Amor entre mulheres
Marcia Atik
Escrever sobre homossexualidade feminina não é fácil. É um assunto pouco conhecido, porém intensamente vivenciado nos dias de hoje. Creio que o conhecimento é o primeiro passo para que preconceitos e angústias sejam derrubadas. Chamamos de lésbicas mulheres que tenham relações ou desejos homoafetivos.
No século XIX, aqui no Brasil falava-se da relação de intensa amizade entre dona Leopoldina e a inglesa Maria Graham, isso apenas para dizer que as relações afetivas entre mulheres sempre existiram. Mas passavam sempre aos olhos da sociedade como intensa amizade ou cumplicidade, pois nessas relações também o desejo feminino nunca foi valorizado.
Não se trata de contar a história da homossexualidade feminina e sim de dar uma pincelada para percebermos que ela esteve sempre nos bastidores da história oficial. O que eu pretendo, na verdade, é refletir o quanto a humanidade é contraditória num assunto que caminha com ela, sempre à margem.
De maneira geral, a expressão da sexualidade fica reduzida a um coito, a uma relação sexual, não levando em conta outros aspectos, às vezes até nem ligados aos órgãos genitais que são tão ou mais importantes que isso.
Na teoria, a liberdade é um sentimento que todos nós perseguimos, mas na prática só conseguimos quando temos coragem de viver em harmonia com o que sentimos. Charlote Wolff bem definiu em seu livro – Amor entre mulheres – “...não é o homossexualismo, mas o homoemocionalismo, que constitui o centro e a própria essência do amor das mulheres entre si.”
O lesbianismo nada mais é do que uma variante da sexualidade humana. As lésbicas são, fora do comportamento sexual, exatamente iguais às outras mulheres, bonitas, feias, talentosas ou rudes, fiéis ou desleais, dominadoras ou submissas.
Desde o momento em que um casal decide ter um filho se programando ou até a notícia de uma gravidez, todo o ambiente familiar passa por um processo de mudança baseado nas expectativas dos pais, na sua maioria, com um script pronto escrito pela sociedade. A partir daí, a história dessa criança passa a ser construída nesses moldes.
Na puberdade, as transformações anatômicas e fisiológicas são grandes e rápidas. As relações familiares também passam a ser questionadas e desafiadas, promovendo uma reavaliação da psicodinâmica familiar e um afastamento dessa jovem dos paradigmas familiares.
Até um dia quando o pai ou a mãe são surpreendidos com a percepção de que a filha não está correspondendo ao sonho da princesinha casadoira, pois além de nunca ter namorado, ela também não se interessa por questões tipicamente femininas.
Depois dessa introdução geral, uma conversinha olho no olho para as mães e famílias... A homossexualidade feminina tem algumas características particulares, ela é muito mais afetiva do que sexual. Embora o relacionamento sexual exista, são relacionamentos homoafetivos na sua essência.
Não serei hipócrita em dizer que os pais ou a família de uma jovem que assume sua homossexualidade devem aceitar sem angústias, pois desde a primeira boneca, já pensamos na nossa princesinha realizando os nossos sonhos: casamento, filhos e lar.
Nada contra isso, mas também sabemos que os filhos raramente satisfazem esse enredo, pois a vida deles não é nossa e os sonhos deles são particulares. E, na medida em que crescem, assumem seus desejos, independente de nossa romântica visão.
Proponho uma conversa franca, podendo até falar da decepção, mas nunca a culpando ou forçando a mudança. Como mãe e com o dever de preparar os filhos para a vida, oriente-a apenas para que tenha dignidade nessa sua opção, que se respeite e se firme na vida pessoal, familiar e profissional como uma mulher de fibra, digna da admiração e do orgulho da mãe.
Não temos espaço para esgotar o assunto, mas esse é o começo para que nem você nem sua filha sofram o desencontro e o abandono em que muitas famílias se colocam quando os filhos fogem a sua expectativa, principalmente nas escolhas ligadas à sexualidade e ao afeto.
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