segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Como explicar a homossexualidade para as crianças?



crianca
Os questionamentos sobre sexualidade são considerados normais pela psicologia dentro do desenvolvimento infantil. Como a homossexualidade tornou-se mais visível pelos meios midiáticos – e a criança fica exposta a esta informação- surgem dúvidas que outras gerações provavelmente não tinham tão precocemente.
O psicólogo Cesar A.R de Oliveira (saude_mental@ig.com.br) afirma que, por volta dos três anos de idade, a questão dos gêneros já começa a ser rotulada, mas com uma compreensão limitada. Depois, por volta dos 5 a 6 anos os pequenos estão convictos de que, independentemente de aparências, vestimentas ou atividades, os sexos estão definidos. À medida que tomam conhecimento sobre a existência de homossexuais, muitas vezes por denominações pejorativas, ficam curiosas e se interessam em saber mais. O psicólogo responde questões sobre como tratar o assunto de forma segura e saudável com os filhos:
DM- Como os pais devem conversar com as crianças sobre o homossexualismo?
Cesar Oliveira – 
Parto da premissa básica de que ninguém é capaz de dar aquilo que não tem. Como abordar sobre homossexualidade se falar sobre sexo é ainda um tabu, uma dificuldade muito grande para a maioria dos pais? E ainda: em alguns momentos homossexualidade é confundida com pré-conceitos religiosos e adquire o significado de pecado, em outros recebe uma forte carga de moralismo e então é “sem vergonhice”. Tudo isto complica ainda mais para os pais que pensam em abordar o assunto, pois seus valores terão influência direta sobre como tratar o tema. O ideal é que os pais não fujam da obrigação de educar seus filhos, pois as dúvidas sobre sexualidade fazem parte do processo de desenvolvimento infantil. Caso sintam-se constrangidos, envergonhados ou simplesmente se não souberem como fazer, sugiro que busquem a orientação de um profissional da área, o qual poderá auxiliá-los em suas tarefas de educação dos filhos.
DM- É melhor que esta discussão seja feita primeiro dentro de casa?
Cesar Oliveira – 
A distinção entre o espaço da casa e o da escola ficou reduzida na atualidade uma vez que as crianças têm ido mais cedo para os berçários, creches e escolinhas. Então, estão a todo o momento expostas ao espaço público e ao conteúdo que circular por ali, sendo importante que os pais mantenham-se atentos em casa brincando e conversando com seus filhos. Sempre que a criança trouxer distinções de gêneros, por exemplo, ao dizer que “isto é coisa de menino – ou de menina-, de que menino não brinca de bonecas” e isto não partiu de dentro de casa, é sinal de que ela ouviu de alguém e está procurando firmar seu lugar, sua identificação de gênero. Desde que as relações intrafamiliares sejam saudáveis e confiáveis, tudo o que for aprendido em casa terá maior importância para as crianças.
DM- Como evitar o desenvolvimento de preconceitos?
Cesar Oliveira – 
Não há a menor dúvida de que qualquer tipo de preconceito ganha reforço ou rechaço dentro da própria família, mesmo que por omissão. Então, ainda que manifestações de preconceito venham da escola ou do círculo social ao qual a criança esteja exposta, cabe à família – considerando uma família com pai e mãe interessados e preocupados com a educação dos filhos- uma intervenção no sentido de esclarecer seus filhos. É de se considerar como muito importante a fase de desenvolvimento infantil pela qual passa a criança, sua idade e sua maturidade, pois qualquer tentativa de orientação deve respeitar a capacidade de compreensão da criança. Todavia, é muito importante que os pais avaliem-se sobre quais são suas opiniões para com a homossexualidade, pois podem estar indiretamente reforçando os preconceitos em seus filhos. Sempre que uma criança tiver uma educação adequada em sua formação junto à sua família, esta servirá de parâmetro para o que vier depois, o convívio social, e somente terá preponderância à medida que estiver internalizada a sua opinião. Ao desenvolver um senso crítico os filhos poderão fazer valer seus conceitos, não se permitindo influenciarem-se por terceiros.
DM- Algumas pessoas acreditam que cenas homossexuais podem influenciar as crianças em sua opção sexual. Isso realmente pode ocorrer?
Cesar Oliveira – 
Há muita discussão e incertezas sobre comportamento sexual humano. Algumas teorias apontam para questões genéticas como causadoras de comportamento homossexual, outras, para implicações psicológicas e algumas para aspectos de influência do meio em que vive, alimentando o mito de que menino que é criado junto com meninas pode vir a ser homossexual, por exemplo. Todavia, estas suposições biopsicossociais ganham amplitude para alguns quando se insere a possibilidade de ser um “encosto”, uma influência do demônio e que deva ser tratado na Igreja. Então a exposição a cenas de homossexualidade através da televisão ou de qualquer outro meio somente será reforçadora da realidade de alguma crença familiar. É muito simplório acreditar que homossexualidade seja uma opção, uma escolha ou o resultado de alguma influência exterior, ela é um somatório muito complexo de acontecimentos na vida do sujeito. Há sempre a preocupação de que a mídia pode ser danosa às crianças, quer seja em exposição a cenas de violência, de estímulo ao consumo ou então, sobre cenas de sexo, explícito ou não. Entendo que, se cada vez mais o homossexualismo tem aumentado seu espaço nos meios de comunicação, é, naturalmente, por consequência de sua amplidão e pela tentativa de aceitação na sociedade. O que causa prejuízo às crianças é uma família que não esteja voltada à sua educação, são pais omissos ou ausentes, que tenham comportamentos inadequados e sem ética, ou de valores e concepções errôneas. Não é a homossexualidade que vai trazer algum prejuízo ao desenvolvimento infantil, é a forma como ela é vista pela família e repassada aos filhos que terá influência.

