quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Falemos de disfunções sexuais


Por A.J. Pepe Cardoso (Secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Andrologia)

2012-08-01
Pepe Cardoso
Pepe Cardoso
Quando falamos de disfunção sexual temos de falar do homem e também da mulher, pelo que iremos caracterizar os vários tipos de disfunções sexuais, quer masculinas quer femininas, tendo como base a resposta sexual humana – desejo, excitação e orgasmo – sem contudo nos referirmos aos aspectos terapêuticos, mas salientando que antes de iniciar qualquer terapêutica especifica deve-se iniciar todo um processo de alteração do estilo de vida, nomeadamente a cessação tabágica, a adopção de uma alimentação saudável e de um programa de exercício físico regular.

Assim temos que a disfunção sexual feminina, com uma incidência de 19,0%, pode-se classificar de acordo com as suas formas de apresentação em disfunções do desejo (35,0%), da excitação (31,6%), do orgasmo (31,6%) e disfunções dolorosas (34,1%), as quais podem ter uma etiologia psico-social, orgânica, mista ou desconhecida assim como uma forma de apresentação primária ou secundária.
As disfunções do desejo, sendo este definido por Schreiver como uma actividade cognitiva caracterizada pela vontade de se entregar a uma actividade sexual baseada em fantasias ou estímulos eróticos, podem-se apresentar como desejo sexual hipoactivo ou como disfunção de aversão sexual, sendo a primeira caracterizada por uma ausência persistente ou recorrente de fantasias sexuais, de desejo para actividade sexual e/ou para a sua receptividade, em que a mulher é capaz de se excitar e ter um orgasmo mas não o deseja, e a segunda consiste em evitar o contacto sexual com um parceiro sexual, causando em ambos os casos perturbação pessoal.

Incapacidade persistente ou recorrente 

O desejo é uma actividade cognitiva caracterizada pela vontade de se entregar a uma actividade sexual baseada em fantasias ou estímulos eróticos
O desejo é uma actividade cognitiva caracterizada pela vontade de se entregar a uma actividade sexual baseada em fantasias ou estímulos eróticos
A disfunção da excitação sexual feminina consiste na incapacidade persistente ou recorrente em atingir ou manter um grau de excitação sexual suficiente, enquanto que a disfunção orgásmica caracteriza-se pela ausência de orgasmo ou pela dificuldade ou atraso de o atingir, de forma persistente ou recorrente, causando também em ambos os casos perturbação pessoal.

Por fim nas disfunções dolorosas temos a dispareunia, o vaginismo e a dor genital não coital. Quer na dispaureunia quer no vaginismo a dor está associada directamente ao coito, enquanto que na dor genital não coital esta é induzida por uma estimulação não coital.

Assim a dispareunia caracteriza-se por dor genital persistente e recorrente associada com o coito, podendo ter uma origem orgânica ou psicogénica, relacionando-se com a penetração e com as primeiras relações ou com uma excitação/lubrificação deficientes, enquanto que o vaginismo consiste no espasmo involuntário, persistente e recorrente, da musculatura do terço externo da vagina resultante da associação com a dor ou o medo ligados à penetração.

Incidência de 24,9% no homem

A disfunção sexual masculina, com uma incidência de 24,9%, pode-se também classificar de acordo com as suas formas de apresentação em disfunções do desejo (15,5%), da ejaculação (30%), do orgasmo ( ? ) e em disfunção eréctil (13,0%), as quais podem ter uma etiologia psico-social, orgânica, mista ou desconhecida assim como uma forma de apresentação primária ou secundária.

A disfunção da excitação sexual feminina consiste na incapacidade persistente ou recorrente em atingir ou manter um grau de excitação sexual suficiente
A disfunção da excitação sexual feminina consiste na incapacidade persistente ou recorrente em atingir ou manter um grau de excitação sexual suficiente
As alterações do desejo no homem, podem-se apresentar como desejo sexual hipoactivo ou como desejo sexual hiperactivo, sendo que a primeira consiste na persistente ou recorrente deficiência ou ausência de fantasias sexuais ou de vontade para se entregar a uma actividade sexual e a segunda corresponde ao contrário do que se descreveu anteriormente, tendo, em ambos os casos as mesmas causas: patologia neurológica central, endócrina, degenerativa ou debilitante, iatrogenia cirúrgica, médica e medicamentosa, patologia provocada por tóxicos ambientais, consumo crónico de álcool, tabaco (nicotina), opiáceas, canabinóides, anfetaminas e o ecstasy.

As alterações da ejaculação apresentam-se como: anejaculação, ejaculação retrógrada, ejaculação retardada, ejaculação prematura e ejaculação dolorosa.

