domingo, 28 de agosto de 2011

Caminhos do prazer

Caminhos do prazer

Marcia Atik


Apesar do senso comum e de sabermos que todos desejam, amam, sofrem e tem prazer, falar desses assuntos ainda gera uma variedade de reações. Mas a intenção hoje é de trazer a reflexão sobre as nossas inúmeras possibilidades de ser feliz.

Assuntos ligados a sexo, sexualidade, prazer e desejos são contaminados por mitos e preconceitos, apesar de ser o sexo o que nos diferencia de todas espécies animais, pois essa vivência não está apenas atrelada unicamente ao ato biológico, mas está sim permeando pensamentos, sentimentos e as ações humanas de modo geral.

Os conceitos de sexo e sexualidade se confundem, mas sabemos que um não tem que necessariamente vir acompanhando do outro. Cabe-nos a decisão e a percepção de como ou de que modo podemos explorar a nossa capacidade desejosa.

Gostaria de me deter mais nos aspectos de desenvolvimento de nossa sexualidade. Não que o sexo não seja importante — muito pelo contrário — mas só podemos usufruir totalmente de nossos encontros sexuais se formos capazes de identificar e reconhecer o que nos dá prazer ou não.
Para tanto, precisamos de um mínimo de autoconhecimento para que desse modo as faltas sejam supridas e os desejos reconhecidos.

Sabemos que um dos maiores males da civilização atual é a formatação de desejos e, por consequência, o embotamento de verdades íntimas e pessoais.

As doenças psicossomáticas estão aí para nos alertar quando não nos permitimos fluir em nossa essência, nas nossas verdadeiras emoções, nem todas aceitas e valorizadas. Algumas são fonte de aflição, mas muitas outras, quando reconhecidas, são ponto de partida para a autodescoberta e criação pessoal.

Emoções que podem ser percebidas na vivência do dia a dia, nas lembranças que, às vezes, provocam sensações contraditórias.Temos direito e obrigação de sermos mais sensíveis com as nossas necessidades. Isso é evoluir como pessoa, reconhecer a totalidade de nossas emoções e não apenas aquelas valorizadas a partir de aspectos externos a nós.

A cada dia que nasce, temos uma nova chance, pois o futuro começa hoje, e não deixar a vida passar em análises conceituais, mas aproveitando, costurando-a, às vezes, com tecido novo e colorido, outras vezes remendando velhos retalhos, mas sempre conseguindo o efeito belo e colorido pelo conjunto da obra e nessa obra nem todos os retalhos são de cores alegres, de tecidos nobres, pois entre os vermelhos e os cinzas várias matizes se unem para dar beleza ao trabalho final.

Quero valorizar aqui chamando a atenção para a transcendência de sentir, perder o controle e, por isso , oxigenar a alma com a sensibilidade do arrepio, do medo, da surpresa... Da luz e da sombra.

Tendo um olhar realista para as perdas é importante ativar o desejo e desfrutar de um projeto de vida pessoal que utilize a excelência de sua própria experiência num viver criativo e prazeroso.

Armando a barraca

Armando a barraca

Marcia Atik

Quando falamos em sexualidade humana, é corrente o discurso de que para as mulheres mil fantasias emperram ou influenciam essa experiência e para os homens a coisa funciona de uma maneira natural, na base do "usou, lavou, está novo". Mas as coisas não estão sendo assim fáceis para os homens, haja vista a procura deles pela terapia sexual. Isso é um sinal positivo e não um problema como se pode imaginar.

Historicamente, ao homem era dado o lugar de senhor absoluto e, nessa posição, nem o próprio homem entrava em contato com suas emoções e necessidades. Quando do advento dos remédios que fazem milagres, há aproximadamente dez anos, imaginou-se que as disfunções sexuais masculinas eram coisa do passado.

Espantosamente, isso não aconteceu, pois apesar de ter uma ereção vigorosa ao usar a medicação, o homem percebeu outras dificuldades. Então, vamos desmistificar esse assunto, que é amplo e que não se esgota num único artigo.

Fala-se muito sobre ejaculação rápida, a disfunção mais comum aos homens nesse momento em que a ansiedade é comum a todos. Depois vem a disfunção erétil, antiga impotência; como já comentei as medicações para esse fim popularizaram o conhecimento. Entretanto, existem outras disfunções menos comuns, porém com um papel de grave insatisfação e desconhecimento na sexualidade masculina.

