Os 150 motéis da região empregam 7 mil profissionais / Foto: Marciel Peres
quinta-feira, 3 de novembro de
2011 21:52
O
setor de motéis na região não tem crescido na velocidade esperada pelos
empresários do ramo, apesar do aquecimento da economia e da maior liberdade
sexual nos últimos anos. O argumento é o maior leque de alternativas que hoje
concorrem com os motéis, um deles a rede hoteleira. “Alguns clientes optam por
utilizar hotéis no final de semana, porque acabam saindo mais barato”, explica
o presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), Wilson Bianchi.
O
empresário aponta, ainda, outras questões, como mudanças de hábito dos jovens.
“Ficou comum, hoje em dia, eles alugarem uma casa na praia no final de semana.
Além disso, diminuiu a frequência daqueles clientes que saiam da balada e iam
para o motel”, explica.
O
acesso à Internet também é apontado com um dos fatores que impactaram no
desempenho dos motéis do ABC nos últimos anos, pois o consumidor consegue
pesquisar grande número de opções de motéis com maior facilidade.
Pesquisa
da Fundação Getúlio Vargas dá razão para quem tem a sensação de que o preço
cobrado por alguns motéis está salgado. O levantamento da FGV, feito às
vésperas do Dia dos Namorados, revelou que o reajuste dos preços cobrados por
hotéis e motéis chegou a 12,68%, em média, num período de 12 meses - mais que o
dobro da inflação oficial registrada no mesmo período, medida pelo IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo).
Defasagem
No
entanto, na avaliação dos empresários do ABC estes números não refletem a
realidade local. Em média, os motéis da região cobram R$ 80 pela permanência de
3 horas. Em São Paulo, o serviço custa R$ 120. Em
alguns casos, os preços no ABC são 50% menores em comparação com
estabelecimentos semelhantes da Capital.
Na
opinião do presidente do Sehal, os valores estão muito defasados. “Os motéis da
região precisam aumentar os preços para pelo menos repor a inflação, o que não
tem acontecido. Os empresários precisam acabar com o medo de perder cliente,
opina.
Para
Bianchi, a principal consequência da defasagem é a queda da rentabilidade. Os
motéis passam a ter mais dificuldade para realizar a manutenção do
estabelecimento.
Os
150 motéis da região empregam média de 7 mil profissionais diretos, segundo o
Sehal, entre gerentes, camareiros, cozinheiros, seguranças e faxineiros.
Os
motéis não revelam o faturamento dos últimos anos. Estima-se, no entanto, que
cada estabelecimento de pequeno porte lucre, em média, R$ 50 mil por mês. Os de
médio porte faturem aproximadamente R$ 100 mil e os de grande porte acima de R$
150 mil mensalmente.
De
acordo com os empresários, não houve expansão significativa do serviço no ABC.
“Na verdade, o tipo de empreendimento nunca teve oscilação muito grande”,
explica o presidente da Associação Paulista de Motéis, Rafael Vasquez.
Alguns
locais se destacam na região como pontos de maior concentração de motéis. É o
caso da avenida dos Estados, em Santo André e Mauá, e também da avenida Maria
Servidei Demarchi e Estrada Martim Afonso de Souza, em São Bernardo.
Suítes unem luxo e prazer
Entre
os 150 motéis do ABC, há espaços para todos os gostos e bolsos. Até ambientes
para deixar o casal nas nuvens. O Vyss, localizado no km 17,5 da via Anchieta,
em São ernardo, ostenta uma suíte com 400 m², com 11 ambientes, com destaque
para a cama de 6 m² e o telão de 100 polegadas. A suíte Vyss tem, ainda, uma
piscina com 50 mil litros, além de sauna, hidro e colchão d’água. O requinte
custa R$ 529 (período de 12 horas de segunda a quinta e oito horas de sexta a
domingo).
“Não
temos suítes temáticas, pois optamos por motel com conceito mais limpo em
decoração e conforto”, diz Maria Pinho, gerente-geral do Vyss. Para fidelizar
clientes, o motel mantém cartão de fidelidade que dá desconto a partir de 15%
para as suítes maiores, exceto feriados e Dia dos Namorados, data de maior
procura.
O Le
Moulin não fica atrás em luxo. A suíte Le Moulin faz jus ao nome. Tem 360 m²,
duas lareiras, piscina de 50 mil litros e um bar com pista de dança. O cliente
paga R$ 520 pelo requinte (por 12 horas de segunda a quinta e seis horas de
sexta a domingo). “Somos o motel com o maior número de suítes do ABC”, destaca
Maurício Singer, um dos proprietários do LeMoulin, que conta com 77 suítes e
fica no km 23 da Anchieta, também em São Bernardo.
Em
Santo André, o Confidence, situado na avenida Giovanni Batista Pirelli, traz
suítes ‘quentes’ até no nome. A Hawai tem piscina com frente transparente,
cachoeira, teto solar, iluminação cenográfica, hidro dupla e outros confortos a
serviço do prazer. A estadia sai por 199 (todos os dias, no período de quatro
horas) ou R$ 299 (segunda a quinta no período de 12 horas).
“Nosso
cliente está cada vez mais exigente. Por isso, estamos sempre atentos às
inovações, como piscina com fundo transparente”, diz uma Olga Silva, uma das
sócias. “Aqui o cliente come, dorme e brinca”, completa.
