Testosterona: hormônio do sexo e da memória
Por Cibele Fabichak
O principal hormônio que está por trás do desejo sexual ou libido é a testosterona, tanto no homem como na mulher. Quanto maior o nível circulante deste hormônio no sangue, mais intenso e frequente é o desejo sexual. O auge da libido no homem é atingido por volta dos 20 anos de idade, quando a quantidade de testosterona no sangue é a mais alta. Nas mulheres, a taxa de testosterona é baixa quando comparada a dos estrógenos.
Os efeitos afrodisíacos da testosterona são bem conhecidos: ele aumenta o entusiasmo sexual, a excitação e o prazer. À medida que envelhecemos, os níveis de testosterona tendem a diminuir em ambos os sexos. No homem, após os 40 anos de idade, a redução gradual de testosterona é acompanhada pela redução no desejo sexual, na excitação, na frequência do sexo, das fantasias e da masturbação.
Enquanto os níveis de testosterona caem vagarosamente no envelhecimento masculino, quando chega à menopausa, a mulher tem um brusco declínio dos hormônios sexuais (estrógenos e progesterona). Por isso, os efeitos físicos decorrentes da queda dos hormônios nas mulheres geralmente são mais perceptíveis do que nos homens.
Mas, mesmo que a libido seja reduzida com a idade, não significa que obrigatoriamente o prazer tem que diminuir também, pois a satisfação sexual depende muito da qualidade do relacionamento do casal.
Outros efeitos marcantes da queda de testosterona no corpo são o aumento da gordura (a famosa e indesejável barriguinha), a redução da massa muscular e o aumento do risco de desenvolver distúrbios da ereção
http://bbel.uol.com.br/comportamento/post/testosterona-hormonio-do-sexo-e-da-memoria/page2.aspx
quinta-feira, 19 de maio de 2011
A fórmula do amor eterno
08/01/2009 - 13:49 - ATUALIZADO EM 09/01/2009 - 16:37
A fórmula do amor eterno
Os avanços da genética e das técnicas para mapear o cérebro ajudam a explicar por que certas paixões duram e outras não
MARCELA BUSCATO E MARTHA MENDONÇA. COM DANILO CASALETTI
O segredo da paixão eterna é a ativação de um circuito na área tegmentar ventral, uma região do mesencéfalo, no meio da cabeça. Certo, não soa nem um pouco romântico, mas essa descoberta de cientistas de duas universidades americanas, noticiada na semana passada, pode ajudar a entender por que alguns relacionamentos duram tanto e outros tão pouco. A área tegmentar ventral é acionada quando algo nos dá prazer. Os pesquisadores das universidades Rutgers e Stony Brook, nos Estados Unidos, detectaram em imagens computadorizadas um pequeno ponto de luz, indicador desse circuito cerebral em atividade, nas pessoas que têm relacionamentos estáveis há pelo menos duas décadas. Pode ser a prova de que não é uma ilusão a paixão que permanece tão intensa quanto no primeiro dia.
“O contexto do início ajudou muito. Jovens, belos, isolados no Xingu, nadando seminus em rios límpidos. Éramos pura sensação, todos os sentidos aguçados no meio do nada, longe da cidade e do barulho. A química foi perfeita, o desejo irrefreável, aquela coisa que sai faísca. Mas o melhor é dizer que até hoje somos assim. Respeitamos a individualidade do outro, mas sentimos muita saudade quando um trabalho nos separa. Trocamos e-mails, pegamos avião para passar um tempo mínimo com o outro. O Ri é muito generoso, o tipo de homem doador. Cada reação dele diante de coisas grandes ou pequenas é coerente, é bonita. E temos muito tesão, sem o qual nada pode seguir adiante”
Bruna Lombardi, 56 anos, e Carlos Alberto Riccelli, 61 anos, estão juntos desde 1978. Conheceram-se gravando Aritana, novela sobre uma índia do Xingu
“É difícil falar do que mais gosto em uma mulher tão linda como a que eu tenho. Dá para dizer ‘tudo’? Na primeira vez que bati o olho, pensei, impressionado, o que qualquer homem pensaria em relação a ela. Adoro os olhos, a boca, as pernas, os pés, o jeito como ela se mexe. A lista é enorme! Mas o melhor é que não é só isso. Atrás daquilo tudo havia uma mulher inteligentíssima, brilhante, apaixonada pela vida. O começo é importante, mas para que dê certo as pessoas precisam querer continuar acertando. Não existe um segredo. As pessoas são diferentes e a interação delas também. O Universo conspira, mas precisamos fazer a nossa parte”
Casais de longa data que se dizem tão apaixonados quanto no primeiro encontro – como alguns dos que contam a ÉPOCA, nestas páginas, como encaram o amor – não estariam, portanto, se iludindo, como apregoam os céticos e os de coração calejado – ou cérebro desligado. Os pesquisadores compararam o cérebro de 17 homens e mulheres que relatavam sentir uma paixão intensa pelos companheiros de décadas com os de namorados há menos de um ano juntos. Um equipamento de ressonância magnética mostrou que, ao verem fotos do parceiro, os cérebros dos apaixonados veteranos reagiram da mesma maneira que os dos namorados recentes: a tal “área tegmentar ventral” foi ativada.
“Nós ainda não temos certeza quanto aos fatores que fazem a paixão durar tanto tempo em alguns casais”, diz o psicólogo Arthur Aron, um dos coordenadores do estudo. Mas há suspeitas de que esses motivos sejam mais uma questão de “quem” em vez de “o quê”. “É preciso escolher a pessoa certa para que a paixão seja duradoura”, diz a antropóloga Helen Fisher, outra coautora do estudo e uma das mais respeitadas especialistas nas transformações cerebrais causadas pela paixão (leia a entrevista).
Os avanços da ciência nos últimos anos podem ajudar na busca pelo parceiro ideal? Ao que tudo indica, sim. As técnicas de mapeamento do cérebro já conseguem mostrar o que acontece com ele quando estamos apaixonados. E a genética está ajudando a explicar por que nos sentimos atraídos por determinadas pessoas e por que outras que teriam tudo para nos atrair se tornarão, no máximo, bons amigos. Já são vendidos testes genéticos com a promessa de unir casais que teriam literalmente nascido um para o outro. Pode ser um pouco precipitado, considerando o estágio atual das pesquisas. Mas até que ponto a ciência pode determinar por quem nos apaixonamos? Os sintomas clássicos do surgimento da paixão – o frio no estômago e as mãos suando – poderiam ser trocados por um impessoal exame de laboratório?
Para algumas pessoas, isso já é realidade. Por US$ 1.995,95, a empresa americana ScientificMatch diz encontrar o parceiro mais compatível geneticamente com seus clientes – mas apenas entre a seleta base de usuários cadastrados em seu site, porque o exame está disponível apenas em algumas regiões dos Estados Unidos. No laboratório suíço GenePartner, um serviço semelhante custa US$ 299. Casais que queiram se certificar de que seus perfis genéticos combinam têm de desembolsar US$ 399. Sete brasileiros já solicitaram os serviços do GenePartner, segundo a bioquímica Tamara Brown, diretora-técnica do laboratório. A empresa já está negociando uma parceria com um site brasileiro. “Planejamos lançar o Enamorados até fevereiro”, diz Christina de Moura Coutinho, sócia do projeto brasileiro. Os testes genéticos devem ter preços semelhantes aos do GenePartner, porque serão feitos no laboratório suíço.
“O amor é uma vibração, algo que você sente e que não tem uma explicação lógica, racional. Quando conheci a Andréia, senti que ali existia algo a mais. Sou uma pessoa muito mística e sabia que ia conseguir conquistá-la. A paixão acontece, depois ela se acalma e o amor é o que fica. Mas a Andréia e eu sempre conseguimos, mesmo depois de tanto tempo, manter a chama acesa. A maturidade e o tempo de relação nos trouxeram algo fundamental: a capacidade de passar pelos momentos bons e ruins da vida de uma maneira muito suave. Fico feliz de ter um bom motivo para voltar para casa todos os dias”
Luigi e Andréia Baricelli, ator e empresária, ambos de 37 anos, estão juntos há 15 e têm dois filhos, de 11 e 7 anos
“Quando conheci o Luigi, ele já era ator e tive um certo receio de me envolver. Mas a insistência dele acabou me conquistando. Lembro que ele queria conhecer a minha família e eu disse que não, que era muito cedo. Certo dia, cheguei em casa e o Luigi estava lá, no sofá, conversando com minha mãe e com minha avó. No dia seguinte, ele trouxe uma mochila e um par de patins e foi ficando em casa. Com sete anos de casados, passamos por uma crise. Foi difícil superar, mas eu me empenhei. Depois disso, nossa relação ficou muito melhor, mais sincera. A cada ano que passa nos damos melhor”
Encontrar o parceiro ideal, prometem essas empresas, não exige mais produzir-se, frequentar bares e festas para solteiros ou enviar bilhetinhos amorosos. Basta passar no interior da bochecha uma haste de algodão previamente encomendada e enviar de volta, pelo correio, essa amostra de saliva e células da mucosa interna da boca. A compatibilidade genética é determinada pela análise de genes chamados MHC (sigla inglesa para “complexo principal de histocompatibilidade”). Eles controlam como o sistema de defesa do organismo reconhece e combate invasores, como fungos e bactérias. Quanto mais diferentes forem esses genes entre os parceiros, maior seria a compatibilidade. É a lógica da sobrevivência da espécie: quanto maior a diferença entre os genes MHC dos parceiros, maior a chance de produzir filhos resistentes a doenças. Parafraseando Manuel Bandeira, autor dos versos “O que tu chamas tua paixão/É tão somente curiosidade”, poderíamos dizer: “O que tu chamas tua paixão/É tão somente histocompatibilidade“.
Estudos sugerem que os MHC influenciam o odor e a saliva. Isso explicaria por que os parceiros mais “compatíveis” conosco (ou seja, aqueles com genes MHC mais díspares) teriam um beijo bom e um cheiro irresistível, enquanto entre aqueles com perfil genético parecido “a química não rola”. O psicólogo Gordon Gallup, da Universidade Estadual de Nova York, concluiu que 59% dos homens e 66% das mulheres que participaram de uma pesquisa perderam o interesse no pretendente depois do primeiro beijo. Ele acredita que eles teriam percebido pela saliva ter um sistema de defesa muito parecido com o do parceiro. Já se tornou um clássico o Estudo da Camiseta Suada, realizado em 1995 pelo cientista suíço Claus Wedekind. Ele pediu a um grupo de homens que vestissem a mesma camiseta por dois dias. Depois, pediu a um grupo de mulheres que cheirassem as camisas e apontassem quais as deixaram mais atraídas sexualmente. Wedekind descobriu que elas preferiam o cheiro dos homens com mais genes MHC diferentes. Em 2005, um estudo da Universidade Federal do Paraná obteve resultados semelhantes quando mulheres avaliaram o odor de homens – mas não quando os homens cheiraram amostras de suor feminino.
