clube BDSM de São Paulo. Prazer ou distúrbio?
A paulistana Priscila S., de 49 anos, considera sua vida absolutamente normal. Ela dá aulas de inglês, faz ginástica, gosta de ir ao teatro e a bares e restaurantes com o marido e os amigos. Priscila diz que seu casamento sempre foi ótimo e está ainda melhor desde 2000, depois que o casal descobriu o BDSM, sigla para a expressão Bondage, Disciplina, Sadismo e Masoquismo. Os adeptos da prática gostam de dominar ou ser submissos para atingir o prazer sexual, o que pode ou não envolver dor. Há os que, como Priscila, se excitam ao ser amarrados ou ficar pendurados nus por horas sendo observados. E aqueles que, como seu marido, sentem prazer em amarrar, dominar e, às vezes, dar mais do que uns tapinhas. Tudo é feito com o consentimento do outro. “É uma sensação indescritível de bem-estar”, afirma a professora. A prática que dá prazer a Priscila é classificada como distúrbio psiquiátrico pela Associação de Psiquiatria Americana (APA). A entidade elabora o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais (DSM), referência para médicos de todo o mundo.
Publicado em 1952 e atualizado pela quarta e última vez em 1994 (houve apenas uma revisão de texto em 2000), o documento de 943 páginas, que descreve cerca de 300 distúrbios psiquiátricos – entre eles os sexuais –, está sendo reformulado. O DSM-5 será publicado em 2013, mas a lista com as propostas dos comportamentos que passam a ser considerados anormais, os que deixam de ser e os que se mantêm foi divulgada em fevereiro. Aqueles que, como Priscila, não concordam com a permanência das práticas de BDSM no manual, como está sendo proposto, ou com qualquer outro item da lista, poderão se manifestar. O rascunho ficará disponível na internet (www.dsm5.org) até abril.
Se depender do apoio de maridos pegos sobre a cerca, uma das propostas que deve fazer sucesso é transformar o impulso sexual excessivo – ou compulsão sexual – oficialmente em transtorno psiquiátrico. Estima-se que o problema – caracterizado pela obsessão incontrolável pelo ato sexual, capaz de prejudicar a capacidade de concentração e de dedicação às tarefas do dia a dia e comprometer o trabalho, a saúde e os relacionamentos da pessoa – afete cerca de 6% da população dos Estados Unidos. Mesmo assim, tal impulso incontrolável é visto com certa desconfiança, dada a quantidade de homens que já apelaram a ele para justificar suas aventuras sexuais fora do casamento. Depois de antecessores famosos como os atores Michael Douglas e David Duchovny, o compulsivo da vez é Tiger Woods, que deu uma entrevista coletiva se desculpando por seu problema incontrolável na semana passada. O campeão de golfe passou um tempo internado para tratar da suposta compulsão sexual depois que vieram à tona seu caso extraconjugal com uma garçonete de Nova York e aventuras com pelo menos uma dezena de outras mulheres.
Estima-se que a hipersexualidade prejudique
a vida de 6% da população americana
A vantagem de incluir no novo manual uma doença que já é tratada pela medicina, segundo o psiquiatra Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, é poder estudá-la mais detalhadamente e descobrir quais tratamentos e intervenções dão melhores resultados. No caso da hipersexualidade, isso também poderá aumentar a credibilidade dos pacientes. “Mas pode ter como efeito colateral mais justificativas médicas para casos de adultério”, diz. De acordo com Hetem, mais controversa do que a proposta de incluir a hipersexualidade no rol das doenças psiquiátricas é a que pode servir de argumento para livrar estupradores da cadeia. Ele diz que essa é a segunda vez que se considera incluir no DSM o Transtorno Obsessivo Coercivo, definido como “fantasias e desejos intensos com a possibilidade de forçar outra pessoa a fazer sexo”. A primeira foi em 1984, na terceira revisão do documento. A inclusão foi rejeitada, pois os responsáveis concluíram que seria impossível validar de maneira confiável o que diferenciava os estupradores doentes dos antissociais. A proposta atual continua com a mesma dificuldade. Mesmo os especialistas que não são contrários a ela, como o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, da Unifesp, acreditam que ela deve ser barrada novamente. “O conceito é bom, não me oponho. Nem toda pessoa que comete estupro tem personalidade amoral, a maior parte sofre com o que está fazendo”, afirma. “Mas é fato que qualquer estuprador pego vai alegar o transtorno. E o diagnóstico é feito com base no relato do paciente.”
