07:00, 24/08/2012 NATHALIA ZIEMKIEWICZ
Esse amigo brochou seguidas vezes e não sabia explicar o porquê. Estava diante da trepada de sua vida, com aquela mulher nua deitada diante dele, e o camarada dos países baixos resolveu tirar um cochilo. Perguntei se a moça era esteticamente desfavorecida ou cometeu alguma gafe na hora H. Vai que gritou o nome do time rival, lustrou o aparelho dentário antes de cair de boca ou revelou pelos pubianos claudia-ohanizados demais para o gosto dele… Nada disso. O problema não era com ela. Eu quis contemporizar, mas insisti: “Quem sabe um dia estressante no trabalho, conta bancária no vermelho, brigas familiares, álcool em excesso, diabetes?” Cinco vezes, ouvi “nãããão”.
Dias atrás, enquanto fazia entrevistas para uma matéria sobre prazer, deparei com um diagnóstico bem possível para esse amigo. Desconfio que ele sofra da Síndrome do Desempenho. No tempo do bisavô dele, bastava ter um pênis ereto (tudo bem, você vai dizer que nem isso ele conseguiu, mas deixe que eu conclua o raciocínio!). Sexo não era algo para satisfazer a mulher. Servia para aliviar o marido e procriar. Com raras exceções, não tinha preliminares nem o objetivo de ser prazeroso para ambos. Os homens levavam para casa aquilo que as prostitutas ensinavam. Quando surgiu a pílula anticoncepcional, que libertou a mulher para transar sem engravidar, passamos a nos divertir com o sexo. A querer mais do que abrir as pernas.
Algo que, para eles, era tão simples quanto enfiar a chave na fechadura… ficou complicado. Hoje é quase uma obrigação ter um sexo de extrema qualidade. Você vê na revista quais os segredos para alcançar orgasmos múltiplos. A indústria farmacêutica lança produtos que prometem manter a ereção por horas. Os sex shops vendem vibradores para encaixe simultâneo em dez orifícios e “velocidade cinco do créu”. O cinema e a televisão mostram coreografias pornográficas dignas do Cirque du Soleil. Há uma cobrança por um desempenho tão fenomenal que você tem vergonha de gostar do tradicional papai-mamãe.
“É um prazer idealizado que complica o sexo, nos torna máquinas”, afirma Alexandre Saadeh, psiquiatra do núcleo de sexualidade no Hospital das Clínicas da USP-SP. Essa angústia causada pelo temor do desempenho pode gerar disfunções eréteis, ejaculação precoce etc. Disfunções sexuais podem ser culpa de diversos fatores, de desemprego à colesterol alto. Mas, dizem os especialistas com quem conversei, o mais comum é que tenham fundo emocional. Claro que, quando meu amigo veio desabafar, primeiro descartei as demais possibilidades. Ou seja, provavelmente, não é a cabeça de baixo que ele precisa trabalhar.
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