Assim como essas pesquisas abrem a possibilidade de testes de DNA para a escolha do parceiro, já há estudos que levantam a hipótese de um determinismo genético também na traição. Cientistas do respeitado Instituto Karolinska, na Suécia, publicaram em setembro um estudo que assustou muitos homens. Eles estudaram 552 pares de gêmeos e suas mulheres e constataram que os homens com duas cópias de determinado gene tinham mais chances de se separar, de não estar casados oficialmente ou de ter um relacionamento em que suas parceiras não estivessem satisfeitas. O pedaço de DNA em questão ganhou logo dois apelidos – “gene do bom marido” e “gene do divórcio” (conforme o ponto de vista). Os próprios autores do estudo se apressaram a dizer que é muito cedo para falar em um exame genético que avalie a probabilidade de sucesso de um relacionamento. Afinal, inúmeros outros fatores estão relacionados ao sucesso de uma união além da simples presença ou ausência de um gene. Falta descobrir muito sobre o genoma humano, mas já se sabe que são raras as situações em que um só gene é o único responsável por determinada característica. Nossa aparência, nossa saúde e o funcionamento da nossa mente são em geral determinados por um complicado quebra-cabeça, que envolve não apenas vários genes, mas também a poderosa contribuição do ambiente em que vivemos.
“Eu sempre via o Carlos num bar que eu frequentava e gostava do que via. Ele usava um cabelo curtinho, com franjinha, tipo romano. Olhos puxados, que são meu ponto fraco. Sempre de short e tênis pretos. Difícil não reparar. Quando fomos apresentados, ele me cumprimentou abraçando minha cintura. Aí não teve mais jeito”
André Piva (à esq.), arquiteto, 39 anos, e Carlos Tufvesson, estilista, 40 anos, estão juntos há 13 anos
“Conheci o André porque fui convidado para o aniversário dele por um amigo em comum. De cara bateu uma atração. Braço forte, cara de matutão, jeito de gente do bem, traços italianos, olhos verdes. Encontrei a minha cara-metade, oportunidade que poucas pessoas têm na vida. Hoje em dia lutamos para que nossa relação possa ser legalizada”
É por esse motivo que nem as empresas que vendem os testes genéticos garantem 100% de acerto em seus testes. Elas não recomendam terminar um relacionamento só porque o exame indicou pouca compatibilidade. Há casais que são ligados por hobbies, religião ou outros interesses em comum. A combinação biológica não é necessariamente o fator preponderante. Embora esses testes tendam a se tornar mais precisos com a evolução dos conhecimentos sobre a química do amor, devem ser encarados como um simples indicador, entre vários outros.
Onde mora a paixão duradoura
Esqueça o coração. Estas são, segundo os cientistas, as áreas do cérebro ativas em quem se diz “intensamente apaixonado” após 20 anos de relação
Mesmo que encarássemos a escolha do parceiro ideal como um processo puramente “científico”, a compatibilidade entre genes MHC seria apenas um dos critérios. Do ponto de vista evolutivo, a meta de cada indivíduo é conquistar um companheiro saudável (garantia de bons genes) e com características psicológicas que revelem disposição para ajudar a criar os descendentes (o que asseguraria a sobrevivência da prole). “Como herdeiros de ancestrais que tiveram sucesso ao se reproduzir, cada um de nós carrega essas estratégias de conquista”, afirma o psicólogo americano David Buss, professor da Universidade do Texas e autor de um estudo com 9.400 pessoas, de 37 culturas, que confirmou a universalidade dos atributos buscados em um companheiro.
As características físicas, sem surpresa, parecem ser os estímulos iniciais da paixão. “Elas são bons indicadores de saúde e vigor”, afirma César Ades, pesquisador da Universidade de São Paulo e especialista em comportamento animal. As mulheres prestariam mais atenção ao rosto dos homens do que ao corpo porque a face mostra sinais de virilidade, como maxilares largos e lábios finos. Como eles são esculpidos pela ação da testosterona, um hormônio determinante nos homens, seriam sinais inequívocos de masculinidade. No caso dos homens, cintura fina e quadris largos estariam entre as características mais observadas e desejadas nas mulheres. Um estudo da Universidade do Texas apontou que a cintura (a esbelta, claro) foi a parte do corpo feminino mais citada em obras da literatura inglesa entre os séculos XVI e XVIII, da poesia chinesa do século IV ao século VI e de dois clássicos da literatura indiana entre os séculos I e III da era cristã. A falta da cintura bem marcada denunciaria gordurinhas abdominais, que, segundo alguns estudos, estariam relacionadas à infertilidade. O tamanho ideal da cintura feminina seria 70% da circunferência do quadril.
Ainda é difícil explicar como as dicas da genética e as características físicas e comportamentais consideradas atraentes se transformam em um sentimento arrebatador. Capaz de fazer o coração disparar, a mente não parar de pensar em alguém e que torna um encontro uma necessidade. Mas a ciência já sabe como o cérebro se comporta de acordo com cada emoção. Inclusive o cérebro dos gays. Usando imagens de ressonância magnética, a pesquisadora Ivanka Savic, do Instituto Karolinska, concluiu que o cérebro de mulheres homossexuais apresenta o mesmo padrão de funcionamento de homens heterossexuais. O mesmo vale para mulheres hétero e homens gays. Ao sentir o cheiro de hormônios masculinos, o hipotálamo é acionado no cérebro das mulheres e dos homens gays. Em seu estudo mais recente, Ivanka descobriu que a amígdala, uma região do cérebro associada às emoções, é ativada da mesma maneira tanto nos homens quanto nas lésbicas.
A descoberta das alterações químicas no cérebro causadas pela paixão abre uma nova possibilidade: criar no futuro drogas que possam agir sobre esses circuitos cerebrais e ajudar a aplacar a dor de um rompimento ou até, quem sabe, fazer alguém se apaixonar. A hipótese foi levantada na última semana em um artigo na revista científica Nature do bioquímico Larry Young, pesquisador de genética comportamental da Universidade Emory, nos Estados Unidos. “Drogas que manipulem os sistemas cerebrais para aumentar ou diminuir o amor podem não estar distantes”, escreve. Young lembra que medicamentos como o Viagra, usado para tratar disfunção erétil masculina, e o antidepressivo Prozac já atuam sobre algumas das substâncias também envolvidas no amor e na paixão. E se pergunta se alguém acharia ruim contar com drogas que manipulem esses sentimentos. “Afinal, o amor é insanidade”, escreve.
Os estudos que retratam o funcionamento do cérebro confirmam a aura de “sentimento que foge à razão” conferida à paixão. A antropóloga Helen Fisher, a autora do estudo com os apaixonados de longa data, diz que a paixão pode ser comparada a um vício. Ela ativa partes do cérebro que integram os “circuitos de recompensa”, aqueles que nos incentivam a conseguir o que causa prazer, sejam doces, jogos de azar ou a pessoa amada. São os mesmos circuitos acionados durante o consumo de drogas. É por isso que romper um relacionamento pode causar uma espécie de crise de abstinência análoga à provocada pela falta de droga no corpo de um adicto.
“Fizemos um teste juntos no teatro, era década de 50. Quando a vi, ela usava uma boininha azul e fumava muito. Os movimentos da Nicete sempre me impressionaram, ela é muito feminina, glamourosa. Até hoje adoro os gestos dela, o sorriso, o olhar. Ela tem um romantismo que se mantém sempre atual, uma afetividade à flor da pele, mas, ao mesmo tempo, uma seriedade e uma preocupação consciente com tudo o que a cerca. Sabemos, juntos, que o mundo não parou, e é isso que nos mantém felizes”
Nicete Bruno e Paulo Goulart, 76 (os dois), atores, estão casados há 54 anos, têm três filhos, sete netos e dois bisnetos
“Quando começamos a namorar, eu tinha 18 anos e só pensava no meu trabalho. Mas de cara achei o Paulo bonitinho. Ele era o galã da companhia de teatro. Ele me conquistou declamando um poema chamado “Único amor”. A voz dele é linda, e isso me marcou muito. Ele também dança muito bem. Adoramos dançar juntos até hoje. Meu marido sempre me passou a ideia de franqueza, confiabilidade, generosidade”
As transformações químicas causadas pela paixão em geral não duram muito, a não ser em casais especiais, como os estudados recentemente por Helen Fisher. Os cientistas estimam que essas alterações persistam por dois anos. Enzo Emanuele, da Universidade de Pavia, na Itália, mediu o nível dos hormônios relacionados à paixão no sangue de 39 casais juntos há dois anos. E confirmou que eles apresentavam uma concentração menor do que pessoas que declararam estar intensamente apaixonadas. Mas isso não significa que a relação esteja fadada a acabar. É nesse momento que ela pode se transformar em amor, um sentimento mais pleno e menos urgente do que a paixão.
No estudo de Helen Fisher, em parceiros de longa data foram ativadas as regiões do cérebro relacionadas à sensação de calma, enquanto áreas ligadas a sentimentos obsessivos e à ansiedade eram acionadas apenas nos casais recentes. Uma pesquisa da psiquiatra italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa, chegou a comparar a paixão ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), caracterizado por comportamentos repetitivos e manias. Quando comparados às demais pessoas, os níveis de serotonina, uma substância com efeito calmante, são até 40% mais baixos em quem sofre de TOC. Ou de paixão.
O amor estaria mais relacionado ao tipo de apego que há entre mãe e filho. “O amor maternal e aquele em que homem e mulher compartilham circuitos cerebrais são muito semelhantes”, afirma o neurocientista Jorge Moll Neto, coordenador da Unidade de Neurociência Cognitiva e Comportamental da Rede D’Or de hospitais e laboratórios privados, no Rio de Janeiro. Ambos são moderados pelo hormônio oxitocina, o mesmo liberado em grandes quantidades quando as mulheres amamentam e que cria um laço tão profundo entre mães e filhos. Em uma relação entre homem e mulher, a oxitocina é liberada com o orgasmo. Essa mudança química seria a maneira que a evolução “encontrou” para manter os parceiros que procriaram focados em criar os filhos. Após essa etapa, eles estariam livres de novo para se apaixonar, amar e gerar mais descendentes.
Por enquanto, conhecer a fisiologia das emoções ainda não garante a eficácia dos testes genéticos para encontrar o companheiro ideal nem o desenvolvimento de uma poção do amor. Mas ajuda a entender que é normal a paixão esfriar. Que a dor de um rompimento vai passar assim que a química cerebral acabar. E que estaremos com o coração – e o cérebro – livre para olhar para outro homem de maxilar largo ou para outra mulher de cintura fina. É a nossa natureza.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI20951-15257,00-A+FORMULA+DO+AMOR+ETERNO.html
A fórmula do amor eterno
Os avanços da genética e das técnicas para mapear o cérebro ajudam a explicar por que certas paixões duram e outras não
MARCELA BUSCATO E MARTHA MENDONÇA. COM DANILO CASALETTI
O segredo da paixão eterna é a ativação de um circuito na área tegmentar ventral, uma região do mesencéfalo, no meio da cabeça. Certo, não soa nem um pouco romântico, mas essa descoberta de cientistas de duas universidades americanas, noticiada na semana passada, pode ajudar a entender por que alguns relacionamentos duram tanto e outros tão pouco. A área tegmentar ventral é acionada quando algo nos dá prazer. Os pesquisadores das universidades Rutgers e Stony Brook, nos Estados Unidos, detectaram em imagens computadorizadas um pequeno ponto de luz, indicador desse circuito cerebral em atividade, nas pessoas que têm relacionamentos estáveis há pelo menos duas décadas. Pode ser a prova de que não é uma ilusão a paixão que permanece tão intensa quanto no primeiro dia.