Esse assunto sempre é muito bom, pois ao contrário das mulheres que só falam disso para mostrar sua insatisfação; quando os homens falam disso é sempre para alardear seus feitos e conquistas. Se ele tem dúvida, geralmente se fecha, afasta-se das pessoas e dos relacionamentos criando uma barreira que o isola e agrava o problema.

A busca de um urologista para descartar qualquer doença física é inevitável, apesar de que a grande maioria de disfunções sexuais do homem tem sua origem na psiché. A falta de ejaculação, ereção ou outro episódio esporádico não é problema e pode acontecer a qualquer um e, pela pressão do momento, interrompe a relação sexual, ficando com a ideia de que o fim chegou.

Aliás, não existe o fim, o que existe são mudanças que acompanham o nosso desenvolvimento e amadurecimento. Isso ocorre poucas vezes por questões orgânicas e muitas vezes por questões psicológicas e do casal; nesse caso a melhor saída é a terapia sexual.

Por fim gosto de falar e repetir que toda inadequação ou disfunção sexual tem remédio e, de um jeito ou de outro, quando se enfrenta o problema ele é resolvido. Essa crença é muito importante, pois sei que as dificuldades sexuais são fonte de muito sofrimento e principalmente para os homens, pela solidão em que os coloca.

Orgulho de macho

Orgulho de macho

Marcus Vinicius Batista

Os políticos brasileiros adoram fazer escola, deixar um legado de sua passagem pelos parlamentos e governos. O auge se dá quando seus nomes se transformam em conceitos para definir uma postura pública, como o getulismo e o malufismo. Não é o caso do vereador paulistano Carlos Apolinário, camaleão na política, vira-casaca de várias legendas. Mas ele será nota de rodapé da história por uma das maiores imbecilidades legislativas: a criação do Dia do Orgulho Heterossexual.

O projeto, aprovado por 31 vereadores-cúmplices, depende da canetada do prefeito Gilberto Kassab. O prefeito, aliás, reforçou a imagem de alguém que governa de costas para a cidade e para os comportamentos sociais que pulsam dentro dela. Para o prefeito, data como essa equivale ao Dia do Médico e ao Dia do Professor e jamais seria um estímulo à homofobia.

O projeto de Apolinário, que estabelece a “comemoração” no terceiro domingo de setembro, influenciou outro aventureiro com mandato. O vereador Ciro Moura apresentou proposta semelhante em Fortaleza, no Ceará. Deputados federais falaram sobre a importância de um projeto semelhante em âmbito nacional.

O Dia do Orgulho Heterossexual é uma aberração social e cultural. Homofobia é exercício cotidiano, em um país com ranços machistas. Os casos de violência contra gays e contra mulheres se acumulam nas delegacias. A discriminação em inúmeros ambientes sociais é evidente por mais que se arrumem desculpas esfarrapadas para eliminar o outro do convívio.

O Dia do Orgulho Heterrossexual não tem razão de existir. Grupos que compõem maioria na sociedade não necessitam de datas comemorativas, que funcionam e se mantém vivas como regime de exceção. O grupo dominante perpetua seu poder no dia-a-dia e uma data de celebração apenas serve para reforçar o preconceito. Por outro lado, expõe a existência do controle e da opressão sobre quem pensa ou age de maneira diferente. Mas não modifica ou ameniza o quadro de violência, seja psicológica ou física. Pelo contrário, pode até estimular comportamentos intolerantes, protegidos por uma impunidade real, antes apenas uma sensação.

A discussão sobre homossexualidade ganhou contornos políticos, o que - de certa forma – gera ressonância positiva. O assunto, antes trancafiado em armários ou sob pacto de silêncio, passa a fazer parte das rodas de conversas e da agenda de muitas instituições. O preconceituoso não pode mais se esquivar do tema. Ou tira a máscara, como fizeram muitos políticos, ou se cala, com a decisão consciente de que um novo cenário se desenha à porta dele.

O problema é que a sexualidade brasileira, transformada em debate público, aparece impregnada de moral religiosa, em larga medida moralismo de segunda mão. O vereador paulistano, inventor do Dia do Orgulho Heterossexual, pertence à bancada da bíblia, grupo apartidário, de várias religiões e amigo do poder, que se alimenta da desinformação de eleitores impregnados por uma fé cega e excludente por natureza.

