segunda-feira, 18 de julho de 2011

Jornalista, vítima de pedófilos, narra drama em livro e faz alerta

Jornalista, vítima de pedófilos, narra drama em livro e faz alerta
FAUSTO BRITES 17/07/2011 14h30

Jornalista Mara Prieto lançou obra Proteja seu filho de um pedófilo
A jornalista e acadêmica de psicologia Mara Prieto foi vítima de pedófilos, na infância e adolescência, conforme sua própria narrativa. Seu drama está exposto no livro "Proteja seu filho de pedófilo" que escreveu abordando temas como pais presentes e pais ausentes, o significado do sim e do não para os filhos e a “Criança Invisível”, além de apontar os métodos que usou para proteger seus filhos da pedofilia.

Um dos objetivos da obra, é fazer também "com que esse tema chegue às áreas rurais, onde o número de vítimas é assustador e nem sequer entram nessas estatísticas".

Ela esteve em Campo Grande em maio deste ano para lançar o seu livro e fazer palestras em evento ma Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Residindo atualmente em Brasília, Mara Prieto trabalhou em órgãos de imprensa de Campo Grande.

Nascida em Presidente Venceslau (SP) veio para o então Mato Grosso uno ainda pequena quando seu pai comprou uma fazenda. "Nessa fazenda que eu encontraria posteriormehnte parte dos meus algozes", conta.

Aos 51 anos, divorciada, mãe de quatro filhos, Maria diz dedicou toda sua energia visando protegê-los "para que a minha história de abusos sexuais não se repetisse".

Segundo ela, "para entrar no mundo deles, e poder observá-los mais de perto, descobri que o caminho seria um forte vínculo de amizade usando a ferramenta que considero fundamental para fazer nascer e fortalecer esse vínculo a cada dia: o diálogo".

Mara salienta que nesse aspecto, não deixou de considerar "a fase cognitiva da pré-adolescência. Esse é o momento em que descobri ser o mais importante para ser mãe e amiga. Meu lado mãe foi um tanto severo demais, eu reconheço. Com certeza, os traumas pelos abusos que vivenciei entre os dois e dezesseis anos influenciaram meu comportamento, mas tenho consciência que o lado amiga equilibrou a nossa relação". Hoje, todos seus filhos estão casados e "tocando suas vidas", como explica.

Veja a entrevista concedida ao Portal Correio do Estado::

Por que a decisão de lançar o livro abordando um assunto chocante e, principalmente, tendo você como vítima?

Chocante. Essa palavra traduz toda a essência dos sentimentos que me moveram a tomar coragem para colocar no papel a minha história. Fui ficando chocada em assistir nos telejornais o número crescente de vítimas aqui em Brasília, e em todo o país. Aquilo começou a me incomodar, e após o incômodo surgia à revolta e a indignação em perceber que ninguém fazia nada!

Daí a decisão em publicar minha história de abusos sexuais na infância e adolescência com o título Proteja seu Filho de um Pedófilo.

Em 20 de maio deste ano foi exibida matéria na TV em Rede Nacional com os seguintes dados: De janeiro a março foram registrados 3.800 casos de abuso sexual a crianças e adolescentes. O que dá uma média de 42 crianças vitimadas por dia.

Vou repetir: são 42 crianças e adolescentes abusadas sexualmente por dia!

A pedofilia surge como mais uma patologia psicológica grave e merecia ser enfrentada com muita seriedade. E patologia psíquica carece de tratamento com terapia e medicação apropriada. Porém, nada foi feito pelos responsáveis pela área de saúde no Brasil e deixaram que ela adentrasse os lares de milhões de pessoas, que passaram a agir movidas pelo que denomino em meu livro de Modismo Comportamental.

O modismo comportamental é alimentado pela alta exposição da mídia sobre determinado tema, e se apropria da psique do indivíduo, que passa a criar interesse pela prática da pedofilia movido não mais pela patologia em si, e sim pela curiosidade.

Minhas palavras chegam a ser óbvias, pois qualquer tema que receba alta exposição na mídia passa a influenciar o comportamento humano.

Isso tudo é mórbido, eu sei, mas lamentavelmente é real.

Embora vítima da pedofilia, eu defendo o tratamento terapêutico psiquiátrico aos pedófilos. Não acho que apenas cadeia seja a solução. Pode ser a mais conveniente, mas não resolve o problema de forma concreta. Defendo a tese de que os pedófilos sejam presos, mas que passem imediatamente a receber o tratamento médico psiquiátrico e medicamentoso.

Dessa forma, quando soltos, teremos chances reais de que não farão novas vítimas. Do contrário, estaremos rodando em círculos.

Você, como jornalista, chegou a fazer coberturas sobre pedofilia?

Sabemos que a pedofilia sempre existiu, mas eram casos raros e abafados pelo horror que causava dentro da própria família da vítima. E nós, as vítimas, fazemos parte do lado que nunca reage. Somos paralisadas pelas ameaças, e uma mordaça invisível nos é colocada à boca. Portanto, eu não me recordo de ter me deparado com nenhum caso de Pedofilia no período que trabalhei em Jornais Impressos em Campo Grande.

