Zona proibida
Mulheres desconhecem anatomia do próprio corpo
Por Andrea Guedes
20/02/2009
Já houve tempo em que se a menina fosse pega tocando a "área proibida", ganhava um sermão da mãe e ainda era obrigada a ouvir histórias absurdas, como a de que nasceriam pelos nas mãos se fizesse isso novamente. Hoje, ainda que não existam mitos como este, a vagina ainda representa um mistério para a maioria das mulheres.
Segundo uma pesquisa coordenada pela sexóloga belga Goedele Liekens, cerca de 50% das mulheres concordam que a vagina é a parte do corpo que conhecem menos. E, para agravar a situação, 40% afirmaram não se sentir confortáveis para esclarecer suas dúvidas com os próprios médicos. Diante dessa realidade, derrubar as barreiras da mulher com o próprio corpo tornou-se um dos grandes objetivos dos especialistas na área.
O ginecologista paulista José Bento de Souza, autor do livro "Saúde da mulher - respostas que você precisa saber", diz que ainda existem preconceitos com relação ao órgão genital feminino. No entanto, ele acredita que essa mentalidade está mudando, principalmente entre as mais jovens. "Antigamente, as mulheres tinham a vagina como uma área proibida, que não podia ser tocada. Hoje, vejo adolescentes virgens que querem usar absorvente interno. Elas não têm mais o medo que existia anos atrás", comenta.
Além da questão cultural, o próprio formato da vagina dificulta o autoexame e leva ao desconhecimento da área, diferentemente dos homens, que precisam tocar no pênis de forma mais constante, tornando-se mais fácil visualizar algo de anormal no órgão. "Muitas vezes a mulher tem alguma ferida que não é descoberta porque ela não tem o costume de autoexaminar", alerta o ginecologista. Para diminuir a distância e o desconhecimento do próprio corpo, Souza faz com que as pacientes acompanhem o próprio exame por meio de uma câmera. No decorrer do procedimento, mostra o cólo do útero, a vulva, e esclarece as dúvidas que possam existir. "A mulher fica mais segura e aceita melhor tratamento quando se conhece melhor", afirma ele.
O ginecologista recomenda que, sozinha em casa, a mulher se examine em frente ao espelho, no mínimo uma vez por mês. O hábito pode evitar transtornos com doenças graves. De acordo com Souza, em cada dez pacientes que chegam ao seu consultório, três estão infectadas com o Papilomavírus Humano (HPV), precursor do câncer de colo de útero, segundo tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil, e cujo sintoma são verrugas genitais, que muitas não percebem até ir ao médico. "O autoexame, portanto, vai permitir que ela identifique lesões e procure o ginecologista rapidamente", aconselha.
Para fazer com que a mulher se conheça melhor, Souza diz que os ginecologistas estão adotando uma nova postura nos consultórios. Os médicos estão "saindo do pedestal" para uma relação de igual para igual com a paciente. Desta forma, ela cria uma confiança e sente-se mais segura para falar abertamente com ele. "A mulher deve procurar saber como são os genitais, conversar com o médico e esclarecer dúvidas", recomenda.
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