terça-feira, 24 de maio de 2011

O que fazer quando eles falham

O que fazer quando eles falham
Edição 152 - Nov/03

Uma relação sexual pode começar e continuar mesmo que a mulher não esteja suficientemente excitada. Mas, se o homem não consegue ter uma ereção, nada acontece. Ou melhor, acontece: na maior parte das vezes, eles ficam constrangidos e inseguros; já as mulheres se sentem frustradas e fantasiam que o problema tem a ver com elas. Em alguns casos, pode ser verdade que não exista mais interesse. Mas o inverso é possível, porque o problema também acontece justamente quando o parceiro sente uma forte atração.

Homens que nunca tiveram qualquer dificuldade funcional às vezes perdem a ereção inesperadamente, e por inúmeras razões. "Não há dúvida de que o lado emocional compromete o desempenho físico", diz a terapeuta sexual Carla Zeglio, do Instituto Paulista de Sexualidade. Na prática, o homem fica com a responsabilidade de fazer a relação sexual dar certo -e esse fardo pesa mais ainda se ele estiver sob forte ansiedade ou com muitas expectativas. Nessas situações, falhar na hora do sexo abala a auto-estima e a imagem de sua própria virilidade. "Existe uma crença de que o homem está sempre pronto para satisfazer a parceira com um pênis ereto, em qualquer circunstância. Como se a ereção fosse um atributo natural, dispensando clima e estímulos, e também não tivesse ligação com outros aspectos da vida desse homem", explica Oswaldo Rodrigues Júnior, psicólogo e terapeuta sexual, autor de "Disfunção Erétil - Esclarecimentos Sobre a Impotência Sexual" (Expressão e Arte Ed., 105 págs., R$ 10). Além da frustração, muitos passam a temer problemas mais sérios. "Mas perder a ereção eventualmente é uma coisa, ser impotente, é outra. A chamada difunção erétil situacional é uma dificuldade passageira, quase sempre ligada a questões do momento", explica Carla Zeglio.

Os médicos relacionam algumas das causas mais comuns dessas falhas ocasionais:
CAMISINHA Para muitos, ter de usar preservativo durante a relação sexual ainda é um grande problema. "A idéia de que a camisinha prejudica a sensibilidade acaba interrompendo a excitação", explica a especialista. Segundo ela, é comum ouvir dos pacientes que esse tipo de exigência de certa forma põe em dúvida as suas escolhas sexuais. "Muitos concluem que a parceira não está segura a respeito de sua masculinidade", diz Carla.
INIBIÇÃO Também há quem fique inibido ou inseguro num primeiro encontro. "Fazer sexo com uma mulher muito bonita pode intimidar. A cobrança com relação ao próprio desempenho dispara a produção de adrenalina, que, por sua vez, interfere no trajeto do sangue até o pênis", explica Carla.
ANSIEDADE O excesso de expectativa costuma ter esse mesmo efeito. "Às vezes, o homem fica ansioso porque está muito envolvido (e vê naquela mulher uma possível companheira) ou porque vai fazer sexo com uma mulher que deseja há muito tempo", diz a terapeuta. Segundo ela, até determinado ponto, a ansiedade é positiva, pois mobiliza e ajuda a agir; mas, ultrapassado o limite, o efeito se inverte -a pessoa fica paralisada por sentimentos de medo e insegurança. "O homem tem desejo, fica excitado e, muitas vezes, até consegue uma ereção, que logo cede a um fluxo de pensamentos negativos, como o de não ser capaz de dar prazer à mulher", explica Oswaldo Rodrigues. Segundo os médicos, existem alguns procedimentos básicos: quem está muito ansioso não precisa nem deve fazer sexo na primeira noite -nesses casos, a abstinência sexual só ajuda.
BEBIDAS ALCOÓLICAS Um ou dois copos de vinho no jantar ajudam a esquentar o clima, mas o consumo excessivo de álcool é contra-indicado. "Se o homem bebeu demais, o melhor a fazer é deixar o sexo para depois", diz a terapeuta.
ESTRESSE E DEPRESSÃO Uma demissão ou a morte de um ente querido afetam a vida em todos os níveis, inclusive o sexual. Mesmo quem vive um relacionamento estável não escapa do risco de falhar nessas circunstâncias -muitas vezes a tristeza afeta o próprio desejo, que é um estágio anterior à ereção. "Mas essas situações normalmente duram um tempo, prazo que varia de pessoa para pessoa. Já os estados depressivos tendem a se prolongar e, aqui, sim, uma das conseqüências pode ser a impotência", explica Rodrigues. Se as falhas se tornam freqüentes e atrapalham a vida sexual é preciso buscar ajuda médica ou terapêutica.

