segunda-feira, 23 de maio de 2011

Alguns remédios afectam o desejo na vida sexual

Alguns remédios afectam o desejo na vida sexual
Alexa Sonhi|
Ginecologista Pedro de Almeida
Fotografia: José Soares
Cientificamente, a disfunção sexual não é vista como uma doença mas sim como um problema complexo, tendo várias causas possíveis, entre as quais a diabetes, doenças do coração, com destaca para a hipertensão arterial, e distúrbios neurológicos. Pedro de Almeida, ginecologista, obstetra e professor universitário da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, explicou, em entrevista ao Jornal de Angola, que muitos dos medicamentos que se tomam para controlar essas patologias interferem sobremaneira no desempenho sexual da pessoa afectada, originado a diminuição da libido ou desejo sexual.

Jornal de Angola (JA) – O que é a disfunção sexual?

Pedro de Almeida (PA) – É uma situação em que a pessoa não consegue levar a cabo o acto sexual. Ou então consegue, mas de maneira não satisfatória para si própria ou para o companheiro. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma pessoa com esse tipo de disfunção tem a sua saúde sexual afectada, já que ela é a experiência de contínuo bem-estar físico, psíquico e sóciocultural.

JA – Quando começaram a ser desenvolvidos estudos sobre o assunto?



PA – Os primeiros estudos sobre a disfunção sexual foram levados a cabo pelo médico ginecologista norte-americano William Howell Masters e a sua assistente e esposa, a psicóloga Virginia E. Johnson. Eles foram os pioneiros no estudo da resposta sexual humana e no diagnóstico e tratamento das disfunções sexuais entre 1957 e a década de 1990.

JA – É diferente no homem e na mulher?

PA – É, embora existam alguns sinais e sintomas que manifestam alguma semelhança em ambos os sexos. Na mulher, encontramos fundamentalmente três tipos de disfunção: na fase de excitação, no orgasmo e uma outra provocada pelo vaginismo. Na fase de excitação, o distúrbio mais frequente é o que antigamente se designava por frigidez, ou seja, incapacidade da mulher de se excitar, não lubrificando a sua vagina.

JA – E nas outras duas fases da disfunção?

PA – No distúrbio relacionado com o orgasmo, a mulher não consegue atingi-lo, seja qual for o estímulo sexual utilizado, mas sente prazer, isto é, excita-se e lubrifica a vagina. Essa é uma disfunção bastante frequente na mulher. Já o vaginismo é a fase em que a mulher frequentemente tem excitação e orgasmo, mas devido à contracção espasmódica e involuntária dos músculos da vagina, não é possível haver penetração do pénis. Esta disfunção é muitas vezes a causa de desajustes conjugais e responsáveis pela separação dos casais.

JA – E no homem o que é que acontece?

PA – No caso do homem, também podemos, de modo didáctico e pedagógico, dividir as disfunções em duas fases: excitação e orgasmo. Quanto à perturbação na fase de excitação, consideramos a existência da chamada disfunção eréctil, que antigamente era designada por impotência, em que o homem não é capaz de obter ou manter uma erecção suficientemente firme do pénis para concluir com êxito o acto sexual.

JA – E no segundo tipo?

PA – Relativamente à perturbação da fase do orgasmo o homem pode estar afectado pela ejaculação precoce ou prematura e pela ejaculação retardada ou incapacidade ejaculatória. Note-se que, no primeiro tipo de disfunção, o homem é surpreendido por uma ejaculação demasiado rápida e, por isso, sem possibilidade de controlo, a ejaculação pode surgir antes da penetração do pénis na vagina, na altura da penetração, ou após alguns movimentos. No distúrbio do segundo tipo, que é uma situação menos frequente, o homem não consegue ejacular dentro da vagina da companheira, por mais que dure o acto sexual e apesar disso não perde a erecção, isto é, mantém o pénis rijo.

JA – Em que circunstâncias o homem ou a mulher começam a notar que têm problemas?

PA – No homem os sinais começam a ser notados quando ele não consegue ter, por exemplo, uma erecção em quatro tentativas de acto sexual ou demora mais tempo do que o habitual para conseguir uma erecção. A diminuição da rigidez do pénis com erecção incompleta ou ejaculação rápida são sinais de alerta de que algo não vai bem no desempenho sexual do homem.

JA – E no caso da mulher?

PA – Na mulher, os sinais de disfunção sexual podem passar despercebidos ao homem, sobretudo se ela tiver grande capacidade de fingimento em relação aos prazeres do acto sexual. No entanto, há sinais que podem ser detectados, como por exemplo, a dor durante o acto sexual, o desinteresse ou baixo desejo sexual, causando sofrimento e insatisfação não só a ela como também ao parceiro, a falta de lubrificação vaginal, a pouca ou nenhuma sensação de excitação ou ainda a incapacidade para atingir o orgasmo, mesmo após estímulo sexual adequado.

JA – Como tratar a disfunção sexual?