Acho que o fato de ter dedicado quase 15 anos na produção e direção de documentários de turismo me afastou em definitivo dessa possibilidade. Honestamente, eu não sei como reagiria se tivesse que cobrir uma matéria onde me deparasse com uma criança vitimada.

Hoje, agradeço por não ter tido essa experiência porque não consigo imaginar qual seria minha reação emocional.

Você esteve em Campo Grande para lançamento de sua obra e palestra. Como foi a reação das pessoas diante de seu relato?

A reação das pessoas é sempre meio parecida. Vejo no olhar do público a quem me dirijo uma mistura de choque, emoção, comoção e muito carinho.

Mas o choque é o que me chamou mais a atenção. Precisam de alguns minutos para acreditar no que estão ouvindo da minha boca.

Não é nada fácil para quem foi vítima da Pedofilia subir num palco e encarar uma multidão, pois uma das conseqüências das ameaças sofridas para não denunciar meus abusadores uma timidez intensa. Ainda mais quando se vai relatar a essa multidão segredos que carregamos por uma vida inteira.

Antes de lançar meu livro em Campo Grande, fui convidada a palestrar em Congressos aqui em Brasília, pois meu livro foi publicado na Bienal do Livro de São Paulo em agosto de 2010.

Surgiu alguma iniciativa das pessoas em Campo Grande para, com base em seu relato e alerta, lutar contra essa ação criminosa?

Eu palestrei para vários órgãos ligados à Proteção dos Direitos da Criança em Campo Grande. A maioria dos participantes desses encontros buscou adquirir meu livro com uma ansiedade explícita, porque diziam ter agora um referencial concreto da narrativa de uma vítima da Pedofilia, para se embasarem no dia a dia.

Você tem recebido convites para palestras em outras Capitais?

Desde que lancei o livro na Bienal fui solicitada pela mídia de vários Estados. As palestras se concentraram aqui em Brasília, e posteriormente em Campo Grande. Tenho convites pré-agendados para o próximo semestre.

Pretende lançar a obra em outros países?

Sim. Essa proposta foi apresentada pela minha Editora que tem sua sede em Madri, Espanha.

Você pretende lançar outros livros? Qual temática?

Esse projeto já está na agenda para 2012. Mas essa possibilidade ainda é embrionária, e a temática seria a mesma. Porém, com uma linguagem bem distante da autobiografia.

Instituições de defesa da criança e adolescente têm mantido contato com você, motivadas pela sua obra?

Recebo muitos emails e pedidos para palestrar para Cuidadores em Abrigos de Crianças vítimas da Pedofilia, professores e outras áreas envolvidas diretamente com crianças.

O que você diria para pessoas que enfrentaram o mesmo problema que você?

Tenho três objetivos centrais com esse livro:

Primeiro, o de romper o estigma da vergonha e do medo que dominam as vítimas da Pedofilia, para que procurem ajuda terapêutica.

Segundo, com o meu exemplo de exposição - que para nós vítimas da pedofilia significa um sofrimentoe extremo, dar voz às outras vítimas.

Terceiro, fazer com que esse tema chegue às áreas rurais, onde o número de vítimas é assustador e nem sequer entram nessas estatísticas,

Entretanto, volto a lembrar que os pedófilos são portadores de uma Patologia, e como tal precisam de tratamento. Tenho acompanhado experiências direcionadas com esse foco, e já soube de muitos resultados positivos. Muitos Pedófilos desejam desesperadamente receber ajuda e tratamento, tendo uma reação de aversão quando surge a compulsão sexual e o desejo por crianças. Eles não entendem o que estão sentindo. Apenas não sabem nem onde encontrar essa ajuda.

A eles eu também sugiro que confiem no sigilo médico e busquem ajuda psicológica num Posto de Saúde, ou em Hospitais. Lá chegando, solicitem atendimento no Setor de Psicologia ou Psiquiatria. Tenho consciência de que o atendimento público é lento e essa primeira consulta pode demorar, mas ainda assim não desista.

Encerrarei aqui da mesma forma que finalizo minhas palestras. Nelas eu faço a Súplica ao Pedófilo. Peço as pessoas ligadas à mídia do Estado do Mato Grosso do Sul, em particular os radialistas, que divulguem essa Súplica citando meu nome para não se comprometerem. Porque o rádio continua sendo um meio de comunicação em massa, que atinge os rincões das regiões aonde a TV não chega.

SÚPLICA AO PEDÓFILO OU AGENCIADOR DE CRIANÇAS:

PEDÓFILO:

HOJE, VOCÊ TEM O PRAZER QUE A RELAÇÃO SEXUAL COM UMA CRIANÇA TE PROPORCIONA.

AMANHÃ TERÁ UMA COMPANHEIRA QUE NÃO TE DEIXARÁ DIA E NOITE PELO RESTO DE SUA VIDA: A CULPA!

A CULPA TE ROUBARÁ A ALEGRIA DE VIVER, O SORRISO, O SONO E A PAZ.

PORTANTO, EU TE SUPLICO EM NOME DO SEU DEUS:

PROCURE AJUDA MÉDICA, E NÃO DESTRUA SUA VIDA, E DE MAIS UMA CRIANÇA!


http://www.correiodoestado.com.br/noticias/jornalista-vitima-de-pedofilos-narra-drama-em-livro-e-faz-al_117995/

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