segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Heterossexual é normal?

Muita gente diz que o “homossexualismo” é condenado pela bíblia. Se, entretando, fizermos uma leitura minuciosa e completíssima dos textos sagrados para religiões judaico-cristãs, não encontraremos a palavra homossexualismo, nem homossexualidade ou homossexual, em nenhuma passagem. Para quem imagina que a condenação ao amor homossexual vem de tempos imemoriais, uma surpresa: o termo homossexual foi criado apenas em 1868.
E, claro, imaginamos que o termo “heterossexual”, assim como o significado que a ele se atribui correntemente, o de amor normal entre pessoas de sexo diferentes, seja tão antigo quanto fazer sexo. Pois saiba: o termo heterossexual foi criado depois do termo homossexual,  por volta de 1892, e significava, em sua origem, o amor patológico e doentio por pessoa de sexo oposto. Ou seja, até o início do século XX , o termo heterossexual designava um ser “depravado”! Foi apenas muito lentamente que a palavra heterossexual passou a ter a conotação do ideal erótico que conhecemos hoje.
Como acostumamos com os conceitos e significados vigentes em nossa época e em nossa cultura, esquecemo-nos, muitas vezes, de que eles são contruções históricas, dependem da cultura e da forma de pensar dominante em determinada época e que sofrem variações de sentido no decorrer do tempo.
O amor entre pessoas do mesmo sexo, na época do Brasil colônia, era tido como pecado ou sem-vergonhice, sendo tratado com punição, o que podia até mesmo significar morte na fogueira da Inquisição. Com o avanço das ciências, a partir do final do século XIX, a medicina assumiu o “saber” sobre a sexualidade e, portanto, sobre a homossexualidade, que passou a ser entendida como doença, necessitando, assim, de cura e compaixão. Desde o final do século XX a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela medicina, pela psiquiatria e pela psicologia, sendo entendida a partir de então apenas como uma outra forma de se estabelecer relacionamento afetivo e sexual. E a lógica é simples: se não há doença, não há o que curar!
Esses exemplos nos mostram que o controle da sexualidade e a forma de se entender a homossexualidade servem à ideologia dominante de uma determinada época. E, por isso, são mutáveis e moldáveis aos interesses de cada sociedade e cultura. Se, por um lado, isso evidencia a injustiça que se cometeu contra os homossexuais por séculos, por outro lado nos dá a perspectiva de, como agentes da história, podermos promover a transformação de mentalidade e não sucumbir a ela. A homossexualidade e a heterossexualidade são apenas formas diferentes de relacionamento afetivo e sexual e não se pode fazer juízo de valor que prestigie uma em detrimento de outra.
O poder de construir uma sociedade mais justa está em nossas mãos. O primeiro passo é ter consciência disso. Depois cabe mostrar ao mundo que ele pertence a todxs, sem exceção.
do Jornal de Teresina
por Valéria Melki Busin
http://agencialgbt.com.br/heterossexual-e-normal.html

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