sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pressão e exigência são palavras-chave nos atuais comportamentos sexuais


11.02.2012 10:40

A sexualidade tem vindo a modificar-se com os anos, devido à Internet, mas também pela diluição dos papéis de género, aumentando a pressão sobre ambos os sexos e desinibindo a mulher, disseram sexólogos à Lusa. 



Apesar de não existirem dados concretos que possam mostrar como os comportamentos sexuais se alteraram ao longo dos anos em Portugal, para a presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC), Ana Carvalheira, não há dúvidas de que as últimas três décadas acarretaram "mudanças enormes" em termos de comportamentos sexuais em Portugal, que andaram - e continuam  a andar - de mão dada com as profundas alterações sociais e económicas do  país. 
"Penso que a socialização sexual, atualmente, de homens e mulheres é  mais uniforme, menos desigual, quando há 30 anos a socialização das mulheres  era altamente repressiva", sendo "permissiva e exigente" para os homens,  explicou à Lusa a presidente da SPSC, que lembrou que a transformação continua  em pleno neste preciso momento. 
De acordo com o investigador responsável pelo SexLab da Universidade  de Aveiro, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,  Pedro Nobre, hoje "as mulheres mais jovens são obviamente mais liberais,  em termos de ideias sobre a sexualidade e também começam a partilhar da  ideia da exigência do desempenho", algo que até aqui era específico dos  homens.  
"Há uma pressão grande nos homens do ponto de vista da sua performance  e pode, esta maior exigência das mulheres, semear insegurança nos homens,  que poderão ficar confusos quanto ao que é esperado deles", declarou Ana  Carvalheira, referindo que os papéis de género já não estão definidos como  estariam há algumas décadas. 
No entanto, a questão da desinibição não é necessariamente acompanhada  apenas por fatores positivos, uma vez que gera um fenómeno de exigência  irrealista que pode causar insatisfação e angústia. 
"Um dos exemplos mais clássicos é a ideia do orgasmo múltiplo. Quando  se normaliza algo que é excecional, a mensagem que passa é que quem não  é capaz de ter orgasmos múltiplos ou simultâneos não é normal", referiu  Pedro Nobre.  Para ambos os especialistas, a Internet é apontada como um elemento  fundamental dos últimos anos, que veio potenciar a possibilidade de "encontros  sexuais mais esporádicos e mais diversificados", mas também conhecimentos  mais duradouros que levaram a relações longas. 
Por outro lado, a Internet também veio facilitar a forma de duas pessoas  se desligarem, com um casal a poder separar-se quase por SMS ou e-mail,  lembrou a presidente da SPSC, que já trabalhou o tema. 
Ana Carvalheira destacou como uma das preocupações centrais da atualidade  a banalização do tema da sexualidade, o que pura e simplesmente "dá cabo  do erotismo" e, por sua vez, "mata o desejo". 
"Não quero dizer mal da pornografia, só quero dizer que a fronteira  entre pornografia e erotismo é exatamente a banalização. A imagem pornográfica  está banalizada. Está excessivamente visível. A imagem erótica não está",  disse a presidente da SPSC, sublinhando que, sendo a sexualidade algo que  pertence à esfera privada da pessoa, "não joga bem com banalização". 
Pedro Nobre explicou, por sua vez, que as mensagens patentes na maioria  das capas de revistas destinadas a um público feminino, já sofisticadas  e distantes da tradicional publicação dirigida às mulheres, que têm "mensagens  são muito claras de exigência de desempenho". 

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