Um casal de professores de artes taoístas, Mantak e Maneewan Chia, uniu seus conhecimentos a outro par, o dos psicólogos americanos Douglas Abrams e Rachel Carlton Abrams, para escrever "O Orgasmo Múltiplo do Casal" (Ed. Objetiva, 244 págs., R$ 36,90). Segundo os autores, homens e mulheres têm energias sexuais diferentes, o que geralmente leva à desarmonia durante o sexo, mas com o uso correto de técnicas psicológicas e exercícios é possível reverter esse quadro. O capítulo que trata da dificuldade de ereção, por exemplo, aconselha o homem a relaxar para se harmonizar com a parceira. "Além disso, é essencial enfrentar a situação sem medo e sem fazer acusações a si mesmo ou à mulher. Senso de humor também ajuda muito", dizem os autores. O livro ainda sugere um exercício para reverter a situação, o mesmo adotado por muitos terapeutas sexuais -trata-se da técnica de penetração com o pênis flácido: dentro da vagina, aumentam as chances de o homem recuperar a ereção. Para tentar, basta ter intimidade física e emocional.

LUBRIFICAÇÃO A mulher precisa estar bem lubrificada e, para isso, pode contar com a ajuda de lubrificantes artificiais (para ela ou para ele).
ANEL O homem deve segurar a base do pênis formando um anel com o polegar e o indicador. Apertando suavemente, o sangue é empurrado para a cabeça do pênis -essa manobra faz com que o pênis fique firme o suficiente para penetrar sua parceira.
ELE POR CIMA Essa posição facilita os movimentos, além de favorecer a drenagem do sangue para o pênis.
PENETRAÇÃO Sem desfazer o anel, o homem deve começar a penetração cuidadosamente; e a leve pressão produzida pelo anel tem de continuar até que o pênis esteja ereto.
CONCENTRAÇÃO Nesse momento, é importante para o homem fixar a atenção no pênis e na sensação de prazer que a relação sexual começa a despertar.
ESTÍMULO Enquanto isso, a mulher pode colaborar para que chegue ainda mais sangue ao pênis, acariciando os testículos, pressionando delicadamente o períneo (região entre o ânus e a bolsa escrotal) ou fazendo carinhos que sejam excitantes para o casal -vale beijar, sorrir e demonstrar que sente prazer por estar com o parceiro.
AJUSTE Quando o pênis começar a responder, é preciso ajustar a pressão do anel, apertando menos para não prejudicar o fluxo de sangue; em geral, o contato dos órgãos sexuais é o suficiente para manter o pênis ereto, mas, se a ereção diminuir, o homem deve reativar o anel formado pelos dedos.

Ser compreensiva demais pode fazer com que o parceiro fique ainda pior -nesse momento, o ideal é dar carinho e compreensão, mas na medida certa. "Confortar não é o mesmo que deprimir", diz Carla Zeglio. Dependendo da situação, uma massagem relaxante pode ajudar. "Uma boa idéia é tentar mudar o foco, afastando a preocupação masculina com relação ao desempenho", explica a educadora sexual Laura Muller, no livro que escreveu com o ginecologista Nelson Vitiello ("500 Perguntas sobre Sexo", Ed. Objetiva, 250 págs., R$ 33).

Quando não existe intimidade, o melhor é tentar agir com naturalidade. Dizer que "entende" ou que "isso acontece", por exemplo, pode soar muito mal e irritar o parceiro. "Não dê tanta importância ao fato", aconselham Laura e Vitiello. Depois disso, pode não haver mais clima, mas, dependendo do momento, a mulher pode tentar outras formas de estímulo. "Se o toque da parceira durante a masturbação não tiver resultado, pode-se tentar o sexo oral. Se não tiver saída, o melhor é não fazer da situação um drama. Perder a ereção tem mais a ver com preocupações que estão dentro da cabeça do homem do que com a parceira que está ao seu lado", explicam os especialistas.

