terça-feira, 19 de abril de 2011

Você fala a verdade sobre sexo?

Você fala a verdade sobre sexo?
Sexóloga explica por que a mentira faz parte do repertório sexual de homens e mulheres

10/11/2009
*Por Maria Helena Matarazzo

Quem tem coragem de ignorar os estereótipos e escolher as opções "nunca" ou "raramente" ao responder a pesquisas sobre freqüência das relações sexuais e orgasmos? Sem ouvir e revelar as insatisfações da vida real, essas enquetes acabam reforçando os mesmos estereótipos e estimulando respostas fantasiosas.
As pesquisas sobre sexualidade que tentam descobrir com que freqüência as pessoas fazem amor ou têm orgasmos costumam perguntar: "Você diria que está tendo tantas relações quanto deseja – mais ou menos?". Essas pesquisas levam à obtenção de resultados irreais, como se todo mundo estivesse vivendo numa espécie de "divinópolis sexual".

Quem vai se dispor a responder que dificilmente ou nunca tem relações sexuais ou orgasmos? Então, se você não faz, você finge que faz e mente loucamente. Mas, bem lá no fundo, continua se comparando, se cobrando e se perguntando: "Quantas vezes eu fiz, quantas eu deveria ter feito?" Aqui aparece o problema dos estereótipos, dos clichês: "Todo mundo está sempre disponível, a fim, com qualquer um e a qualquer hora".

Na vida real, a maioria das pessoas se queixa de quantas vezes está tendo relações sexuais por semana, por mês, por ano: "Todo dia, mas mesmo assim é pouco. Uma vez por semana, duas vezes por semana, três, quatro, mas mesmo assim é pouco".

A sociedade de consumo reforça essa loucura. Sempre é pouco. Você está em um lugar, com uma pessoa, mas pensando que deveria estar em outro, com outra, e, quando chega lá, nunca está bom e você fica só pensando "o próximo", "a próxima",, "o próximo"... Na verdade, todos nós temos um reservatório de cenas de sexo e de amor não vividas. Por outro lado, existem muitas divisões dentro de nós.
Às vezes, percebemos a nossa cabeça indo em uma direção, o coração na outra e o instinto em uma terceira. Nessas horas, estamos todos divididos. Por isso, muitas vezes nós falamos uma coisa, sentimos outra e fazemos uma terceira. O que significa que a nossa cabeça não está ligada, acoplada nos sentimentos, que por sua vez também não estão conectados nos impulsos, nos desejos, nas nossas forças instintivas. É difícil essa interligação.

É por isso que às vezes o encontro acontece da cintura para baixo ou da cintura para cima. Se as pessoas ficarem embriagadas por esse delírio numérico –quantos parceiros têm, quantas vezes por semana fazem amor -, elas vão ficar cronometrando seus próprios orgasmos. Isso deixa uma sensação estranha, indefinida, de que alguma coisa está errada. Cada pessoa fica se perguntando por que não teve nenhuma relação sexual na última semana, quinzena ou mês. E para não transar por transar, meio às cegas, fica pensando ou se perguntando qual será o seu "limite de tolerância para a fome sexual".

Quando uma pessoa fica assim com muita fome sexual contida, às vezes come qualquer coisa, nem sabe direito o que está comendo. Aliás, nem sente o gosto. Nessa hora, é bom tentar perceber a diferença entre a necessidade, desejo e uma coisa que as pessoas normalmente chamam de capricho. Ou seja, perceber a diferença entre aquilo de que se precisa, aquilo que se quer e aquilo que se acha que tem direito.

De modo genérico, necessidade é aquilo que constrange, compele ou obriga a fazer de modo absoluto. Quer dizer, eu tenho que comer, beber, dormir, senão eu morro. Entretanto, se uma pessoa não tiver um relação sexual, ela não morre. Pode até ficar meio esganada, meio morta de fome, mas morrer, não morre.
Já desejo é querer algo ou a alguém. É ter vontade, vontade de possuir ou de gozar, de comer ou de beber, de experimentar ou de sentir. É muito difícil separar necessidade de desejo, diferenciar quando se precisa de quando se quer. Se formos fazer o paralelo com comida, é a mesma coisa que tentear diferenciar fome de apetite. Mas é fundamental ser capaz de distinguir necessidade ou desejo de capricho. Mas o que é capricho?

Capricho é o comportamento das pessoas que acreditam ter o direito de nascença ou adquirido a todo tipo de prazer, de aventura, de gozo, sem precisar fazer qualquer esforço para alcançar isso, ou seja, "quero porque quero, de preferência, tudo ao mesmo tempo e agora".

Capricho também significa só fazer aquilo que se tem vontade, sem levar em consideração as necessidades nem os desejos do outro. Trata-se do famoso "não estou nem aí". Conclusão: as necessidades, é claro, precisam ser satisfeitas. Os desejos, sempre que possível. E os caprichos, quando? Às vezes, nunca.

*Maria Helena Matarazzo é sexóloga e autora de Amar é Preciso e Nós Dois.
http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2_t3.asp?conteudo_id=7568

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