Coordenadora do Programa DST/AIDS acredita que a informação existe, mas falta mudar os hábitos
27/11/2011 - 11:35
Para evitar a AIDS é preciso usar preservativo em todas as relações sexuais, não compartilhar seringas, agulhas e objetos cortantes. A explicação está na ponta da língua das pessoas e, mesmo assim, o número de infectados pelo HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana – continua aumentando. Em Ribeirão Preto, são 1,7 mil pacientes - só em 2010, foram 209 novos casos da doença.
De acordo com a enfermeira sanitarista coordenadora do programa de DST/AIDS de Ribeirão, Fátima Regina de Lima Neves, o problema não é a falta de conhecimento, mas a mudança efetiva dos hábitos. “Informação, a maioria da população tem. Quando a gente pergunta as formas de transmissão do vírus HIV, as pessoas sabem informar corretamente quais são. Mas há uma distância entre informação e mudança de comportamento”, afirma.
Fátima explica que a maioria da população acredita que nunca poderá se contaminar, como se as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) fossem uma realidade distante. Os dados do Programa DST/AIDS comprovam a afirmação: a cada 20 diagnósticos de HIV no município, nove já estão desenvolvendo a doença. “A maioria fica assustada e não adere ao serviço. Quando nos procuram, por conta de algum sintoma, já estão com o vírus manifestado e com quadro avançado da doença”, conta.
A enfermeira afirma que essa atitude é um reflexo da forma como o sexo é tratado pelas famílias, pela escola e até dentro do serviço público de saúde. “Os profissionais ainda têm dificuldade de lidar com questões da sexualidade. As DSTs ainda são tabus muito grandes para os próprios profissionais da saúde. Às vezes nem abordam este assunto”, diz.
A batalha contra a doença ganhou até uma data. O “Dia Mundial da Luta contra a AIDS” é comemorado nesta quinta-feira (1). Na entrevista da semana, o EP Ribeirão destacou alguns pontos polêmicos em relação à transmissão da doença, ao tratamento e às políticas públicas.
Teste rápido
O chamado “teste rápido” tem se popularizado pelo país, como forma precoce de diagnóstico da AIDS. Na última quarta-feira (23), a Secretaria Municipal da Saúde promoveu a campanha “Fique Sabendo”, realizando estes testes nas Praças Sete de Setembro e XV de Novembro, no centro de Ribeirão. Segundo Fátima, o exame surgiu como resultado das pesquisas científicas e da alta tecnologia disponível no país, e pode ser considerado tão confiável quanto o convencional.
Equipe multidisciplinar
A enfermeira afirma que o Brasil é um dos países que mais se destaca pelo aparato tecnológico para diagnóstico e monitoramento da Aids, além da distribuição gratuita dos medicamentos antirretrovirais.
Apesar disso, ainda falha no acolhimento dos pacientes, priorizando o atendimento centralizado no médico infectologista, ao invés de uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros. “O governo financia muito mais a participação do médico e, consequentemente, da equipe de enfermagem, para poder atender a população nesse sistema”, critica.
Identificação de pares
Fátima também explica que, apesar dos agentes de saúde terem um amplo conhecimento sobre a AIDS, muitas vezes não conseguem falar a mesma linguagem do público que pretendem atingir. “Por isso, a identificação de pares é importante. "Uma pessoa que vive com HIV vai falar com um paciente numa linguagem e com um sentimento de quem vive aquela situação. A mesma coisa do adolescente trabalhar como multiplicador”, explica a enfermeira, destacando que a sociedade complementa o trabalho realizado pelo serviço público de saúde.
Sexo sem camisinha
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde, na última segunda-feira (21), apontam que 61% dos jovens entre 15 e 24 anos usam camisinha na primeira relação. O número cai para 50% nas relações sexuais com parceiros casuais. De acordo com a médica, em relações estáveis, o diálogo entre o casal é fundamental, uma vez que a decisão sobre usar ou não o preservativo deve ser um consenso entre ambos.
Doenças Sexualmente Transmissíveis
Ainda segundo Fátima, não é possível trabalhar a prevenção de HIV de forma isolada das demais DSTs. “Uma pessoa que contraiu sífilis, por exemplo, tem 18% de chance a mais de contrair HIV, caso tenha um comportamento de risco”, afirma. Nesse sentido, ela destaca que doenças como gonorréia, candidíase, sífilis e hepatites A, B e C não podem ser esquecidas e devem ser tratadas com seriedade pela população.
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