Comportamentos sexuais só devem ser tratados quando
prejudicam a vida de alguém, dizem psiquiatras
Um dos grandes problemas de transformar comportamentos em distúrbios mentais é definir o limite entre a normalidade e o excêntrico, o inofensivo e o prejudicial. Em relação ao sexo, quais práticas são naturais e quais precisam de intervenção médica? Com base em que isso é definido? O conceito de saudável para a Organização Mundial da Saúde (OMS) define-se pelo “bem-estar biopsicossocial do ser humano”. Guiados por essa definição, os profissionais que estudam a mente humana dizem que comportamentos sexuais só precisam ser tratados quando afetam negativamente a vida do indivíduo ou dos que se relacionam com ele. “Se a pessoa não sofrer e não prejudicar terceiros, não é uma patologia”, diz Ronaldo Pamplona, psiquiatra e sexólogo, autor do livro Os 11 sexos, as múltiplas faces da sexualidade humana. O objetivo do DSM, portanto, é apenas servir como base para o diagnóstico e a identificação de um distúrbio.
“A partir do reconhecimento do problema é possível conduzir um tratamento não para curar, mas para reduzir o sofrimento da pessoa.” E apenas quando este for o desejo do indivíduo, como foi o do advogado paulistano que prefere ser identificado como Márcio (nome adotado para proteger sua identidade). Ele é crossdresser, alguém com compulsão de se vestir e se portar como mulher, e fez 15 anos de terapia. Aos 46, casado, com uma filha, profissional de sucesso, leva uma vida tranquila. Duas vezes por semana ele se transforma em Márcia, em um apartamento que mantém no centro da cidade. “Não me sinto doente. Sou diferente dos padrões morais e éticos da sociedade”, diz. “O fato de eu não poder pôr para fora meus sentimentos é que me causava problemas, mas a terapia me ajudou a me aceitar.” O comportamento do advogado está descrito na atual versão do DSM, no capítulo das “parafilias”, definidas como preferências ou obsessões por práticas sexuais socialmente não aceitas. A proposta é que continue no DSM-5.
Faça o teste e descubra se você sofre de transtorno hipersexual
Márcio tem duas visões distintas sobre a lista de parafilias do manual psiquiátrico, que também inclui – e deverá manter – o voyeurismo (obtenção de prazer sexual através da observação de outras pessoas) e o fetichismo (uso compulsivo de objetos ou partes do corpo como estímulo à satisfação sexual.). Como advogado, é contra a retirada de algumas delas da classificação. Na Justiça, é preciso comprovar a “doença” para ter direito a atendimento médico público – inclusive para a operação de mudança de sexo em transgêneros. Como crossdresser, não acredita na necessidade de estar incluído numa lista de distúrbios. “Os comportamentos desviantes têm de ser analisados caso a caso, não precisam estar numa lista”, diz.
A lista é necessária, afirmam os médicos, porque ela vai orientar os diagnósticos clínicos e a pesquisa científica. Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, a classificação ajuda a normatizar. “Um psiquiatra recém-formado se baseia nela até aprender todas as características que fazem parte de determinado quadro clínico”, diz. Daí a necessidade das revisões periódicas. Um psiquiatra que estudou há 30 anos aprendeu que a pedofilia era um distúrbio exclusivamente masculino. Não é verdade, hoje se sabe. Até 1970, a homossexualidade era tratada como doença e fazia parte do DSM. Talvez não tivesse permanecido ali por tanto tempo se os homossexuais tivessem tido a oportunidade de se manifestar, como agora podem fazer os sadomasoquistas, os crossdressers e todos os que se identificarem na lista que está sendo proposta e não concordarem com ela. “Ainda que a decisão final caiba ao grupo de pesquisadores envolvidos na revisão, tenho certeza de que a opinião pública vai pesar”, diz o psiquiatra Luiz Alberto Hetem.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI124233-15228,00-O+QUE+E+SEXO+NORMAL.html
Quem não tem problemas sexuais?
14/05/2011 - 10:12 - ATUALIZADO EM 17/05/2011 - 19:17
Quem não tem problemas sexuais?
De acordo com novo longa de Domingos Oliveira, todo mundo tem. O filme é baseado em uma peça que ficou 10 anos em cartaz e é uma adaptação de cartas enviadas a um colunista do jornal "O Globo"
LAURA LOPES
O diretor Domingos Oliveira, que afirmou não ter perversões sexuais
Se todo mundo tem problemas sexuais, certamente o espectador vai se identificar com uma das cinco histórias exploradas no filme de Domingos Oliveira, que estreou (intencionalmente ou não) na sexta-feira, 13. Ou vai rir delas, já que se trata de um filme é de humor. Todo mundo tem problemas sexuais é uma adaptação da peça homônima que ficou 10 anos em cartaz, teve um público de mais de 400 mil pessoas, e ganhou prêmios. A peça é baseada em cartas enviadas à coluna do jornal O Globo "Vida Íntima", de Alberto Goldin.