Esta parcela da classe política, sanguessuga de ideias ultrapassadas, mistura moral religiosa, que distorce inclusive os textos originais bíblicos, com assuntos laicos. Religião e política assumiram o relacionamento afetivo. Na última eleição para presidente, aborto virou prioridade nacional e, em momento algum, foi tratado como pauta de saúde pública. A retórica eleitoral ignorou milhares de mulheres que morrem em clínicas clandestinas.

Projetos como os dos vereadores de São Paulo e Fortaleza atendem a facção mais atrasada de um país que se considera civilizado. Se a lógica de raciocínio persistir, poderemos ter – em breve – vereadores ou deputados propondo o Dia da Consciência Branca e o Dia do Homem. Quem sabe o Dia do Homem Branco? O kit-preconceito ficaria completo. Muita gente adoraria.

Seis dicas para alcançar o prazer pleno

Seis dicas para alcançar o prazer pleno

Celebrada domingo (31), a data coloca a sexualidade em debate

Nara Assunção

O grau máximo de excitação. Uma sensação de voluptuosidade, de viver o máximo de felicidade... As definições do orgasmo são as mais diferentes possíveis. Há quem o diga que é comparável à sensação de comer chocolate. O momento, porém, ainda é cercado de questionamentos e para muitos é sinônimo de desafio. Afinal, como ter esta experiência?

Neste domingo (31) comemora-se o Dia Mundial deste momento. A data foi criada por sexshops inglesas que detectaram no mesmo ano que 80% das mulheres daquele país nunca alcançaram o orgasmo. As brasileiras, porém, não ficam muito atrás. De acordo com pesquisa do Projeto de Sexualidade da USP (ProSex), 50% das brasileiras têm problemas com a ausência de desejo, falta de orgasmo, dificuldade de excitação ou dor durante a penetração – algumas delas têm mais de uma queixa. Além disso, ainda de acordo com o estudo, cerca de 12 milhões de homens sofrem de alguma disfunção sexual de conseguir atingir o prazer.

O principal segredo para quem está na busca por esta experiência, segundo a terapeuta sexual Sylvia Marzano, do Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática, é relaxar e quando necessário procurar ajuda. “Ansiedade é inimiga do orgasmo”, ressalta.

A terapeuta explica que o orgasmo é individual e a receita está na pessoa, em sua entrega e cumplicidade. Para conquistar prazer é preciso se doar para a imaginação e estimular o corpo sem medo. “Pode-se dizer que a arte do orgasmo é um aprendizado. Enquanto dizem que diminui com a idade, eu acredito que fica mais prazeroso com a maturidade, quanto mais o indivíduo busca aprimorar suas sensações”.

Confira as seis dicas, por ordem de importância*

1 Conhecer o próprio corpo
Toda a extensão do nosso corpo pode ser fonte de prazer, portanto se não o conhecermos, não conseguiremos comunicar à parceria quais são os nossos pontos mais prazerosos. Como fazer isso? Explorando individualmente a si próprio. A masturbação é um auto-erotismo que precisa ser desmitificado. Há um grande erro em se pensar que pessoas com relacionamentos fixos não devem praticar. A atividade, porém, ajuda no conhecimento do corpo e aquecimento, tanto individualmente como na hora do relacionamento sexual, até como uma maneira de erotização do momento.

2 Estar por inteiro na relação
É importante sabermos que os fatores externos ao momento interferem no desempenho do corpo e das sensações. Não devemos ter grande expectativas de um orgasmo se tudo não estiver em ordem, com equilíbrio entre pensamentos, sentimentos e o físico.

3 Comunicação com a parceira
Essa é uma premissa muito importante para todos os relacionamentos. Não podemos esperar que o outro imagine o que nos agrada. Devemos abrir para a parceira como gostaríamos de ser tocados, acariciados, beijados, sem medo de que o outro pense que não o estamos apreciando.

4 Conhecer o corpo do outro
Devemos conhecer como funciona o corpo do homem e da mulher, quais são as mudanças que ocorrem no desejo, na excitação e no orgasmo. Quando a mulher está preparada para a penetração? Que nem sempre homem e mulher precisam ter orgasmos juntos.

