segunda-feira, 18 de julho de 2011

SEXO TROCADO

SEXTA-FEIRA, 1 DE JULHO DE 2011

Livro: Sexo Trocado

SEXO TROCADO

Por Carolina Freitas

“O que fizeram com o corpo às vezes não chega a ser tão ruim
quanto o que fizeram com a cabeça.”

O relato de David Reimer versa sobre sua experiência de vida nos dois gêneros – masculino e feminino, e sobre o desespero de seus pais nesta trajetória – “O que eles fizeram foi por carinho, amor e desespero. Quando você está desesperado, nem sempre faz a coisa certa”.
É a história de um menino que teve o pênis cortado em uma circuncisão mal executada, e de um médico que acreditava ser Deus.
Ron e Janet, pais de primeira viagem, tiveram gêmeos, Bruce e Brian. Ambos tinham fimose. Bruce, o primeiro a ser circuncidado sofre queimadura no pênis. Brian nem entra na sala de cirurgia.
Os pais, na tentativa de minimizarem a situação do filho, aceitaram a idéia de mudança de sexo proposta pelo especialista em sexualidade Dr. John Money, estudioso do tema identidade de gênero do célebre John Hopkins Hospital. Esta mudança consistia na “castração e outras cirurgias genitais quando ele ainda fosse bebê, seguida de um programa de condicionamento hormonal, social e mental com duração de doze anos, para a alteração ocorrer também na mente”.
A proposta do hospital, desde a década 20 era tratar cirurgicamente e psicologicamente de crianças que sofriam de ambigüidade sexual estabelecendo uma coerência entre o sexo e o gênero. Este caso foi a primeira cirurgia de mudança de sexo em uma criança sem ambiguidade sexual. Segundo Money a cirurgia deve ser feita até os dois anos e meio de idade por ser quando a identidade de gênero é estabelecida.
O comportamentalismo que prevalecia nas décadas de 50 e 60 ajudou Money a acreditar que o que determinava a identidade de gênero era a educação e não o biológico, mesmo outros pesquisadores alertando para a questão biopsicossocial.
Durante o processo de transformação, Money pecou por não esclarecer ao paciente seus procedimentos, impor determinadas atividades e, o mais grave, abusar da criança ao utilizar uma conduta permissiva em seu consultório.
Por volta do inicio da puberdade as dificuldades de Bruce começam a acentuar. Mesmo sabendo que Brenda não estava dando certo, Money insiste no tratamento, o que piora o estado da família como um todo. A mãe tem depressão, o pai começa a beber demasiadamente, o irmão faz de tudo para ter um pouco de atenção e Bruce é infeliz. A sensação de desamparo aumenta. Na tentativa de não se tornar feminina Brenda engorda e assim camufla as mudanças físicas provocadas por hormônios. No desespero tenta o suicídio. Tudo o que ele precisava era da VERDADE! Era saber que “não era esquisita. Não era maluca”.
Hoje se sabe que a identidade de gênero é o sentimento de pertencer a um gênero – masculino / feminino, não podendo ser atribuída a um único fator. Ela é formada por influências familiares, culturais e biológicas, através das atitudes dos pais, atitudes culturais, genitália externa, influência genética, ou seja, tem por base três pilares: o biológico, o psicológico e o social. E, em caso de dificuldade, devemos ouvir a criança, saber o que ela pensa e sente.
Por fim, mesmo entre um turbilhão de dificuldades David nos ensina: “Mas eu não podia ser feliz por meus pais, tinha de ser por mim. Você não pode ser uma coisa que não é. Você tem de ser você”.

Colapinto, J. (2001) Sexo trocado - A história real do menino criado como menina. São Paulo: Ediouro.
http://linavidapsicologiaesexologia.blogspot.com/2011/07/livro-sexo-trocado.html

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