Sensibilidade é fundamental. Melhor não insistir no encontro se o homem, de alguma forma, demonstrar que está cansado, com problemas de trabalho, preocupado ou deprimido. "Alguns homens não sentem a liberdade de recusar um convite sexual porque a necessidade de atestar sua masculinidade é mais forte que todo o resto", explica a sexóloga Maria Helena Matarazzo, em "Coragem Para Amar" (Ed. Record, 159 págs., R$ 22). Uma das conseqüências disso é a falha de ereção -segundo a especialista, a mulher pode facilitar, dando ao homem a possibilidade de dizer não.

Se a idéia é discutir o assunto, atenção: é contra-indicado conversar sobre o problema na hora do sexo. Fora do contexto, num momento mais descontraído, certamente será mais fácil trocar idéias sobre o que aconteceu e sobre o que os dois podem fazer se a situação voltar a acontecer.

Eu namorava com C. há uns dois anos e as coisas sempre tinham rolado bem na cama. Mas, numa noite, depois de uma festa em que bebemos bastante, ele simplesmente não conseguiu. Começamos a nos beijar, mas não aconteceu mais nada... Na hora, fiquei arrasada, tentei disfarçar e fui dormir. Mas acordei grilada, imaginando que ele tinha conhecido alguém interessante na festa e eu não tinha notado, que o tesão por mim tinha acabado, essas coisas. Não me segurei, quis conversar logo que ele acordou e perguntei de cara se estava acontecendo alguma coisa. Ele pôs a culpa na bebida. Acreditei, mas fiquei ainda um pouco insegura e, por uns dias, não quis transar com medo de que acontecesse de novo. Acho que foi mais complicado para mim do que para ele. Ficamos juntos mais um ano e o problema não voltou a acontecer."

Rosana*, 36 anos, fonoaudióloga, casada

Já passei por isso duas vezes. O caso mais recente foi com um cara de 37 anos que conheci pela internet. Resolvemos nos conhecer e marcamos um jantar, que foi bem gostoso: achei-o interessante, estava em boa posição financeira e profissional. Fiquei animada. No segundo encontro, aceitei o convite e fui à casa dele. À certa altura, começamos a nos beijar e estava ótimo, mas a ereção durou muito pouco tempo. Tentei fazer sexo oral, o que piorou tudo. Acabamos desistindo. Fiquei triste, não me senti atraente. No dia seguinte, ele me contou que tinha vivido uma grande desilusão amorosa e que, a partir de então, essa dificuldade surgia sempre que se interessava por alguém. Disse que, quando havia algo além do tesão, ele não conseguia. A relação continuou por alguns meses e fluiu; acho que ele conseguiu relaxar. Só não podia ter sexo oral, isso complicava tudo -nunca tive coragem de perguntar o motivo, mas tenho certeza de que essa trava tinha relação com o tal caso que não deu certo. Hoje somos amigos."

Laura*, 33 anos, esteticista, solteira

Eu estava tendo um caso com meu personal trainner há uns dois meses. Sentíamos uma atração tão forte que, às vezes, não dava tempo de colocar a camisinha. Mas, como ele tinha feito exames e eu também, eu não ficava aflita. Numa certa noite, decidi que só transaria com preservativo -na verdade, eu andava desconfiada que não era a única. Ele cedeu, mas reclamou muito que a camisinha estava incomodando, apertando e sei lá o que mais. Depois de um tempo, como a ereção não acontecia de jeito nenhum, eu mesma tirei o preservativo mas, naquela noite, nada mais deu certo. E ainda tive de ouvir: 'Ainda bem que isso aconteceu com você, porque você vai entender'. Só que não entendi. Fui embora, não consegui continuar na mesma cama. Fiquei mal, fantasiando que ele fazia sexo com outras -afinal, ele vivia rodeado de mulheres lindas e saradas. Ele se decepcionou com a minha reação, disse que esperava compreensão porque, na sua opinião, tinha sido só um 'problema técnico'. Tenho minha própria teoria: acho que a camisinha mexeu com a auto-imagem dele. Ainda ficamos juntos um tempo, a relação foi esfriando naturalmente."

Márcia*, 36 anos, professora, separada

*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas. Depoimentos a Janette Bacal
http://revistamarieclaire.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/1,3916,625942-1744-4,00.html

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