“O contexto do início ajudou muito. Jovens, belos, isolados no Xingu, nadando seminus em rios límpidos. Éramos pura sensação, todos os sentidos aguçados no meio do nada, longe da cidade e do barulho. A química foi perfeita, o desejo irrefreável, aquela coisa que sai faísca. Mas o melhor é dizer que até hoje somos assim. Respeitamos a individualidade do outro, mas sentimos muita saudade quando um trabalho nos separa. Trocamos e-mails, pegamos avião para passar um tempo mínimo com o outro. O Ri é muito generoso, o tipo de homem doador. Cada reação dele diante de coisas grandes ou pequenas é coerente, é bonita. E temos muito tesão, sem o qual nada pode seguir adiante”
Bruna Lombardi, 56 anos, e Carlos Alberto Riccelli, 61 anos, estão juntos desde 1978. Conheceram-se gravando Aritana, novela sobre uma índia do Xingu
“É difícil falar do que mais gosto em uma mulher tão linda como a que eu tenho. Dá para dizer ‘tudo’? Na primeira vez que bati o olho, pensei, impressionado, o que qualquer homem pensaria em relação a ela. Adoro os olhos, a boca, as pernas, os pés, o jeito como ela se mexe. A lista é enorme! Mas o melhor é que não é só isso. Atrás daquilo tudo havia uma mulher inteligentíssima, brilhante, apaixonada pela vida. O começo é importante, mas para que dê certo as pessoas precisam querer continuar acertando. Não existe um segredo. As pessoas são diferentes e a interação delas também. O Universo conspira, mas precisamos fazer a nossa parte”
Casais de longa data que se dizem tão apaixonados quanto no primeiro encontro – como alguns dos que contam a ÉPOCA, nestas páginas, como encaram o amor – não estariam, portanto, se iludindo, como apregoam os céticos e os de coração calejado – ou cérebro desligado. Os pesquisadores compararam o cérebro de 17 homens e mulheres que relatavam sentir uma paixão intensa pelos companheiros de décadas com os de namorados há menos de um ano juntos. Um equipamento de ressonância magnética mostrou que, ao verem fotos do parceiro, os cérebros dos apaixonados veteranos reagiram da mesma maneira que os dos namorados recentes: a tal “área tegmentar ventral” foi ativada.
“Nós ainda não temos certeza quanto aos fatores que fazem a paixão durar tanto tempo em alguns casais”, diz o psicólogo Arthur Aron, um dos coordenadores do estudo. Mas há suspeitas de que esses motivos sejam mais uma questão de “quem” em vez de “o quê”. “É preciso escolher a pessoa certa para que a paixão seja duradoura”, diz a antropóloga Helen Fisher, outra coautora do estudo e uma das mais respeitadas especialistas nas transformações cerebrais causadas pela paixão (leia a entrevista).
Os avanços da ciência nos últimos anos podem ajudar na busca pelo parceiro ideal? Ao que tudo indica, sim. As técnicas de mapeamento do cérebro já conseguem mostrar o que acontece com ele quando estamos apaixonados. E a genética está ajudando a explicar por que nos sentimos atraídos por determinadas pessoas e por que outras que teriam tudo para nos atrair se tornarão, no máximo, bons amigos. Já são vendidos testes genéticos com a promessa de unir casais que teriam literalmente nascido um para o outro. Pode ser um pouco precipitado, considerando o estágio atual das pesquisas. Mas até que ponto a ciência pode determinar por quem nos apaixonamos? Os sintomas clássicos do surgimento da paixão – o frio no estômago e as mãos suando – poderiam ser trocados por um impessoal exame de laboratório?
Para algumas pessoas, isso já é realidade. Por US$ 1.995,95, a empresa americana ScientificMatch diz encontrar o parceiro mais compatível geneticamente com seus clientes – mas apenas entre a seleta base de usuários cadastrados em seu site, porque o exame está disponível apenas em algumas regiões dos Estados Unidos. No laboratório suíço GenePartner, um serviço semelhante custa US$ 299. Casais que queiram se certificar de que seus perfis genéticos combinam têm de desembolsar US$ 399. Sete brasileiros já solicitaram os serviços do GenePartner, segundo a bioquímica Tamara Brown, diretora-técnica do laboratório. A empresa já está negociando uma parceria com um site brasileiro. “Planejamos lançar o Enamorados até fevereiro”, diz Christina de Moura Coutinho, sócia do projeto brasileiro. Os testes genéticos devem ter preços semelhantes aos do GenePartner, porque serão feitos no laboratório suíço.
“O amor é uma vibração, algo que você sente e que não tem uma explicação lógica, racional. Quando conheci a Andréia, senti que ali existia algo a mais. Sou uma pessoa muito mística e sabia que ia conseguir conquistá-la. A paixão acontece, depois ela se acalma e o amor é o que fica. Mas a Andréia e eu sempre conseguimos, mesmo depois de tanto tempo, manter a chama acesa. A maturidade e o tempo de relação nos trouxeram algo fundamental: a capacidade de passar pelos momentos bons e ruins da vida de uma maneira muito suave. Fico feliz de ter um bom motivo para voltar para casa todos os dias”
Luigi e Andréia Baricelli, ator e empresária, ambos de 37 anos, estão juntos há 15 e têm dois filhos, de 11 e 7 anos
“Quando conheci o Luigi, ele já era ator e tive um certo receio de me envolver. Mas a insistência dele acabou me conquistando. Lembro que ele queria conhecer a minha família e eu disse que não, que era muito cedo. Certo dia, cheguei em casa e o Luigi estava lá, no sofá, conversando com minha mãe e com minha avó. No dia seguinte, ele trouxe uma mochila e um par de patins e foi ficando em casa. Com sete anos de casados, passamos por uma crise. Foi difícil superar, mas eu me empenhei. Depois disso, nossa relação ficou muito melhor, mais sincera. A cada ano que passa nos damos melhor”
Encontrar o parceiro ideal, prometem essas empresas, não exige mais produzir-se, frequentar bares e festas para solteiros ou enviar bilhetinhos amorosos. Basta passar no interior da bochecha uma haste de algodão previamente encomendada e enviar de volta, pelo correio, essa amostra de saliva e células da mucosa interna da boca. A compatibilidade genética é determinada pela análise de genes chamados MHC (sigla inglesa para “complexo principal de histocompatibilidade”). Eles controlam como o sistema de defesa do organismo reconhece e combate invasores, como fungos e bactérias. Quanto mais diferentes forem esses genes entre os parceiros, maior seria a compatibilidade. É a lógica da sobrevivência da espécie: quanto maior a diferença entre os genes MHC dos parceiros, maior a chance de produzir filhos resistentes a doenças. Parafraseando Manuel Bandeira, autor dos versos “O que tu chamas tua paixão/É tão somente curiosidade”, poderíamos dizer: “O que tu chamas tua paixão/É tão somente histocompatibilidade“.
Estudos sugerem que os MHC influenciam o odor e a saliva. Isso explicaria por que os parceiros mais “compatíveis” conosco (ou seja, aqueles com genes MHC mais díspares) teriam um beijo bom e um cheiro irresistível, enquanto entre aqueles com perfil genético parecido “a química não rola”. O psicólogo Gordon Gallup, da Universidade Estadual de Nova York, concluiu que 59% dos homens e 66% das mulheres que participaram de uma pesquisa perderam o interesse no pretendente depois do primeiro beijo. Ele acredita que eles teriam percebido pela saliva ter um sistema de defesa muito parecido com o do parceiro. Já se tornou um clássico o Estudo da Camiseta Suada, realizado em 1995 pelo cientista suíço Claus Wedekind. Ele pediu a um grupo de homens que vestissem a mesma camiseta por dois dias. Depois, pediu a um grupo de mulheres que cheirassem as camisas e apontassem quais as deixaram mais atraídas sexualmente. Wedekind descobriu que elas preferiam o cheiro dos homens com mais genes MHC diferentes. Em 2005, um estudo da Universidade Federal do Paraná obteve resultados semelhantes quando mulheres avaliaram o odor de homens – mas não quando os homens cheiraram amostras de suor feminino.
Assim como essas pesquisas abrem a possibilidade de testes de DNA para a escolha do parceiro, já há estudos que levantam a hipótese de um determinismo genético também na traição. Cientistas do respeitado Instituto Karolinska, na Suécia, publicaram em setembro um estudo que assustou muitos homens. Eles estudaram 552 pares de gêmeos e suas mulheres e constataram que os homens com duas cópias de determinado gene tinham mais chances de se separar, de não estar casados oficialmente ou de ter um relacionamento em que suas parceiras não estivessem satisfeitas. O pedaço de DNA em questão ganhou logo dois apelidos – “gene do bom marido” e “gene do divórcio” (conforme o ponto de vista). Os próprios autores do estudo se apressaram a dizer que é muito cedo para falar em um exame genético que avalie a probabilidade de sucesso de um relacionamento. Afinal, inúmeros outros fatores estão relacionados ao sucesso de uma união além da simples presença ou ausência de um gene. Falta descobrir muito sobre o genoma humano, mas já se sabe que são raras as situações em que um só gene é o único responsável por determinada característica. Nossa aparência, nossa saúde e o funcionamento da nossa mente são em geral determinados por um complicado quebra-cabeça, que envolve não apenas vários genes, mas também a poderosa contribuição do ambiente em que vivemos.
“Eu sempre via o Carlos num bar que eu frequentava e gostava do que via. Ele usava um cabelo curtinho, com franjinha, tipo romano. Olhos puxados, que são meu ponto fraco. Sempre de short e tênis pretos. Difícil não reparar. Quando fomos apresentados, ele me cumprimentou abraçando minha cintura. Aí não teve mais jeito”
André Piva (à esq.), arquiteto, 39 anos, e Carlos Tufvesson, estilista, 40 anos, estão juntos há 13 anos
“Conheci o André porque fui convidado para o aniversário dele por um amigo em comum. De cara bateu uma atração. Braço forte, cara de matutão, jeito de gente do bem, traços italianos, olhos verdes. Encontrei a minha cara-metade, oportunidade que poucas pessoas têm na vida. Hoje em dia lutamos para que nossa relação possa ser legalizada”
É por esse motivo que nem as empresas que vendem os testes genéticos garantem 100% de acerto em seus testes. Elas não recomendam terminar um relacionamento só porque o exame indicou pouca compatibilidade. Há casais que são ligados por hobbies, religião ou outros interesses em comum. A combinação biológica não é necessariamente o fator preponderante. Embora esses testes tendam a se tornar mais precisos com a evolução dos conhecimentos sobre a química do amor, devem ser encarados como um simples indicador, entre vários outros.
Onde mora a paixão duradoura
Esqueça o coração. Estas são, segundo os cientistas, as áreas do cérebro ativas em quem se diz “intensamente apaixonado” após 20 anos de relação
Mesmo que encarássemos a escolha do parceiro ideal como um processo puramente “científico”, a compatibilidade entre genes MHC seria apenas um dos critérios. Do ponto de vista evolutivo, a meta de cada indivíduo é conquistar um companheiro saudável (garantia de bons genes) e com características psicológicas que revelem disposição para ajudar a criar os descendentes (o que asseguraria a sobrevivência da prole). “Como herdeiros de ancestrais que tiveram sucesso ao se reproduzir, cada um de nós carrega essas estratégias de conquista”, afirma o psicólogo americano David Buss, professor da Universidade do Texas e autor de um estudo com 9.400 pessoas, de 37 culturas, que confirmou a universalidade dos atributos buscados em um companheiro.
