Seção: Comportamento
Os conflitos gerados pela emancipação feminina estão longe de ser página virada. “Mudanças de consciência são muito rápidas, mas mudanças de comportamento são geracionais”, analisa o sociólogo Luiz Antônio Nascimento, professor da Universidade Federal do Amazonas. Por isso vemos tantos homens celebrando a ascensão profissional das mulheres e entrando em crise assim que percebem que suas parceiras ganham mais que eles.
“Os homens mais jovens têm medo dessas mulheres independentes. Só depois de mais maduros eles conseguem perceber que não existe nenhum problema em discutir vontades e opiniões femininas”, acredita o professor.
Ao perder o papel de provedor da família, o homem se vê sem rumo, pois ao mesmo tempo em que gosta de ter a ajuda financeira da mulher, sofre com a pressão de terceiros e mesmo com os valores intrínsecos para tomar de volta seu lugar. Sem os papeis pré-definidos, o casal não consegue se compor de forma tranquila. É aí que pode surgir a competitividade entre os dois, um dos motivos que leva à separação. “Se não há vontade bilateral de ver o outro crescer, aparece o mal-estar e a impossibilidade de convivência”, avisa a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo.
Defesa e acusação
Claro que o problema não está apenas na ala masculina.
Claro que o problema não está apenas na ala masculina.
“As mulheres estão reacionárias e autoritárias. Acham-se no direito de abrir caixa de e-mail e xeretar no celular de seus namorados e maridos. Isso causa uma série de conflitos e separações prematuras.” Manter a família a qualquer preço também ficou no passado. Se as gerações passadas deixavam a afetividade em segundo plano por não admitirem a separação e a volta para a casa dos pais, hoje é perfeitamente possível sair de uma relação e se manter financeiramente. “O nível de tolerância dos casais está menor. Dificilmente eles desejam trabalhar as diferenças”, diz Carmita Abdo.
Se as mulheres já conquistaram um espaço tipicamente masculino, o do trabalho, os homens estão em vias de dominar o espaço tradicionalmente visto como o mais feminino de todos: a casa.
Pais participam das tarefas domésticas e dos cuidados com os filhos. E isso pode ser ótimo porque livra a mulher de uma carga muitas vezes bastante pesada, mas pode passar dos limites e tirá-la de um papel do qual ela não está preparada para abrir mão: o de mãe. “Anular a mulher em casa e anular o homem na rua têm o mesmo efeito danoso para as relações”, analisa Luiz Antonio.
A longevidade, mais uma vez, influencia as mudanças sociais que vêm acontecendo. Antes, quando um casamento não ia bem, não havia muito tempo para pôr fim ao relacionamento e buscar a felicidade em outro. A decisão de se separar vinha com a resignação de que a mulher acabaria sozinha. “As escolhas aos 20 anos são muito diferentes das escolhas aos 40 ou 50 anos. É natural que um relacionamento que estava bom quando se era mais jovem mude com o passar dos anos”, lembra Ana Maria Zampieri.
Isso quer dizer que o segundo casamento tem mais chances de dar certo? Teoricamente sim.
Tanto por causa da maturidade quanto pelo fato de que os primeiros erros tendem a evitar os erros seguintes. “Isso só funciona para aqueles que não se divorciam na primeira dificuldade. Porque esses têm a ilusão de que o problema só está no outro”, diz a psicóloga.
A vida sexual, que tinha data marcada para terminar, hoje faz parte do cotidiano da terceira idade. Medicações para homens e reposição hormonal para as mulheres garantem longevidade sexual. O oposto também é verdade: se a vida sexual entre o casal não está fluindo, é natural buscar um par mais satisfatório, não importa a idade.
Fonte: Cáren Nakashima e Livia Valim, especial para o iG São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário