quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A Sexologia do Dinheiro


 (Estêvão Bittar)

Os economistas gostam de pensar que somos pessoas racionais, e que decidimos como gastar nosso dinheiro avaliando taxas de juros, opções de investimento e processos inflacionários. Mas a psicologia está aqui para estragar a festa. Acaba de sair mais um estudo que mostra que, em matéria de dinheiro, a população economicamente ativa tem razões que a própria razão desconhece.
Vladas Griskevicius, professor da Carlson School, entregou a diversos homens uma matéria jornalística que noticiava algo perturbador: havia mais homens do que mulheres em sua cidade. Após isso, ele entregava aos seus sujeitos um questionário que perguntava coisas como "você se sente motivado para economizar parte de seu salário?" ou "até que ponto você se endividaria no cartão de crédito para realizar compras imediatas?".
O resultado: após terem sido levados a acreditar que a população de mulheres estava escassa, a disposição dos homens em se endividar aumentou 84%. A disposição para economizar, por outro lado, caiu 42%. E mais: eles não perceberam que a leitura da falsa notícia havia afetado o seu comportamento econômico.
Para verificar a amplitude desse efeito, os pesquisadores analisaram a diferença entre a população masculina e feminina em 120 cidades norte-americanas. Constataram que, nas cidades onde faltavam mulheres, a taxa de endividamento era significativamente maior.
A conclusão é simples. Somos os animais que inventaram o dinheiro - mas, a despeito disso, continuamos sendo animais. Quando confrontados com situações de competição ou ameaça à nossa reprodução, reagimos agressivamente, impulsivamente, inconsequentemente. Por mais que alguns economistas insistam no contrário, nossas decisões financeiras ainda são muito mais primitivas do que gostaríamos de admitir. A expressão "capitalismo selvagem", afinal, pode ter um significado mais amplo do que imaginamos à primeira vista.

V. Griskevicius, J. M. Tybur, J. M. Ackerman, A. W. Delton, T. E. Robertson, A. E. White. (2012). The financial consequences of too many men: Sex ratio effects on saving, borrowing, and spending. Journal of Personality and Social Psychology, 102 (1): 69-80.
http://www.estevaobittar.com.br/_Artigos/sexo_e_dinheiro.html

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