A anejaculação e a ejaculação retrógrada caracterizam-se pela ausência ou baixo volume de emissão de esperma para o exterior, tendo a primeira na sua origem a obstrução das vias ejaculatórias, resultante de doenças congénitas ou adquiridas, assim como patologias neurológicas, endócrinas, traumatismos vertebro-medulares e iatrogenia cirúrgica, médica e farmacológica, comuns também na etiologia da ejaculação retrógrada.

A ejaculação retardada caracteriza-se pela dificuldade ou incapacidade em ejacular dentro da vagina, contudo possível através de outras práticas sexuais, tendo na sua etiologia uma predominância de factores psicogénicos além de doenças neurológicas, iatrogenia medicamentosa, consumo de álcool e uso de drogas recreativas.

Ejaculação prematura

A ejaculação prematura que se define, segundo a International Society for Sexual Medicine (ISSM), como “uma ejaculação que ocorre sempre ou quase sempre antes ou cerca de um minuto depois da penetração vaginal; e incapacidade de adiar a ejaculação em todas ou quase todas as penetrações vaginais; e consequências pessoais negativas, tais como perturbação, incómodo, frustração e/ou o evitar ter intimidade sexual”, pode ser classificada em primária (desde sempre) ou secundária/adquirida, identificando-se em ambas uma disfunção das vias serotoninérgicas, mas na secundária identificam-se também factores psicogénicos, orgânicos e associação a outras disfunções.

A ejaculação dolorosa caracteriza-se pela presença de dor no decurso ou após a ejaculação e que se pode manter durante minutos, horas ou mesmo dias e aparentemente resultante de espasmos dos músculos cremasterianos que empurram os testículos contra o períneo e da contracção dos músculos do aparelho excretor seminal.

As alterações do desejo no homem podem-se apresentar como desejo sexual hipoactivo ou como desejo sexual hiperactivo
As alterações do desejo no homem podem-se apresentar como desejo sexual hipoactivo ou como desejo sexual hiperactivo
Embora no homem o orgasmo seja um fenómeno sensorial que ocorre habitualmente em simultâneo à ejaculação pode também ocorrer independentemente desta, assim como a ejaculação pode ocorrer sem orgasmo, o que dificulta a sua definição assim como a sua separação inequívoca da ejaculação. Este fenómeno sensorial de prazer é um momento psico-fisiológico complexo e de uma variabilidade interpessoal que impossibilita a avaliação e a valorização das perturbações da qualidade do orgasmo pelo que nos vamos referir á anorgasmia. A anorgasmia caracteriza-se pela inexistência de orgasmo, tendo como causas lesões do sistema nervoso central e periférico, radioterapia e iatrogenia cirúrgica e medicamentosa.

Disfunção eréctil

Por fim falta-nos falar da disfunção eréctil (DE) que podemos definir como a incapacidade persistente em atingir e manter uma erecção suficiente de modo a permitir uma relação sexual satisfatória e de que esta, embora seja uma patologia benigna, afecta significativamente a qualidade de vida do doente, da parceira ou da família.

A DE pode-se classificar quanto à sua etiologia em psicogénicas (20%), e orgânicas (80%)
A DE pode-se classificar quanto à sua etiologia em psicogénicas (20%), e orgânicas (80%)
A DE pode-se classificar quanto à sua etiologia em psicogénicas (20%), e orgânicas (80%), sendo que, por sua vez, as orgânicas subdividem-se em hormonais, neurogénicas, vasculares (arteriais e venosas) e mistas, partilhando vários factores de risco comuns com a doença cardiovascular, incluindo a falta de exercício físico, obesidade, tabagismo, hipercolesterolémia e a síndrome metabólica.

A grande maioria dos casos de DE surgem a partir dos 45-50 anos, revelando um estudo efectuado em Portugal (Episex) pela Sociedade Portuguesa de Andrologia uma prevalência total de 13%, correspondendo a 460.000 homens com DE, sendo que aos 40 anos a prevalência é de 17,6%, de 23,4% aos 50 e de 26% acima dos 60 anos, assim como a DE grave afecta 5% dos homens, o que corresponde a 176.000 indivíduos.

Para terminar e como inicialmente referimos, quer em relação às disfunções sexuais femininas quer masculinas, e sem também nos referirmos a terapêuticas específicas, deve-se iniciar todo um processo de alteração do estilo de vida (cessação tabágica, a adopção de uma alimentação saudável e de um programa de exercício físico regular), assim como de controlo dos factores de risco, os quais por si só contribuem para uma melhor saúde sexual.

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