As características físicas, sem surpresa, parecem ser os estímulos iniciais da paixão. “Elas são bons indicadores de saúde e vigor”, afirma César Ades, pesquisador da Universidade de São Paulo e especialista em comportamento animal. As mulheres prestariam mais atenção ao rosto dos homens do que ao corpo porque a face mostra sinais de virilidade, como maxilares largos e lábios finos. Como eles são esculpidos pela ação da testosterona, um hormônio determinante nos homens, seriam sinais inequívocos de masculinidade. No caso dos homens, cintura fina e quadris largos estariam entre as características mais observadas e desejadas nas mulheres. Um estudo da Universidade do Texas apontou que a cintura (a esbelta, claro) foi a parte do corpo feminino mais citada em obras da literatura inglesa entre os séculos XVI e XVIII, da poesia chinesa do século IV ao século VI e de dois clássicos da literatura indiana entre os séculos I e III da era cristã. A falta da cintura bem marcada denunciaria gordurinhas abdominais, que, segundo alguns estudos, estariam relacionadas à infertilidade. O tamanho ideal da cintura feminina seria 70% da circunferência do quadril.
Ainda é difícil explicar como as dicas da genética e as características físicas e comportamentais consideradas atraentes se transformam em um sentimento arrebatador. Capaz de fazer o coração disparar, a mente não parar de pensar em alguém e que torna um encontro uma necessidade. Mas a ciência já sabe como o cérebro se comporta de acordo com cada emoção. Inclusive o cérebro dos gays. Usando imagens de ressonância magnética, a pesquisadora Ivanka Savic, do Instituto Karolinska, concluiu que o cérebro de mulheres homossexuais apresenta o mesmo padrão de funcionamento de homens heterossexuais. O mesmo vale para mulheres hétero e homens gays. Ao sentir o cheiro de hormônios masculinos, o hipotálamo é acionado no cérebro das mulheres e dos homens gays. Em seu estudo mais recente, Ivanka descobriu que a amígdala, uma região do cérebro associada às emoções, é ativada da mesma maneira tanto nos homens quanto nas lésbicas.
A descoberta das alterações químicas no cérebro causadas pela paixão abre uma nova possibilidade: criar no futuro drogas que possam agir sobre esses circuitos cerebrais e ajudar a aplacar a dor de um rompimento ou até, quem sabe, fazer alguém se apaixonar. A hipótese foi levantada na última semana em um artigo na revista científica Nature do bioquímico Larry Young, pesquisador de genética comportamental da Universidade Emory, nos Estados Unidos. “Drogas que manipulem os sistemas cerebrais para aumentar ou diminuir o amor podem não estar distantes”, escreve. Young lembra que medicamentos como o Viagra, usado para tratar disfunção erétil masculina, e o antidepressivo Prozac já atuam sobre algumas das substâncias também envolvidas no amor e na paixão. E se pergunta se alguém acharia ruim contar com drogas que manipulem esses sentimentos. “Afinal, o amor é insanidade”, escreve.
Os estudos que retratam o funcionamento do cérebro confirmam a aura de “sentimento que foge à razão” conferida à paixão. A antropóloga Helen Fisher, a autora do estudo com os apaixonados de longa data, diz que a paixão pode ser comparada a um vício. Ela ativa partes do cérebro que integram os “circuitos de recompensa”, aqueles que nos incentivam a conseguir o que causa prazer, sejam doces, jogos de azar ou a pessoa amada. São os mesmos circuitos acionados durante o consumo de drogas. É por isso que romper um relacionamento pode causar uma espécie de crise de abstinência análoga à provocada pela falta de droga no corpo de um adicto.
“Fizemos um teste juntos no teatro, era década de 50. Quando a vi, ela usava uma boininha azul e fumava muito. Os movimentos da Nicete sempre me impressionaram, ela é muito feminina, glamourosa. Até hoje adoro os gestos dela, o sorriso, o olhar. Ela tem um romantismo que se mantém sempre atual, uma afetividade à flor da pele, mas, ao mesmo tempo, uma seriedade e uma preocupação consciente com tudo o que a cerca. Sabemos, juntos, que o mundo não parou, e é isso que nos mantém felizes”
Nicete Bruno e Paulo Goulart, 76 (os dois), atores, estão casados há 54 anos, têm três filhos, sete netos e dois bisnetos
“Quando começamos a namorar, eu tinha 18 anos e só pensava no meu trabalho. Mas de cara achei o Paulo bonitinho. Ele era o galã da companhia de teatro. Ele me conquistou declamando um poema chamado “Único amor”. A voz dele é linda, e isso me marcou muito. Ele também dança muito bem. Adoramos dançar juntos até hoje. Meu marido sempre me passou a ideia de franqueza, confiabilidade, generosidade”
As transformações químicas causadas pela paixão em geral não duram muito, a não ser em casais especiais, como os estudados recentemente por Helen Fisher. Os cientistas estimam que essas alterações persistam por dois anos. Enzo Emanuele, da Universidade de Pavia, na Itália, mediu o nível dos hormônios relacionados à paixão no sangue de 39 casais juntos há dois anos. E confirmou que eles apresentavam uma concentração menor do que pessoas que declararam estar intensamente apaixonadas. Mas isso não significa que a relação esteja fadada a acabar. É nesse momento que ela pode se transformar em amor, um sentimento mais pleno e menos urgente do que a paixão.
No estudo de Helen Fisher, em parceiros de longa data foram ativadas as regiões do cérebro relacionadas à sensação de calma, enquanto áreas ligadas a sentimentos obsessivos e à ansiedade eram acionadas apenas nos casais recentes. Uma pesquisa da psiquiatra italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa, chegou a comparar a paixão ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), caracterizado por comportamentos repetitivos e manias. Quando comparados às demais pessoas, os níveis de serotonina, uma substância com efeito calmante, são até 40% mais baixos em quem sofre de TOC. Ou de paixão.
O amor estaria mais relacionado ao tipo de apego que há entre mãe e filho. “O amor maternal e aquele em que homem e mulher compartilham circuitos cerebrais são muito semelhantes”, afirma o neurocientista Jorge Moll Neto, coordenador da Unidade de Neurociência Cognitiva e Comportamental da Rede D’Or de hospitais e laboratórios privados, no Rio de Janeiro. Ambos são moderados pelo hormônio oxitocina, o mesmo liberado em grandes quantidades quando as mulheres amamentam e que cria um laço tão profundo entre mães e filhos. Em uma relação entre homem e mulher, a oxitocina é liberada com o orgasmo. Essa mudança química seria a maneira que a evolução “encontrou” para manter os parceiros que procriaram focados em criar os filhos. Após essa etapa, eles estariam livres de novo para se apaixonar, amar e gerar mais descendentes.
Por enquanto, conhecer a fisiologia das emoções ainda não garante a eficácia dos testes genéticos para encontrar o companheiro ideal nem o desenvolvimento de uma poção do amor. Mas ajuda a entender que é normal a paixão esfriar. Que a dor de um rompimento vai passar assim que a química cerebral acabar. E que estaremos com o coração – e o cérebro – livre para olhar para outro homem de maxilar largo ou para outra mulher de cintura fina. É a nossa natureza.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI20951-15257,00-A+FORMULA+DO+AMOR+ETERNO.html
Qual é o sexo do seu cérebro?
25/03/2009 - 09:32 - ATUALIZADO EM 17/02/2011 - 16:03
Qual é o sexo do seu cérebro?
O cérebro humano pode ser feminino ou masculino independentemente do sexo biológico de uma pessoa. Faça o teste e saiba se o seu cérebro tem o mesmo sexo que seu corpo
THAÍS FERREIRA
PESQUISA
O cérebro do homem pode ser feminino
As diferenças no corpo de homens e mulheres estão além da aparência e dos órgãos sexuais. A ciência detectou que até o cérebro apresenta características femininas ou masculinas. Essa diferença neurológica gera diferenças de comportamentos, sentimentos e modos de pensar entre homens e mulheres.
Você consegue saber se seu amigo está triste ou irritado só de olhar para ele? Essa é uma característica de um cérebro feminino. Mas um homem também pode ter essa sensibilidade e outros comportamentos geralmente ligados a um cérebro feminino. Isso porque a sexualidade cerebral não está ligada diretamente ao sexo do corpo. “O sexo do cérebro é determinado pela quantidade de testosterona [hormônio masculino] a que o feto fica exposto no útero. Em geral, homens recebem doses maiores do que as mulheres. Mas isso varia e nós ainda não sabemos exatamente por quê”, diz a ÉPOCA a neuropsicologista Anne Moir, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
A diferença entre o cérebro dos dois gêneros tem raízes evolutivas. Segundo Moir, durante o desenvolvimento dos seres humanos, como o homem era o caçador, desenvolveu um cérebro com habilidades manuais, visuais e coordenação para construir ferramentas. Por isso, um cérebro masculino tem mais habilidades funcionais. Já as mulheres preparavam os alimentos e cuidavam dos mais novos. Elas tinham que entender os bebês, ler sua linguagem corporal e ajudá-los a sobreviver. Elas também tinham que se relacionar com as outras mulheres do grupo e dependiam disso para sobreviver na comunidade e, por isso, desenvolveram um cérebro mais social. Os homens, por sua vez, lidavam com um grupo de caçadores, não precisavam tanto um do outro e se comunicavam menos, apenas com sinais.
Moir acredita que a diferença de sexo entre cérebro e corpo pode estar ligada às causas do homossexualismo. “Se a concentração de testosterona no útero está mais baixa do que o padrão para os homens, então o 'centro sexual' do cérebro será feminino e esse homem sentirá atração por outros homens. Se a concentração desse hormônio estiver alta, o 'centro sexual' será masculino e ele sentirá atração por mulheres”, diz Moir.
Faça o teste
Moir está desenvolvendo uma linha de pesquisa para entender melhor as diferenças neurológicas entre homens e mulheres e, para isso, desenvolveu um teste que mostra numa escala de 1 a 20 qual é o sexo do cérebro. O número 1 representa o cérebro mais masculino possível e o 20, o mais feminino. Quem se aproxima do 10 tem um cérebro misto. Segundo Moir, esse último caso é muito comum em suas pesquisas.
Além do teste, outro fator que pode mostrar o sexo do cérebro de uma pessoa, segundo os estudos de Moir, é a medida dos dedos das mãos. Segundo os estudos da inglesa, geralmente, quem tem cérebro masculino tem o dedo indicador menor que o anelar (olhando para a mão de frente para a palma). Já cérebros femininos são associados a dedos indicadores do mesmo comprimento que os anelares. Mas isso não é uma regra sem exceção, como praticamente tudo na biologia. A pesquisadora diz que, às vezes, uma mesma pessoa tem uma mão nos padrões do cérebro masculino e outra do feminino e isso exige mais estudos para entender a organização do cérebro.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI65446-15224,00-QUAL+E+O+SEXO+DO+SEU+CEREBRO.html
Qual é o sexo do seu cérebro?
O cérebro humano pode ser feminino ou masculino independentemente do sexo biológico de uma pessoa. Faça o teste e saiba se o seu cérebro tem o mesmo sexo que seu corpo
THAÍS FERREIRA
PESQUISA
O cérebro do homem pode ser feminino
As diferenças no corpo de homens e mulheres estão além da aparência e dos órgãos sexuais. A ciência detectou que até o cérebro apresenta características femininas ou masculinas. Essa diferença neurológica gera diferenças de comportamentos, sentimentos e modos de pensar entre homens e mulheres.
