domingo, 3 de julho de 2011

O caminho sem volta dos anabolizantes

12/06/2011
O caminho sem volta dos anabolizantes
Os danos causados por seu uso indiscriminado podem ser irreversíveis e gravíssimos, podendo levar à morte
Adilson Camargo
A busca pelo corpo escultural tem levado os jovens, em especial, a trilhar um caminho sem volta. O uso de esteroides anabolizantes é o meio mais fácil e rápido para deixar os músculos torneados e volumosos. Mas o preço a ser pago é alto. E o que antes era restrito a atletas que precisavam de mais força física, hoje se espalhou entre homens e mulheres “comuns” que querem ganhar massa muscular com rapidez.

Quando usado com moderação, geralmente por meio de recomendação médica, os anabolizantes ajudam a suprir alguma deficiência do organismo sem causar dano. No entanto, o que ocorre, normalmente, é um abuso no consumo do medicamento, o que leva à dependência e a efeitos colaterais irreversíveis e graves, como aumento da pressão arterial, de problemas cardíacos, infertilidade e impotência sexual, entre outros.

A dosagem médica é ministrada em torno de 15 miligramas de anabolizantes. Dependendo do caso, se usa um pouco menos ou um pouco mais. Mas, para se ter uma ideia do exagero, a dosagem usada para fins de produção de massa muscular, que deixa a pessoa “bombada”, é 10 a 20 vezes superior a essa, em torno de 150 a 300 miligramas. “Nessas dosagens, os anabolizantes são maléficos à saúde”, afirma o nutrólogo José Roberto Ferreira Santiago.

E usa-se em grande quantidade porque as pessoas têm pressa. Em um prazo de 45 a 90 dias, o corpo é outro. O volume da musculatura do organismo chega a dobrar e, às vezes, quintuplicar. Segundo Santiago, o aumento é por conta da retenção de líquido nas células provocada pelo anabolizante.

Com a célula hipertrofiada, o coração precisa trabalhar mais e a primeira consequência disso é o aumento da pressão arterial. “Em menos de 45 dias, a pessoa fica hipertensa”, afirma o nutrólogo.

Os hormônios liberados pelos anabolizantes não agem em uma musculatura específica. Sua ação é um todo o corpo, inclusive nos músculos do coração e do trato digestivo. A hipertrofia afeta a motilidade dessa musculatura e as consequências começam a se agravar, porque o coração hipertrofiado leva à insuficiência cardíaca.

Além do coração ter de bombear mais forte para suportar o excesso de líquido retido nos músculos, ele próprio está com uma musculatura exagerada que não é compatível com a vascularização dele. “Com isso, a pessoa pode ter um infarto, uma arritmia ou coisa desse tipo”, alerta Santiago.

Reação orgânica

Uma vez no organismo, o anabolizante tem de ser metabolizado e o órgão que faz isso é o fígado. E ele não consegue dar conta de metabolizar uma carga alta dessa substância e começa a sofrer e acumular gordura ou ter degeneração celular. Daí surge ou aumenta-se o risco de câncer hepático.

Segundo explica o nutrólogo, o próprio processo de metabolização dos anabolizantes faz com que haja uma produção do colesterol ruim (LDL), que aumenta a incidência de placa de gordura, que vão obstruir as artérias.

E as consequências negativas para quem se utiliza dessas substâncias sem acompanhamento médico não param por aí. O uso exagerado de anabolizantes faz com que o organismo fique abarrotado de hormônios, entre eles a testosterona. E o órgão que produz a testosterona no homem são os testículos.

Se o organismo tem uma grande carga desse hormônio, ele entende que ele não é preciso produzir mais. Então, cessa-se os estímulos de produção testicular e os testículos começam a atrofiar podendo chegar ao tamanho de uma uva passas, sendo que o tamanho normal deles é o de uma uva grande.

Além de levar à infertilidade, pela baixa ou nenhuma produção espermatozoide, esse quadro leva também à impotência sexual porque os testículos têm função regulatória da potência masculina.

Para o professor de educação física Dalton Müller, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, os anabolizantes podem ser comparados ao cigarro. Eles provocam uma série de sequelas, mas não dá para dizer em quanto tempo elas irão se manifestar. “Só sabemos que os problemas aparecerão porque o impacto no organismo é muito grande.”

Embora a venda de anabolizantes só é permitida mediante apresentação de receita médica, até para evitar a automedicação e uso inadequado, é possível conseguir o produto no “mercado paralelo”, inclusive pela internet.
http://www.jcnet.com.br/detalhe_geral.php?codigo=209412

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