DM- Meninos têm mais tendência a ter preconceito ou atitudes violentas contra homossexuais do que as meninas?
Cesar Oliveira – 
A violência pode partir de qualquer um, homem ou mulher, na medida em que o preconceito seja alimentado. Todavia, em uma distinção de gêneros, os homens sempre têm um comportamento mais agressivo do que as mulheres, basta ver que são os homens os que mais morrem de forma violenta, seja no trânsito de veículos, em assassinatos ou até mesmo em suicídios. Então uma atitude violenta contra homossexuais pode ser definida como o preconceito em si: o simples fato de não convidar um amigo (a) para uma festa por questões sexuais veladas, não explícitas, é uma atitude de violência contra a liberdade individual. É claro que em se tratando de agressão física, este é um comportamento predominantemente masculino e suas causas devem ser investigadas em cada caso, pois, com certeza, o que representa aquela pessoa homossexual para o agressor tem muito a ver com a sua própria subjetividade. Em muitos casos, a agressão pode ser uma tentativa de autoafirmação de sua masculinidade, pois entende que agredindo a um homossexual estará afastando de si mesmo a possibilidade de vi-lo a ser, o que não serve de garantia alguma, evidentemente.
DM-O que a psicanálise fala sobre a homossexualidade de um modo geral?
Cesar Oliveira – 
Freud dedicou seus estudos a questões da sexualidade humana, e causou muito furor e surpresas ao dizer que a sexualidade infantil tem influência direta no desenvolvimento psicológico do ser humano. Até então, sexualidade restringia-se (e confundia-se) ao ato sexual entre adultos e não a questões que interessassem às crianças. De forma muito genérica, há muitas diferenças entre homossexualidades masculina e feminina, mas a essência é que não se trata de uma doença e nem de uma perversão, há psicanalistas de expressão que a definem como uma modalidade própria de amor, uma maneira particular de amar e sentir-se amado. O importante é que as pessoas percebam que a significado da homossexualidade mudou muito nos últimos anos e cada vez mais novas representações surgirão, ensejando também com que a sociedade mude.

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