domingo, 22 de abril de 2012

O que fazer quando o sexo não traz prazer?


Publicado Terça-Feira, 17 de Abril de 2012, às 10:09 | Band



O que fazer quando o sexo não traz prazer?

Especialista fala dos problemas sexuais femininos mais comuns.
Fingir o orgasmo para o parceiro pode parecer, em um primeiro momento, algo incomum e o indício de que o relacionamento vai mal. Mesmo a falta de desejo das mulheres, muitas vezes, é associada com uma falha por parte do parceiro em satisfazê-la. Em muitos casos, os problemas realmente são intrínsecos à relação, mas outra parte dessas situações pode ser, na verdade, uma indicação de alguma disfunção na sexualidade feminina.
“Não é incomum mulheres que realmente não sentem nenhum prazer com o sexo fingirem o orgasmo por vergonha de admitir para o parceiro que não estão confortáveis com a situação. Outras vezes, o medo de perder o parceiro influi nessa atitude e isso pode incluir a falta de desejo, causada por momentos estressantes pelo qual a mulher passa”, explica Liliana Seger, psicóloga especializada em sexualidade. “Claro que o problema de falta de prazer ou libido não é algo exclusivo das mulheres, mas no caso dos homens, a discussão é diferente”, pontua.

Prazer não tem modelo
Para a especialista, os problemas enfrentados pelas mulheres que procuram o aconselhamento profissional têm raízes históricas, antes de tudo. “A mulher passou, em pouco tempo, de uma condição em que ela não tinha direito ao prazer – uma submissão ligada a valores machistas – para uma condição em que ela não só tem o direito, mas o dever de ter prazer”, diz.
“As revistas, os filmes, mesmo as novelas, insistem na imagem do orgasmo como um prazer intenso constante na vida das mulheres, pintada em cores dramáticas e exageradas. E caso isso não ocorra, a resposta para o problema é simplista: ou o parceiro tem problemas ou a mulher não está conseguindo controlar a situação (ela não consegue construir um cenário de prazer na relação)”, observa Liliana. “Definitivamente, o problema é mais complexo que isso”, afirma.
Primeiro, observa a psicóloga, o orgasmo é diferente para cada uma. Gritos e gemidos não é regra geral. Ter uma imagem preconcebida como modelo do que é o prazer sexual atrapalha, e bastante.
“Isso é a causa da ansiedade de ambos os lados: a mulher pode achar que tem algo errado com sua sexualidade e o parceiro pode achar que não a está satisfazendo. E isso pode comprometer a relação sem que nenhum dos dois lados questione se tudo pode ser apenas diferente do padrão que eles tinham em mente.”
A ansiedade toma conta do relacionamento e um círculo vicioso se instaura, levando à insegurança e a um prazer cada vez menor. O relacionamento pode acabar e o problema seguir adiante, se repetindo com o próximo parceiro.
“Muitos casos que chegam aos consultórios passam por essa questão: as mulheres estão infelizes e a primeira coisa é tentar resolver o relacionamento. No decorrer das sessões, descobre-se que o problema é outro, envolve a sexualidade”, diz Liliana.

Falta de diálogo
“Prazer sexual, orgasmo, não têm modelo: tem de se sentir bem após o sexo, e é isso. Pode não haver estrelinhas piscando no final da transa e mesmo assim ter sido ótimo para os dois”. Liliana diz que isso vai da sintonia do casal e para essa sintonia ser perfeita, é preciso muita conversa.
Mas aí está um segundo problema: os casais não falam sobre sexo. “Quando você vê uma matéria de revista feminina ‘ensinando’ a mulher a falar com o parceiro sobre o que lhe dá prazer, onde gosta de ser tocada, etc., como solução para melhorar o sexo de ambos, você está sendo induzido ao erro. Se a mulher conversa com o parceiro sobre o tema, é provável que o casal – em especial a mulher – não tenha problemas sexuais e nem falta de prazer”, aponta Liliana.
E ainda existe essa cobrança social de que se não há prazer na relação tudo pode ser resolvido com receitas básicas. “Não há manual, não há receitas simples. Os problemas sexuais podem ter vários fatores envolvidos. Há alguns quadros gerais, mas dentro deles há diversas possibilidades que podem contribuir para sua evolução”, afirma a psicóloga.
“As mulheres precisam se responsabilizar pelo próprio prazer, e se há algum problema, procurar um psicólogo. Um atendimento individualizado é a melhor saída”, completa.