No elenco estão Pedro Cardoso, Cláudia Abreu, Priscilla Rozenbaum, Paloma Riani, Orã Figueiredo e Ricardo Kosovski. O filme mescla imagens de estúdio com gravações de teatro e ensaios – mistura algumas vezes curiosa, outras elucidativas: a atuação no teatro é realmente diferente daquela prestada no cinema. E Pedro Cardoso brilha em ambas. O que o espectador verá é uma sequência de cinco histórias, ou cinco cartas, de pessoas que passaram por problemas de relacionamento. Esses causos poderiam ter sido vividos por um amigo próximo, mas é bem possível que você jamais saiba disso.
As histórias, reais, falam sobre impotência (usar Viagra sem avisar o parceiro é traição?), perversão (a tara de ir para a cama com outros casais), sedução (fazer jogos sexuais ou fingir desinteresse?), desejo (o que revelar e o que manter oculto) e sobre preferências sexuais aliadas ao preconceito (uma exclui a outra?).
De sua casa, no Rio de Janeiro, Oliveira, de 74 anos, conversou com ÉPOCA sobre o longa. "Sexo é muito interessante. Sexo é o assunto do milênio", afirma o diretor. No entanto, ele diz que a época mais contida de sexo é que a que estamos vivendo agora. "Eu nunca vi o sexo ser tão reprimido", diz, culpando, em parte, sua própria geração. Alguns sentimentos, no entanto, permanecem os mesmo ao longo do tempo. "O ciúme, a paixão e o tesão são questões essenciais e mudam pouco", afirma.
Pedro Cardoso tem um tórrido caso de amor com personagem de Cláudia Abreu, uma professora de equitação que também é pintora
Para ele, entre todas as experiências humanas, a mais reveladora para saber como a pessoa realmente é acontece na cama. "É uma ferramenta de conhecimento do ser humano imensa, de dor e prazer", afirma. Daí ele considerar que a peça deveria ir para as telas de cinema. Questionado se já passou por algum dos problemas relatados no filme, ele responde: "Eu não sou muito disso, eu não tenho perversões".
Ao misturar as linguagens teatrais e cinematográficas, Oliveira quer transmitir a magia e a informalidade do teatro para o cinema. Ele acha que discutir sobre se o filme é mais um ou outro é "papo cabeça". "O importante é que o filme tem histórias da vida real contadas com grande sinceridade, com grande franqueza", diz.
Por ser uma produção experimental, essa discussão se perde para ele. Em seu blog, Oliveira escreveu que o filme foi exibido em plateias das zonas Sul e Norte do Rio de Janeiro. "Enquanto o espectador da Zona Sul intrigava-se com a linguagem experimental do filme (é um filme completamente diferente dos outros) o público da Zona Norte seguia as histórias, rindo e comentando, como se estivesse num jogo de futebol. Esta é a informalidade que este filme provoca", escreve.
Alguma coisa do humor do teatro pode parecer demais no cinema, mas só em alguns momentos. O filme tem mais altos que baixos, e histórias realmente íntimas e divertidas, com personagens que se gostam muito. "Todos se amam muito, não é frio", diz o diretor. Para ele, sexo frio não é sexo, porque "brocha". E quem pode descordar dele?
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI231965-15220,00.html
Quem não tem problemas sexuais?
De acordo com novo longa de Domingos Oliveira, todo mundo tem. O filme é baseado em uma peça que ficou 10 anos em cartaz e é uma adaptação de cartas enviadas a um colunista do jornal "O Globo"
LAURA LOPES
O diretor Domingos Oliveira, que afirmou não ter perversões sexuais
Se todo mundo tem problemas sexuais, certamente o espectador vai se identificar com uma das cinco histórias exploradas no filme de Domingos Oliveira, que estreou (intencionalmente ou não) na sexta-feira, 13. Ou vai rir delas, já que se trata de um filme é de humor. Todo mundo tem problemas sexuais é uma adaptação da peça homônima que ficou 10 anos em cartaz, teve um público de mais de 400 mil pessoas, e ganhou prêmios. A peça é baseada em cartas enviadas à coluna do jornal O Globo "Vida Íntima", de Alberto Goldin.
No elenco estão Pedro Cardoso, Cláudia Abreu, Priscilla Rozenbaum, Paloma Riani, Orã Figueiredo e Ricardo Kosovski. O filme mescla imagens de estúdio com gravações de teatro e ensaios – mistura algumas vezes curiosa, outras elucidativas: a atuação no teatro é realmente diferente daquela prestada no cinema. E Pedro Cardoso brilha em ambas. O que o espectador verá é uma sequência de cinco histórias, ou cinco cartas, de pessoas que passaram por problemas de relacionamento. Esses causos poderiam ter sido vividos por um amigo próximo, mas é bem possível que você jamais saiba disso.
As histórias, reais, falam sobre impotência (usar Viagra sem avisar o parceiro é traição?), perversão (a tara de ir para a cama com outros casais), sedução (fazer jogos sexuais ou fingir desinteresse?), desejo (o que revelar e o que manter oculto) e sobre preferências sexuais aliadas ao preconceito (uma exclui a outra?).
De sua casa, no Rio de Janeiro, Oliveira, de 74 anos, conversou com ÉPOCA sobre o longa. "Sexo é muito interessante. Sexo é o assunto do milênio", afirma o diretor. No entanto, ele diz que a época mais contida de sexo é que a que estamos vivendo agora. "Eu nunca vi o sexo ser tão reprimido", diz, culpando, em parte, sua própria geração. Alguns sentimentos, no entanto, permanecem os mesmo ao longo do tempo. "O ciúme, a paixão e o tesão são questões essenciais e mudam pouco", afirma.
Pedro Cardoso tem um tórrido caso de amor com personagem de Cláudia Abreu, uma professora de equitação que também é pintora
Para ele, entre todas as experiências humanas, a mais reveladora para saber como a pessoa realmente é acontece na cama. "É uma ferramenta de conhecimento do ser humano imensa, de dor e prazer", afirma. Daí ele considerar que a peça deveria ir para as telas de cinema. Questionado se já passou por algum dos problemas relatados no filme, ele responde: "Eu não sou muito disso, eu não tenho perversões".
Ao misturar as linguagens teatrais e cinematográficas, Oliveira quer transmitir a magia e a informalidade do teatro para o cinema. Ele acha que discutir sobre se o filme é mais um ou outro é "papo cabeça". "O importante é que o filme tem histórias da vida real contadas com grande sinceridade, com grande franqueza", diz.
Por ser uma produção experimental, essa discussão se perde para ele. Em seu blog, Oliveira escreveu que o filme foi exibido em plateias das zonas Sul e Norte do Rio de Janeiro. "Enquanto o espectador da Zona Sul intrigava-se com a linguagem experimental do filme (é um filme completamente diferente dos outros) o público da Zona Norte seguia as histórias, rindo e comentando, como se estivesse num jogo de futebol. Esta é a informalidade que este filme provoca", escreve.
Alguma coisa do humor do teatro pode parecer demais no cinema, mas só em alguns momentos. O filme tem mais altos que baixos, e histórias realmente íntimas e divertidas, com personagens que se gostam muito. "Todos se amam muito, não é frio", diz o diretor. Para ele, sexo frio não é sexo, porque "brocha". E quem pode descordar dele?
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI231965-15220,00.html
Café parece diminuir chance de morte por câncer de próstata
Café parece diminuir chance de morte por câncer de próstata
Por Natasha Romanzoti em 18.05.2011 as 22:16
Nem sempre beber muito café faz bem, mas para os homens, tem um grande benefício: segundo um novo estudo, beber seis ou mais xícaras de café por dia pode reduzir o risco de câncer de próstata fatal em até 60%.
Os efeitos potencialmente benéficos do café têm recebido muita atenção nos últimos anos. O consumo de café já foi associado a um menor risco de diabetes tipo 2, mal de Parkinson e câncer de fígado, entre outras condições. Na semana passada, pesquisadores suecos relataram que as mulheres que bebiam pelo menos cinco xícaras por dia tinham um risco menor de desenvolver certo tipo agressivo de câncer de mama.
Cientistas já haviam explorado uma possível ligação entre o café e o câncer de próstata, mas os estudos feitos tiveram resultados mistos e eram pequenos. A nova pesquisa é a maior de seu tipo, envolvendo cerca de 48.000 homens.
A cada quatro anos, entre 1986 e 2006, os participantes relataram a quantidade de café consumida por dia. Durante o período de acompanhamento (que durou até 2008), 5.035 homens desenvolveram câncer de próstata.
Em 642 desses casos, o câncer foi considerado letal, o que significa que os tumores se propagaram e os homens morreram da doença. O consumo de café foi ligado a apenas um risco ligeiramente mais baixo de todos os cânceres de próstata, mas a mudança no risco foi pronunciada para o câncer letal.