PA - De acordo com as suas causas, que podem ser orgânicas quando afectam o aparelho reprodutor, por factores de ordem psicológica ou ainda por problemas hormonais. A grande maioria das perturbações da função sexual, sobretudo em pessoas jovens, não tem causa orgânica. São fundamentalmente de ordem psicossociocultural. Quando os órgãos sexuais têm alguma perturbação ou deficiência, a cirurgia pode, em muitas situações, corrigir.

JA – E se o problemas for do foro psicológico?

PA – Pode-se recorrer à psicoterapia para ultrapassar o problema. Se a causa for médica, como, por exemplo, do tipo de deficiência hormonal, pode-se corrigir o problema com a administração de fármacos.

JA – O tratamento é multidisciplinar, envolvendo vários médicos de diferentes especialidades?

PA – O tratamento da disfunção sexual pode, em determinados casos, merecer uma abordagem multidisciplinar.

JA – Nos casais qual dos dois recorre mais ao seu consultório, o homem ou a mulher?

PA – De uma maneira geral são as mulheres. Até mesmo quando são os companheiros que têm manifestação de disfunção sexual, costumam ser as mulheres a tomar a iniciativa de procurar ajuda ou esclarecimento. Felizmente, já se regista casais que procuram conjuntamente o aconselhamento e tratamento médico.

JA – As doenças venéreas podem desencadear algum tipo de disfunção sexual?

PA – As infecções de transmissão sexual (ITS), anteriormente designadas por doenças venéreas, têm alguma influência na afectação dos órgãos sexuais, tanto do homem como da mulher e que condicionam a sexualidade. As lesões, inflamações ou infecções que atingem os órgãos genitais nos dois géneros são factores limitadores para as respectivas actividades sexuais.

JA – Pode dar um exemplo?

PA – Um homem com uma inflamação na próstata causada por uma ITS pode ter disfunção sexual devido à prostatite que lhe pode provocar dor durante o acto sexual, originando uma coitalgia. Por seu lado, uma mulher afectada por verrugas causadas pelo vírus do papiloma humano, conhecido por HPV, pode ter o seu desejo sexual refreado em virtude das lesões que pode apresentar nos seus órgãos genitais.

JA - As mulheres com problemas hormonais são propensas a terem algum tipo de disfunção?

PA- Sim, podem, de facto, ter disfunção sexual. O exemplo mais típico dessa condição é a mulher no climatério, ou seja, na fase pré e pós-menopáusica. Ela pode apresentar disfunção sexual por desequilíbrios hormonais que lhe diminuem o desejo sexual ou lhe causam atrofia dos seus órgãos sexuais com diminuição acentuada da lubrificação vaginal. Nestas situações, caso não haja contra-indicação, deve-se incluir no seu tratamento a reposição hormonal para que ela volte a ter a satisfação plena no acto sexual.

JA – Os casais são sempre submetidos a exames?

PA – Depois de estabelecida a relação de empatia, procuro interagir pondo em prática as técnicas de aconselhamento que me permitem, mais tarde, realizar com relativa segurança o exame físico. Por último, indico a realização dos exames complementares para um diagnóstico mais seguro que possibilite depois o tratamento com a eficácia desejada. No caso concreto do nosso país, há que se ter sempre em conta os efeitos secundários a determinados medicamentos que podem também afectar o desejo sexual.

JA – Está a referir-se a quê?

PA – Estou a referir-me a condições médicas como a diabetes, doenças do coração, com destaque para a hipertensão arterial, e distúrbios neurológicos. Muitos dos medicamentos que se tomam para controlar estas patologias interferem sobremaneira no desempenho sexual da pessoa afectada, originado a diminuição da libido ou desejo sexual.

JA – A frigidez é uma doença frequente em Angola?

PA – Sim. A frigidez ou disfunção sexual hipoactiva é caracterizada por falta de desejo sexual. É um distúrbio que pode estar ligado a problemas orgânicos, alterações hormonais, debilidade física devido a doenças e até mesmo pelo uso de determinados medicamentos.

JA – Há medicamentos disponíveis para combater esse tipo de disfunção?

PA – Sim. Existem já medicamentos eficazes para o tratamento da frigidez. Como fármacos de primeira linha, estão os derivados da testosterona que, actualmente, são preparados como implantes subcutâneos de acção lenta, que causam menos efeitos colaterais que as substâncias injectáveis de testosterona e proporcionam um efeito desejado sobre a libido, melhorando o desempenho sexual da mulher que faz a medicação.

JA – A disfunção sexual é uma doença?

PA – Do ponto de vista científico, a disfunção sexual não é por si só uma doença, mas sim um problema complexo com várias causas possíveis. Existem estudos recentes que sugerem que a disfunção sexual feminina pode ser indício de uma doença vascular, especificamente a diminuição do fluxo sanguíneo nos vasos que irrigam os órgãos sexuais. Em jeito de remate, para fumadores e para aqueles que são consumidores excessivos de bebidas alcoólicas, convém recordar que a disfunção sexual é uma condição clínica cujos efeitos se podem acentuar com o fumo e o álcool, pois além de intoxicarem a pessoa que faz uso deles, actuam como depressivos sexuais com a consequente e progressiva diminuição do desejo sexual.
http://jornaldeangola.sapo.ao/18/56/alguns_remedios_afectam_o_desejo_na_vida_sexual

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