Você consegue saber se seu amigo está triste ou irritado só de olhar para ele? Essa é uma característica de um cérebro feminino. Mas um homem também pode ter essa sensibilidade e outros comportamentos geralmente ligados a um cérebro feminino. Isso porque a sexualidade cerebral não está ligada diretamente ao sexo do corpo. “O sexo do cérebro é determinado pela quantidade de testosterona [hormônio masculino] a que o feto fica exposto no útero. Em geral, homens recebem doses maiores do que as mulheres. Mas isso varia e nós ainda não sabemos exatamente por quê”, diz a ÉPOCA a neuropsicologista Anne Moir, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
A diferença entre o cérebro dos dois gêneros tem raízes evolutivas. Segundo Moir, durante o desenvolvimento dos seres humanos, como o homem era o caçador, desenvolveu um cérebro com habilidades manuais, visuais e coordenação para construir ferramentas. Por isso, um cérebro masculino tem mais habilidades funcionais. Já as mulheres preparavam os alimentos e cuidavam dos mais novos. Elas tinham que entender os bebês, ler sua linguagem corporal e ajudá-los a sobreviver. Elas também tinham que se relacionar com as outras mulheres do grupo e dependiam disso para sobreviver na comunidade e, por isso, desenvolveram um cérebro mais social. Os homens, por sua vez, lidavam com um grupo de caçadores, não precisavam tanto um do outro e se comunicavam menos, apenas com sinais.
Moir acredita que a diferença de sexo entre cérebro e corpo pode estar ligada às causas do homossexualismo. “Se a concentração de testosterona no útero está mais baixa do que o padrão para os homens, então o 'centro sexual' do cérebro será feminino e esse homem sentirá atração por outros homens. Se a concentração desse hormônio estiver alta, o 'centro sexual' será masculino e ele sentirá atração por mulheres”, diz Moir.
Faça o teste
Moir está desenvolvendo uma linha de pesquisa para entender melhor as diferenças neurológicas entre homens e mulheres e, para isso, desenvolveu um teste que mostra numa escala de 1 a 20 qual é o sexo do cérebro. O número 1 representa o cérebro mais masculino possível e o 20, o mais feminino. Quem se aproxima do 10 tem um cérebro misto. Segundo Moir, esse último caso é muito comum em suas pesquisas.
Além do teste, outro fator que pode mostrar o sexo do cérebro de uma pessoa, segundo os estudos de Moir, é a medida dos dedos das mãos. Segundo os estudos da inglesa, geralmente, quem tem cérebro masculino tem o dedo indicador menor que o anelar (olhando para a mão de frente para a palma). Já cérebros femininos são associados a dedos indicadores do mesmo comprimento que os anelares. Mas isso não é uma regra sem exceção, como praticamente tudo na biologia. A pesquisadora diz que, às vezes, uma mesma pessoa tem uma mão nos padrões do cérebro masculino e outra do feminino e isso exige mais estudos para entender a organização do cérebro.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI65446-15224,00-QUAL+E+O+SEXO+DO+SEU+CEREBRO.html
Acabou de fazer sexo? Conte para todo mundo
Acabou de fazer sexo? Conte para todo mundo
13:20, 8/10/2009 REDAÇÃO ÉPOCA
Se você acabou de ter uma ótima transa (ou nem tão boa assim) e quer contar pra todo mundo onde e como foi, vá até o site IJustMadeLove.com e deixe tudo registrado. A página usa o sistema do google maps e tem um mapa mundi dividido por países. Com a ajuda do zoom você acha o lugar exato do crime. Aí é só clicar com o botão direito do mouse e surgem as opções para você detalhar a experiência: dá para contar se foi ao ar livre (o ícone é uma árvore) ou em ambiente fechado (um sofá) e tem um espaço para colocar comentários. Mais de onze mil pessoas já informaram ao site que “acabaram de fazer amor”, 804 no Reino Unido e 4,409 nos EUA, segundo matéria do Telegraph. Tentei checar o Brasil, mas o site está sobrecarregado, deve ter muita gente fazendo amor neste momento.
http://colunas.epoca.globo.com/sexpedia/2009/10/08/acabou-de-fazer-sexo-conte-para-todo-mundo/
13:20, 8/10/2009 REDAÇÃO ÉPOCA
Se você acabou de ter uma ótima transa (ou nem tão boa assim) e quer contar pra todo mundo onde e como foi, vá até o site IJustMadeLove.com e deixe tudo registrado. A página usa o sistema do google maps e tem um mapa mundi dividido por países. Com a ajuda do zoom você acha o lugar exato do crime. Aí é só clicar com o botão direito do mouse e surgem as opções para você detalhar a experiência: dá para contar se foi ao ar livre (o ícone é uma árvore) ou em ambiente fechado (um sofá) e tem um espaço para colocar comentários. Mais de onze mil pessoas já informaram ao site que “acabaram de fazer amor”, 804 no Reino Unido e 4,409 nos EUA, segundo matéria do Telegraph. Tentei checar o Brasil, mas o site está sobrecarregado, deve ter muita gente fazendo amor neste momento.
http://colunas.epoca.globo.com/sexpedia/2009/10/08/acabou-de-fazer-sexo-conte-para-todo-mundo/
Sexo, mentiras e vídeo na internet
10/07/2010 - 07:00 - ATUALIZADO EM 10/07/2010 - 10:07
Sexo, mentiras e vídeo na internet
Um caso extraconjugal no interior de São Paulo cai na rede e vira um reality show visto por milhões. O que isso ensina sobre a privacidade na era digital
HUMBERTO MAIA JUNIOR, DE SOROCABA, E BRUNO FERRARI E CAMILA GUIMARÃES COM RODRIGO TURRER
A VINGADORA
Vivian de Oliveira, a advogada que gravou um vídeo em que extrai uma confissão da amante de seu marido. Sua atitude pode torná-la a vilã
Na noite de 27 de junho, a advogada Vivian Almeida de Oliveira, de 34 anos, colocou na internet, em sua página da rede de relacionamento Orkut, a prova de que seu marido, o comerciante Cícero Oliveira, de 54 anos, a traíra. As imagens escolhidas por Vivian não eram de um flagrante de adultério. Por dez minutos e 18 segundos, ela aparece num vídeo caseiro falando com sua melhor amiga, a comerciante Juliana Cordeiro, de 33 anos. A conversa se desenrola na casa de Vivian. O conteúdo é hipnótico.
Vivian vai mostrando à amiga as peças de um dossiê montado por ela mesma ao longo de dois meses. São cópias de e-mails trocados entre Cícero e Juliana que confirmam que os dois mantinham um caso havia cinco anos. O vídeo mostra o momento em que a esposa traída confronta a amiga com as evidências de sua impostura – e exige explicações. São cenas difíceis de assistir e, ao mesmo tempo, é inevitável chegar ao fim uma vez que se tenha começado. O vídeo atinge um pedaço escuro da alma humana em que se misturam curiosidade, indignação, violência e prazer.
Vivian disse a ÉPOCA que, ao fazer a gravação e colocá-la na internet, só queria mostrar à sociedade de Sorocaba, cidade do interior paulista onde vive, o verdadeiro caráter da ex-amiga, que é casada com o empresário Fábio Cordeiro, de 39 anos. Mas a conversa da mulher traída com a amante do marido termina mal. Aos poucos, Vivian vai perdendo o controle, até que passa a estapear, empurrar e, finalmente, chutar Juliana caída, enquanto a cobre de insultos. Tudo isso diante da câmera ligada. E oculta.
Uma semana depois do encontro, na noite da quinta-feira 8, as imagens constrangedoras já haviam sido vistas por pelo menos 1 milhão de pessoas na internet – e o drama privado de Vivian se tornara uma novela de domínio público. Cópias e paródias do vídeo ocuparam 16 das 20 posições de peças mais vistas no YouTube brasileiro. Dali, o caso transbordou para os jornais e para a televisão. No final da semana passada, caminhava rapidamente para tornar-se um dos episódios mais vistos e comentados da internet brasileira, ainda que não envolva pessoas famosas. A mistura de traição e agressão, apresentada em clima de reality show, fez do “barraco de Sorocaba”, como ficou conhecido na rede, um chamariz irresistível. E constitui um exemplo contundente de como a internet pode afetar a intimidade das pessoas de forma radical. No passado, já houve no Brasil situações assemelhadas (leia o quadro na página 56). Mas a audiência da internet não era tão grande, nem a capacidade de ver e distribuir vídeos pela rede estava tão disseminada. Tampouco eram fortes as redes sociais, que funcionaram neste caso como multiplicadoras do vídeo. A consequência é que os quatro envolvidos, até então anônimos, passaram por um julgamento público, distribuído em comentários pelo Twitter e outros fóruns virtuais.
A audiência popular condenou Juliana, que enganara tanto o marido quanto a amiga. Condenou Cícero, que enganara a mulher mantendo um caso com a melhor amiga dela. Condenou também Fábio, por ter sido passado para trás pela mulher e pelo amigo. O rapaz chegou a ter sua masculinidade questionada. Fotos de todos os protagonistas desse drama interiorano circularam pela internet junto com o vídeo e acompanhadas de comentários cada vez mais mordazes. Vivian, a protagonista, dividiu opiniões: há quem a considere maluca, pela agressão e por ter exposto na internet uma situação que deveria ser resolvida na intimidade. E há quem tenha visto nela uma heroína, capaz de confrontar a amante do marido. “Quis mostrar minha resposta à humilhação. Para verem que eu não sou uma coitada. Eu agi”, disse na quinta-feira, em seu escritório no centro de Sorocaba. Seu gesto pode vir a ter consequências.
O vídeo ganhou mais de 60 réplicas na internet. As pessoas que replicaram podem ser processadas
Vivian está sendo processada por Juliana, que registrou contra a ex-amiga uma queixa por lesão corporal. A vítima da traição conjugal poderá ser obrigada a indenizar a amiga que a enganou. “Fui traída dentro de minha própria casa por duas pessoas em quem confiava”, afirma. Os dois casais eram íntimos. “Fomos padrinhos de casamento deles, e Juliana é madrinha de um dos meus filhos.” Eram sempre vistos juntos em festas, bares e restaurantes de Sorocaba. Faziam viagens. Nem na lua de mel de Fábio e Juliana eles se separaram. “Passamos quase uma semana juntos no Recife. Depois, eles foram para Fernando de Noronha e nós (Vivian e Cícero) para Fortaleza”, diz Vivian. Os dois casais tinham apartamento no mesmo prédio no Guarujá e, há um ano, moram no mesmo condomínio.
“Se eu apenas contasse o que sabia, ninguém iria acreditar”, diz Vivian. Para ela, as pessoas não conseguiriam imaginar que Juliana, casada com um jovem rico, bonito e com boas relações na cidade, iria se envolver com Cícero, um homem de pouca estatura, enrugado, que pinta os cabelos de acaju e tenta esconder a calvície. “Meu marido não é nenhum modelo de beleza”, afirma Vivian. Por isso, ela precisaria da confissão gravada em vídeo para se vingar. A gravação original tem pouco mais de uma hora de duração. O que se tornou de conhecimento público foi uma versão editada de dez minutos, que termina com a agressão de Vivian contra Juliana. A parte que não foi ao ar na internet contém 50 minutos de discussão posterior à conversa e à agressão e envolve os dois maridos, que chegaram à casa depois. Vivian diz que se arrepende das agressões. E também de divulgar o vídeo. “Não deveria ter feito. Mas, na hora, a emoção falou mais forte. Divulguei o vídeo para o meu círculo de amigos”, diz. Poucas horas depois de colocar o vídeo na rede, Vivian foi convencida pela filha a removê-lo. Mas já era tarde. Ela admite ter sido ingênua quanto à repercussão que as imagens poderiam ganhar. “Não achei que tantas pessoas fossem se interessar.” Diz que usa a internet apenas para conversar com amigos que vivem em outras cidades e para auxiliar seu trabalho.