5 Respeitar o aquecimento dos corpos
Tanto o homem quanto a mulher necessitam de uma fase de aquecimento apropriada. O nome preliminar está na ponta da língua de muitos casais, que pensam que isso é apenas beijinhos e pronto! Porém, quanto mais elaborada essa fase, maior será o desejo, a excitação, e, por conseqüência, o orgasmo. Não ter pressa deveria ser o grande lema. Afinal, o orgasmo dura só alguns segundos!

6 Não ter uma expectativa de alta performance
Os parceiros costumam ir para a relação se imaginando super-atletas e que precisam demonstrar um ao outro um total conhecimento de todas as posições e técnicas de transas, o que podem fazer com que a expectativa seja tão grande de sucesso, que acabam interferindo das reações fisiológicas do relacionamento. É muito bom experimentar várias formas de prazer e posições, desde que isso não seja colocado como uma cobrança.

* Dicas da terapeuta Sylvia Faria Marzano, diretora do Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática - ISEXP (www.isexp.com.br)

Sexo proibido?

Sexo proibido?

Marcus Vinicius Batista

A estudante universitária, surpresa, resolveu relatar o comportamento de dois pacientes à assistente social.

— Seu José transa duas vezes por semana. E Dona Maria, então?
— Qual é o problema?, perguntou a assistente.
— Ela parece minha avó! E sempre vi minha avó como virgem.

O diálogo, que aconteceu numa sala da Prefeitura de Santos, simboliza o preconceito no qual sexo é assunto enterrado na velhice. A desinformação representa um tiro no pé para muitos idosos, que se tornaram alvo frágil diante da Aids.

Segundo o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, a média de infectados com mais de 50 anos era de 17 para cada 100 mil pessoas, em 2002. Hoje, a média está em 40 pessoas. No Estado de São Paulo, são aproximadamente 4400 soropositivos com mais de 60 anos.

O casamento entre falta de informação e preconceito cria uma nuvem de fumaça que mascara comportamentos usuais de idosos, principalmente os homens. Muitos deles redescobriram a chance de engatar relacionamentos afetivos na maturidade, o que implica em vida sexualmente ativa, inclusive com vários parceiros e parceiras.

Trata-se de uma conseqüência de mudanças sociais agudas, estimuladas por avanços da medicina (e as pílulas milagrosas) e pela criação de instituições onde idosos retomaram a convivência social e cultural.

Embora as alterações comportamentais sejam nítidas e saudáveis, ainda prevalecem valores culturais. Um deles é o machismo. Muitos homens dispensam o uso da camisinha sob a alegação de que não tem nada. E transferem a responsabilidade para a mulher que, constrangida, abre mão do preservativo. Muitas das idosas infectadas só tiveram relações sexuais com o marido e depois com o novo namorado. Dispensaram a camisinha da bolsa para não serem vistas como “atiradas” ou promíscuas.

A Aids, via de regra, atravessa um período de estabilidade entre os jovens. As exceções são as mulheres e os idosos, grupos que registram aumento no número de casos. A transmissão da doença quebrou também uma relação de confiança, pois muitas mulheres – inclusive idosas – foram contaminadas no casamento.

Outro obstáculo é o diagnóstico tardio. Muitas pessoas se julgam imunes ao vírus HIV, que seria uma marca punitiva para a postura volúvel dos mais jovens. Esta mentalidade atrapalha o tratamento, agravado por outras doenças da velhice, como diabetes e alterações ósseas, que desequilibram os efeitos colaterais dos medicamentos.
A Aids entre os idosos também conta com o silêncio dos pacientes, que preferem não contar que são soropositivos aos filhos. Assim, evitariam a implosão da família. E amenizariam a culpa do pai que infectou a mãe.

Apesar do Brasil ter imagem positiva no combate à Aids, o Governo Federal investe somente 10% dos US$ 623 milhões orçamentários em campanhas informativas. A maior parte do dinheiro vai para a compra de remédios. Na Baixada Santista, os idosos representam 20% da população em Santos e Praia Grande. A Aids, ainda viva por causa da área portuária, bate à porta de quem se sentia blindado aos ferimentos numa fase de serenidade.

A sexualidade do idoso pulsa de novo, sem pudores ou moralismo. A ironia cruel é que a ressurreição de um passado cheio de vida pode se transformar em sentença de morte.

