sábado, 19 de fevereiro de 2011

Incesto: imoral? ilegal?

Incesto: imoral? ilegal?
O incesto é uma prática comum e pode trazer consequencias ruins aos adolescentes.
(01/02/2011, às 13:27:07)
Há alguns meses, recebi um email de um adolescente, hoje com uns 17 anos, contando que mantinha um caso afetivo-sexual com sua mãe, jovem ainda, perto de seus 40 anos. O email era breve e não me trazia muitos detalhes dessa relação.
Foi o suficiente para eu questionar essa relação, os porquês e as conseqüências. Eu respondi ao seu email, mas nunca obtive nenhum retorno com relação às minhas palavras. Talvez tenha sido dura com essa mãe, sem nem conhecer a sua história. Gostaria de saber a opinião dos meus leitores a respeito desse tema tão complicado.
No Brasil, essa prática sexual, digamos assim, imoral, é chamada de incesto. O abuso sexual contra crianças e adolescentes é um dos segredos de família mais bem guardados, sendo considerado o delito menos notificado. Ao contrário do que se imagina, é um dos crimes mais democráticos. Atinge as famílias de todas as classes sociais e níveis culturais. É um delito que nem nome tem, pois não se encontra tipificado no Código Penal.
Quando lidamos com pacientes psiquiátricos, ou com problemas psicológicos é comum em seus relatos histórias de abusos (sexual e/ou moral) justamente por pessoas com quem possuíam laços afetivo-familiares e isso de alguma forma trouxe traumas ou dificuldades em algum aspecto de suas vidas.
Várias circunstâncias ocorrem para que a criança/adolescente participe da relação incestuosa; o desejo de conquistar o afeto do agressor; pouca resistência às iniciativas incestuosas; o sentimento de prazer obtido pelas atividades sexuais incestuosas; o sentimento de repulsa; o segredo ansioso sobre o incesto; culpa desmensurada.
Quando pensamos na relação mãe-filho, pensamos numa relação de segurança, apoio, educação, valores, afeto. Na nossa cultura, o papel da mãe é esse: dar suporte e estrutura para educar um filho possibilitando que esse, ao se tornar um adulto, possa ter autonomia, independência, valores bons para seguir sua vida, de certa forma, independente de seus pais.
Culturalmente, os pais são os principais referencias do que é certo e do que é errado. São os responsáveis em impor limites, em educar, em proteger... Enfim, são eles os nossos modelos, de amor, de comportamento. São os principais responsáveis pela privacidade do nosso corpo e que essa relação incestuosa não aconteça. De certa forma, existe uma traição da confiança depositada pela criança/adolescente no agressor.
Oswaldo Rodrigues afirma que “relações entre pais e filhas são mais comuns e causam traumas violentos nas meninas. Geralmente, as relações e as atividades sexuais que envolvem o adulto mulher e a criança/jovem menino não tendem a ser consideradas na memória com cunho negativo. Estas memórias são lembradas e mantidas positivamente.” Não existem muitos registros de tais práticas.
Se me permitem, vou colocar alguns questionamentos, não pela relação incestuosa por si só, mas pela relação mãe e filho como um todo.
1) Trata-se de um adolescente. Essa relação pode ter se iniciado enquanto ele ainda era criança. No Brasil, qualquer relação de caráter sexual com crianças menores de 14 anos é crime.
2) O que importa é que talvez o papel de mãe tenha sido abalado quando ela assumiu o de mulher. São papéis diferentes, não concordam comigo? Como impor limites ou regras para alguém que você elege como parceiro?
3) Fico me questionando quais os referenciais (pai/mãe) que ele tem. Qual o papel que essa mãe exerce em sua vida? Como ficarão seus relacionamentos futuros? Será que ele vai conseguir ter um relacionamento saudável com uma parceira? E se essa parceira vier a engravidar? E se esse filho for um menino? Será se ele vai sentir ciúmes da relação mãe-filho? E se for uma menina? Será uma vítima também?
4) Se essa mãe permitiu que isso acontecesse o que mais ela negligenciou em sua educação? Se isso pode, o que não pode? O que mais pode? O que é certo e o que é errado?
5) O que é amor de mãe pra ele? E amor de namorada?
6) Ele se sente culpado por viver essa relação? Ele se sente bem? Se sente feliz?
7) Raramente ocorre imposição de força nas relações incestuosas, mas a ameaça de punição paira sobre a relação. O fato de não vir associada à violência física não significa dizer que não é uma violência, pois a criança/adolescente pode não ter maturidade suficiente para vivenciar tais experiências.
Eu tinha um professor que dizia que abusadores geralmente tinham história de abuso na infância, então, é possível que essa mãe tenha sido uma vítima também.
Em nossa cultura, o incesto ocorre em famílias perturbadas, nas quais os integrantes apresentam algum tipo de comprometimento psicológico. Tais comprometimentos induzem-nos à invasão do outro, sobrepondo-se por imposição de poder, não aceitando os limites individuais do outro, suas necessidades e desejos, não permitindo seu crescimento de modo sadio, psicológica e socialmente adequados.
Abraços!
Bibliografia consultada:
RODRIGUES JR., Oswaldo M. Objetos do Desejo: das variações sexuais, perversões e desvios. 2ª Ed. São Paulo: Iglu, 2000.
http://www.lexuniversal.com/pt/articles/1185
http://www.cedeca.org.br/tiraduvida.php

http://www.acessepiaui.com.br/sexualidade/incesto-imoral-ilegal/10324.html

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