segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Em nove anos, AL registra 1.043 casos de abuso sexual infantil

Em nove anos, AL registra 1.043 casos de abuso sexual infantil
por Divulgação
(11/01/2011 16:47)
Pesquisa realizada pelo Centro Universitário Cesmac aponta que em Alagoas foram registradas 1.043 ocorrências de abuso sexual infantil no período entre 2001 e 2009. O levantamento se baseou nos dados contidos em prontuários, registros de ocorrências e relatórios disponibilizados pelo Centro de Apoio às Vítimas de Crime (CAV-Crime) e nos Centros de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) – que são entidades tidas como porta de entrada de casos de violência sexual infantil nos municípios alagoanos.

O estudo, intitulado “Epidemiologia do Abuso Sexual em Crianças e Adolescentes no Estado de Alagoas”, pretendia fazer uma análise dos casos recentes no Estado, mostrando os tipos de abuso sexual recorrentes, o perfil dos agressores e vítimas e os municípios que concentram os maiores número de ocorrências. Contudo, o exame detalhado das informações foi em parte prejudicado pela falta de padronização e dados incompletos encontrados nos registros dos casos denunciados.

Por outro lado, o levantamento revela dados importantes. Nos onze municípios que reúnem as denúncias notificadas a maioria das vítimas é do sexo feminino, conforme tendência mundial. Outro aspecto relevante é que os casos vêm à tona quando a vítimas estão na faixa etária entre 7 e 14 anos predominantemente. E o crime mais praticado é o estupro. A idade de início dos abusos é muito precoce, sendo a maioria dos casos ocorrida entre os 5 e 8 anos.

“Observamos que a cada ano o número de denúncias cresce – o que não necessariamente quer dizer que a incidência de casos está aumentando. O que está avançando é o nível de conscientização e esclarecimento da sociedade que tem tolerado cada vez menos esse tipo de crime”, afirma o professor doutor Liércio Pinheiro, coordenador do curso de Psicologia do Cesmac, autor da pesquisa.
Além disso, Pinheiro explica que os dados estatísticas estão substimados. "A literatura especializada aponta que para cada denúncia de abuso sexual infantil há 15 outros casos omitidos em média. Como os casos de abuso sexuais são quase sempre perpetrados por pessoas que fazem parte do seio familiar da vítima, quase sempre são abafados dos registros oficiais", reflete.
De acordo com ele, apesar das falhas encontradas no recolhimento de dados das vítimas, a pesquisa indica que os principais perpetradores das agressões sexuais contra crianças e adolescentes no Estado são os pais biológicos e os padrastos, variando a predominância entre um município e outro.

“Outra falha encontrada no decorrer do trabalho de campo da pesquisa consistiu no detalhamento sobre os autores dos crimes. Muitos relatórios foram emitidos sem sequer mencionar quem eram essas pessoas, apenas informando de era conhecido ou desconhecido da vítima. Havia relatórios, inclusive, que não apontava nenhum agressor. Mas, o que podemos perceber, independentemente da precariedade das informações é que a grande maioria dos abusadores encontram-se no ambiente familiar das crianças e adolescentes molestados”, conta a jovem pesquisadora Samylla Maira Hortêncio Gouveia.

Segundo ela, como era esperado, é em Maceió que se concentram o maior número de denúncias de crimes sexuais contra menores. “Era de se supor que isso iria acontecer por causa do adensamento populacional típico das capitais. Entretanto, as falhas nos registros interioranos e o baixo número de denúncias levam-nos a questionar se os órgãos estão atuando de forma adequada, sobretudo considerando se a vítima se sentiu devidamente acompanhada, assistida do ponto de vista psicológico, social ou jurídico”, diz.

Problema de saúde pública

De acordo com o professor Liércio Pinheiro, o abuso sexual infantil tem sido encarado como um grave problema de saúde pública nos países desenvolvidos, devido aos altos índices de incidência (independentemente do perfil sócio-econômico do agressor) e das sérias conseqüências para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da vítima e de sua família.

“A familiaridade entre a criança e o abusador envolve fortes laços afetivos, tanto positivos quanto negativos, colaborando para que os abusos sexuais incestuosos possuam maior impacto cognitivo e comportamental para a vítima e sua família”, diz o psicólogo. “pesar da complexidade e da quantidade de variáveis envolvidas no impacto do abuso sexual na criança, esta experiência é considerada um importante fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologias. A literatura especializada aponta que crianças e adolescentes podem desenvolver quadros de depressão, transtornos de ansiedade, alimentares, dissociativos, hiperatividade e déficit de atenção e transtorno de personalidade borderline”, explica Pinheiro.

Contudo, de acordo com o especialista, a psicopatologia mais citada é o transtorno do estresse pós-traumático. “Isso sem mencionar as crenças de caráter disfuncionais, envolvendo sentimentos de culpa, e sentimento de inferioridade e desconfiança em relação aos outros”, completa o psicólogo.

Papel da mãe

Segundo Liércio Pinheiro, a mãe é a pessoa mais procurada pelas crianças e adolescentes molestados quando se sentem preparados para denunciar o abuso. “Sabe-se que a criança vítima de abusos sexuais tem necessidade fundamental de ser acreditada e por isso é fundamental o papel de psicólogos e da sociedade em reconhecer e compreender o fenômeno em toda sua complexidade”, diz Liércio Pinheiro.

“Por isso a criança não deve ser deixada sozinha, da mesma maneira que os próprios técnicos também não o devem fazer, pois é pela possibilidade de falar do sucedido e de refletir com os outros, no seio de sua equipe ou de um grupo de discussão, que eventualmente serão encontradas algumas respostas a este crime”, sugere.

http://www.primeiraedicao.com.br/?pag=alagoas&cod=14793

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