15.02.2009 | 22h10
Movimento pelo casamento sem sexo cresce
Muitos casais preservam o núcleo romântico e buscam a sexualidade fora dele
UOL
Muito se fala da emancipação do sexo em relação ao amor, mas pode o amor se tornar independente do sexo? O debate vem à tona enquanto emerge o movimento "assexual" como "quarta orientação sexual" e muitos casais preservam o núcleo romântico e buscam a sexualidade fora dele.
"Não tem nada a ver com a promiscuidade. Simplesmente, há cada vez mais gente que aceita que é muito difícil encontrar todos os estímulos em uma só pessoa", explica à Agência Efe Anthony Bogaert, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Brock, em Ottawa, no Canadá e especialista em sexualidade.
O amor aspira atualmente a sobreviver a este "divórcio", apesar dos esquemas tradicionais. "Ainda são pessoas sexuais, mas perderam o apego sexual ao seu companheiro, embora não o romântico", especifica, às vésperas do dia de São Valentim (dia dos namorados nos Estados Unidos e em países da Europa).
De fato, este casamento amor-sexo, de uma visão psicanalítica, pode ser, muitas vezes, de conveniência e esta nova fórmula seria mais realista.
"O amor e o sexo estão geralmente separados. Os casais que mais se amam, os que se conheceram aos 12 anos, foram ao colégio e à universidade juntos e depois se casaram, não são os que mais gozam", afirma à Efe Miguel Oscar Menassa, diretor do Grupo Zero de Poesia e Psicanálise.
Ele acrescenta: "Muitas mulheres têm seu primeiro orgasmo fora do casal. Depois, gozam com o companheiro, mas primeiro, para ter uma boa sexualidade é preciso aprender a não respeitar demais o objeto sexual".
Mesmo assim, "o ideal continua sendo poder conjugar que aquilo que eu amo também é aquilo que eu desejo", mas isso "ocorre muito poucas vezes" e, nesses casos, também pode ter uma duração restrita, diz Menassa.
"As consultas estão cheias de casais de apaixonados que não conseguem ter relações. Eles se transformam em impotentes e elas, em frígidas", explica Menassa.
Além dos caminhos divergentes que o amor toma em relação ao sexo, começa a ganhar força um grupo que se reivindica como a quarta orientação sexual: os asexuais.
Para a visão psicanalítica de Menassa, isso não existe. "Separamos a sexualidade da 'genitalidade'. A sexualidade é um montão de coisas da atividade humana e uma função vital imprescindível", rebate.
No entanto, Bogaert, em seus estudos, avalia que, enquanto muita gente "não quer sexo pela relação afetiva", também existem outras pessoas "que simplesmente não têm interesse nem atração pelo sexo".
Os assexuais, segundo os analistas, formam entre 1% e 3% da população, nos quais muitos incluem figuras célebres como Salvador Dalí, Frédéric Chopin e Isabel I da Inglaterra.
Em todo caso, trata-se de uma minoria que começa a se fazer ouvir, a reivindicar sua personalidade não-patológica e a explicar sua maneira de progredir em um mundo notadamente sexuado.
Eles assinam claramente a declaração de independência do amor, já que "os assexuais podem, sim, sentir uma atração romântica pela outra pessoa" e mesmo assim não entrar em matéria sexual, explica Bogaert.
O casal nem sempre é assexual, por isso o estabelecimento das relações íntimas é complicado e, muitas vezes, o membro assexual do casal aceita fazer sexo pontualmente, já que fisicamente é capaz.
Mais fácil, porém, é uma relação entre assexuais, como afirmou em setembro de 2008 o jornal inglês "The Guardian", através do testemunho de Paul Cox, um jovem de 24 anos assexual que se vangloriava das felicidades de seu recém-celebrado casamento.
"É muito difícil para o assexual encontrar um companheiro, e uma indubitável fonte de estresse", reconhece Bogaert.
Assim nasceu o Platonic Partners (www.platonicpartners.co.uk), um site de contatos para encontros amorosos libertados do -para seus adeptos- "jugo" do sexo.
Ou, para entender o fenômeno mais amplamente ou "se juntar" a ele, nasce a Asexual Visibility and Education Network (www.asexuality.org) -existe ainda um site dedicado ao assunto em português (http://www.assexualidade.com.br).
Acontece que, nesta minoria, também existe uma grande variedade.
"Vai desde o que não entende o sexo com outras pessoas, mas se masturba como qualquer outro, até o que se declara 'A-romântico' -também não sente atração por nenhum tipo de vínculo amoroso", explica Bogaert, que segue investigando a busca de base biológica por trás disso.
De qualquer forma, o coletivo assexual segue um patrão parecido ao gay em sua "saída do armário". Começam a se usar termos como o "A-Pride" (orgulho asexual) e eles se vendem com o slogan "Amoeba Lifestyle" (estilo de vida ameba).
Além disso, muitos testemunhos postados na rede afirmam que foi "muito libertador" se encontrar com gente de sua mesma condição, após uma adolescência na qual se sentiram excluídos em meio a tanta revolução hormonal.
"Algum dia, a assexualidade será mais aceita, mas nunca será tão poderosa quanto o movimento gay por uma simples razão: são menos. Espero que seja um movimento significativo, que se juntem, compartilhem informação e sintam proximidade", conclui Bogaert.
http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=170702&tipo=0
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