Amor entre mulheres

Amor entre mulheres

Marcia Atik

Escrever sobre homossexualidade feminina não é fácil. É um assunto pouco conhecido, porém intensamente vivenciado nos dias de hoje. Creio que o conhecimento é o primeiro passo para que preconceitos e angústias sejam derrubadas. Chamamos de lésbicas mulheres que tenham relações ou desejos homoafetivos.

No século XIX, aqui no Brasil falava-se da relação de intensa amizade entre dona Leopoldina e a inglesa Maria Graham, isso apenas para dizer que as relações afetivas entre mulheres sempre existiram. Mas passavam sempre aos olhos da sociedade como intensa amizade ou cumplicidade, pois nessas relações também o desejo feminino nunca foi valorizado.

Não se trata de contar a história da homossexualidade feminina e sim de dar uma pincelada para percebermos que ela esteve sempre nos bastidores da história oficial. O que eu pretendo, na verdade, é refletir o quanto a humanidade é contraditória num assunto que caminha com ela, sempre à margem.

De maneira geral, a expressão da sexualidade fica reduzida a um coito, a uma relação sexual, não levando em conta outros aspectos, às vezes até nem ligados aos órgãos genitais que são tão ou mais importantes que isso.

Na teoria, a liberdade é um sentimento que todos nós perseguimos, mas na prática só conseguimos quando temos coragem de viver em harmonia com o que sentimos. Charlote Wolff bem definiu em seu livro – Amor entre mulheres – “...não é o homossexualismo, mas o homoemocionalismo, que constitui o centro e a própria essência do amor das mulheres entre si.”

O lesbianismo nada mais é do que uma variante da sexualidade humana. As lésbicas são, fora do comportamento sexual, exatamente iguais às outras mulheres, bonitas, feias, talentosas ou rudes, fiéis ou desleais, dominadoras ou submissas.

Desde o momento em que um casal decide ter um filho se programando ou até a notícia de uma gravidez, todo o ambiente familiar passa por um processo de mudança baseado nas expectativas dos pais, na sua maioria, com um script pronto escrito pela sociedade. A partir daí, a história dessa criança passa a ser construída nesses moldes.

Na puberdade, as transformações anatômicas e fisiológicas são grandes e rápidas. As relações familiares também passam a ser questionadas e desafiadas, promovendo uma reavaliação da psicodinâmica familiar e um afastamento dessa jovem dos paradigmas familiares.

Até um dia quando o pai ou a mãe são surpreendidos com a percepção de que a filha não está correspondendo ao sonho da princesinha casadoira, pois além de nunca ter namorado, ela também não se interessa por questões tipicamente femininas.

Depois dessa introdução geral, uma conversinha olho no olho para as mães e famílias... A homossexualidade feminina tem algumas características particulares, ela é muito mais afetiva do que sexual. Embora o relacionamento sexual exista, são relacionamentos homoafetivos na sua essência.

Não serei hipócrita em dizer que os pais ou a família de uma jovem que assume sua homossexualidade devem aceitar sem angústias, pois desde a primeira boneca, já pensamos na nossa princesinha realizando os nossos sonhos: casamento, filhos e lar.

Nada contra isso, mas também sabemos que os filhos raramente satisfazem esse enredo, pois a vida deles não é nossa e os sonhos deles são particulares. E, na medida em que crescem, assumem seus desejos, independente de nossa romântica visão.

Proponho uma conversa franca, podendo até falar da decepção, mas nunca a culpando ou forçando a mudança. Como mãe e com o dever de preparar os filhos para a vida, oriente-a apenas para que tenha dignidade nessa sua opção, que se respeite e se firme na vida pessoal, familiar e profissional como uma mulher de fibra, digna da admiração e do orgulho da mãe.

Não temos espaço para esgotar o assunto, mas esse é o começo para que nem você nem sua filha sofram o desencontro e o abandono em que muitas famílias se colocam quando os filhos fogem a sua expectativa, principalmente nas escolhas ligadas à sexualidade e ao afeto.

Apenas um detalhe

Apenas um detalhe
por Bel Vieira
Estava tudo indo muito bem até que, na hora do vamos-ver, você não viu grandes coisas. Afinal de contas, tamanho é mesmo documento ou o que importa é o tamanho do prazer que eles (vamos incluir o dono) proporcionam?