As suspeitas de que Cícero tinha um caso com Juliana surgiram no começo de maio, quando Vivian descobriu que os dois trocavam mensagens pelo MSN, o serviço de mensagens instantâneas da Microsoft. Ela e o marido discutiram por causa disso, e Vivian diz que se sentiu insultada. Pediu a Cícero que ele saísse de casa. E passou a segui-lo com uma câmera. Assim, teria flagrado vários momentos íntimos entre ele e Juliana. “Fiz papel de detetive”, afirma ela. No dia 10 de junho, aniversário de Cícero, ele a convidou para jantar e pediu para fazerem as pazes. “Ele chorou e se desculpou”, diz Vivian. Ela acreditava que a traição era algo recente. Sem querer o divórcio, e por pressão dos filhos, aceitou o marido de volta. Mas o trabalho de espionagem não parou. Vivian descobriu 985 e-mails de Juliana para Cícero e mais de 870 dele para a amante. Passou uma noite em claro lendo a correspondência. “Vi um e-mail em que ele dava os parabéns pelos cinco anos de namoro e chamando ela de ‘amor verdadeiro’.” As provas escritas e gravadas, porém, não lhe pareciam suficientes para o divórcio. Ela acreditava que os dois poderiam alegar que os e-mails não eram deles e as gravações poderiam não servir como prova porque foram feitas sem o conhecimento dos dois. “As provas eram contestáveis”, diz a advogada. Daí a ideia de gravar clandestinamente a confissão de Juliana. “Eu liguei para ela e disse: ‘Aí, Ju, tô em casa sozinha, tô mal. Você não pode vir aqui conversar?’ Ela disse: ‘Claro, tô subindo’.” O resto já se sabe.
O que o vídeo mostra
Depois de quase dez minutos de conversa, o acerto de contas vira pancadaria
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI154042-15224,00-SEXO+MENTIRAS+E+VIDEO+NA+INTERNET.html
Sexo, mentiras e vídeo na internet
Um caso extraconjugal no interior de São Paulo cai na rede e vira um reality show visto por milhões. O que isso ensina sobre a privacidade na era digital
HUMBERTO MAIA JUNIOR, DE SOROCABA, E BRUNO FERRARI E CAMILA GUIMARÃES COM RODRIGO TURRER
A VINGADORA
Vivian de Oliveira, a advogada que gravou um vídeo em que extrai uma confissão da amante de seu marido. Sua atitude pode torná-la a vilã
Na noite de 27 de junho, a advogada Vivian Almeida de Oliveira, de 34 anos, colocou na internet, em sua página da rede de relacionamento Orkut, a prova de que seu marido, o comerciante Cícero Oliveira, de 54 anos, a traíra. As imagens escolhidas por Vivian não eram de um flagrante de adultério. Por dez minutos e 18 segundos, ela aparece num vídeo caseiro falando com sua melhor amiga, a comerciante Juliana Cordeiro, de 33 anos. A conversa se desenrola na casa de Vivian. O conteúdo é hipnótico.
Vivian vai mostrando à amiga as peças de um dossiê montado por ela mesma ao longo de dois meses. São cópias de e-mails trocados entre Cícero e Juliana que confirmam que os dois mantinham um caso havia cinco anos. O vídeo mostra o momento em que a esposa traída confronta a amiga com as evidências de sua impostura – e exige explicações. São cenas difíceis de assistir e, ao mesmo tempo, é inevitável chegar ao fim uma vez que se tenha começado. O vídeo atinge um pedaço escuro da alma humana em que se misturam curiosidade, indignação, violência e prazer.
Vivian disse a ÉPOCA que, ao fazer a gravação e colocá-la na internet, só queria mostrar à sociedade de Sorocaba, cidade do interior paulista onde vive, o verdadeiro caráter da ex-amiga, que é casada com o empresário Fábio Cordeiro, de 39 anos. Mas a conversa da mulher traída com a amante do marido termina mal. Aos poucos, Vivian vai perdendo o controle, até que passa a estapear, empurrar e, finalmente, chutar Juliana caída, enquanto a cobre de insultos. Tudo isso diante da câmera ligada. E oculta.
Uma semana depois do encontro, na noite da quinta-feira 8, as imagens constrangedoras já haviam sido vistas por pelo menos 1 milhão de pessoas na internet – e o drama privado de Vivian se tornara uma novela de domínio público. Cópias e paródias do vídeo ocuparam 16 das 20 posições de peças mais vistas no YouTube brasileiro. Dali, o caso transbordou para os jornais e para a televisão. No final da semana passada, caminhava rapidamente para tornar-se um dos episódios mais vistos e comentados da internet brasileira, ainda que não envolva pessoas famosas. A mistura de traição e agressão, apresentada em clima de reality show, fez do “barraco de Sorocaba”, como ficou conhecido na rede, um chamariz irresistível. E constitui um exemplo contundente de como a internet pode afetar a intimidade das pessoas de forma radical. No passado, já houve no Brasil situações assemelhadas (leia o quadro na página 56). Mas a audiência da internet não era tão grande, nem a capacidade de ver e distribuir vídeos pela rede estava tão disseminada. Tampouco eram fortes as redes sociais, que funcionaram neste caso como multiplicadoras do vídeo. A consequência é que os quatro envolvidos, até então anônimos, passaram por um julgamento público, distribuído em comentários pelo Twitter e outros fóruns virtuais.
A audiência popular condenou Juliana, que enganara tanto o marido quanto a amiga. Condenou Cícero, que enganara a mulher mantendo um caso com a melhor amiga dela. Condenou também Fábio, por ter sido passado para trás pela mulher e pelo amigo. O rapaz chegou a ter sua masculinidade questionada. Fotos de todos os protagonistas desse drama interiorano circularam pela internet junto com o vídeo e acompanhadas de comentários cada vez mais mordazes. Vivian, a protagonista, dividiu opiniões: há quem a considere maluca, pela agressão e por ter exposto na internet uma situação que deveria ser resolvida na intimidade. E há quem tenha visto nela uma heroína, capaz de confrontar a amante do marido. “Quis mostrar minha resposta à humilhação. Para verem que eu não sou uma coitada. Eu agi”, disse na quinta-feira, em seu escritório no centro de Sorocaba. Seu gesto pode vir a ter consequências.
O vídeo ganhou mais de 60 réplicas na internet. As pessoas que replicaram podem ser processadas
Vivian está sendo processada por Juliana, que registrou contra a ex-amiga uma queixa por lesão corporal. A vítima da traição conjugal poderá ser obrigada a indenizar a amiga que a enganou. “Fui traída dentro de minha própria casa por duas pessoas em quem confiava”, afirma. Os dois casais eram íntimos. “Fomos padrinhos de casamento deles, e Juliana é madrinha de um dos meus filhos.” Eram sempre vistos juntos em festas, bares e restaurantes de Sorocaba. Faziam viagens. Nem na lua de mel de Fábio e Juliana eles se separaram. “Passamos quase uma semana juntos no Recife. Depois, eles foram para Fernando de Noronha e nós (Vivian e Cícero) para Fortaleza”, diz Vivian. Os dois casais tinham apartamento no mesmo prédio no Guarujá e, há um ano, moram no mesmo condomínio.
“Se eu apenas contasse o que sabia, ninguém iria acreditar”, diz Vivian. Para ela, as pessoas não conseguiriam imaginar que Juliana, casada com um jovem rico, bonito e com boas relações na cidade, iria se envolver com Cícero, um homem de pouca estatura, enrugado, que pinta os cabelos de acaju e tenta esconder a calvície. “Meu marido não é nenhum modelo de beleza”, afirma Vivian. Por isso, ela precisaria da confissão gravada em vídeo para se vingar. A gravação original tem pouco mais de uma hora de duração. O que se tornou de conhecimento público foi uma versão editada de dez minutos, que termina com a agressão de Vivian contra Juliana. A parte que não foi ao ar na internet contém 50 minutos de discussão posterior à conversa e à agressão e envolve os dois maridos, que chegaram à casa depois. Vivian diz que se arrepende das agressões. E também de divulgar o vídeo. “Não deveria ter feito. Mas, na hora, a emoção falou mais forte. Divulguei o vídeo para o meu círculo de amigos”, diz. Poucas horas depois de colocar o vídeo na rede, Vivian foi convencida pela filha a removê-lo. Mas já era tarde. Ela admite ter sido ingênua quanto à repercussão que as imagens poderiam ganhar. “Não achei que tantas pessoas fossem se interessar.” Diz que usa a internet apenas para conversar com amigos que vivem em outras cidades e para auxiliar seu trabalho.
As suspeitas de que Cícero tinha um caso com Juliana surgiram no começo de maio, quando Vivian descobriu que os dois trocavam mensagens pelo MSN, o serviço de mensagens instantâneas da Microsoft. Ela e o marido discutiram por causa disso, e Vivian diz que se sentiu insultada. Pediu a Cícero que ele saísse de casa. E passou a segui-lo com uma câmera. Assim, teria flagrado vários momentos íntimos entre ele e Juliana. “Fiz papel de detetive”, afirma ela. No dia 10 de junho, aniversário de Cícero, ele a convidou para jantar e pediu para fazerem as pazes. “Ele chorou e se desculpou”, diz Vivian. Ela acreditava que a traição era algo recente. Sem querer o divórcio, e por pressão dos filhos, aceitou o marido de volta. Mas o trabalho de espionagem não parou. Vivian descobriu 985 e-mails de Juliana para Cícero e mais de 870 dele para a amante. Passou uma noite em claro lendo a correspondência. “Vi um e-mail em que ele dava os parabéns pelos cinco anos de namoro e chamando ela de ‘amor verdadeiro’.” As provas escritas e gravadas, porém, não lhe pareciam suficientes para o divórcio. Ela acreditava que os dois poderiam alegar que os e-mails não eram deles e as gravações poderiam não servir como prova porque foram feitas sem o conhecimento dos dois. “As provas eram contestáveis”, diz a advogada. Daí a ideia de gravar clandestinamente a confissão de Juliana. “Eu liguei para ela e disse: ‘Aí, Ju, tô em casa sozinha, tô mal. Você não pode vir aqui conversar?’ Ela disse: ‘Claro, tô subindo’.” O resto já se sabe.
O que o vídeo mostra
Depois de quase dez minutos de conversa, o acerto de contas vira pancadaria
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI154042-15224,00-SEXO+MENTIRAS+E+VIDEO+NA+INTERNET.html
Vera Fischer: "Tem sexo porque eu não sou freira"
18/12/2010 - 09:35 - ATUALIZADO EM 18/12/2010 - 09:35
Vera Fischer: "Tem sexo porque eu não sou freira"
Vera Fischer estreia na literatura com dez volumes de ficção escritos à mão, em apenas um ano. Autobiografia? “Algumas pequenas coisinhas, sim”
NELITO FERNANDES
Vera Fischer fala rápido, atropela o entrevistador. Mal dá tempo de anotar. Ela escreve mais rápido ainda do que fala. Aos 59 anos, produziu dez livros em um ano. Tudo à mão. Não usa computador porque não tem paciência para aprender. “Tem secretária que pode usar para mim”, diz. A ex-miss, musa da TV e atriz escreve a lápis. “Eu gosto de sentir as palavras saindo. Ainda escrevo cartas para os amigos”, afirma. Seu livro de estreia, Serena, tem 244 páginas. A assessoria de Vera enviou seis capítulos a ÉPOCA. A nova autora diz que o livro completo não está pronto ainda e, por isso, não permite a reprodução de trechos. “As pessoas têm de ler tudo para saber o que é”, diz. Medo de críticas? “Não, o que interessa é o público. É para eles que eu escrevo, não para a crítica.”
