No seguimento da reportagem “Masturbação ainda é tabu?”, segue uma entrevista com Patrícia Pascoal, psicóloga clínica, e responsável da consulta de Sexologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, que está a realizar um estudo na área. Participe (é só para casais) no link: https://researchsurveys.psyc.unb.ca/p21.aspx
Do ponto de vista clínico, a masturbação apresenta vantagens ou desvantagens?
De que falamos quando falamos de masturbação? Essa devia ser a questão de partida, pois nem sempre estamos a falar do mesmo. Habitualmente referimo-nos à masturbação, também denominada de autoerotismo, para designar a estimulação direta dos genitais com o objetivo de obter prazer.A masturbação é encarada entre muitos profissionais na área da saúde sexual como uma prática salutar e promotora da saúde sexual. Isto não significa que as pessoas que não se masturbam ou nunca se masturbaram tenham um problema e não significa também que quem se masturba ou masturbou tem uma vida sexual de grande qualidade. Este tipo de generalizações são muito abusivas. A prática da masturbação está associada a um maior conhecimento corporal e do prazer, mas prescrever isto e dizer que as pessoas se devem masturbar pode ser completamente desajustado e até promover o mal-estar sexual e aumentar a sensação de desconforto em pessoas que não se masturbam ou não se sentem bem em fazê-lo de certa forma ou em certos contextos, ou mesmo em pessoas que sentem que o fazem demasiadas vezes. Uma atitude negativa perante a masturbação não se associa à vivência da masturbação de uma forma agradável ou positiva. Mas não se mudam atitudes por decreto. Por isso de que falamos quando falamos do ponto de vista clínico: da importância de desenvolver o autoerotismo para aumentar o vocabulário erótico e diminuir a inibição? De limitar a compulsão para a masturbação quando a pessoa sente que a tem? É importante perceber as mensagens recebidas, a história sexual e enquadrar a questão na história única daquela pessoa.
Como é que as pessoas devem encarar a masturbação, isto é, parece haver uma grande timidez na hora de falar sobre o assunto…
Porquê dizer às pessoas para encararem a masturbação desta ou daquela maneira? Foi exatamente isso que aconteceu historicamente. A masturbação foi encarada negativamente e esperava-se que fosse punida, havia diretrizes concretas e específicas acerca do que era considerado inadequado. Há uma cena de um filme do Truffaut (As duas raparigas inglesas e o Continente, 1971) que é genial: Muriel, escreve ao seu apaixonado descrevendo-lhe que é impura, pois tem um vício privado desde pequena, que não consegue controlar, tão arrebatador que a faz desmaiar e para o qual recebeu conselhos diretos de um representante religioso… Até o pensamento acerca da masturbação era sentido como demolidor.
Porquê dizer às pessoas para encararem a masturbação desta ou daquela maneira? Foi exatamente isso que aconteceu historicamente. A masturbação foi encarada negativamente e esperava-se que fosse punida, havia diretrizes concretas e específicas acerca do que era considerado inadequado. Há uma cena de um filme do Truffaut (As duas raparigas inglesas e o Continente, 1971) que é genial: Muriel, escreve ao seu apaixonado descrevendo-lhe que é impura, pois tem um vício privado desde pequena, que não consegue controlar, tão arrebatador que a faz desmaiar e para o qual recebeu conselhos diretos de um representante religioso… Até o pensamento acerca da masturbação era sentido como demolidor.
Um estudo de uma antropóloga de Coimbra defende que as representações da masturbação na culturamainstream ainda são reflexo da influência da herança judaico-cristã. Quando conseguirá a ciência ultrapassar esta ideia fixada pelo “senso comum”?
Não sei porque diz que a ciência não ultrapassou essa ideia. A ciência tem produzido trabalhos em que se salienta o papel que a masturbação pode ter na saúde sexual, a forma como raparigas e rapazes vivem a culpabilidade associada à masturbação (fora e dentro de uma relação amorosa) e o papel extremamente versátil que a masturbação tem nas relações. O problema com as representações mainstream é que além de limitativas, são muitas vezes as únicas, pois não existem fontes de informação acerca do tema o que leva a que se continue a passar uma imagem da masturbação como uma forma doentia de obter prazer ou como um substituto do sexo conjugal que deve desaparecer quando se está numa relação.
Está a desenvolver um estudo sobre o tema…
Neste momento há um estudo internacional a decorrer pelo qual sou responsável em que se coloca a hipótese da masturbação (atual e passada) se associar à satisfação e ao funcionamento sexual. Este estudo é só para quem tem uma relação a dois… https://researchsurveys.psyc.unb.ca/p21.aspx
Esperemos que este estudo, a decorrer em simultâneo em diferentes países, nos permita compreender um pouco melhor o funcionamento sexual de homens e mulheres.
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