sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Começou como uma brincadeira", diz ex-bispo que abusou sexualmente de seu sobrinho

15/04/2011 - 12h31
"Começou como uma brincadeira", diz ex-bispo que abusou sexualmente de seu sobrinho
A Bélgica amanheceu nesta sexta-feira (15) comovida e perplexa com as declarações do ex-bispo de Bruges Roger Vangheluwe, quem em entrevista a uma rede de televisão reconheceu ter abusado sexualmente de dois de seus sobrinhos, fatos que classificou como de menor importância e descreveu com riqueza de detalhes.

O mundo político e o religioso coincidiram em classificar como "degradante" e "inadmissível" a atitude do antigo prelado, que não responderá na Justiça pelos abusos porque os crimes já prescreveram, ocorreram há mais de 30 anos.

"Começou como uma brincadeira (...). Nunca houve violação ou violência física. Jamais me viram nu, nem houve penetração", afirmou o prelado em entrevista à rede de televisão flamenga "VT4".
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O religioso, destituído por Bento 16 em abril de 2010 quando o escândalo dos abusos a um de seus sobrinhos (o outro caso foi conhecido depois) veio à tona, relatou ao vivo como ocorriam os abusos, que eram cometidos durante as visitas à sua família e que chegaram a se transformar em uma prática "habitual".

A entrevista, feita em um convento da França onde Vangheluwe, 74 anos, está vivendo por ordem do Vaticano, foi ao vivo e nela o antigo prelado dá uma impressão mais fria do que doída dos episódios.

Segundo o bispo destituído, jamais pensou no impacto de seus atos, que classificou como meros "feitos superficiais", embora reconheceu que sabia que "não estava certo" e que por isso confessou-se em várias ocasiões.

"Não tinha a impressão de que meu sobrinho se opusesse, pelo contrário", afirmou Vangheluwe na entrevista, na qual afirmou que nunca se considerou um pedófilo e que os abusos eram frutos de "uma pequena relação".

O que ocorria "não tinha nada a ver com a sexualidade", garantiu e acrescentou que jamais se sentiu atraído pelas crianças e que, no caso de seus sobrinhos, "o que existia era intimidade".

Vangheluwe se declarou arrependido pelos fatos, que se prolongaram durante 13 anos em um dos casos e dois anos no outro.

As reações às declarações se multiplicaram ao longo do dia. O primeiro-ministro belga, Yves Leterme, considerou que o ocorrido "supera os limites do aceitável" e pediu à Igreja que "assuma suas responsabilidades" para colocar um ponto final ao assunto.

Também o ministro de Justiça belga, Stefaan De Clerck, fez um chamado à Igreja a resolver a situação o mais rápido possível.

Walter van Steenbrugge, advogado da vítima que sofreu os abusos por mais tempo, rejeitou a versão do religioso sobre nunca ter havido "penetração", e assegurou que as somas de dinheiro que o prelado deu à família do menor tiveram por finalidade comprar seu silêncio, contra ao que Vangheluwe afirma.

Por sua vez, os bispos da Bélgica tacharam a atitude de seu antigo colega de "inaceitável" e expressaram em comunicado sua "extrema comoção" diante da maneira em que este "minimiza e desculpa os fatos cometidos e as consequências para as vítimas, suas famílias, os fiéis e em geral a toda a sociedade".

A destituição de Vangheluwe deu origem a uma série de denúncias de abusos sexuais por parte de religiosos em toda a Bélgica, por isso que a Igreja criou uma comissão de investigação. O relatório, apresentado em setembro de 2010, constatou as denúncias de 450 vítimas de abusos e o suicídio de 13 delas, o que causou nova comoção nacional.

O Vaticano informou nesta semana que as sanções da Igreja contra o antigo bispo ainda não são definitivas.

"A Congregação para a Doutrina da Fé estabeleceu que o ex-bispo deixe a Bélgica e se submeta a um período de tratamento espiritual e psicológico. Nesse período evidentemente não tem permissão de exercer de maneira pública o Ministério sacerdotal e episcopal", assinalou a Santa Sé em comunicado.
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/04/15/belgica-comovida-com-os-relatos-dos-abusos-sexuais-de-ex-bispo.jhtm

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