Acredite se quiser, mas dizem que o astro pornô americano Long Dong Silver ficou famoso por ter o maior pênis do mundo: flácido, media impressionantes 47,5 centímetros! Já pensou? Uns com tanto, outros com tão pouco... O menor pênis ereto que se tem notícia media menos de 5 centímetros, equivalente ao comprimento de um dedo mindinho! Entre os brasileiros, a média é de 12 a 13 centímetros. No entanto, os especialistas garantem que 8 centímetros já são suficientes para dar prazer a qualquer mulher. Curiosidades à parte, a verdade é que, quando o tamanho do objeto do desejo deixa a desejar, vira motivo de preocupação para muitos homens – e para as mulheres também. Afinal, descobrir que as medidas do quase-príncipe-encantado são bem abaixo da expectativa pode ser uma grande decepção. Ou seria minúscula?

Se tamanho for mesmo documento, aconselha-se checar o material antes, para não ter uma surpresa desagradável durante. Mas como? A advogada Gisela Ferreira diz que tenta conferir as proporções da coisa no momento que ela chama de pré-fuck, leia-se amasso. “Eu passo a mão por cima da calça dele para ter uma idéia do que me aguarda. Mas tem que ficar esperta. Uma vez, só de abraçar o cara, já percebi o comprimento e, principalmente, como estava duro. Foi aí que ele pediu licença e tirou o celular do bolso”, lembra. A hora da verdade pode chegar num fim de semana na praia. “Se vejo um cara de sunga, é algo involuntário, olho direto para o ‘volume’ do moço”, admite Gisela. A arquiteta Marta Brito também é adepta desse método. “ Os homens não fazem o teste da areia pra ver se o corpo da menina é legal? Então! Eu faço o mesmo pra conferir se vale a pena”, confessa ela. Mas cuidado para não cometer injustiças com essas olhadas básicas: em dias mais frios ou quando o homem entra na água gelada do mar, o pênis se retrai e parece menor do que realmente é.

Para se ter noção do tamanho antes de chegar aos “finalmentes”, inventam cada história do arco da velha – e o pior é que tem gente que acredita. “Comecei a sair com um carinha que calçava o tradicional 42 bico largo. Fiquei toda animada, mas depois comprovei que não tem nada a ver”, revela a designer Juliana Salomão. Segundo o urologista Dr. Joaquim Claro, essas comparações não passam de crenças populares. “Não há estudos que comprovem qualquer relação entre o tamanho do pênis com o do pé ou mesmo do nariz”, explica. Trata-se de uma questão genética: como a cor dos olhos, a cor da pele e a estatura, respeitando a etnia de cada um – essa, como reza a lenda, realmente influi no tamanho médio do pênis. “Em geral, os orientais têm pênis discretamente menores, os caucasianos estão no meio termo, enquanto os negros são mais alongados. No entanto, isso não significa nenhuma vantagem, ou a China não teria a quantidade de habitantes que tem”, brinca.

Aos menos agraciados, a má notícia: a mulherada não perdoa e conta tim-tim por tim-tim quando a ferramenta de trabalho não é grandes coisas. “Você precisa dividir esse trauma com alguém e acaba mesmo rolando comentários indiscretos entre um chope e outro. Para isso servem as amigas!”, brinca a professora Lia Bergman. Nas conversas de banheiro, é comum se referir ao dito-cujo com apelidos maldosos, como PP (com duplo sentido), PM (com eme de minúsculo), lápis, caneta Bic e uma infinidade de nomes no diminutivo – por que será? – fofinho, coisinha, toquinho, juninho. Por isso, atenção, rapazes: se a dona do seu coração se referir ao seu melhor amigo como qualquer-coisa-inho, desconfie. Pode não ser uma forma carinhosa, mas sim uma grande (?) ironia.

Fora os pequeninos, os finos também não satisfazem. “Pior do que pau pequeno, só fino! Ninguém merece pinto-lápis”, afirma a dentista Regina de Andrade. Por outro lado, mesmo as que se dizem desestimuladas frente a frente com o mini-crime, admitem que há uma vantagem inegável nas menores pistolas: é menos traumático fazer sexo anal. “Um pau fino entra mais fácil. Quanto mais grosso, mais doloroso é”, ressalta Fabiana de Moraes, defensora dos fracos e oprimidos. Depois de tantas reclamações, enfim chegou a vez das meninas que acham que “não importa o tamanho e sim o prazer que ele proporciona”. “Eu não tenho preconceito nenhum: pode ser P, M ou G, fino ou grosso. O importante é que fique duro, no resto dá-se um jeito”, admite a comerciante Verônica Cavaliere.