Vera tem um estilo de escrita direto, que não se atém a descrições longas (“Ninguém tem paciência para ler livros muito grossos, só os aficionados de literatura”). Um dos personagens vai do aborto à morte, passando pela UTI, septicemia e falência múltipla dos órgãos em apenas seis linhas e meia. A estreante usa imagens comuns como “seu coração parecia estar tão apertado que mal conseguia respirar” e “as horas se arrastavam lentamente”.
Na entrevista que deu por telefone, Vera explica seu processo criativo, seus personagens e suas fontes de pesquisa. “Tem amor, carinho e paixão, mas não é um romance. É ficção.”
ENTREVISTA - VERA FISCHER
QUEM É
Catarinense, foi escolhida Miss Brasil em 1969, aos 18 anos. Ganhou fama pela beleza e pela vida pessoal tumultuada. Tem 59 anos e dois filhos
O QUE FEZ
Começou em pornochanchadas, mas construiu uma carreira premiada de atriz de televisão
O QUE ESCREVEU
Diz que escreveu dez livros de ficção em apenas um ano. Serena, de 244 páginas, está em processo de edição
ÉPOCA – Você publicou duas memórias, qual é a diferença entre escrever ficção e fazer autobiografia?
Vera Fischer – A diferença é que para fazer memória você tem de parar para lembrar.
ÉPOCA – E na ficção você se inspirou em quê? Há coisas suas nos personagens?
Vera – Algumas pequenas coisinhas, sim. Mas não posso dizer o que é. Eu sou muito diferente da Serena, porque ela é medrosa. Eu não sou medrosa. Não tenho medo de nada.
ÉPOCA – Como você conseguiu escrever dez livros em um ano? Isso é mais do que a obra da vida inteira de muitos escritores.
Vera – Uma vez eu pintei 200 quadros em um ano. E agora em um ano eu fiz dez livros. Eu não penso, não. Eu sento e ponho assim: capítulo um. E o capítulo um sai. E o que vai acontecer agora? É isso, pum. E agora? Agora vai ser aquilo. Não fico pensando no que vai acontecer, não faço espinha dorsal de livro, não. É tudo muito rápido. Meu pensamento e minha criatividade fluem.
ÉPOCA – Mas como foi a decisão de começar a escrever? Veio assim do nada?
Vera – Eu estava sem fazer teatro, sem novela. É incrível como quando você está sem fazer nada as coisas brotam. Não sou de ficar pensando muito, planejando muuuito. Meu pensamento não é planejado. Eu faço e depois vejo o que acontece. Sentei, escrevi os livros e depois procurei uma editora. Falei para uma assessora: “Eu fiz esses livros. E agora? O que eu faço com eles? Vamos ver se alguém quer publicar?”.
ÉPOCA – Algum escritor a influenciou?
Vera – Não, nenhum. Acho que meus livros são diferentes de tudo. Não fiz esforço para ser assim, saiu dessa maneira.
ÉPOCA – O que você gosta de ler?
Vera – Eu gosto de tudo. Eu adoro ler desde pequena. Eu roubava dinheiro da minha mãe quando eu tinha 13 anos para ler. Li de tudo. Minha favorita é a Yourcenar (Marguerite Yourcenar, escritora franco-belga).
ÉPOCA – Alguns escritores dizem que sofrem para escrever, que o processo é longo, a escolha das palavras. Você parece ter feito tudo muito facilmente...
Vera – Eu não sofri nada. Não tem esse negócio de ficar descrevendo tudo nos mínimos detalhes, não. Ninguém tem paciência para isso, para livro grosso, muito erudito, só os aficionados da literatura. Hoje em dia, com computador, as pessoas querem tudo rápido. Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido.
ÉPOCA – Você agora quer ser chamada de atriz ou de escritora?
Vera – Não posso dizer que sou escritora, sou uma contadora de histórias. Eu sou uma artista, antigamente eu era só atriz. Eu pinto, escrevo, faço vídeo. Sou uma artista mais completa.
ÉPOCA – Como é para alguém que se acostumou a interpretar textos dos outros passar a criar os textos?
Vera – Eu não interpreto. Eu vivo o personagem. Não faço construção, não sou assim. Eu vou lá e faço. Aquela lá sou eu fazendo. Meus livros também são assim.
ÉPOCA – Do que você mais gostou ao escrever?
Vera – É gostoso inventar personagem e eu inventei vários. Todo livro tem uma viagem ao estrangeiro. Este primeiro tem Marrocos e Caribe. Eu pesquiso esses lugares, os vinhos que eles bebem.
"Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros
são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido"
ÉPOCA – Você pesquisa em livros, na internet?
Vera – Pesquiso muito naquele guia Publifolha. Tenho muitos livros de viagem. É muito interessante colocar meus personagens em lugares que eu nem conheço, como Praga, por exemplo. O hotel existe, o restaurante existe, isso é uma coisa que não tem muito nos outros livros.
ÉPOCA – Pesquisa no Google também?
Vera – Não uso computador porque eu não sei e não quero aprender. Tem secretária que passa para o computador para mim. Eu escrevi tudo à mão, com lápis. Quando eu escrevo à mão, é como se as palavras saíssem de mim, tem outro sentido. Quando eu vejo assim impressa na tela não parece que fui eu.
ÉPOCA – Eu li seis capítulos do livro e vi uma agressão, uma tentativa de estupro, negociação de peças preciosas, sequestro e fugas. Acontece muita coisa, não é?
Vera – Ah, acontece. Não posso contar, senão perde a graça. Mas tem de acontecer. Não pode ficar duas páginas só descrevendo. Eu gosto de ver coisas acontecendo, como um filme. O texto é meio falado, é bacana, é natural.
ÉPOCA – Não deu para perceber bem qual é o gênero. Como eu classifico? É um policial?
Vera – Não é suspense, policial, drama, nada. Pode ser catalogado no máximo como romance. Tem amor, carinho, paixão, mas não é um romance. É ficção.
ÉPOCA – Tem muito sexo também.
Vera – Tem porque eu não sou freira. Não posso escrever que eles deram um beijo e viveram felizes para sempre. Todos os livros têm sexo. Isso existe na vida de qualquer pessoa, uma transa. Em um livro eu escrevi uma transa homossexual. Eu nunca vi, nem sei como é, mas a gente inventa as coisas.
ÉPOCA – Você disse que seus livros não são para pobres?
Vera – Não. Distorceram o que eu disse. Eu já vi que você não pode dar entrevista para certos veículos porque eles distorcem tudo o que você diz. O que eu disse é que meu livro não tem pobre. Eles vão à luta e vencem na vida.
ÉPOCA – Mas por que só esse universo?
Vera – Que universo?
ÉPOCA – Da riqueza.
Vera – Eu gosto de mostrar que as pessoas que lutam se dão bem.
ÉPOCA – Mas não há um miserável?
Vera – Tem, no meu outro livro tem uma pessoa que veio da favela. Eu não tenho nenhum problema em escrever sobre pobre. Os pobres também vão gostar. Porque meus personagens não são deuses, não são ícones, as pessoas vão se identificar. Eles são bons e maus, ninguém é só bonzinho. Tem os só maus, mas só bonzinho não tem.
ÉPOCA – Mas na vida real há gente que é só má?
Vera – Eu acho que sim.
ÉPOCA – E só boa, não há?
Vera – Só boa deve ter também, mas eu não conheço. A Madre Tereza (de Calcutá, morta em 1997) deve ser só boa, né?
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI196824-15228,00-VERA+FISCHER+TEM+SEXO+PORQUE+EU+NAO+SOU+FREIRA.html
Vera Fischer: "Tem sexo porque eu não sou freira"
Vera Fischer estreia na literatura com dez volumes de ficção escritos à mão, em apenas um ano. Autobiografia? “Algumas pequenas coisinhas, sim”
NELITO FERNANDES
Vera Fischer fala rápido, atropela o entrevistador. Mal dá tempo de anotar. Ela escreve mais rápido ainda do que fala. Aos 59 anos, produziu dez livros em um ano. Tudo à mão. Não usa computador porque não tem paciência para aprender. “Tem secretária que pode usar para mim”, diz. A ex-miss, musa da TV e atriz escreve a lápis. “Eu gosto de sentir as palavras saindo. Ainda escrevo cartas para os amigos”, afirma. Seu livro de estreia, Serena, tem 244 páginas. A assessoria de Vera enviou seis capítulos a ÉPOCA. A nova autora diz que o livro completo não está pronto ainda e, por isso, não permite a reprodução de trechos. “As pessoas têm de ler tudo para saber o que é”, diz. Medo de críticas? “Não, o que interessa é o público. É para eles que eu escrevo, não para a crítica.”
Vera tem um estilo de escrita direto, que não se atém a descrições longas (“Ninguém tem paciência para ler livros muito grossos, só os aficionados de literatura”). Um dos personagens vai do aborto à morte, passando pela UTI, septicemia e falência múltipla dos órgãos em apenas seis linhas e meia. A estreante usa imagens comuns como “seu coração parecia estar tão apertado que mal conseguia respirar” e “as horas se arrastavam lentamente”.
Na entrevista que deu por telefone, Vera explica seu processo criativo, seus personagens e suas fontes de pesquisa. “Tem amor, carinho e paixão, mas não é um romance. É ficção.”
ENTREVISTA - VERA FISCHER
QUEM É
Catarinense, foi escolhida Miss Brasil em 1969, aos 18 anos. Ganhou fama pela beleza e pela vida pessoal tumultuada. Tem 59 anos e dois filhos
O QUE FEZ
Começou em pornochanchadas, mas construiu uma carreira premiada de atriz de televisão
O QUE ESCREVEU
Diz que escreveu dez livros de ficção em apenas um ano. Serena, de 244 páginas, está em processo de edição
ÉPOCA – Você publicou duas memórias, qual é a diferença entre escrever ficção e fazer autobiografia?
Vera Fischer – A diferença é que para fazer memória você tem de parar para lembrar.
ÉPOCA – E na ficção você se inspirou em quê? Há coisas suas nos personagens?
Vera – Algumas pequenas coisinhas, sim. Mas não posso dizer o que é. Eu sou muito diferente da Serena, porque ela é medrosa. Eu não sou medrosa. Não tenho medo de nada.
ÉPOCA – Como você conseguiu escrever dez livros em um ano? Isso é mais do que a obra da vida inteira de muitos escritores.
Vera – Uma vez eu pintei 200 quadros em um ano. E agora em um ano eu fiz dez livros. Eu não penso, não. Eu sento e ponho assim: capítulo um. E o capítulo um sai. E o que vai acontecer agora? É isso, pum. E agora? Agora vai ser aquilo. Não fico pensando no que vai acontecer, não faço espinha dorsal de livro, não. É tudo muito rápido. Meu pensamento e minha criatividade fluem.
ÉPOCA – Mas como foi a decisão de começar a escrever? Veio assim do nada?
Vera – Eu estava sem fazer teatro, sem novela. É incrível como quando você está sem fazer nada as coisas brotam. Não sou de ficar pensando muito, planejando muuuito. Meu pensamento não é planejado. Eu faço e depois vejo o que acontece. Sentei, escrevi os livros e depois procurei uma editora. Falei para uma assessora: “Eu fiz esses livros. E agora? O que eu faço com eles? Vamos ver se alguém quer publicar?”.
ÉPOCA – Algum escritor a influenciou?
Vera – Não, nenhum. Acho que meus livros são diferentes de tudo. Não fiz esforço para ser assim, saiu dessa maneira.
ÉPOCA – O que você gosta de ler?