Mas
para quem quer economizar e não dispensa requintes, os motéis do ABC oferecem
suítes que custam, em média, R$ 50.
Cozinha internacional
A
gastronomia é outro ponto forte nos motéis. Alguns oferecem até culinária
internacional, como Le Moulin, que tem no cardápio lagosta para ser degustada.
O prato para o casal sai por R$ 170 e vem com molho bechamel (sal, pimenta e
noz-moscada), acompanhado de arroz, purê e champignon. No Confidence, um dos
pratos mais requisitados é à base de picanha. A carne, da Argentina,
acompanhada de batatas e custa R$ 34,90.
Repressão social marca segmento
Criado
no início da década de 1920, nos Estados Unidos, com o objetivo de proporcionar
estadia rápida a motoristas e viajantes rodoviários, no Brasil o motel deixou
de ser hotel de beira de estrada e se transformou em local apenas para
encontros reservados. Por este motivo, ainda é considerado por muitos como
espaço proibido, ligado à traição e à promiscuidade. Com isso, o motel hoje é
alvo de curiosidade e fantasias.
Para
o psicoterapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Junior, diretor do Instituto
Paulista de Sexualidade, a modalidade moteleira gera conflitos sociais no País
porque o sexo ainda é uma atividade difícil de ser tratada de forma aberta pela
sociedade. “Ir ao motel significa que a pessoa irá praticar atividade sexual e
dar indícios públicos de sua vida privada é algo muito complicado, difícil de
vivenciar, produzindo comportamentos de esquiva. Assim, o motel, para estas pessoas,
é sinal de perigo e que deve ser evitado”, diz.
Ainda
segundo o especialista, as regras sociais imperam quando o assunto é frequentar
motel. “Usar um motel para fazer sexo também significa, em nossa cultura, que
as pessoas envolvidas não têm legitimidade para a prática a qual se propõem. E
não ter legitimidade implica não serem casadas, não terem reconhecimento social
ideal para a prática do sexo”, completa.
Para
Carla Baylão de Carvalho, autora do trabalho Representação Social dos Motéis
para os Brasileiros, realizado na Universidade de Brasília, com o passar do
tempo e com a ideia de que a família e o lar são espaços onde a moral e os bons
costumes devem imperar, o motel assumiu o papel do lugar adequado para
encontros extraconjugais. “Ou como o local para a prática do sexo entre os
jovens, uma vez que a casa continua sendo espaço de respeito”, diz Carla.
Drive-in perde espaço, mas
ganha no bolso
Alternativa econômica de namorar sem ser
incomodado e quase e extinto no ABC por conta do alto número de motéis – 150 no
total –, o drive-in é registrado, na maior parte das vezes, como casa de
lanches, quando, na verdade, são estacionamentos privativos.
Alguns enxergam a modalidade como
alternativa para sair da rotina. Um fotógrafo de Santo André que preferiu não
se identificar afirma que frequentava drive-in por acreditar que se tratava de
um lugar diferente e com bom preço. Os pontos negativos, segundo ele, ficam por
conta do conforto e da higiene. “Pagava, em média, de R$ 15 a R$ 20, sendo que
em um deles tinha até banheiro com chuveiro”, conta. “Acredito que o drive-in
acaba saindo mais em conta que um motel bacana”, defende.
Instalado no polo de motéis, na avenida
dos Estados, em Santo André, o Auto Lanches Draivão está há mais de 30 anos no
local e oferece aos clientes box (garagens) com TV e canal erótico, além do
cardápio que inclui lanches, pizzas, sorvetes, porções e bebidas. “A clientela
caiu muito nesses anos, mas buscamos atrair o público com novas ações, como
entregar folders com camisinha em bares e baladas”, explica o gerente Nelson
Antônio Aparecido. Quem utiliza o local paga, no máximo, R$ 19 e fica o tempo
que quiser.
Com a mesma média de preço, o Corujão,
também em Santo André, tenta sobreviver com inovações, como ducha na vaga.
Denis Silva, proprietário da casa, diz que o negócio não é mais tão viável como
antigamente devido aos baixos preços dos motéis. Só mantém o negócio porque o
terreno é próprio. Silva acredita que o drive continua sendo boa opção para
universitários, que saem das aulas e vão até o local em busca de diversão
rápida. “Muitos clientes também são aqueles homens que estão acompanhados por
garotas de programa e querem gastar pouco”, completa.
Popularizados no Brasil na década de
1970, os drive-ins eram um tipo de cinema ao ar livre frequentado por casais de
namorados. Porém, o aumento da violência obrigou o consumidor a buscar
ambientes mais privativos e seguros e, assim, dar preferência ao motel. Em
setembro de 2006 um arrastão num drive-in do bairro Sacomã, em São Paulo, causou a morte de uma pessoa.
Direitos
De acordo com a diretora do Procon de
Santo André, Ana Paula Satcheki, como qualquer outra forma de prestação de
serviço, os drive-ins devem responder por problemas como falta de segurança ou
de higiene. Entretanto, os consumidores não costumam registrar reclamações.
“Não é comum o tipo de reclamação, porque é preciso se expor”, afirma a
diretora.
(Esta matéria especial teve a
participação de Aline Bosio, Carolina Neves, Larissa Marçal, Leandro Amaral e
Tiago Oliveira)
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