segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sexualidade ainda é tabu na escola

24/05/2011 -- 00h00
Sexualidade ainda é tabu na escola
Livro mostra que comunidade acadêmica não consegue falar com naturalidade; para especialista, abordagem segura e esclarecedora só tem pontos positivos
A educação sexual ainda é tratada como um tabu no ambiente escolar. O recém-lançado livro O Nome da Coisa abre a discussão sobre essa questão ao mostrar que professores, alunos e pais não conseguem abordar o tema com naturalidade, segundo a autora Eliane Maio, que é doutora em Educação e professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ela entrevistou quase cinco mil pessoas ligadas ao meio acadêmico que revelaram usar apelidos quando se referem relação sexual e órgãos genitais. Filmes, personalidades e até alimentos têm servido de inspiração aos entrevistados.

Segundo a professora, o objetivo do livro, que tem apresenta uma extensa lista de 1.308 nomes, é debater a influência da repressão sexual no espaço educativo. ''Entrevistei 4.916 pessoas de 18 a 68 anos, entre professores, pais e alunos de seis Estados para minha tese de doutorado. Infelizmente, a pesquisa mostra que as pessoas ainda têm preconceito e falta de habilidade na hora de falar sobre sexualidade, assunto que deveria ser tratado com naturalidade'', afirma.

Ela ressalta que a educação sexual deveria fazer parte das disciplinas nas escolas. ''Entretanto, o tema ainda não faz parte nem da grade curricular dos cursos de Pedagogia que forma professores'', queixa-se. A docente defende que o assunto seja tratado como ciência nas instituições de ensino. ''Existem muitos docentes que dizem ter medo que alguns pais fiquem bravos se falarem sobre sexualidade na sala de aula. Mas isso não depende da aprovação do pais, já que o tema será abordado de forma científica. Como local de aprendizagem a escola tem a obrigação de abrir esse espaço para difusão de conhecimento.''

A professora da UEM destaca alguns problemas que poderiam ser evitados se a disciplina de educação sexual fosse ensinada nas escolas públicas do país. ''Através deste trabalho de conscientização seria mais fácil diminuir os casos de gravidez precoce e a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo.''

Autonomia moral

A abordagem ampla, segura e esclarecedora de temas ligados à sexualidade só tem pontos positivos na avaliação da psicóloga, doutora em Educação e professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Mary Neide Damico Figueiró. ''Estudos realizados no Brasil e no exterior mostram que as pessoa que foram bem educadas sexualmente desde a infância resolvem iniciar a vida sexual mais tarde'', enfatiza.

De acordo com a docente da UEL, apesar disso muitos professores dizem que não precisam falar de sexualidade porque hoje em dia as crianças já sabem de tudo. ''Mas não há como garantir que as informações que as crianças e adolescentes recebem sejam verdadeiras. Além disso, quando o assunto é debatido fora da sala de aula geralmente ganha ares de pornografia. Precisamos conscientizar as crianças e dar autonomia moral para que na fase adulta elas possam fazer suas escolhas com maturidade de forma responsável.''

Marcos Roman
Reportagem Local
http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--3694-20110524

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