Comparado com os homens que não bebiam café, aqueles que bebiam pelo menos seis xícaras por dia tinham um risco 60% mais baixo de ter câncer letal, e os que bebiam de uma a três xícaras por dia tinham um risco 30% mais baixo.
A diminuição do risco de câncer existiu independentemente dos homens beberem café descafeinado ou cafeinado, o que sugere que o benefício pode vir de uma propriedade do café que não a cafeína.
Segundo os pesquisadores, o café tem um monte de efeitos biológicos diferentes, e muitos deles parecem ser relacionados ao câncer de próstata.
O café é uma importante fonte de antioxidantes e também tem efeitos positivos no metabolismo da glicose e insulina (especialistas acreditam que a insulina desempenha um papel na progressão do câncer de próstata).
O café também parece influenciar os níveis de hormônios sexuais, como testosterona e outros, que têm um papel no câncer de próstata.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que os resultados não provam que o café diretamente previne câncer de próstata agressivo. O estudo mostra apenas uma associação, embora seja uma relativamente forte, já que os pesquisadores foram capazes de levar em conta informações detalhadas sobre as dietas dos homens e outros fatores que podem afetar o risco de câncer de próstata, como histórico familiar, tabagismo, obesidade e atividade física.
Ainda assim, por enquanto, as descobertas não são convincentes o suficiente para os médicos recomendarem que os homens de meia-idade aumentem sua ingestão de café.[CNN]
http://hypescience.com/cafe-parece-diminuir-chance-de-morte-por-cancer-de-prostata/
Por Natasha Romanzoti em 18.05.2011 as 22:16
Nem sempre beber muito café faz bem, mas para os homens, tem um grande benefício: segundo um novo estudo, beber seis ou mais xícaras de café por dia pode reduzir o risco de câncer de próstata fatal em até 60%.
Os efeitos potencialmente benéficos do café têm recebido muita atenção nos últimos anos. O consumo de café já foi associado a um menor risco de diabetes tipo 2, mal de Parkinson e câncer de fígado, entre outras condições. Na semana passada, pesquisadores suecos relataram que as mulheres que bebiam pelo menos cinco xícaras por dia tinham um risco menor de desenvolver certo tipo agressivo de câncer de mama.
Cientistas já haviam explorado uma possível ligação entre o café e o câncer de próstata, mas os estudos feitos tiveram resultados mistos e eram pequenos. A nova pesquisa é a maior de seu tipo, envolvendo cerca de 48.000 homens.
A cada quatro anos, entre 1986 e 2006, os participantes relataram a quantidade de café consumida por dia. Durante o período de acompanhamento (que durou até 2008), 5.035 homens desenvolveram câncer de próstata.
Em 642 desses casos, o câncer foi considerado letal, o que significa que os tumores se propagaram e os homens morreram da doença. O consumo de café foi ligado a apenas um risco ligeiramente mais baixo de todos os cânceres de próstata, mas a mudança no risco foi pronunciada para o câncer letal.
Comparado com os homens que não bebiam café, aqueles que bebiam pelo menos seis xícaras por dia tinham um risco 60% mais baixo de ter câncer letal, e os que bebiam de uma a três xícaras por dia tinham um risco 30% mais baixo.
A diminuição do risco de câncer existiu independentemente dos homens beberem café descafeinado ou cafeinado, o que sugere que o benefício pode vir de uma propriedade do café que não a cafeína.
Segundo os pesquisadores, o café tem um monte de efeitos biológicos diferentes, e muitos deles parecem ser relacionados ao câncer de próstata.
O café é uma importante fonte de antioxidantes e também tem efeitos positivos no metabolismo da glicose e insulina (especialistas acreditam que a insulina desempenha um papel na progressão do câncer de próstata).
O café também parece influenciar os níveis de hormônios sexuais, como testosterona e outros, que têm um papel no câncer de próstata.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que os resultados não provam que o café diretamente previne câncer de próstata agressivo. O estudo mostra apenas uma associação, embora seja uma relativamente forte, já que os pesquisadores foram capazes de levar em conta informações detalhadas sobre as dietas dos homens e outros fatores que podem afetar o risco de câncer de próstata, como histórico familiar, tabagismo, obesidade e atividade física.
Ainda assim, por enquanto, as descobertas não são convincentes o suficiente para os médicos recomendarem que os homens de meia-idade aumentem sua ingestão de café.[CNN]
http://hypescience.com/cafe-parece-diminuir-chance-de-morte-por-cancer-de-prostata/
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