O sexólogo Oswaldo Rodrigues afirma que a penetração não é o fator principal de prazer para a maioria das mulheres, de modo que o tamanho não deveria ter tanta importância. “A razão é simples: a maior parte das mulheres chegam ao orgasmo apenas através do estímulo clitoriano. Além disso, as preliminares e o envolvimento amoroso tornam-se mais importantes do que a penetração em si”, explica. O sexólogo ressalta que a vagina é elástica e pode se adaptar a pênis de centimetragem variadas. “A vagina se amolda ao tamanho que for penetrado, salvo exceções de membros muito grandes (acima de 25 centímetros), que podem até ferir a mulher”, ensina.

Quando o mercado masculino não oferece grandes negócios, é melhor agarrar as oportunidades, como faz Eliana de Mello. “Eu não vou dizer que os pequenos são os meus preferidos. Mas, às vezes, o desempenho do cara compensa o tamanico”, diz a publicitária. Ou seja, o cara pode superar pequenos detalhes com uma boa performance – incluindo aí dedos e línguas, por favor. No time das advogadas dos “inhos”, Isabel Nunes é das que consideram melhor faltar do que sobrar. “Nunca botei pra escanteio nenhum namorado por o dele ser menor do que a média. Mas já aconteceu o contrário. O grandes são bons apenas para olhar! O sujeito tirou a cueca e me assustei com aquilo tudo. Tive que cancelar os planos e pedir a conta no motel, porque o negócio todo não caberia dentro de mim!”, conta Isabel.

O assunto rende belas piadas mas, para muita gente, ter um punhal no lugar de uma longa espada é motivo de seguidas noites maldormidas – e não é para fazer amor de madrugada. Conversamos com alguns homens sobre isso e todos eles garantiram ser privilegiados, garanhões, enfim, poderiam ganhar a vida estrelando filmes pornôs. Sabe como é, pau pequeno é o típico probleminha que ninguém admite ter. O professor de ginástica Carlos Figueiredo disse estar muito satisfeito com todas as suas medidas. “Se, eu disse SE, me sentisse ‘diminuído’ na cama, me empenharia para ser muito bom de língua”, afirma. Já o analista de sistema Bernardo Araújo se confessou solidário aos mal-dotados. “Coitados dos caras, deve ser muito ruim ter pau pequeno. Não tem jeito de aumentar e o cara vai ter esse estigma pro resto da vida”, imagina.

Realmente, não há nenhum método cientificamente comprovado que aumente o tamanho do pênis. “Somente para mutilados, amputados ou em casos extremos como de micro-pênis em que o membro não chega a um centímetro opta-se por uma cirurgia reconstrutiva, multidisciplinar e muito complexa”, ressalta o urologista Joaquim Claro. E olho vivo: aqueles e-mails prometendo aumentar o pênis em até não-sei-quantos centímetros, blablá, além de serem a mais pura picaretagem (sem trocadilhos), ainda podem causar problemas mais sérios. “A longo prazo, o uso do anel no pênis pode gerar comprometimentos graves e até disfunção erétil”, alerta Dr. Claro.

A verdade é que o pênis é praticamente um símbolo de poder, virilidade e força. A sociedade latina valoriza demais essa parte do corpo masculino e impõe que ele seja grande, se possível, enorme. “O homem acostumou-se desde criança a considerar o maior como sendo o melhor. Se ele acha, mesmo que não seja verdade, que o seu pênis é pequeno ou fino, entra em desespero, se considera inferiorizado frente ao mundo e é tomado de constante insegurança nos relacionamentos interpessoais”, resume o sexólogo Oswaldo Rodrigues. Dr. Claro reforça o discurso: “Muitas vezes o paciente bate no meu consultório reclamando que o dele é pequeno, mas na verdade não é. O problema não é anatômico, mas sim, psicológico. O paciente já pesquisou na internet. No fundo, sabe que está dentro da normalidade, mas ainda assim está insatisfeito. Ele quer ter o pênis maior, sempre!”, conclui o urologista. Pequeno ou grande, a gente tem que ser feliz com o que tem – os homens, com o próprio corpo e nós, com o corpo que namoramos.