quarta-feira, 18 de maio de 2011

Com decisão do STF, 800 paraibanos que declararam manter união homoafetiva poderão oficializar direitos

Com decisão do STF, 800 paraibanos que declararam manter união homoafetiva poderão oficializar direitos

06/05/2011 | 16h06min

A ex-presidente da Associação dos Travestis da Paraíba (Astrapa), e integrante do Fórum LGBT da Paraíba, Fernanda Benevenutty, esteve nesta sexta (6), no programa Rede Verdade da TV Arapuan para falar sobre a decisão tomada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi assegurada a constitucionalidade das relações homoafetivas e dos números do último senso demográfico que foi o primeiro a questionar os números da população homossexual no Brasil.

Fernanda comenta que no Brasil, mais de 60 mil pessoas afirmaram ter uma união homoafetiva estável no senso demográfico de 2010 e na Paraíba aproximadamente 800 pessoas. Para ela o número é bem maior, e que esse número é apenas daqueles que se dispuseram a se identificar e responder a pesquisa.

Segundo Fernanda a decisão do Supremo é de suma importância. “É um avanço significante, a lei por si só não resolve nada, tem que ter um marco regulamentador para que as coisas comecem a acontecer”, afirma. Para Fernanda o judiciário vem tendo avanços significativos, mas ainda não houve avanço no legislativo.

“O judiciário brasileiro vem dando ganho de causa seja na adoção e da previdÊncia pra o movimento LGBT é um grande avanço”, afirma. Fernanda atribui o mérito desses avanços ao IBGE, que segundo ela: “pela primeira vez o Brasil teve a coragem e a ousadia de pesquisar se a pessoa tem uma união estável com uma pessoa do mesmo sexo”.

A respeito da formalização do “casamento gay”, Fernanda explica que há casais que já vivem em uma união estável há muito tempo e que não tem necessidade de formalizar, mas se for da vontade dessas pessoas, pode haver formalização sim, já que se deu a abertura do Judiciário. “Infelizmente vai ter que ingressar no Judiciário, para poder garantir esse direito, o que queremos é que no Brasil esses ganhos de causas virem leis, porque as pessoas só passam a respeitar determinados segmentos e situações sociais a partir de leis”, explica.

Questionada a respeito da formação tradicional da família e da “deformação” da estrutura familiar, Fernanda explica que isso é preconceito. “É mais uma questão religiosa e moral, do que de fato entender que um casal homossexual, criar um filho, ele não vai educar um filho, como as pessoas tem essa concepção, para ser homossexual”, afirma.

“Quem me educou? Eu nasci numa família heterossexual, eu aprendi a ser homossexual? Eu nasci homossexual, não se aprende, não se copia. E a criança não tem preconceito,ela é educada a ter preconceito”, frisa.

Fernanda ainda mostra que tem dois filhos, um rapaz de 16 anos e uma garota de 12 e afirma que convive bem com eles, que os filhos nunca sofreram preconceito e que tudo depende do respeito que a pessoa impõe.

A ex-presidente da Astrapa mostra exemplos que apontam um paradoxo em relação às relações heterossexuais, onde casais heterossexuais violentam e estupram crianças, jogam uma criança recém-nascida de um prédio, enquanto tantas pessoas querem um filho para criar, para dar amor, carinho e educação.

Fernanda esclarece que não deseja que seus filhos sejam homossexuais, que ela própria não queria ser. “Eu queria ser heterossexual, aceita pela sociedade, mas eu sou assim,ninguém tem culpa de ser assim, não é um crime, não é vergonha. Eu não vou criar meus filhos para serem homossexuais, mas se um deles for, claro que eu vou educá-los para que não sofram o preconceito e a discriminação que eu vivi”, desabafa.

“Ninguém cria filho para se homossexual ou heterossexual, a sexualidade das pessoas elas quem decidem por si próprias”, explica.

Sobre os religiosos afirmarem que não tem nada contra os homossexuais, mas contra o pecado, Fernanda rebate dizendo que ser homossexual não é pecado e que não há nenhum versículo afirmado isso. “Eu sou católica, estou numa família de padres, eu ia ser padre. A questão da religiosidade e da fé, nós, LGBTs, também temos nossa religiosidade e nossa fé, tem muitos homossexuais que estão nas religiões de matrizes africanas, essas religiões não discriminam ninguém aceitam a pessoa como é”, comenta.

“Os estados estão criando igrejas inclusivas para LGBT, eu acho isso péssimo, porque o Deus é o mesmo, por que essa descriminação? A Igreja como casa, como local de oração é um local de oração ninguém vai para a igreja fazer sexo. As pessoas não enxergam a parte humana, a parte religiosa ou a parte política. Temos LGBTs que são evangélicos, o problema não está da religião, mas nos líderes”, conclui.

PLC 122 – Segundo a ex-presidente da Astrapa, estão acontecendo audiências públicas para a aprovação do PLC 122 e o que vem sendo discutido, inclusive com o senador Bispo Crivela (PRB-RJ), é que as diferenças religiosas e partidárias são importantes no campo político, mas não são o ponto central da aprovação do projeto. “Claro que os evangélicos e fundamentalistas, não estamos falando das religiões, mas dos líderes, eles que são homofóbicos e que emperram o processo”, denuncia.

Quanto ao caso Bolsonaro (PP-RJ), Fernanda limitou-se a dizer que não queria “dar ibope a quem não presta” e criticou as declarações do deputado.
Redação
http://www.paraiba.com.br/2011/05/06/11358-com-decisao-do-stf-800-paraibanos-que-declararam-manter-uniao-homoafetiva-poderao-oficializar-direitos

Nenhum comentário:

Postar um comentário