Anorgasmia
A somatória desses dois problemas, ou seja, a falta de diálogo sobre o tema e a ansiedade causada pela busca constante de atingir um modelo idealizado de sexo e orgasmo pode levar justamente ao inverso: a anorgasmia, ou seja, um transtorno em que a mulher nunca chega ao ápice do ato sexual.
Soma-se aos problemas citados a falta de conhecimento da mulher sobre o próprio corpo. “Para uma enorme parcela do público feminino isso ainda é um tabu. E para outra parcela, o ‘tocar-se’ tem uma conotação, novamente, simplista: é só masturbação”, explica a especialista.
Liliana diz que descobrir áreas de prazer no próprio corpo é um exercício sensual, mais do que sexual. “Determinadas regiões podem facilitar a excitação mais do que a genitália em si. É preciso descobrir o corpo, inclusive, mas não somente, a vagina.”
E essa descoberta do próprio corpo pode ir além disso. Sabe-se, por exemplo, que a excitação do homem é visual. Nas mulheres, essa excitação é mais sensorial, principalmente auditiva. Liliana dá a dica: música pode ser excitante, sussurros também ou então ‘ouvir’ um filme. “Não necessariamente assisti-lo”, explica.
Outras vezes é o cenário que pode contribuir para uma inibição do prazer. “E isso envolve não somente o cenário físico, ambiental, mas os sentimentos associados a esse entorno”, pontua Liliana.
Exemplo dessa associação de sentimentos que inibe o prazer são mulheres que se realizam sexualmente com os amantes. “O marido castrador pode ser a causa da anorgasmia. Mas, novamente, é a mulher que tem de se resolver. Não basta apenas indicar o parceiro como fonte da sua falta de prazer”, afirma a especialista, enfatizando a complexidade do problema.

Dores
Outro problema que Liliana aponta como sendo bastante comum são as dores sentidas durante a penetração: a chamada dispareunia. Para entender o problema, primeiro é preciso descartar a questão orgânica, que é algo que o especialista em ginecologia pode ajudar. Caso as dores não sejam de ordem física, novamente entra em cena o psicólogo, de preferência o especialista em terapia sexual.
A principal causa da dispareunia é o conflito com o próprio sexo, uma inibição do prazer causada por algum motivo, explica a especialista. Na maioria das vezes tem a ver com a criação envolvendo normas morais rígidas ou valores religiosos exacerbados.
Mais uma vez o cenário pode ser o que intimida. “Morar com outras pessoas – pais, por exemplo –, ou então em apartamento onde os sons ‘vazam’, onde há pouco espaço para a intimidade de uma forma geral e que pode reforçar os fatores inibidores”, explica Liliana Seger.
“Em uma boa parte dos casos esses conflitos internos também se projetam na relação como um todo. São pessoas que também são inibidas nas relações sociais, ou então são muito controladas em todas as situações. O sexo é mais um fator a ser controlado. E como sabemos, o sexo tem pouco a ver com controlar as emoções”, pontua. Novamente a ansiedade pode ser o estopim para o problema.

Ausência do desejo
Esse é um problema que atinge ambos os sexos e as causas são praticamente as mesmas. Transtornos como a depressão e o estresse causado pela vida cotidiana bastante corrida podem levar à ausência do desejo. Outras vezes, dependendo da pessoa, o estresse pode levar ao extremo oposto, ao desejo muito intenso, diferente do normal.
“Ambos os extremos são indicativos de um desequilíbrio em relação à normalidade da pessoa”, diz Liliana. Em todas essas situações é necessário procurar mais informações e o acompanhamento de um profissional de saúde. Sexo tem de ser bom, e se não há prazer, é hora de ir atrás de ajuda.

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