terça-feira, 24 de maio de 2011

Homens em terapia

Homens em terapia

ELES GERALMENTE LEVAM UM CERTO TEMPO PARA ADMITIR QUE TÊM PROBLEMAS —MAS, DEPOIS DISSO, A MAIORIA PROCURA AJUDA, FAZ TRATAMENTO. E VOLTA A SENTIR E DAR PRAZER.

POR LAURA KNAPP

Por medo de magoar ou por não saber como abordar a questão, muitas mulheres convivem com a insatisfação quando o desempenho sexual de seus parceiros deixa a desejar. Segundo os especialistas, elas ficam inseguras e imaginam que o companheiro está desinteressado porque deixaram de ser atraentes. Os homens, por sua vez, raramente tocam no assunto quando percebem que podem ter algum problema. 'É como se a discussão sobre relacionamento sexual ainda estivesse na era vitoriana', diz Oswaldo Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade. Felizmente, porém, muitos desses homens buscam um especialista quando se convencem de que precisam de ajuda para voltar a ter e dar prazer. 'Isso acontece, na média, depois de cinco anos de problemas. Em geral, chegam ao consultório sozinhos e por conta própria; além disso, cerca de 80% desses pacientes dizem ter a intenção de manter o relacionamento com suas companheiras atuais. O paciente que se enquadra no perfil típico admite que a mulher sabe que algo está errado, mas, ainda assim, acredita que isso não precisa ser discutido a dois', explica o psicólogo.

Cerca de 30% dos homens com idade entre 40 e 49 anos têm alguma queixa sobre a própria performance. A ejaculação precoce e a falta de controle sobre a ejaculação é um problema recorrente, principalmente entre os mais jovens. Como as mulheres, os homens reclamam de não sentir o orgasmo, apesar da ejaculação; dizem sofrer com a falta de libido e também têm dores durante a relação. Mas é a disfunção erétil -dificuldade de obter ou manter a ereção por tempo suficiente- que leva quase 90% desses homens ao divã. Antigamente conhecida como impotência sexual, essa disfunção atinge de 14% a 25% dos pacientes com idade entre 20 e 60 anos.

EFEITO PSICOLÓGICO

O primeiro passo é checar se a causa é física -a falta de libido, por exemplo, pode ser um efeito colateral típico de medicações antidepressivas. 'Os psicólogos geralmente encaminham os pacientes para o consultório do urologista, o profissional que vai pedir exames para medir a taxa hormonal e avaliar as condições gerais de saúde do paciente', explica o andrologista e urologista Wagner De Ávila, de São Paulo. Não é incomum que os médicos receitem as modernas drogas contra a impotência mesmo quando detectam que a dificuldade não é só física. 'O medo de falhar na hora H provoca inibição e constrangimento; só de saber que está contando com a medicação o homem vai mais tranqüilo para a relação -nesses casos, o remédio funciona como uma muleta. Apesar disso, sempre orientamos esse paciente a conversar também com um psicólogo', diz Ávila.

Como acontece em todas as terapias, o tratamento psicológico se adapta a cada caso. Mas, quando o principal assunto é sexo, o psicólogo sempre aplica um teste-padrão de 'auto-eficiência sexual'. A idéia, segundo Rodrigues, é diagnosticar a quantas anda a auto-estima do paciente. 'A condição psicológica desse homem está na base de tudo. Não basta apenas ensinar técnicas e repetir exercícios mecanicamente; muitas vezes, é necessário detectar e transformar certas associações equivocadas que o paciente fez, por algum motivo, entre sexo e emoção. São idéias negativas que estão incorporadas e comprometem a vida sexual', explica o psicólogo.

DESEJOS NO DIVÃ

Além de seguir os mesmos preceitos de uma terapia tradicional, com o diálogo entre terapeuta e paciente, esse tratamento conta com o apoio de uma série de exercícios que duram, em média, 16 semanas. O objetivo desse conteúdo é orientar o homem no sentido de cumprir o ritual de desempenho com prazer. Para isso, o terapeuta ensina técnicas de masturbação, sugere novas posições e propõe os mais diversos exercícios de auto-erotismo: o homem aprende a se acariciar, a se excitar com imagens e a fantasiar. 'Esses exercícios variam; é preciso considerar a ansiedade, os conflitos e as inseguranças que mudam de pessoa para pessoa', diz Rodrigues. Às vezes, a estratégia do especialista é suspender a prática sexual do paciente por determinado prazo; em outros casos, o caminho é estimular a tentativa de determinadas experiências. Segundo o psicólogo, tudo sempre vai depender da causa: um homem às vezes não consegue manter uma ereção porque está estressado, mas o motivo também pode ter uma origem bem mais complexa. 'Muitos nunca imaginaram que o fato de chegar ao clímax depois de dois minutos de penetração pudesse se transformar num problema -e isso ocorre porque, quando jovens, esses homens tinham sucessivas ereções e, assim, satisfaziam suas parceiras. Durante o tratamento, os pacientes se surpreendem ao descobrir que é possível manter a ereção, com penetração, por até 30 minutos', conta Rodrigues.

Quando a pessoa não tem nenhum problema físico grave, a terapia individual chega a um final feliz depois de seis a oito meses. Mas esse tempo costuma encurtar quando o tratamento é feito com a participação da parceira: em geral, ela ajuda a esclarecer os problemas e sinaliza a evolução do caso para o médico. Na opinião do especialista, apesar de ser mais delicado, trabalhar com o casal traz resultados objetivos mais rapidamente. 'Às vezes, um comentário que parece não ter importância dá uma pista valiosa sobre o comportamento do homem ou sobre uma técnica que precisa ser ajustada', explica o psicólogo.

http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML557925-1744,00.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário