Apesar de avanços, homossexualidade ainda é tabu em escolas
10/7/2011 7:16, Por Rede Brasil Atual
Por: Luiz Braz, da Rede Brasil Atual
São Paulo -Mesmo com avanços em relação ao respeito à orientação sexual, a homossexualidade continua sendo tabu ou uma questão difícil para ser tocada em espaços como a escola. De acordo com professores ouvidos pela Rede Brasil Atual, a forma como os educadores lidam com os comportamentos homofóbicos dos alunos é determinante para evitar episódios de preconceito e violência.
Manifestações preconceituosas e de intolerância continuam a ocorrer com frequência, especialmente entre adolescentes. A dificuldade em debater o assunto em sala de aula levou o Ministério daEducação (MEC) e a Organização das Nações Unidas para a Educação,Ciência e Cultura (Unesco) a formularem um kitpara instruir professores e alunos sobre sexualidade. Mas a iniciativa enfrenta sérias resistências para seguir adiante.
Apesar de atiragem prevista inicialmente ser de apenas 6 mil exemplares – opaís tem 51,5 milhões de estudantes em escolas públicas – areação foi grande. A contracampanha incluiu parlamentares dabancada evangélica do Congresso Nacional e alcançou tal dimensãoque a presidenta Dilma Rousseff decidiu intervir e deixar o materialde lado.
Para a professora de escolapública de Suzano, município da região metropolitana de São Paulo, Andréia Calçada, a postura doprofessor e a forma de abordagem são as melhores ferramentas para adiscussão do assunto em sala de aula. “A escola é um lugar onde acriança forma seu caráter, tem um papel decisivo na formação doaluno”, destaca. Ela acredita que tratar em sala de aula que homossexualidade não é doença nem algo anormal favorece que a criança assimile a importância da tolerância com naturalidade.”A escola tem o dever de promover a diversidade no dia a dia, e nãosó quando alguma coisa acontece.”
A mestre em educação Elisabete Oliveira lembra que não é difícil encontrar professores que, por despreparo, protagonizam atitudes homofóbicas. Em outros casos, pode-se exagerar na dose na hora de tentar conter o preconceito. “Existem professores que lavam aboca do aluno com sabão como forma de punição, por algumabrincadeira ingênua. Mas como você vai saber se, com quatro ou cinco anos, acriança tem a orientação sexual definida?”
Em maio deste ano, a reação de uma professora na Bahia ganhou projeção nacional. A vice-diretora de uma unidade estadual suspendeu um aluno por dois dias por tê-lo visto mexendo no cabelo de outro menino. O gesto da criança foi entendido por ela como “indecência” e “ousadia”. A vice-diretora recomendou ainda “atenção” à mãe do menino, que decidiu prestar queixa à Secretaria Estadual de Educação. O órgão decidiu exonerar a vice-diretora por considerar que a conduta foi inadequada.
Novo momento
A decisãodo Supremo Tribunal Federal de validar os direitos de casaishomossexuais à união civil estável, em junho deste ano, e aretomada, no Congresso Nacional, da discussão do projeto de lei122/2006, que prevê a criminalização de atos homofóbicos, acentuam a necessidade de levar o tema aos bancos escolares.
Na análise da professora Cecília Rolim, coordenadora de escola, o debate sobre a homossexualidade deveria ocorrer no início da adolescência. “Tudo tem a sua hora, onde uma criança de quatro, cinco anos vaientender isso? Existem assuntos que você pode falar a partir damaturidade do aluno. Com oito, nove anos ela pode já começar acompreender o assunto.”
Longe derepresentar “risco” de crianças se “transformarem” em homossexuais, como alega a bancada religiosa no Congresso, a discussão do tema nas escolas ajuda a refletir sobre tolerância. Para Elisabete Oliveira, a sociedade ainda é bastante preconceituosa comos homossexuais. Brincadeiras de mau gosto são frequentes, sejano cotidiano escolar da criança, seja em casa. “A nossa sociedadesempre foi diversa e plural, mas a maneira que você lida comessa diversidade vem mudando ao longo da história, iniciativas como adecisão do STF e a cartilha anti-homofobia, oriundas demovimentos sociais e do poder público devem perpetuar movimentos afavor da diversidade”.
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