O abuso sexual pode ser ainda mais devastador na fase na adolescência, saiba como superar o trauma vivido pelo abuso |
29/09/2011 -
08:40
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Crianças e adolescentes podem superar o trauma da violência e abuso sexual (Fotos: Arquivo Portal Infonet) |
Recentemente
uma adolescente do interior do Estado foi afastada do convívio com familiares,
amigos e da escola por conta da exibição de um vídeo
onde uma menina de 13 anos aparece em cenas de sexo
supostamente com um homem maior de idade. O caso teve grande repercussão em todo
Estado e a vítima terminou sendo hostilizada pelo abuso sofrido.
Para
a presidente do Conselho de Psicologia de Sergipe, Edelvaisse Ferreira, a Edel,
a adolescente até poderia ter consciência do ato sexual em si, no entanto, ela
jamais saberia dimensionar as implicações desse ato.
“Um
adolescente ainda não tem consciência do que resulta de atos dessa natureza,
mesmo que seus instintos naturais promovam o seu consentimento. Cabe ao adulto
ter essa consciência e evitar o ato mesmo que o adolescente o incite, pois
espera-se que o adulto, sim, tenha noção das consequências de seus atos.
Aproveitar-se de um indivíduo ainda em formação (crianças ou adolescentes) para
saciar seus desejos sexuais é um dos piores crimes que um adulto pode cometer,
pois usa a curiosidade, a explosão hormonal, a inconsequência típica dessa fase
para violentá-lo em seus direitos e com consequências para toda a vida”,
enfatiza a psicóloga.
A psicologa Edel Ferreira |
A
assistente social da LBV, articuladora do Movimento Nacional de Direitos Humanos
de Sergipe (MNDH/SE) pelo Instituto Braços e membro do Fórum Estadual de Defesa
dos Direitos da Criança e do Adolescente, Lídia Anjos, compartilha da mesma
opinião da psicóloga e lembra que a responsabilidade é do adulto. “Inclusive
algumas pessoas insistem em reproduzir o discurso de que crianças se prostituem,
quando na realidade crianças e adolescentes são prostituídas. Há sempre um
adulto por detrás da criança e do adolescente, que o usa, o explora, o
negligencia, e por fim o forma ou “de-forma” essa criança e/ou esse
adolescente”, ressalta.
Traumas
Edel
Ferreira observa que os traumas ocasionados pelo abuso sexual ou mesmo pela
vergonha em ter a vida exposta podem incluir sequelas físicas, consequências
sociais e traumas psíquicos.
Lídia Anjos defende o diálogo aberto entre adolescentes, pais e educadores |
“Podemos
principalmente falar de traumas psíquicos com proporções que podem variar de
acordo com o grau de violência sofrida, com as sequelas dessa violência e com o
tratamento que essa vítima receber. Quanto mais cedo ela for atendida por um
profissional da psicologia e tiver garantido esse acompanhamento por tempo
indeterminado, menor será esse trauma. Se for atendida por uma equipe
interdisciplinar, os resultados serão ainda melhores”, diz.
Isolamento
social, baixa autoestima, culpa social e reflexos como baixo desempenho escolar,
falta de humor, incluindo possíveis transtornos de sexualidade e no futuro
dificuldade em estabelecer relações conjugais adequadas e medo de constituir
família. Esses são aspectos que para a psicóloga devem ser tratados e
acompanhados ao longo da vida.
"Os
amigos podem ajudar evitando acusações, compreendendo que a vítima não deve ser
discriminada e sim acolhida, pois qualquer um poderia estar passando pela mesma
situação. A postura acolhedora é sempre um bálsamo para quem sofre qualquer tipo
de violência", orienta.
Crime
A
articuladora do MNDH/SE diz que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
compreende e define a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, em
condição peculiar de desenvolvimento, por estar ainda em formação. "Dessa forma,
em sua concepção o ECA entende que sexo entre adulto e adolescente nessa idade é
considerado prejudicial à formação do adolescente. O Código Penal define que a
prática de sexo com pessoa abaixo de 14 anos é crime intitulado de “estupro de
vulnerável” e prevê uma pena de reclusão de 8 a 15 anos para o agressor. Vale
frisar, que em conformidade com a doutrina da proteção integral aquele que
guarda, veicula, repassa, doa, reproduz foto/vídeo, contendo imagens de crianças
e adolescentes praticando sexo ou sendo violentadas ou sendo constrangidos por
qualquer motivo pratica crime que prevê pena de reclusão de 4 a 8 anos",
explica
Ainda
tratando do caso da adolescente vítima de abuso no interior do Estado, Lídia
Anjos, observa que o diálogo e a punição podem servir de exemplos. “A sociedade
precisa a forma de pensar para ter ações mais transformadoras e essa mudança
deve passar por uma política de educação que extrapole os muros da sala de aula,
que permita que a comunidade faça parte dela e vice-versa. A atitude da escola
foi da acolhida a adolescente, da busca aos meios responsáveis de denúncia, de
diálogo com a menina e de encaminhamentos do caso compartilhados com os demais
órgãos competentes. A agressão dos alunos parte da forma como pensam machista
sobre a situação. É preciso desconstruir isso, mas essa ação se dar a longo
prazo. No entanto, é importante que não se abra mão do diálogo permanente com os
estudantes, e de forma pedagógica também buscar a punição daqueles que atuaram
de forma violenta contra a estudante vítima”, observa.
Acompanhamento
A
promotora do Ministério Público Maria Helena Sanches Lisboa Vinhas, que
acompanhou o caso da menina, reconhece que para uma criança ou adolescente se
livrar da vergonha pelo abuso sexual, é necessário o apoio da família e ajuda
profissional, através de terapia com direcionamento específico para que a vítima
compreenda que foi abusada. No entanto, a promotora é dura quando fala da
punição ao agressor.
“Importante
também a punição do agressor para que seja dada uma resposta à sociedade, e
fatos como este não continuem acontecendo. È um crime grave, que acontece às
vezes dentro da própria casa e os pais devem verificar as crianças ou
adolescentes que mudam o comportamento, e expressão medo, choro inexplicável ou
sexualidade precoce", lista Maria Helena que garante.
“Em
relação à criança abusada em Estância já foram tomadas as providências, com a
instauração do Inquérito Policial, e a adolescente foi encaminhada para a casa
de parente, já garantido o direito de frequentar escola. O Município de Estância
vai colaborar com despesas de passagem e o Conselho Tutelar esta acompanhado
tudo de muito perto”, destaca a promotora.
Na
segunda parte da matéria especial o papel dos pais no diálogo sobre a
sexualidade e o estímulo da mídia.
Por
Kátia Susanna
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