domingo, 6 de fevereiro de 2011

A homossexualidade ainda não é bem aceite

A homossexualidade ainda não é bem aceite
Sexóloga diz que as pessoas estão mais abertas para recorrer à terapia e mais disponíveis para falar de sexo.
Ontem
Marta Crawford ficou conhecida da maioria dos portugueses em 2005, quando apresentou na TVI o programa "AB Sexo". Depois de uma passagem por "Factor M" da RTP1, regressou à estação de Queluz em 2009, com "Aqui há sexo" no TVI 24.


foto ARQUIVO JN


Sem projectos televisivos em mãos, a psicóloga e sexóloga Marta Crawford lançou mais um livro, "Diário sexual e conjugal de um casal", em que vai enquadrando as histórias ficcionadas com apontamentos em que aborda situações e preocupações que a maioria das pessoas tem.

A estrutura do livro está dividida em três áreas, uma ficcional e duas mais factuais. Como funciona?

Construí a história de um casal - o "Miguel" e a "Joana" - junto há 12 anos, da sua rede de familiares e amigos, que vão passando por várias situações ao longo do ano. Os seus testemunhos são o pretexto para que as crónicas apareçam e construam a parte mais teórica do livro. Umas mais metafóricas, outras mais provocatórias, outras mais informativas. Depois existem uns "post-its", uns quadradinhos, que são piscadelas ao leitor que pega no livro e que vê umas dicas muito directas. São um ponto intermédio entre aquilo que é o testemunho e as crónicas. Dicas rápidas, num outro registo.

Nota evolução na forma como os portugueses estão a lidar com a sexualidade?

Em termos gerais, eu não faço estudo científico para perceber como as pessoas eram ou não. Percebo que as pessoas estão mais abertas para falarem do tema e que pedem ajuda com menos tempo de problema. Dantes, se calhar, só ao fim de muitos anos é que decidiam pedir ajuda a um terapeuta e agora fazem-nos a partir do momento em que é definido que existe qualquer coisa que não está a funcionar muito bem. Têm mais facilidade em pedir ajuda, e isso é um grande passo.

Pode falar-se em sobrevalorização do sexo em detrimento dos afectos?

Há muitas situações de mal-estar conjugal que provocam depois o mal-estar sexual. Mas há outras em que vejo casais óptimos, mas que por alguma razão da vida se afastaram e as coisas entram numa engrenagem que eles não conseguem interromper. A ajuda é pedida e, normalmente, nesses as coisas até são mais fáceis de resolver em termos terapêuticos. Os que estão sob grande pressão enquanto casal, muita discussão, muita mágoa é sempre mais difícil chegar a um ponto de satisfação sexual. Mas chega-se.

A facilidade com que os jovens acedem à informação sobre sexo é benéfica, ou por falta de enquadramento acaba por prejudicar?

Há muita informação que é um exagero. Sãos os novos mitos da sexualidade em que os homens e mulheres são supersexualizados, querem sexo a toda a hora e momento e fazem tudo, não têm limites. Podemos correr esse risco e de repente não haver capacidade de balizar aquilo que se quer e não se quer, e entra-se em comportamentos de risco. Porque a informação está em todo lado, mas depois não é mastigada, dialogada. Uma coisa é ler na net e nas revistas, outra é interiorizar, pôr em causa, criticar . E nisso a família é importante e também a escola. Vejo sexualidade muito experimentada mas com muito pouco prazer, pouca satisfação, e muitos tabus.

As pessoas ainda têm dificuldade em aceitar a homossexualidade?

Têm, e aliás neste caso badalado de Nova Iorque (morte de Carlos Castro) de repente vejo comentários, essencialmente na net, completamente homofóbicos. Muito assustadoramente extremistas. Parece-me que foi a oportunidade de se despejar tudo o que no fundo não está resolvido. Aparentemente há uma aceitação, aliás o casamento gay é também para promover a igualdade, mas às vezes as mentalidade não mudam com a rapidez desejada.

Os programas sobre sexo e afectos que têm vindo a proliferar na televisão têm contribuído para a evolução das mentalidades?

Uns sim, outros não. Genericamente, o facto de falar sobre as coisas ajuda a que as pessoas pensem sobre elas de uma forma mais fácil. Porque se discute as coisas. Quando são programas em que se fala das coisas com conhecimento de causa, quando não é uma coisa só gratuita para vender sexo.

Programas que mastigam a informação com pessoas a intervirem, acho que sim.

Tem algum projecto televisivo em preparação?

Para já não tenho nenhum convite. Tenho programas que desenhei, que na altura apresentei à RTP e à SIC e depois acabei por fazer na TVI e que ficaram um bocadinho na sacola. Espero ainda vir a fazê-los, porque as pessoas estão sempre a perguntar-me quando é que eu volto. É porque gostaram e sentem necessidade de voltar a falar destes temas.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Gente/Interior.aspx?content_id=1776415&page=-1

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