Vera – Eu gosto de tudo. Eu adoro ler desde pequena. Eu roubava dinheiro da minha mãe quando eu tinha 13 anos para ler. Li de tudo. Minha favorita é a Yourcenar (Marguerite Yourcenar, escritora franco-belga).
ÉPOCA – Alguns escritores dizem que sofrem para escrever, que o processo é longo, a escolha das palavras. Você parece ter feito tudo muito facilmente...
Vera – Eu não sofri nada. Não tem esse negócio de ficar descrevendo tudo nos mínimos detalhes, não. Ninguém tem paciência para isso, para livro grosso, muito erudito, só os aficionados da literatura. Hoje em dia, com computador, as pessoas querem tudo rápido. Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido.
ÉPOCA – Você agora quer ser chamada de atriz ou de escritora?
Vera – Não posso dizer que sou escritora, sou uma contadora de histórias. Eu sou uma artista, antigamente eu era só atriz. Eu pinto, escrevo, faço vídeo. Sou uma artista mais completa.
ÉPOCA – Como é para alguém que se acostumou a interpretar textos dos outros passar a criar os textos?
Vera – Eu não interpreto. Eu vivo o personagem. Não faço construção, não sou assim. Eu vou lá e faço. Aquela lá sou eu fazendo. Meus livros também são assim.
ÉPOCA – Do que você mais gostou ao escrever?
Vera – É gostoso inventar personagem e eu inventei vários. Todo livro tem uma viagem ao estrangeiro. Este primeiro tem Marrocos e Caribe. Eu pesquiso esses lugares, os vinhos que eles bebem.
"Eu escrevo como vem o pensamento, e meus livros
são rápidos de ler porque meu pensamento é rápido"
ÉPOCA – Você pesquisa em livros, na internet?
Vera – Pesquiso muito naquele guia Publifolha. Tenho muitos livros de viagem. É muito interessante colocar meus personagens em lugares que eu nem conheço, como Praga, por exemplo. O hotel existe, o restaurante existe, isso é uma coisa que não tem muito nos outros livros.
ÉPOCA – Pesquisa no Google também?
Vera – Não uso computador porque eu não sei e não quero aprender. Tem secretária que passa para o computador para mim. Eu escrevi tudo à mão, com lápis. Quando eu escrevo à mão, é como se as palavras saíssem de mim, tem outro sentido. Quando eu vejo assim impressa na tela não parece que fui eu.
ÉPOCA – Eu li seis capítulos do livro e vi uma agressão, uma tentativa de estupro, negociação de peças preciosas, sequestro e fugas. Acontece muita coisa, não é?
Vera – Ah, acontece. Não posso contar, senão perde a graça. Mas tem de acontecer. Não pode ficar duas páginas só descrevendo. Eu gosto de ver coisas acontecendo, como um filme. O texto é meio falado, é bacana, é natural.
ÉPOCA – Não deu para perceber bem qual é o gênero. Como eu classifico? É um policial?
Vera – Não é suspense, policial, drama, nada. Pode ser catalogado no máximo como romance. Tem amor, carinho, paixão, mas não é um romance. É ficção.
ÉPOCA – Tem muito sexo também.
Vera – Tem porque eu não sou freira. Não posso escrever que eles deram um beijo e viveram felizes para sempre. Todos os livros têm sexo. Isso existe na vida de qualquer pessoa, uma transa. Em um livro eu escrevi uma transa homossexual. Eu nunca vi, nem sei como é, mas a gente inventa as coisas.
ÉPOCA – Você disse que seus livros não são para pobres?
Vera – Não. Distorceram o que eu disse. Eu já vi que você não pode dar entrevista para certos veículos porque eles distorcem tudo o que você diz. O que eu disse é que meu livro não tem pobre. Eles vão à luta e vencem na vida.
ÉPOCA – Mas por que só esse universo?
Vera – Que universo?
ÉPOCA – Da riqueza.
Vera – Eu gosto de mostrar que as pessoas que lutam se dão bem.
ÉPOCA – Mas não há um miserável?
Vera – Tem, no meu outro livro tem uma pessoa que veio da favela. Eu não tenho nenhum problema em escrever sobre pobre. Os pobres também vão gostar. Porque meus personagens não são deuses, não são ícones, as pessoas vão se identificar. Eles são bons e maus, ninguém é só bonzinho. Tem os só maus, mas só bonzinho não tem.
ÉPOCA – Mas na vida real há gente que é só má?
Vera – Eu acho que sim.
ÉPOCA – E só boa, não há?
Vera – Só boa deve ter também, mas eu não conheço. A Madre Tereza (de Calcutá, morta em 1997) deve ser só boa, né?
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI196824-15228,00-VERA+FISCHER+TEM+SEXO+PORQUE+EU+NAO+SOU+FREIRA.html
Sexo e literatura
23/10/2010 - 00:04 - ATUALIZADO EM 25/10/2010 - 11:58
Sexo e literatura
Com "Memórias do Condado de Hecate", o célebre crítico Edmund Wilson foi acusado de pornografia
CADÃO VOLPATO
Edmund Wilson era um homem de apetites incomuns. Nos anos 20 e 30, poderia passar o dia inteiro trabalhando numa miscelânea de artigos brilhantes sobre vida e arte em Nova York e depois esticar para uma noitada num dancing, em geral regada a bebida barata. Além de beber e comer generosamente, queria abarcar o mundo com a força e o vigor do pensamento. Foi dos críticos mais lúcidos e respeitados de sua época, homem capaz de pontos de vista generosos e surpreendentes e um dos primeiros a ler Ulysses, de James Joyce, e Terra Devastada, de T.S. Eliot, marcos da vanguarda. Experimentou a poesia, o romance e o conto (em todos, se não foi um mestre, tentou, pelo menos, caminhos nada óbvios). Mas foi no ensaio que sua mente se expandiu nas direções mais marcantes: Rumo à Estação Finlândia, um "romance de idéias" sobre socialismo e Revolução Russa, e O Castelo de Axel, um estudo indispensável sobre o simbolismo. Foi sempre original.
Seus diários, reunidos em parte no volume Os Anos 20, póstumo, contêm anotações de todo tipo, de aventuras gastronômicas a comentários sobre fachadas e paisagens. Mas sobretudo falam de gente. Por suas páginas desfilam os amigos Scott Fitzgerald e e.e. cummings (que assinava em minúsculas) e poetas como a lendária Edna St. Vincent Millay, um grande, fantasioso e conturbado amor do jovem Wilson. O apetite sexual do escritor também ocupa largos espaços no livro. Suas descrições sexuais, detalhistas mas também poéticas, levaram aos tribunais aquele que ele próprio considerava seu melhor livro, Memórias do Condado de Hecate, publicado nos Estados Unidos em 1946, mas banido até 1959. São seis contos fortes, sendo o mais impressionante "A princesa dos cabelos dourados", em que ele escreve sobre um romance com duas mulheres. Uma delas, Anna, dançarina, aparece com o mesmo nome nos diários. Aliás, algumas cenas inteiras da história foram arrancadas da realidade, o que o torna ainda mais fascinante. Os contos de Memórias do Condado de Hecate mostram que Edmund Wilson não separava a literatura da vida. Ele as tratava com a mesma intensa voracidade.
Título
Memórias do Condado de Hecate
Autor
Edmund Wilson
Editora
Companhia das Letras
Preço e páginas
R$ 31/414
PERFIL
Edmund Wilson
Nascimento e morte
1895, em Nova Jersey, EUA; morreu em 1972.
Universidade
Estudou em Princeton (1912-1916). Scott Fitzgerald foi seu colega.
Evento sentimental REm 1920, conhece a poetisa Edna Millay, primeiro grande amor.
Principais livros
Rumo à Estação Finlândia, O Castelo de Axel e I Thought of Daisy.
"Disse que usava os calções para se proteger dos rapazes na 'escola de dança', que por vezes saíam com ela depois do encerramento: 'Quando tocam sua pele nua, ficam loucos', disse, 'e então aqui estou eu sem os calções, com você!' Estava mais para circunspecta sobre o fato, mas consegui fazer com que sorrisse ao lhe dizer que ficava bonita com o rosto ruborizado."
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI181841-15220,00-SEXO+E+LITERATURA.html
Sexo e literatura
Com "Memórias do Condado de Hecate", o célebre crítico Edmund Wilson foi acusado de pornografia
CADÃO VOLPATO
Edmund Wilson era um homem de apetites incomuns. Nos anos 20 e 30, poderia passar o dia inteiro trabalhando numa miscelânea de artigos brilhantes sobre vida e arte em Nova York e depois esticar para uma noitada num dancing, em geral regada a bebida barata. Além de beber e comer generosamente, queria abarcar o mundo com a força e o vigor do pensamento. Foi dos críticos mais lúcidos e respeitados de sua época, homem capaz de pontos de vista generosos e surpreendentes e um dos primeiros a ler Ulysses, de James Joyce, e Terra Devastada, de T.S. Eliot, marcos da vanguarda. Experimentou a poesia, o romance e o conto (em todos, se não foi um mestre, tentou, pelo menos, caminhos nada óbvios). Mas foi no ensaio que sua mente se expandiu nas direções mais marcantes: Rumo à Estação Finlândia, um "romance de idéias" sobre socialismo e Revolução Russa, e O Castelo de Axel, um estudo indispensável sobre o simbolismo. Foi sempre original.
Seus diários, reunidos em parte no volume Os Anos 20, póstumo, contêm anotações de todo tipo, de aventuras gastronômicas a comentários sobre fachadas e paisagens. Mas sobretudo falam de gente. Por suas páginas desfilam os amigos Scott Fitzgerald e e.e. cummings (que assinava em minúsculas) e poetas como a lendária Edna St. Vincent Millay, um grande, fantasioso e conturbado amor do jovem Wilson. O apetite sexual do escritor também ocupa largos espaços no livro. Suas descrições sexuais, detalhistas mas também poéticas, levaram aos tribunais aquele que ele próprio considerava seu melhor livro, Memórias do Condado de Hecate, publicado nos Estados Unidos em 1946, mas banido até 1959. São seis contos fortes, sendo o mais impressionante "A princesa dos cabelos dourados", em que ele escreve sobre um romance com duas mulheres. Uma delas, Anna, dançarina, aparece com o mesmo nome nos diários. Aliás, algumas cenas inteiras da história foram arrancadas da realidade, o que o torna ainda mais fascinante. Os contos de Memórias do Condado de Hecate mostram que Edmund Wilson não separava a literatura da vida. Ele as tratava com a mesma intensa voracidade.
Título
Memórias do Condado de Hecate
Autor
Edmund Wilson
Editora
Companhia das Letras
Preço e páginas
R$ 31/414
PERFIL
Edmund Wilson
Nascimento e morte
1895, em Nova Jersey, EUA; morreu em 1972.
Universidade
Estudou em Princeton (1912-1916). Scott Fitzgerald foi seu colega.
Evento sentimental REm 1920, conhece a poetisa Edna Millay, primeiro grande amor.
Principais livros
Rumo à Estação Finlândia, O Castelo de Axel e I Thought of Daisy.
"Disse que usava os calções para se proteger dos rapazes na 'escola de dança', que por vezes saíam com ela depois do encerramento: 'Quando tocam sua pele nua, ficam loucos', disse, 'e então aqui estou eu sem os calções, com você!' Estava mais para circunspecta sobre o fato, mas consegui fazer com que sorrisse ao lhe dizer que ficava bonita com o rosto ruborizado."
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI181841-15220,00-SEXO+E+LITERATURA.html
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