terça-feira, 12 de julho de 2011

Carta Pastoral da Presidência: Sexualidade Humana – Homoafetividade

Carta Pastoral da Presidência: Sexualidade Humana – Homoafetividade

8/7/2011 11:51, Por Adital

Presidência
IECLB nº 199070/11
Porto Alegre, 24 de junho de 2011

CARTA PASTORAL DAPRESIDÊNCIA
Assunto: Sexualidadehumana – homoafetividade
Estimados irmãos e estimadas irmãs em Cristo!

Esta carta pastoral foi motivada por dois fatos recentes.Primeiro, a decisão do Supremo Tribunal Federal – STF, de 5 de maio de 2011,que trata do reconhecimento jurídico das uniões estáveis de pessoashomoafetivas. A decisão do STF consiste no “reconhecimento da união contínua,pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como ‘entidade familiar’,entendida esta como sinônimo perfeito de ‘família’, reconhecimento que é de serfeito seguindo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estávelheteroafetiva”. O segundo fato é a tramitação do Projeto de Lei nº 122/2006. Sefosse aprovado na versão original, esse projeto tornaria crime a homofobia.Neste momento, o projeto continua em tramitação no congresso brasileiro.

A homossexualidade já foi tematizada em duas cartaspastorais, emitidas pela Presidência da IECLB em 1999 e em 2001. Reafirmamos oconteúdo dessas cartas. Por quê?

* reconhecemos que o grau de dificuldade para lidar com oassunto relações homoafetivas ou homossexualidade não diminuiu; um sinal dissoé o fato de não termos conseguido avançar no diálogo que a Federação LuteranaMundial propôs, e que a Presidência da IECLB estimulou na década passada, parao que foi publicado e amplamente divulgado o documento Matrimônio, Família eSexualidade Humana;

* reafirmamos o amor incondicional de Deus por nós como baseessencial para abordar esse tema; cremos que as pessoas homossexuais são tãoamadas e necessitam tanto da graça de Deus quanto todo ser humano (Rm 3.23s);

* por serem discriminadas e estigmatizadas, pessoas deorientação homossexual e seus familiares sofrem, e sofrem muito. Aspolarizações apenas aprofundam o sofrimento e não ajudam na construção de umEstado de direito em que todas as pessoas têm assegurada sua dignidade.

Resumindo, essa memória nos lembra da nossa condição deseres amados por Deus e nos conclama para o diálogo respeitoso sobre o assunto.Somente assim chegaremos a aspectos novos a serem considerados nesse diálogo eaprofundamento.

Cabe recordar aqui o que foi mencionado em outra cartapastoral, em 2009, que tratou do discernimento ético:

“não há no âmbito de igrejas evangélicas protestantes ummagistério que tenha a prerrogativa de estabelecer normas éticas que deveriamser seguidas por todos os fiéis. Nem poderia haver. Na tradição da Reformaprotestante essas igrejas não (re)conhecem uma instância eclesiásticaautoritativa, muito menos infalível, em questões morais, mas seus pastores epastoras têm a responsabilidade de, baseados na Bíblia e seus valoresevangélicos, orientar as pessoas implicadas ao discernimento ético,fortalecendo-as a tomarem, simultaneamente em liberdade e responsabilidade,suas próprias decisões diante de Deus”.

É a partir dessa perspectiva que a atual Presidência tambémevitou e evitará emitir uma posição da IECLB sem consulta e diálogo prévios comoutras instâncias constituídas. Uma decisão institucional passa pela discussãoque envolva essas instâncias da Igreja.

Há assuntos, como o aqui em pauta, que requerem umadiscussão acerca da hermenêutica que usamos para interpretar textos bíblicos.Como pessoas evangélicas de confissão luterana, zelamos para evitar uma posturamaniqueísta: deste lado está o bem, a verdade, Deus; daquele lado está o mal, amentira, o diabo. Há questões que exigem da pessoa cristã ter que lidar com atensão oriunda da dificuldade de dar respostas rápidas; de conviver com odebate difícil, mas sério, aberto, respeitoso. Há perguntas para as quais aresposta nem sempre é sim ou não. Não por último, a separação entre joio etrigo, quando e onde ela ocorrer, caberá ao Senhor (Mateus 13.30).

Considerando a separação entre Igreja e Estado, cabe-noscomo IECLB acolher a decisão do STF. O pano de fundo dessa decisão é o empenhodo Estado pela superação da discriminação de pessoas e grupos, da intolerância,do preconceito, da estigmatização de comportamentos diferentes que, tantasvezes, culminam em violência, sofrimento, perseguição e, inclusive, morte. Éfundamental que não percamos esta dimensão: a intolerância é fonte dejulgamentos apressados, incompreensão, dor, sofrimento. Do ponto de vista doEstado, a decisão do STF quer impedir isso.

Ao mesmo tempo em que nos cabe acolher a decisão do STF,precisamos refletir intensamente acerca dos desdobramentos desta decisão para aIECLB. A IECLB tem em seu “Guia da vida comunitária: Nossa Fé – Nossa Vida” aslinhas básicas que pautam os seus fundamentos doutrinários, confessionais elegais para sua atuação. Este documento, aprovado em Concílio da Igreja,reflete o momento atual da caminhada da Igreja à luz de sua missão. Qualquermudança nesta área, inclusive acerca da benção matrimonial ou qualquer outraprática, passa por ampla discussão em todas as instâncias da IECLB.

A Presidência daIECLB

- espera que o Estado brasileiro, através de seus poderes,assegure e concretize os direitos fundamentais da liberdade de pensamento, decrença e de manifestação para todos os cidadãos, conforme estabelecido naConstituição Federal;

- entende que essa garantia dos direitos fundamentais éimprescindível para coibir tanto a violência decorrente de posturas extremasquanto querer calar a voz dos que buscam o diálogo ancorado em argumentossólidos, inclusive para discordar;

- acredita que somente vamos crescer e avançar noentendimento desse tema complexo, se a opção for por uma postura de respeitomútuo pelas posições distintas, de diálogo franco, desarmado e fraternal, desuperação da exclusão e, sobretudo, de opção radical por manifestações e gestosque deem lugar à graça e ao amor de Deus, graça e amor que nos alcançam porcausa da Sua misericórdia, e não porque as mereçamos;

- reafirma a sua opção radical por uma gestão do cuidadoque, em relação ao tema Matrimônio, Família e Sexualidade Humana, reconhece quea graça de Deus dispõe a Igreja de Jesus Cristo para uma caminhada conjunta,sinodal, que faz do diálogo um instrumento imprescindível. Desse modo,conseguiremos avançar e crescer na fé, pela qual somos pessoas justificadas emovidas por Deus para optar por aquilo que promove a Cristo.

Em Cristo,

Nestor Paulo Friedrich
Pastor Presidente
http://correiodobrasil.com.br/carta-pastoral-da-presidencia-sexualidade-humana-%E2%80%93-homoafetividade/266314/

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